"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

SE PENSO, EXISTO. SE NÃO PENSAS, NÃO EXISTES.

Algumas pessoas ainda insistem na intimidação. Tola tentativa. Não tenho medo de grupos políticos e nem de políticos. Posso até não falar o que penso por questões de conveniência – a segurança da família, da casa, do sossego. Mas isso não quer dizer que alguém me tenha calado. Nunca deixarei de pensar o que penso sobre temas relevantes do País, do Estado e do Município onde resido. Penso sim e vou vivendo, poderia parodiar.

Minhas inquietudes são antigas, convivo com elas há mais de 50 anos. Sou naturalmente um ser desassossegado. Porém meu maior desassossego vem de observar a incapacidade das pessoas em concatenar ideias. Parece que não sabem pensar, não conseguem ver o óbvio em sua frente, não enxergam além da própria venta – isso, quando a enxergam. Meu Deus.

Me estarrece ouvir políticos esbravejarem suas ignorâncias, do alto de seus palanques; me enoja ver seus correligionários babando feito tietes surdas, mudas e cegas. Me deixa puto da vida (desculpem os mais sensíveis) ver o que Governos e mais Governos têm feito com os sistemas básicos do País, com nosso dinheiro, com nosso voto. Saúde e educação, deveriam ser prioridade, mas não são. E quando o assunto vem à baila, aparece um correligionário babaca, de um partido idiota, defendendo o indefensável. Nenhum desses imbecis que me tenta intimidar tem capacidade de sequer argumentar decentemente porque é o que é, ou porque acredita no que diz acreditar. Um bando de “Maria-vai-com-as-outras”. Então vão – todas juntas (...).

***

O sistema educacional do País – Estados, Municípios e Distrito Federal – não possui professores mínimos que produzam seres pensantes – não produzem porque também não sabem pensar. Mas em toda “regra” há exceção. Justiça seja feita aos – poucos – que se descabelam para ensinar o pensamento. Nesse sistema educacional acossado pelo analfabetismo Estatal – que torna um ente em fêmea – o que é “construído” no ensino fundamental e médio, é desconstruído pelos “cursinhos” pré-vestibular. NOSSOS FILHOS PERDEM METADE DE SUAS VIDAS APRENDENDO O QUE SERÁ “DESAPRENDIDO” PARA ENTRAREM NA UNIVERSIDADE. Tão grave quanto essa perda de tempo, energia e vida, é o dinheiro – literalmente – jogado fora na compra de material didático e escolar para NOSSOS filhos. Na “escola” financiada com dinheiro público, tudo é pago pelo Estado. Na privada – que comparação – em muitos casos só falta alguém para puxar a descarga. Seja “lá” ou “cá”, nenhum aluno pode ingressar no ensino superior sem ser avaliado pelos sistemas de avaliação, que são criados a cada temporada eleitoral.

Nesse viés, é assustador o fato de que SABEMOS VOTAR, mas NÃO SABEMOS ELEGER. Elegemos qualquer um. Não temos o menor critério para transformar pessoas em políticos. Mais terrorista é punir quem não quer votar nessa gente que não presta.

Quando estudamos filosofia, damos de cara com sujeitos que são reconhecidos universalmente como PENSADORES. Eram pensadores porque sabiam pensar e estimulavam o pensamento das demais pessoas. Hoje, é proibido pensar – diz João Alexandre em sua música homônima – porque se pensarmos muito, descobriremos que estamos sendo enganados pelos “nossos representantes”. Se pensarmos muito na cagada que fazemos de dois em dois anos, é capaz de cometermos um assassinato contra nós mesmos, de tão burros que temos sido. Estamos sendo engados por todos os Governos, sejam eles vermelhos ou azuis – sem contar os “chapa branca”.

Contra essa pouca vergonha e pouca coragem, inspirado por meus filhos, deixo minha indignação ganhar voz na garganta pensante, controlada pela mente racional do “anjo” Gabriel.

“...muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente; a gente muda o mundo na mudança da mente e quando a mente muda a gente anda pra frente e quando a gente manda, ninguém manda na gente; na mudança de atitude, não há mal que não se mude, nem doença sem cura. Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro...”Gabriel o PENSADOR.

Nesse 2014, chame os políticos para a porrada. Nossa arma é o voto. NÃO VOTE, SE VOTAR ELEJA QUEM NÃO LHE PAGA PARA SER BURRO!

Pense nisso: O PODER EMANA DO POVO. Pensou?!


Transforme seu pensamento em ação!

ME SINTO ENVERGONHADO E DESILUDIDO.

Na sessão do STF, de hoje, dia 25 de fevereiro, o voto do ministro Luiz Fux nem foi ouvido. Os argumentos usados pelo ministro Fux nem fizeram cócegas nos ouvidos dos – até agora – cinco ministros que votaram pela absolvição do crime de quadrilha. Se esse bando de ladrões que roubou a Nação não é uma quadrilha, muitos dos quadrilheiros podem ser liberados de seus crimes – formação de quadrilha – Brasil a fora. Ridícula essa atitude.

Tenho insistido em alguns artigos, que o PT precisa parar de se debater para evitar que seus líderes sejam punidos. Esse esforço incomensurável para se livrar das punições devidas pelo que seus companheiros fizeram, abre a porteira para um sem número de ações revisionais. Não haverá – a meu ver – competência moral desses ministros, que devem absolver os condenados, para agirem de modo diferente, contra os mesmos crimes cometidos pelos quadrilheiros do PSDB. Mas como a moral brasileira é igual bola de futebol, chutada para todos os lados, creio que a (in) moralidade Petista condenará seus adversários psdbistas.

Depois de hoje, (25) estou desiludido com esse país chamado Brasil, que tem uma educação impensante e impensável, um sistema de saúde escravagista, uma economia maquiada, investimentos em países ditatorialistas, perdão de dívidas dos países com regime ditatorialistas. Como diz o “cabôco”, “é triste mais é verdade”.

