"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 8 de outubro de 2017

REFLEXÕES SOBRE A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO.




Diante dos dias tensos e preocupantes vividos na semana que findou em 5 de outubro – dias graves, cheios de surpresas desagradáveis e preocupantes – resolvi refletir sobre eles, sobre os alunos que voluntária ou involuntariamente praticam delitos dentro dos estabelecimentos escolares e claro, fora deles – alguns, infelizmente na inda ou na volta da Escola; do compromisso e comportamento dos professores, pedagogos e demais profissionais da educação.

A EDUCAÇÃO É DEVER DO ESTADO E DA FAMÍLIA

É o que diz o artigo 205 do texto Constitucional que trata de forma gestacional as diretrizes da educação brasileira. Mas será que alguém honestamente já se perguntou o por qual motivo existe essa eterna dívida do Estado e da Família para com a sociedade e que sempre será paga com a “moeda” EDUCAÇÃO? Eu perguntei e achei a minha resposta.

A impagável dívida do ESTADO, como mantenedor e organizador da sociedade, e da FAMÍLIA, como mãe desse mesmo Ente Social existe por que a SOCIEDADE nunca se forma completamente, sempre há novos cidadãos chegando para compor essa teia de sócios. A questão é que poucos entendem isso. Por parte do ESTADO, a maioria dos agentes estatais preocupam-se com o lucro grande e fácil que é trabalhar para, com e nele.

Os Servidores Públicos, agentes oficiais do Estado, responsáveis pela organização e manutenção do bom andamento da “máquina estatal”, limitam-se ao “fazer e não fazer” ao “certo e errado” dentro de seu horário de expediente; alguns espertinhos sabedores do descompromisso dos colegas, aproveitam-se disso para “ditar regras e normas” esdrúxulas, em sua maioria contraditórias aos Princípios Legais, mas que tornam-se verdadeiras devido a ignorância praticada conscientemente pelos servidores acomodados. Na outra ponta, estão os agentes públicos. A classe POLÍTICA, que “olha de cima” a “imensa massa de iletrados” e se aproveita do desinteresse da maioria dos servidores públicos, da falta de conhecimento legal de muitos de nós, da exacerbação egótica de outros tantos e da quase que total desistência dos integrantes da sociedade, para fazer valer sua vontade, contra tudo e contra todos, na base do voto comprado por suborno e de ameaças descabidas. Esse é o estado em que se encontra o Estado Brasileiro. Cegos guiados por outros cegos.

Dessa forma, a dívida social que esse Estado tem consigo mesmo e com quem outorgou a ele a autoridade e o poder, nunca irá ser paga pois ESSE ESTADO NÃO SE ENTENDE CRIATURA DA SOCIEDADE MUITO MENOS DEVEDOR DELA.
(...)
O outro devedor da Sociedade é sua “mãe”, a FAMÍLIA. Essa mãe, geradora da sociedade é também gerada por ela, a dinâmica do tempo determina isso, quem hoje é filho, amanhã será pai e mãe, simples assim; e é nessa esteira temporal, dinâmica e irretrorcedível que a “desgraça” acontece. Para que você entenda melhor:

No princípio era a FAMÍLIA;
A FAMÍLIA formou a SOCIEDADE;
A SOCIEDADE criou o ESTADO;
O ESTADO não cuida da SOCIEDADE;
A SOCIEDADE não se importa com a FAMÍLIA;
A FAMÍLIA forma outra SOCIEDADE, que cria outro ESTADO...

O Estado que foi criado pela Sociedade para garantir e estabelecer direitos, deveres e qualidade de vida para a Sociedade e para a Família geradora de ambos. DE FORMA SIMPLES: O OBJETIVO FINAL DO ESTADO É GARANTIR A FORMAÇÃO CONSTANTE DE MELHORES FAMÍLIAS, POIS COM FAMÍLIAS MELHORES TEREMOS UM ESTADO MELHOR. A FAMÍLIA É A MÃE DO ESTADO. Mas entre esses dois “extremos”, existe a incubadora, o ambiente perfeito para o desenvolvimento de um Estado pleno em direitos e deveres: A SOCIEDADE.

Você entende agora, o motivo de estarmos vivendo dias apocalípticos no Brasil, onde pessoas são sequestrados, torturadas e esquartejados por simples maldade, onde pessoas resolvem atear fogo em crianças e professores dentro de uma creche, por simples vingança, onde pessoas compram armas somente para furar ou dar tiros em outras pessoas só pelo prazer de dizer aos amigos “eu fiz”, “eu sou foda”, “(...)”? Entende agora?

