"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ITACOATIARA. FELIZ 2010

Mesmo a chegada do novo ano, o vinte dez como está sendo chamado pelos místicos, 2010 não traz para Itacoatiara ares de novidade, somente a ânsia de saber como se desdobrarão os fatos políticos oriundos das incongruências jurídicas de 2009.

No ano que passou, o município de Itacoatiara teve três prefeitos que se alternaram no poder. Os eleitos com 17.315 votos, Antônio Peixoto e José Augusto; o presidente da Câmara de Itacoatiara Raimundo Silva e os segundos colocados no pleito, Donmarques e Junior da Constrói, com pouco mais de 12 mil votos, que ganharam na justiça o direito de serem os prefeitos. Essas alternâncias totalizaram 6 prefeitos em menos de três meses.

Essa instabilidade política tem gerado uma instabilidade social. Esse sentimento de in-sustentabilidade gera no inconsciente coletivo o desanimo que vem da revolta contida, gera também um descrédito na justiça que mostra sua eficiência com base naquilo que ouve, ou lê nos processos de que carregam provas de origem “duvidosa”. Nunca um povo se sentiu tão roubado em sua intenção de realizar algo novo.

Com o afastamento do prefeito eleito Antônio Peixoto, a grande maioria da população está se sentindo lesada em sua liberdade de escolher o prefeito que desejou. Todos sabem quem são os atores desta saga. De um lado um agricultor, com três mandatos de vereador, fundador do Partido dos Trabalhadores no Município de Itacoatiara. De outro, um jovem sem profissão definida, vereador de um mandato, administrador esportivo não bem sucedido por duas vezes.

Antônio Peixoto do PT, como é conhecido na região de Itacoatiara tem por vocação a verdade. Sua maior virtude talvez seja seu maior pecado. Não a verdade em si, mas seu uso exacerbado. Afirmo isso com a consciência limpa, pois encontro na Bíblia que o equilíbrio é a melhor virtude em todas as situações da vida. “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?” Eclesiastes 7:16 e 17. Esse jogo de cintura, talvez tenha faltado no início do governo de Peixoto pois alguns acordos políticos mais equilibrados deveriam ter sido feitos, porém íntegro como é, Peixoto optou pela linha partidária, que em Itacoatiara, talvez precise de mais equilíbrio.

Seja como for, com ou sem equilíbrio em ações políticas, todos conhecem Peixoto. Todos viram como foi feita a sua campanha. Todos se emocionaram, ou melhor, quase todos se emocionaram com sua vitória no dia 5 de outubro de 2008. Seus adversário, ricos, endinheirados, fizeram de tudo para convencer o povo que eram os melhores.

Porém o que desequilibrou o pleito foi a vontade do povo em querer sair das garras do findo gestor, que por mais de vinte anos governa Itacoatiara. Mamoud Amed.

A rejeição a Mamoud se transferiu quase que automaticamente para os dois candidatos opositores a Peixoto. Donmarques Mendonça e Nelson Azedo. A vitória de Peixoto deu-se em parte pela rejeição a possibilidade de Mamoud se manter no poder por meio de um dos dois oponentes. Azedo ou Mendonça.

Durante nove meses, Peixoto buscou de todas as formas acordos políticos com os Governos Estadual e Federal, fato que honestamente, não aconteceu, haja vista a constante postergação de decisões tão fáceis – para outros políticos como Amazonino de Manaus e Bessinha de Manacapuru – de serem tomadas. Perdoem os que crêem ao Contrário. No meio dessas conquistas suadas e acordos alinhavados, Peixoto e Augusto tinham de enfrentar as ameaças eminentes de cassação, até que em 13 de setembro as ameaças se tornaram realidade. Aconteceu a temida cassação.

Daí em diante, fomos todos surpreendidos por uma sucessão de acontecimentos dignos de serem relatados em livro, para entrarem na história dessa cidade, que por sinal tem em todo o seu bojo histórico fatos como este, acontecido durante séculos.

Dias depois da cassação, Peixoto recebe um “golpe de estado” aplicado pelos seus “parceiros” vereadores. Raimundo Silva, o vereador presidente da Câmara, se auto proclamou – com um documento de origem duvidosa – Prefeito tampão. Invadiu a prefeitura, mandando arrombar as portas, e agiu como se fosse um conquistador chegando para resgatar um povo bárbaro. Depois, de atos descabidos, para um prefeito tampão, Dr. Silva – que é juiz aposentado – passou e empossou o Sr. Donmarques Anveres de Mendonça como prefeito de Itacoatiara.

O mais estonteante nos dias em que Raimundo Silva estava no poder foi uma declaração em uma rádio da cidade onde disse quase que literalmente isso “... somente um idiota para não reconhecer o valor do ex-prefeito Mamoud Amed, e eu não sou idiota.” O Assustador na declaração é que meses antes, o mesmo vereador Raimundo Silva criticava publica e radiofonicamente o referido ex-prefeito.

Quando o prefeito eleito, Antônio Peixoto voltou a prefeitura, depois de uma decisão da desembargadora Socorro Guedes, presidente em exercício, a Câmara e o vereador Raimundo Silva trataram o Peixoto como se nada tivesse acontecido, como se tudo não tivesse passado de uma brincadeira, uma partida de vídeo game onde o reset resolve tudo. No dia em que Peixoto caiu pela segunda vez, foi terrível ver nos olhos dos vereadores um cinismo lancinante quase palpável. Todos sabiam que o agricultor não terminaria o dia como prefeito, e assim foi. Depois de um despacho de uma juíza plantonista – Exma. Juíza Joana Meireles – e sem poderes para derrubar a decisão de uma desembargadora presidente, Donmarques voltou com um grupo de desordeiros que ameaçaram, tacaram pedras, enfrentaram a polícia e invadiram o prédio público da prefeitura.

O acontecimento envolto a uma série de agressões e maus entendidos, mostrou a fragilidade do grupo do prefeito Peixoto diante da astúcia do grupo político de Donmarques.

O mais assustador disso tudo é que, mesmo com todas as irregularidades provadas e comprovadas por todos os que se envolveram no processo, nada aconteceu. O desembargador presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Exmo. Ari Jorge Moutinho passou a bola adiante, afirmando que não podia emitir veredito sobre o caso, e passou o caso para Brasília, que também, até o presente momento não decidiu nada.

“O julgamento é político”

Isso me disse o amigo pastor e advogado Miquéias Fernandes, quando indagado sobre o acontecido. Sou obrigado a concordar. O Julgamento de Peixoto é político. Parece não haver interesse das lideranças políticas do Partido dos Trabalhadores que esse agricultor de verdade continue na vida pública, continue como prefeito. Parece que todos os líderes do partido preferem prestar reverências aos “caciques”. Sejam eles de outros partidos historicamente adversários políticos. A questão é: em ano de eleições gerais, o que é melhor para o PT, um senador ou um prefeito do interior? Não precisamos nem pensar muito. Senador é claro.

Se o rio correr como está, Peixoto será prefeito somente depois, bem depois. O que é uma pena.