Caminhamos para uma ditadura. O marco “limitador” da internet é o início desse processo. As leis que terrorificam atos de manifestação é outra peça desse quebra-cabeça político vermelho sangue. Me angustia saber que o que é percebido pela parte da população não seduzida, é apenas a “ponta do iceberg”. Fico imaginando o que já deve ter sido arranjado para o “dia D”.


Triste de nós brasileiros.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MINHA FAMÍLIA, MEUS “DEMÔNIOS”.

Continuando o estudo do evangelho de Marcos...

A família está envolvida naquilo que somos, mas não é a responsável por quem somos. Nesse primeiro episódio do capítulo seis do evangelho de Marcos, essa questão é bem clara. Acompanhe o texto.

“Então Jesus partiu dali e foi para sua cidade, e os alunos (discípulos) o seguiram. No shabbat (sábado), ele começou a ensinar na sinagoga, e muitas pessoas que o ouviam ficaram admiradas. Elas perguntavam: ‘De onde ele tirou tudo isso?’. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E estes milagres que ele faz? Não é ele apenas o carpinteiro, filho de Miryam (Maria) e irmão de Jacó, José, Judá e Simão? Suas irmãs não estão aqui conosco?’. E elas se sentiram ofendidas por causa dele. Jesus, porém, lhes disse: ‘O único lugar em que as pessoas não respeitam um profeta é na cidade dele, entre seus parentes, na própria casa’. Por isso, ele não realizou ali milagres; apenas impôs as mãos sobre algumas pessoas doentes e as curou. E ficou admirado com a falta de confiança deles.” Marcos 6:1 a 6

Até o momento, Jesus cura, liberta, “expulsa” espíritos impuros, ensinando a todos que para verem-se livres em verdade, precisavam endorcisar seus “demônios”. Esse endorcismo se dava no momento em que todos os que foram libertos por Jesus retornaram ao convívio familiar. “Legião” e Ya’ir são os que se sobressaem nessas questões familiares. Porém, agora é o próprio Jesus que precisa endorcisar seus “demônios familiares”.

O texto diz, que depois das viagens para dentro e para fora, de um lado para o outro do “mar”, atravessando águas turbulentas e enfrentando ventos tempestuosos dos outros, ele volta para a cidade onde morava com a família. Nessa narrativa há uma profunda expressão de individualidade. Jesus volta para casa sem convidar ninguém, sem chamar ninguém. O texto relata que são os alunos que o seguem.

Não é revelado no texto, quanto tempo demorou para “chegar” o sábado – shabbat – mas o fato é que naquele dia, Jesus foi ensinar na sinagoga como era seu costume e seu prazer. Sua forma singular de ver e ouvir o Reino de Deus, deixava todos que o ouviam completamente admirados. Seu ensino era diferente, seu ensino não era religioso, não possuía teologia, não estava preso às doutrinas – fossem elas quais fossem. Seu ensino era escandalosamente livre. E esse ensino escandaloso, libertário, desprovido de teologia, ofendia a religiosidade de suas irmãs.

Historicamente falando, Jesus era o primeiro filho de Miryam – Maria – , mas possivelmente, não era o primeiro filho de José. Isso pode ser verdade porque não há nos evangelhos nenhum relato da cerimônia de resgate de Jesus. Se ele fosse primogênito de José, haveria um relato da sua cerimônia de resgate, conforme a lei cerimonial descrita no livro do Êxodo, capítulo 13, dos versos 11 a 16:

“Também acontecerá que, quando o SENHOR te houver introduzido na terra dos cananeus, como jurou a ti e a teus pais, quando te houver dado, separarás para o SENHOR tudo o que abrir a madre e todo o primogênito dos animais que tiveres; os machos serão do SENHOR. Porém, todo o primogênito da jumenta resgatarás com um cordeiro; e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça; mas todo o primogênito do homem, entre teus filhos, resgatarás. E quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que é isto? Dir-lhe-ás: O SENHOR nos tirou com mão forte do Egito, da casa da servidão. Porque sucedeu que, endurecendo-se Faraó, para não nos deixar ir, o SENHOR matou todos os primogênitos na terra do Egito, desde o primogênito do homem até o primogênito dos animais; por isso eu sacrifico ao SENHOR todos os primogênitos, sendo machos; porém a todo o primogênito de meus filhos eu resgato. E será isso por sinal sobre tua mão, e por frontais entre os teus olhos; porque o SENHOR, com mão forte, nos tirou do Egito.”

Os versos acima são a fala do Eterno, quando da preparação para a saída do Egito. Mas foi no deserto que os valores para o resgate dos primogênitos foi estipulado:

“Tudo que abrir a madre, e toda a carne que trouxerem ao SENHOR, tanto de homens como de animais, será teu; porém os primogênitos dos homens resgatarás; também os primogênitos dos animais imundos resgatarás. Os que deles se houverem de resgatar, resgatarás, da idade de um mês, segundo a tua avaliação, por cinco siclos de dinheiro, segundo o siclo do santuário, que é de vinte geras.”

Honestamente não lembro de ler nos evangelhos, nenhum texto mostrando o momento em que José e Maria teriam pago o valor de “cinco siclos de dinheiro” pelo resgate de Jesus. O que encontramos no evangelho de Lucas, nos versos 21 a 24, e que é tratado pelo evangelista como sendo o ato cerimonial de pagamento pelo primogênito, é na verdade o ato cerimonial pela purificação dos pais de Jesus por eles terem “ficado impuros”. Ele, José pelo sêmem que fertilizou Maria, ela devido ao sangramento do parto. O relato desse ato cerimonial é encontrado no livro de Levítico, capítulo 12:

“FALOU mais o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda.
E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio. Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.
Mas, se der à luz uma menina, será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação.
E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote. O qual o oferecerá perante o SENHOR, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina.
Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa.”