ESTAMOS VIVENDO ESSES DIAS “APOCALÍPTICOS” POR QUE O FILHO ABANDONOU SUA MÃE E ESSA GEROU OUTROS FILHOS PIORES QUE ELE, QUE TAMBÉM NÃO IRÁ CUIDAR DELA E ELA CONTINUARÁ GERANDO FILHOS PIORES E PIORES E PIORES E PIORES. ENTENDEU AGORA!?
(...)
AO INVÉS DE SALA DO PÂNICO, BOTÃO DE AUTODESTRUIÇÃO

Esse quadro dantesco que vejo ser pintado com cores fortes e cruéis, de segunda a sexta, tem gerado em muitos Agentes Oficiais do Estado um adoecimento de corpo, alma e espírito; observar essas cores cruéis cobrirem, inibirem o surgimento de outras matizes é desesperador. Porém, como um bom Caju* que sou, não gosto de “filme de terror”, prefiro usar meus olhos para ver o bom e o bem que se esconde depois dos quadros pintados pelos “Dantes” hodiernos. Nessa sopa caótica que se tornou o tecido família-sociedade-estado, percebo uma solução natural para o arrefecimento desse caos, e, se de forma consciente for feito um trabalho de replanejamento, esse estado será quase que instinto de nosso quotidiano – daqui uns 40 anos, se iniciarmos agora.

Explico:

Dentro da SOCIEDADE existe um lugar onde FAMÍLIA e ESTADO se encontram para “planejar o futuro de ambos”, esse lugar é a ESCOLA. É nesse ambiente social que a família deposita suas esperanças – mesmo que de forma instintiva – em um futuro melhor. Esse “futuro” tem nome, é Estado. E deveria ser nesse lugar ESCOLA, que o Estado teria de investir tudo que pode – é até o que não pode – para se tornar um ente melhor. O ESTADO DEVERIA TER NA ESCOLA O LUGAR IDEAL PARA SE RECICLAR E SE TORNAR MELHOR A CADA GERAÇÃO; DEVERIA USAR A O AMBIENTE ESCOLAR PARA GARANTIR A REALIZAÇÃO DO SONHO DE SUA MÃE FAMÍLIA, SER O FUTURO MELHOR PRA ELA.

Mas “há uma pedra no meio do caminho”: os profissionais da educação. Esses profissionais, como já disse antes, estão adoecidos, enfermos no corpo, na alma, e no espírito. São frutos do descaso do Estado e do desespero desintegrante da família que cobra resultados financeiros pelo trabalho executado. Muitos já entram na profissão completamente mercantilizados, só trabalham por dinheiro e não por ideais; outros perderam seus sonhos no meio de caminho – por culpa da máquina e do sistema estatal também adoecido – e apegaram-se ao “mais garantido”, o salário no fim do mês. Para a muitos profissionais da educação, não importa quantos alunos se tornarão profissionais bem sucedidos ou quantos se tornarão criminosos, nosso salário estará, no fim do mês, todos os dias da nossa vida em nossas contas. :/
(...)
Na minha forma de observar o tempo futuro, vejo que é necessário resgatar alguns valores que foram banidos pela ganância e pela ignorância de agentes políticos, que em suas decisões, coerentes com a finalidade de seus mandatos – que é a perpetuação no poder às custas da ignorância da sociedade – afastaram dela significados, entendimentos e práticas auto renovadoras. Um deles tem a ver com o termo que QUALIFICAVA o agente educativo: MAGISTÉRIO!

Quando eu era criança, quem exercia o cargo de MAGISTÉRIO eram os professores, os sacerdotes (de todos as vocações religiosas) e os juízes (em toda sua hierarquia). Todos esses PROFESSAVAM, PROFETIZAVAM, PROFERRIAM aquilo que eram socialmente. AO PROFESSOR era dada a responsabilidade de PROFESSAR sobre seus alunos a certeza de que eles se tornariam a Nova Sociedade que formaria o Novo Estado. Cada Professor, cada Sacerdote, cada Magistrado, carregava consigo esse Ministério: o de FORMAR UM NOVO ESTADO, TODOS DIAS, EM SALA DE AULA, NOS AJUNTAMENTOS RELIGIOSOS, NOS JUÍZOS PROFERIDOS. Essa era a função do MAGISTÉRIO.