Defendo a tese de que não houve o “resgate” de Jesus com base na simples leitura do verso oito: “Mas se não houver em sua mão recursos para um cordeiro ...” Os pombinhos ou rolinhas – pássaros pequenos – eram entregues como oferta de purificação quando os ofertantes eram pobres e não possuíam nenhuma condição para ofertarem um cordeiro. Se o casal, José e Maria, não possuía condições de comprar um cordeiro para ofertar por sua “purificação”, como teriam condição de pagar “cinco siclos” por seu filho? Parece ser um contra senso.

Entendo que existe uma tentativa religiosa dos tradutores primitivos, ou do próprio Lucas, ou ainda que o trecho do texto no evangelho de Lucas, que relata a possível “cerimônia de resgate do primogênito”, seja um acréscimo, haja vista estar grafada na maioria das traduções, entre parênteses. Ou seja, o verso 23 de Lucas 2, pode não ter sido escrito originalmente por Lucas, pode se tratar de uma nota explicativa dos primeiros tradutores do evangelho, que ao longo do tempo, incorporou-se ao próprio texto. O texto que encontramos em Lucas 2, de 21 a 24 está assim:

“21 E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
22 E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor 23 (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); 24 E para darem a oferta segundo o disposto na lei do SENHOR: Um par de rolas ou dois pombinhos.”

Se tivermos a coragem de confrontar os textos de Levítico e de Lucas, perceberemos uma certa discrepância, um certo desacordo. Retirando do verso 22, o artigo que liga Jesus ao ato, suprimirmos o verso 23 – que julgo ser originalmente uma nota “explicativa” – e a parte inicial do verso 24, teremos algo mais coadunante com o sentido original em Levítico:

“21 E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
22 E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, levaram a Jerusalém, para apresentarem ao Senhor 24 a oferta segundo o disposto na lei do SENHOR, um par de rolas ou dois pombinhos.”

Ao lermos o texto com cuidado, Lucas relata dois acontecimentos. O primeiro está descrito no verso 21, que é a circuncisão de Jesus, que teria de ser feita aos oito dias de nascido. Nessa cerimônia, sua mãe não poderia estar com ele diante do sacerdote, pois estava proibida de se apresentar no templo, pois seu “estado de impureza” ainda era contado. Somente depois de 30 dias, é que ela poderia ir ao templo para cumprir seu ritual de purificação. E é esse ritual que é descrito nos versos 22 e 24 de Lucas. A nota explicativa que pode ter se transformado no verso 23 – e que está entre parênteses – parece tentar ligar uma possível primogenitura de Jesus com o ritual de purificação de seus pais.

Também não há nenhuma possibilidade de Jesus ter sido oferecido ao “Nazireado”, pois conforme o texto de Números 6, um Nazireu não poderia “beber vinho”, comportamento totalmente praticado por Jesus, conforme lemos em Lucas 7:34:

“Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores.”

Essa questão aparentemente teológica é necessária, para podermos entender o possível motivo das irmãs de Jesus terem se ofendido com as conversas daqueles que ouviam seus ensinos. Se ele fosse o mais velho de todos os irmãos, talvez não causasse esse incômodo, mas como pode ter sido o “filho do meio”, o primogênito de Maria e não de José, sua ousadia em “ensinar diferente” do tradicional, pode ter sido a causa desse escândalo.

O texto também deixa escapar que o incômodo sofrido por suas irmãs, é percebido por ele, ao ponto de também incomodá-lo. Isso parece ser possível, porque ele responde as reclamações das irmãs em tom de mágoa: “O único lugar em que as pessoas não respeitam um profeta é na cidade dele, entre seus parentes, na própria casa”. O tratamento diferenciado dos ouvintes pode ter ofendido suas irmãs ao ponto de elas negarem o ministério do irmão mais moço, retrucando, respondendo e até causando um desalojar de emoções em Jesus. Mas naquela tempestade íntima, ele acalma seu “mar inquieto” afirmando ser quem era: UM PROFETA. Mesmo que sem honra, sem reconhecimento, sem o respeito de seus familiares, ele É profeta de Deus.

Nesse novo confronto com seu “satã”, Jesus se reafirma filho de Deus, porta voz do Divino, fazedor da vontade do Pai. Nesse momento onde a serenidade se sobrepõe ao desgosto que a família lhe proporciona, somente os que confiam é que são curados. O desgosto não perdura, assim como os ventos que encrespam as ondas também não. Eles dão lugar à calmaria reflexiva, o externo que reflete o interno; o desgosto deu lugar à admiração. Uma admiração pelo estado de incredulidade dos outros de si. Era como se Jesus se olhasse no espelho e se enxergasse nos familiares que duvidavam de si mesmos. Apaziguado pelos poucos familiares e ouvintes a quem curara, Jesus partiu do meio da família, porém levando-a consigo para sempre. Ele estava em paz consigo e com seus familiares, mesmo que eles não acreditassem em sua mensagem, mesmo que eles não ouvissem seus ensinos, mesmo que eles tentassem ser diferentes.

Para seguirmos em frente temos de primeiro seguir adiante. E seguir adiante é seguir na frente, sabendo que nossa família em algum momento irá nos seguir. Mas ela só poderá nos seguir, se formos adiante dela, abrindo o caminho, desmontando as certezas que os aprisionam na zona de conforto da desconfiança, com as verdades Divinas. É isso que Jesus faz e é isso que devemos fazer: ANDAR POR ONDE ANDAMOS, ANDAR COM QUEM ANDAMOS PARA QUE ELES – UM DIA – VENHAM A NOS SEGUIR.

Por onde andamos? Andamos nos caminhos de Deus. Com quem andamos? Com ELE.

Siga seu caminho. Deus lhe abençoe.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

OS PREJUÍZOS EM PATROCINAR SEM CRITÉRIOS



O patrocínio cultural, ou o ato de custear pessoas ou eventos, tem crescido no Brasil nas três últimas décadas. Na década de 80, eram poucas e raras as empresas que patrocinavam com grandes importâncias eventos culturais, shows, eventos esportivos, programas de televisão e programas de rádio. Nos anos 90, o merchandising como categoria de patrocínio ganhou força e se tornou uma das principais armas de propaganda. Na virada do século a internet, tornou-se sem dúvida nenhuma, uma das maiores mídias para esse fim.

O patrocínio nada mais é que uma forma de fazer propaganda de um produto, bem ou serviço, mas escolher um BOM produto para “carregar” o nome de sua empresa é primordial para o sucesso. Vários autores do estudo da comunicação apresentam e discutem os objetivos corporativos que conduzem as empresas à utilização de patrocínios dentro de suas estratégias de comunicação. Um dos objetivos mais importantes da comunicação na utilização de ações de patrocínio é fixar a marca institucional da empresa e/ou produto junto aos clientes. Isso porque, o volume de exposição da marca/produto aumenta a possibilidade de consumo junto ao público-alvo. Quanto mais um produto é falado e/ou visto, mais ele é lembrado.

Mas com todas essas vantagens em patrocinar algo ou alguém para alavancar as vendas, mais cuidado deve haver, porque a “imagem” do patrocinado está ligada a quem lhe patrocina. Só para exemplificar o cuidado que empresas sérias tem com seu nome, relato alguns casos: A cantora Joelma – da banda Calypso – perdeu o patrocínio do Governo do Pará, por ofensas aos homossexuais. Rita Lee perdeu o patrocínio por baixar as calças em um show. A linha de cosméticos “Niely” não patrocina mais o BBB da Rede Globo, por entender que o programa não se enquadra mais no perfil da empresa. Isso sem contar com os times e atletas que perdem seus patrocinadores por comportamentos – dentro e fora do campo – que não condizem com a imagem do patrocinador.

Nenhuma empresa comprometida com seu nome e com seus clientes, permitiria que seu patrocinado, seja pessoa, programa ou evento, comprometa seu investimento com comportamentos, imagens ou palavras contrários a política da empresa. Se esses cuidados não forem tomados, patrocinar sem nenhum critério, pode ser o início do fim.

Em nossa cidade de Itacoatiara, esses cuidados ainda não são levados a sério. Há poucos programas da televisão local, menos ainda mídias impressas, só a rádio tem força e por isso carrega o maior número de patrocinadores. Por não haver essa preocupação por parte de quem patrocina, muitos locutores não têm respeitado o nome de seus patrocinadores, quando emitem suas opiniões agressivas e desrespeitosas. Na prática da ciência da Comunicação Comercial, a empresa ou a pessoa que tem seu nome atrelado ao um produto, bem ou serviço, que possui em si, uma mensagem agressiva, racista ou preconceituosa, mostra aos seus clientes, que aquela também é a sua mensagem. Esse é um dos motivos para a perda de clientes. Atrelar o nome da empresa a um programa ou pessoa que emite mensagens desrespeitosas contra seus clientes.

Espero nessas poucas linhas, alertar aos empresários de nossa cidade, do cuidado em patrocinar sem nenhum critério, só porque é amigo. Só você sabe o quanto custa manter o bom nome de sua empresa. Uma maneira muito fácil de saber se sua empresa está só gastando dinheiro patrocinando esse ou aquele locutor, programa ou evento, é perguntar aos seus clientes. Afinal, “O CLIENTE SEMPRE TEM RAZÃO!

No mais, se você não tem certeza de que patrocinar esse ou aquele, tem sido um bom negócio para a imagem de sua empresa, não patrocine mais. Essa é minha opinião.

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Artigo publicado no semanário "O Candiru", em Itacoatiara, no dia 22 de fevereiro de 2014


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

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Deus abençoe.

RELIGIÃO: DESAFETO, HEMORRAGIA E MORTE.



Continuando o estudo do livro de Marcos, abordaremos nesse artigo, alguns assuntos aparentemente distintos entre si, mas que na verdade fazem parte de um só contexto, as agruras promovidas pela religião humana. Antes dos encontros relatados no texto que iremos estudar, devemos lembrar que Jesus levou seus alunos para um passeio ao lado de dentro de cada um. “Lá”, no lado de dentro, todos que fazemos essa viajem, nos deparamos com nossas legiões, com nossos “demônios”, com aquilo que nos assusta em nós mesmos. Depois de acalmarmos nossas inquietações, depois de aquietados em nossas ansiedades, estados esses, alterados pelos confrontos proporcionados por Jesus, somos “trazidos para fora”, para o “meio da multidão”, agora conhecedores de que somos responsáveis por nós mesmos. É nesse entendimento – não puramente literal – dos acontecimentos relatados que observo a sabedoria e a divindade de Jesus.

Tudo começa com um pai dividido entre o amor por sua filha e suas obrigações religiosas.

JAIR, UM PAI DIVIDIDO ENTRE A VIDA E A MORTE,
ENTRE A FAMÍLIA E A RELIGIÃO.

“Jesus voltou de barco para a outra margem do lago, e uma grande multidão se reuniu ao redor dele. Então chegou ali um oficial da sinagoga, chamado Jair (Jairo), que se prostrou a seus pés e lhe implorou desesperadamente: "Minha filhinha está quase morrendo! Venha, por favor, e imponha as mãos sobre ela, para que fique boa e viva. Jesus foi com ele e uma grande multidão o seguia e apertava.” Marcos 5:21 a 24.