Lembro de quando Mamãe Ruth Rocha era professora da Escola Monteiro de Souza, na “subida do Educandos”, em Manaus e depois em uma outra Escola (que não me lembro o nome) onde fui aluno e filho. Ela dizia com sua voz doce e firme: “Você são o futuro! Nunca esqueçam disso! Que tipo de pessoas você querem ser amanhã, em que tipo de sociedade querem viver?” Repito isso hoje aos meus alunos...

A pessoa que ocupava o cargo magistral de Professor era a autoridade maior na sociedade para a doutrinação moral e intelectual dos sócios em formação, na sala de aula e fora dela. Fazendo uma referência à química, O BOM PROFESSOR ERA UM SER DOTADO DE “COMPOSIÇÃO QUÍMICA” DIFERENCIADA E ERA ATRIBUÍDA A ELE A PROPRIEDADE MARAVILHOSA DE TRANSFORMAR PEDRA EM OURO, CASCALHO EM DIAMANTE.

Hoje, nos dias atuais, dias dos séculos 20/21, Há professores sem Magistério e sem Ministério. Muitas veze me pego agindo de forma bruta e agressiva com alguns alunos que insistem em caminhar para o “cesto de frutas podres”, me pego irritado com a letargia imbecilizada dessas crianças/alunos que preferem o modismos dos cabelos artesanalmente cortados, dos brincos de argola, dos gingados malandrinos e ganguistas, das afrontas graves às regras escolares quando levam catuaba, maconha, cocaína, oxi, (...), facas e revolveres para dentro do ambiente escolar; a irritação se potencializa quando esse comportamento letárgico e descomprometido vem daqueles que deveriam atuar para mudar a história: os próprios professores. Quando isso acontece – e tem acontecido com muita frequência na Escola onde sou gestor – me pego deixando o Magistério e me tornado um professor regrado e regrante.

Não culpo aos colegas Professores pelo cansaço, pelo descaso, pelo afastamento, pelo adoecimento. Todos estamos sofrendo no meio dessa “guerra” entre filho-e-mãe / estado-e-família, sem que tenhamos ajuda; o que não posso aceitar é a letargia de esperar que “alguém” venha dar a solução para os nossos problemas, quando nós temos a solução para os problemas da sociedade, do Estado e da Família; temos apenas de nos vestir de coragem e compromisso para mudar a história. Nós temos de sair das “salas do pânico” e nos tornar o botão de autodestruição desse caos social que se instala cada vez mais rápido dentro das escolas. Temos de deixar o medo do sistema estatal e detona-lo com uma revolução educacional coerente, politicamente embasada porém, não partidarizada, não religiogizada. Temos de nos autodestruir enquanto professores e nos reconstruir MAGISTRADOS, senhores do Magistérios.

Antes de finalizar esse texto – que está maior do que eu desejava quando comecei a escrevê-lo – preciso evocar minhas raízes Espirituais. Eu creio na Bíblia e isso é uma questão de foro íntimo, eu creio Nela mas não imponho essa crença à ninguém. Em sendo assim, preciso lançar mão de seus ensinos para justificar minha afirmação de que os Professores que se sentem imbuídos de Magistério, também reconhecem seu Ministério transformador de mundos.

ENTIDADES SOBRENATURAIS

Independente de minha crença religiosa, penso que Ensinar é algo que beira o sobrenatural. “Entrar” na cabeça de alguém, penetrar no universo de uma criança/aluno, entender a alma de um adolescente não é tarefa para fracos. Nem todos possuem essa aptidão, que eu, em minha religiosidade, chamo de Dom – presente – Divino. Existem na Bíblia vários textos que mostram isso, também há referências similares em outros Livros Sagrados, das diversas religiões espalhadas pelo mundo, um deles é o Livro de Enoque, livro apócrifo, outro o Chilam Balam de Chumaiel, livro sagrado Maia, onde em ambos, os “anjos caídos” – em Enoque – e as “serpentes emplumadas” – no Chilam Balam, presenteiam os seres humanos com conhecimentos habilidades “extras”, para a finalidade de transformarem seus próprios mundos.

Mas irei me deter no texto sagrado da Bíblia. Em um escrito atribuído ao Apóstolo Paulo, encontramos um relato nessa vertente:

“Porque a um, pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a confiança; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” I Coríntios 12:8 a 11 – Grifo meu.

A profecia é o ato natural do PROFETA.