Ao retornar para o “lado de fora” de si, Jesus e seus alunos são abordados por um homem, um pai, que em desespero implora a Jesus a cura salvadora de sua filha. Diz o texto que aquele pai acredita que sua filha está à beira da morte, e que ele não pode fazer nada. Sua competência de pai parece haver sido detida por algo mais forte. Seu amor pela filha estava limitado pela ritualística religiosa, e isso é claramente percebido em sua declaração, “... imponha as mãos sobre ela, para que fique boa e viva.” A imposição de mãos é ato religioso, colocar as mãos sobre os doentes possui vários significados e o maior de todos eles é o próprio ritual de “imposição de mãos”. Nesse ritual de cura, quem impõe as mãos é uma pessoa justa, não contaminada, limpa de tudo “aquilo” que contaminou e adoeceu ao enfermo e/ou necessitado. Como se a cura fosse transferida por meio das mãos: “o sadio que contamina o enfermo com sua saúde por meio de suas mãos – santas”. Na verdade aquele pai aflito pediu duas coisas de Jesus: 1) a cura; 2) a vida. O nome daquele oficial da sinagoga local é Ya’ir, do hebraico, “aquele que Deus ilumina”. A raiz de seu nome se remete a ChavvahEva – que significa “doador de vida”, “vivente”.

Há indícios que aquele pai, devoto em sua religiosidade, vivia uma crise existencial. Seu nome dizia que ele era alguém iluminado por Deus para trazer pessoas à vida por meio da cura. Talvez ele fosse um oficiante que tratasse dos enfermos – dedução empírica, devido ao significado de seu nome. Mas estranhamente aquele homem não conseguiu curar a filha da enfermidade que a afligia. Mas qual o motivo dessa incapacidade? Qual o motivo dessa impotência?

Jesus não comungava com as regras humanas transformadas em Leis Divinas. Tudo que era acréscimo humano na Lei Divina era repudiado pelo Messias. Isso fazia dele uma pessoa indesejada para a maioria dos religiosos. Ele também ensinava as pessoas a pensar, Ele mostrava a realidade para quem tinha coragem de ver. Sem manifestações políticas, ele desestabilizava a política-religiosa de judeus e romanos. Sem desobedecer nenhuma Lei Divina, Jesus inviabilizava a religiosidade contaminada pela ganância. Essas questões, conhecidas por aquele oficial da sinagoga, possivelmente o encorajaram a procurar Jesus e pedir-lhe que “transgredisse” mais uma vez as leis religiosas – em favor da vida. Até aquele momento, ninguém – nem Jesus – sabia qual era a enfermidade da menina, nem no final do texto, quando Jesus a cura essa enfermidade é revelada. São os acontecimentos no “meio do caminho”, que possivelmente revelam a “doença” da filha de Ya’ir. Ao sair em companhia daquele pai, a multidão que tudo ouviu, passou a segui-los.

Quem já esteve “no meio da multidão”, sabe que todos são conduzidos pelo fluxo incontrolável dos que fazem a turba. Naquele momento, não havia “cordão de isolamento”, os alunos deveriam estar ao redor de Jesus e de Ya’ir, mas não representavam obstáculo para que eles fossem comprimidos pela turba. Talvez a casa de Ya’ir não fosse distante do local de onde ele abordara Jesus, mas chegar lá, com aquela multidão ao redor com toda certeza não era uma tarefa fácil. Naquele aperto geral, naquela situação de extrema proximidade, alguém “arrancou” um milagre de Jesus.


CONFIAR NA VERDADE ESTANCA OS SANGRAMENTOS

“Entre eles, estava uma mulher padecendo de hemorragia havia doze anos. Ela sofrera muito sob o cuidado de vários médicos. Gastou todas as economias, mas, em vez de melhorar, piorava. Ela ouviu falar de Jesus. Então se aproximou por trás dele, no meio da multidão, e tocou em seu manto, porque pensava: ‘Se eu tocar em seu manto, serei curada’. A hemorragia cessou instantaneamente, e ela sentiu em seu corpo que havia sido curada da doença. No mesmo instante, Jesus percebeu que havia saído poder dele e, virando para a multidão, perguntou: ‘Quem tocou em minha roupa?’. Os alunos (discípulos) responderam: ‘Você está vendo a multidão aglomerada à sua volta e ainda pergunta: ‘Quem tocou em mim?’’. Mas Jesus continuou olhando para ver quem fizera aquilo. A mulher, tremendo de medo, por saber o que lhe tinha acontecido, aproximou-se, prostrou-se aos pés dele e lhe contou toda a verdade. ‘Filha’, ele lhe disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da doença’.” Marcos 5:25 a 34.

No meio da multidão, Jesus parece surtar com tanta gente ao redor e afirma que “alguém” o havia “tocado”. O comportamento mais racional foi o dos alunos que diziam ser óbvio “alguém” ter lhe tocado, haja vista estarem indo na mesma direção, apertando uns aos outros, espremendo uns aos outros. Mas o Messias continua afirmando a singularidade do toque. Não havia especialidade no tocar, mas sim na pessoa que tocou. A singularidade estava no “tocante” e não no ato. Foi a intenção que fez a singularidade.

No meio de tantas pessoas, somente uma – e não era Ya’ir – possuía “algo” diferente em “alguém” singular. Todos estavam acompanhando, todos estavam observando, todos estavam admirando, mas somente uma pessoa buscava, queria, precisava. O texto informa de forma clara qual quem era a pessoa o que lhe afligia. Era uma mulher que não tem sua nacionalidade revelada e sua enfermidade era íntima. Um sangramento causado por alguma perturbação genital. Ela até poderia sofrer de uma grave doença venérea.

O texto original permite entender que aquela mulher poderia não ser judia e se fosse, teria sido tratada por médicos judeus que lhe enganaram. A razão para essa proposta está na questão de como os judeus tratavam mulheres com sangramentos genitais. Na Torah, mais especificamente no livro de Levíticos, encontramos no capítulo 15, dos versos 19 ao 33, as regras para tratar mulheres que sofriam de alguma enfermidade genital, que produzisse corrimento, fosse ele mucoso ou sangramento propriamente dito. Em minha opinião, o fato daquela mulher estar no meio da multidão demonstra que ela não era judia. O fato de já ter passado na mão de muitos médicos pode reforçar tal proposta. Mas a questão é que ela sofria – segundo o texto – dessa enfermidade a 12 anos. O original em hebraico dá entender que ela estaria pagando seu tratamento com o seu dízimo. Talvez os médicos que a tratavam cobrassem o dízimo como forma de “expiação” por sua possível culpa. Quem sabe eles achassem – ou soubessem – que sua enfermidade fosse proveniente de alguma doença sexual e lhe obrigassem o ato religioso de pagar com seu dízimo.

Mas naquele momento, nada importou. Se judia ou não, se descumpridora de suas obrigações morais ou não, se enganada por algum médico judeu ou não, aquela mulher enfrentou seu isolamento, seus tormentos, seus demônios e “saiu pra fora” encontrar com seu salvador. Ela acreditava que impor suas mãos seria o bastante para ser curada. Ao contrário do religioso Ya’ir que pediu ao santo Jesus impusesse as mãos em sua filha, aquela mulher pecadora queria impor suas mãos naquele homem diferente. A desigualdade entre os dois comportamentos é grave e brutal. O religioso queria que Jesus “descontaminasse” sua filha, a mulher queria “ser contaminada” com a santidade. Duas pessoas, dois comportamentos diferentes diante da vida. Pessoas diferentes, necessidades iguais, um só Salvador.

Enfrentando seus medos, a mulher contou tudo ao Mestre. Nada mais importava, sua vida se esvaia, se liquefazia há 12 anos. Diante do “ginecologista Divino”, não havia mais porque manter a “vergonha escondida”. Aquele momento, era “tudo”, pois o “nada” já a possuía fazia tempo, sua vergonha sangrante afastara todos de si, ninguém a acompanhava; não se encontram no texto nenhum parente, nenhum amigo, ninguém está com ela. Somente ela e seu Jesus no meio de uma tempestade de gente. Aquela mulher estava com seu “barco” no meio da tempestade, havia chegado ao outro lado e estava de frente com seus demônios. Sua “legião” era personificada pelos diversos médicos a quem ela se entregara para ficar curada. Igual ao geraseno que não podia ser contido, ela não podia ser curada. Estava pobre, perdera tudo, todas as economias pagando pela cura. Porém, o “demônio” que estava diante dela era na verdade seu salvador, por isso o medo.

Depois de se derramar diante de Jesus e confessar sua atrevida imposição de mãos – “...se apenas tocar em suas vestes, serei curada...” – colheu os “frutos” dessa ousadia. Seu sangramento parou instantaneamente. Sem dízimos, sem ofertas, sem sacrifícios, sem processas, sem nada de externo; somente uma motivação interna, corajosa e verdadeira de enfrentar com dignidade seu medo de “tocar” em Jesus. Foi essa intimidade que Jesus sentiu ao ser “tocado” por aquela mulher. Foi essa “cura roubada” que o fez aquietar a tempestade de gente que o cercava.

Mas o mais importante naquele diálogo entre médico e paciente foi o que Jesus disse. ‘Filha’, ele lhe disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da doença’. Chamar aquela mulher de “filha” tinha haver com a filha de Ya’ir, que segundo meu entendimento, estava passando por seu primeiro sangramento. Chamar a mulher sangrante de “filha”, carrega o cuidado paterno de quem se preocupa com sua família e não com sua religião. O texto sagrado da Torah diz que qualquer pessoa que fosse tocada ou tocasse em uma mulher acometida de sangramento – ou fluxo de muco genital – se tornaria impura igual a ela. Essa “filha” de Deus por meio da cura que veio do Filho, havia sido curada por sua confiança, por confiar em seus objetivos. Ela não possuía dúvidas religiosas, ela não possuía dúvidas teológicas, ela não possuía dúvidas doutrinárias. Ela só possuía em si a verdade absoluta de que Jesus era capaz de curá-la, mesmo se não soubesse de sua enfermidade. Para aquela mulher, Jesus não precisava saber quem ela era, nem qual a sua enfermidade. Ele só precisava estar ao alcance de sua mão.

Nos dias de hoje, o que nos impede de “tocar em Jesus” de forma confiante, são os complexos doutrinários, os mitos religiosos, e as infindáveis questões teológicas. Verdadeiras legiões que nos impedem de receber, “mesmo que Jesus não saiba” que existimos e qual nossa mazela que precisa ser curada. A parte mais fácil do milagre é a nossa: TOCAR EM JESUS. A mais difícil é a dele, curar nosso sangramento. Jesus continuou curando aquela filha. “Vá em paz”, ele disse. Continue curada, não adoeça, não se torne religiosa. Continue filha de Deus.

Muitas vezes a cura de Jesus em nossa vida, não nos livra de uma enfermidade, ou livra um amigo ou parente nosso de sua enfermidade. Por vezes a cura é a capacidade de convivermos com essa enfermidade. Somos curados da enfermidade de querer viver para sempre, sem doenças, sem mazelas, com dinheiro no bolso. Mas esse estado de tranquilidade, invariavelmente nos afasta dos caminhos do Pai, nos põe no meio da multidão que só “segue” Jesus por onde ele vai, esbarrando no Mestre sem serem curados por esse contato com o Divino. Mesmo que seja só assim, uma cura íntima, ainda é uma cura divina e precisamos viver em paz com ela e continuar curados. Aceitar que “Deus sempre sabe o que faz” é importante para todos que desejam ser filhos de Deus.