Ocidentalmente, professor é um termo derivado do Latim, PROFESSUS, aquele que declara em público, do verbo PROFITARE, “declarar publicamente, afirmar perante todos; Formado por PRO-, à frente, mais FATERI, reconhecer, confessar. Trata-se de uma pessoa que se declara apta a fazer determinada coisa – no caso, ENSINAR. - origemdapalavra.com.br

Da mesma forma, profecia: Do Grego PROPHETIA, capacidade de interpretar o desejo dos deuses; de PROPHETES, de PRO-, “à frente”, mais PHANAI, “falar”. – origemdapalavra.com.br

Os termos Professor e Profeta são aparentemente diferente em seus significados ocidentais mas, quase similares nos idiomas semíticos hebraico e aramaico. Há uma série de termos interligados e dependentes de uma só raiz etimológica, reservei apenas alguns deles para não ficar muito enfadonha a leitura.

Iniciando a busca de uma definição mais antiga do termo PROFESSOR encontramos: YABIYN, que quer dizer AQUELE A QUEM DEUS SERVE OU ENSINA, INSTRUI; outro termo com a mesma raiz é MABOWN, significando AQUELE QUE ENSINA, AQUELE QUE DÁ COMPREENSÃO, PROFESSOR; e mais, TABUWN, TEBUWNAH ou TOWBUNAH que possuem vários significados: COMPREENSÃO, INTELIGÊNCIA, O ATO DO ENTENDIMENTO, HABILIDADE, A CAPACIDADE DO ENTENDIMENTO, INTELIGÊNCIA, COMPREENSÃO, PERCEPÇÃO, O OBJETO DO CONHECIMENTO E PROFESSOR EM SUA PERSONIFICAÇÃO. Todos esses termos vêm de uma só raiz estrangeira ao hebraico que é o termo BIYN que significa DISCERNIR, COMPREENDER, CONSIDERAR, SABER (COM A MENTE), OBSERVAR, MARCAR, ATENTAR, DISTINGUIR, TER DISCERNIMENTO, PERCEPÇÃO, COMPREENSÃO, SER INTELIGENTE, DISCRETO, COMPREENDER, FAZER COMPREENDER, DAR COMPREENSÃO, ENSINAR, MOSTRAR-SE COM DISCERNIMENTO OU ATENTO, CONSIDERAR DILIGENTEMENTE, INSTRUIR, [TER E AGIR COM] PRUDÊNCIA E CONSIDERAÇÃO.

Como se percebe, o espectro de significados do termo PROFESSOR nos dialetos semitas hebraico e aramaico é abrangente e por si só determinariam uma nova atitude da classe de Professores. Mas há a necessidade do MAGISTÉRIO, a vocação MINISTERIAL do professor precisa ser incorporada aos significados de nossa atividade para nos distinguir diante dos demais agentes sociais. O que nos diferencia é o termo PROFETA.

Nas línguas semitas, PROFETA é NÊBOW, UMA DIVINDADE BABILÔNICA QUE PRESIDIA O SABER E A LITERATURA; corresponde sincreticamente ao deus grego Hermes, deus latino Mercúrio, e ao deus egípcio Tote. A identificação divina do PROFETA com o PROFESSOR é assustadora e reveladora ao mesmo tempo.
(...)
É dentro desse contexto revelador que se dá a transformação da sociedade. É no ambiente da escola, lugar comum entre Família e Estado, que a esperança de dias melhores, de futuros menos violentos, de sociedades mais justas, de Estados mais dignos se forma. É nesse Limbo Divino, com leis próprias que os Magistrados Professores, semideuses do ensino fazem a diferença – quando diferentes. Aqui começo a finalizar o texto.

Se somos semideuses do saber e a Escola é um Lugar Sagrado da transformação, por qual motivo Estado e Família estão se desfazendo? A resposta é assustadora e simples: PORQUE A SOCIEDADE ESCOLAR TAMBÉM ESTÁ SE DESFAZENDO. Profanos e impuros entraram no Lugar Sagrado e passaram a professar seus modus vivendi, passaram a cuidar somente de temas estéreis ao dia-a-dia social; as disciplinas ensinadas em sala de aula, distintas da educação social são estéril e sem função. Nós professores precisamos trazer de volta, para dentro da sala de aula, o bom trato, o bem fazer, o contato respeitoso, o ensino visionário. Temos ao nosso lado às lei individuais, feitas por nós, para nossa própria realidade. A questão é o descompromisso com o futuro de todos nós.

Pensemos nisso.
O futuro depende de nós, Magistrados da educação, semideuses do saber.


*Caju – nome usado para designar os filhos – descendentes – de Judeus que “tornaram-se” católicos.
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Dicionário Strong – Hebraico, Aramaico, Grego, Português.

Bíblia Digital Almeida Revisada e Atualizada