MESMO QUE O CORAÇÃO DIGA SIM, A RELIGIÃO DIZ NÃO.

“Enquanto ele ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa do dirigente da sinagoga, dizendo: ‘Sua filha morreu. Não incomode mais o rabi.’ Ignorando o que eles disseram, Jesus falou ao dirigente da sinagoga: ‘Não tenha medo; apenas mantenha a confiança’”. Marcos 5:35 e 36.

No exato momento em que esse milagre aconteceu, e o coração de Ya’ir, o pai religioso, se acendeu com a certeza de que Jesus seria capaz de curar sua filhinha, chegou a notícia mortal de que sua querida menina estava morta. Estava morta porque o Messias não estava mais puro, não era mais santo, não poderia mais fazer o milagre predito na religião. Uma mulher impura o havia tocado. Possivelmente no coração daquele pai angustiado a confiança se dissipava pelo vento tempestuoso da lei religiosa. Não havia mais porque incomodar o rabi, a menina havia morrido por causa da religião. O afeto paterno, o amor fraterno não eram suficientemente fortes para vencer o dogma doutrinário que impunha o afastamento, o isolamento entre a “mulher que sangrava” e seus familiares.

Mas o milagre não havia sido completo, Jesus precisava curar aquele homem. Ao dizer-lhe para não ter medo, o Messias informava ao pai aflito que não era o externo que contaminava, e que o fato de ele, Jesus ter sido tocado por uma “mulher impura” não o tornara impuro. Ao pedir que Ya’ir mantivesse a confiança em si mesmo, no que seu nome significava, na força do amor que cura todas as enfermidade e vence todas as batalhas, Jesus o estava convidando para o lado de dentro de si, para atravessar a tempestade íntima provocada pelos ventos fortes das religiões que levantavam ondas bravias de doutrinas humanas.


A CURA DAS RELAÇÕES FAMILIARES
ADOECIDAS PELA RELIGIÃO. O “SIM” DE JESUS VALE MAIS.

“Com exceção de Pedro, Jacó e João, irmão de Jacó, não deixou ninguém segui-lo. Quando chegaram à casa do dirigente da sinagoga, Jesus encontrou uma grande comoção, gente chorando e gritando bem alto. Ao entrar, disse-lhes: ‘Por que todo este desespero e choro? A criança não morreu, está apenas dormindo’. E as pessoas começaram a rir dele. Jesus, entretanto, colocou todos para fora, levou consigo o pai e a mãe da menina e os alunos (discípulos) que estavam com ele, e entrou no lugar onde estava a menina. Pegou-a pela mão e lhe disse: ‘Talita, kumi’ (que significa: ‘Menina, levante-se!’). Imediatamente a menina se levantou e começou a andar: ela contava doze anos de idade. Todos ficaram profundamente admirados. Ele ordenou expressamente que não contassem nada sobre isso a ninguém e disse que dessem a ela alguma coisa para comer.” Marcos 5:37 a 42.

Ao contrário do que a mídia religiosa faz, os milagres de Jesus não tinha o objetivo espetacular, eles eram íntimos, contidos, no íntimo de cada um, no “secreto” de cada ser. E foi assim que aconteceu mais uma vez. A primeira coisa que Ele faz ao chegar à casa de Ya’ir é anunciar a verdade: “... ‘a menina não está morta’ para mim”, em outras palavras Jesus estava dizendo que mesmo que a religião determinasse a morte daquela pré-adolescente, pela impossibilidade de que alguém “puro” pudesse curá-la, Jesus estava afirmando ser falsa tal premissa. O que contamina e adoece o ser humano não é o que está fora, mas sim o que está dentro de cada um. As Leis Levíticas de pureza, que estavam sendo observadas de forma literal por aquele oficial da sinagoga, precisavam ser interpretadas de outra forma. Afastar, banir, privar do aconchego os familiares enfermos e sangrantes não era sinal de estar puro, pelo contrário mostrava a real impureza do ser, a impureza emocional, contaminada pela ferrugem sanguinolenta da observância religiosa.

Os meramente religiosos, que andam “grudados” em Jesus, mas essa aproximação não lhes cura os cantos de unha inflamados, gargalham diante daquilo que não enxergam. A reação mais comum para um ignorante é rir diante do milagre, a única reação que um incrédulo religioso pode ter diante da novidade que muda o entendimento é gargalhar, zombar, fazer pouco, escarnecer. É assim que os unicamente religiosos fazem.

Alheio às gargalhadas dos impuros de alma, Jesus manda a todos embora. Ninguém, além dos pais da menina – além dele e alguns alunos – ficam na casa. Essa atitude de afastar aos que não faziam parte da família era necessária para que a harmonia familiar voltasse, afastar os intrusos foi necessário para que Ya’ir, assumisse o comando de sua família novamente, mandar os religiosos incrédulos embora foi preciso para que aquele homem voltasse a acreditar no seu ministério de oficiante. Ya’ir precisava voltar a cuidar das pessoas, precisava voltar a acreditar na iluminação que Deus proporciona aos que lhe procuram com honestidade.

O texto diz que a idade daquela criança era 12 anos. É nessa idade, que normalmente as meninas têm sua primeira menstruação. E possivelmente essa era a “enfermidade” dela. O fluxo sanguíneo natural da menarca, somado ao desconforto socio-religioso de ter sua filinha “impura” dentro de sua casa e ter de afasta-la da companhia e do cuidado familiar, além as possíveis dores causadas pela cólica menstrual, pode ter destruído aquele pai amoroso por dentro. A luta entre o amor pela filha – ele se refere a ela como “minha filhinha” – e as obrigações religiosas que diziam que ele deveria afastar-se dela (Levítico 15:19ss.), era o que precisava ser curado naquele episódio. Ao levar pai e mãe para dentro do “quarto impuro” onde estava uma “menina impura”, Jesus apresentou a Ya’ir seus demônios.

Sem nenhum ritual de cura, sem nenhuma mandinga religiosa, sem palavras “estranhas”, sem expulsar espíritos, Jesus “contaminou-se” tomando aquela filha pela mão e a fez ficar em pé. “Levante-se”, disse o Messias. Ela obedeceu, acordando de seu sono mortal, levantando-se de seu estado desprezível. Seu desejo de morrer por estar sendo abandonada por seus pais, devido ao sangramento natural, pode tê-la impedido de se alimentar devidamente. Essa presunção pode ser calçada no fato de Jesus ter mandado os pais alimentarem a filha sangrante.

Quase que invariavelmente, as práticas religiosas têm afastado os familiares e destruído famílias inteiras. Os credos religiosos, via-de-regra, só se preocupam com o “espiritual” das pessoas. Dizem cuidar daquilo que não vêm, mas desprezam aquilo que vêm. Um dos alunos que estava dentro daquele quarto, escreveu anos depois sobre isso.

“Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” I João 4:20.

Pense nisso.

Deus lhe abençoe.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ESSA É MINHA OPINIÃO



O direito de opinião é assegurado por lei. Cada um pode falar o que desejar desde que assuma o ônus pelo que disser. Por mais “cruel” que seja isso, é assim que é. Todos podem emitir sua opinião sobre “o que” e sobre “quem” desejarem. Essa é a tal “liberdade de expressão”. Somente os sistemas ditatorialistas não permitem e não garantem tal direito. Mas como estamos em um País democrático e livre, que assegura a todos os cidadãos brasileiros os direitos de expressão e opinião, quero emitir as minhas.

Na segunda-feira, um radialista, o senhor Neto Castro, em sua entrevista com os Procuradores Gerais do Município, na Rádio Panorama, chamou o ex-prefeito Antônio Peixoto de leproso, plantador de abacaxi. Em minha opinião, além do palavreado chulo e ofensivo, o radialista mostrou seu total preconceito aos hansenianos e aos plantadores de abacaxi. Usar uma enfermidade – a lepra – e a atividade de agricultor – plantador de abacaxi – como forma de ofender a um desafeto político, mostra o quanto esse radialista é racista e preconceituoso.

Pergunto: será que um hanseniano – um leproso, termo usado pelo radialista Neto Castro – não é cidadão? Será que as pessoas que sofrem do Mal de Hansen são “menos gente” que as outras pessoas? Será que sofrer de hanseníase faz de alguém uma pessoa odiada, mal quista, indesejável, a esse ponto? Os hansenianos perderam a cidadania por causa de sua enfermidade? Será que essa enfermidade lhes tira o direito do voto? Será que sofrer dessa agrura, faz desses seres humanos, pessoas que não mereçam nosso respeito? Esse radialista não sabe o tamanho do sofrimento de um hanseniano. Esse senhor não tem capacidade de se condoer com a angústia, com a vergonha, com o desespero de alguém que se descobre enfermo. A prova está no comentário chulo e desrespeitoso. Usar enfermidades para ofender pessoas é demonstração clara de preconceito, intolerância e racismo.

A intolerância está explícita no vociferar desse radialista, e se manifesta na agressividade com a qual ele trata a questão homossexual e as liberalidades comportamentais do programa BBB da Rede Globo.

Na mesma esteira do preconceito, esse radialista também usou a profissão de agricultor, especificamente os agricultores que trabalham no cultivo do abacaxi, como se fosse uma atividade “leprosa”, indesejável, menos digna que as demais profissões. Quanta ignorância. Agricultores são pessoas dignas, sua profissão pode até ser mais respeitável que outras, pois esses homens e mulheres trabalham de sol-a-sol, com a mão na terra, cultivando o solo, para produzirem o que todos nós temos em nossa mesa. As hortaliças e frutas, os grãos que nos servem de alimento são cultivados por pessoas que foram ofendidas e desrespeitadas por esse radialista destemperado e ignorante. Será que ser plantador de abacaxi é ser menos digno que um plantador de couve? Será que ser um plantador de abacaxi é ser menos trabalhador que um plantador de cheiro-verde? Será que ser um plantador de abacaxi é ser menos profissional que um plantador de tomates? Claro que não. E também não é ser menos digno que um radialista, que um jornalista, que um vereador, que um prefeito. Somos todos dignos por nossas atividades profissionais. Esses profissionais que foram ofendidos pelo radialista, são responsáveis por mais de 30 milhões de frutos de abacaxi, na última safra. Esses homens e mulheres merecem nosso respeito.

A fala do radialista Neto Castro, carregada de preconceito e direcionada aos hansenianos e aos agricultores que cultivam abacaxi, poderia e deveria receber uma advertência judicial. Afinal de contas, não é possível tanto desrespeito.

Essa é minha opinião.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A ARTE DE COM-VIVERMOS.


“Se eu sou eu porque você é você, e você é você porque eu sou eu; então nem eu sou eu e nem você é você. Mas se eu sou eu porque eu sou eu, e você é você porque você é você; então eu sou eu e você é você, e nós podemos conversar.” Ditado Iídiche.

Viver sozinho é impossível. Essa impossibilidade está mostrada em todas as narrativas “criacionistas” ou “evolucionistas” da origem da humanidade. Na narrativa judaico-cristã, dessa origem, ouvimos a frase singular e emblemática do Todo Poderoso: “não é bom que o homem esteja só.” Porém pretendo fugir da generalidade do termo “homem”, pois no hebraico “homem” é “Adam”, que também é humanidade – espécie humana. Em sendo assim, a dedução Divina é óbvia: NÃO É BOM PARA OS SERES HUMANOS UMA VIDA SOLITÁRIA.

Mas viver em comunidade é difícil para a maioria de nós. Seja um casal, sejam irmãos, sejam amigos, seja lá que grupo for. Essa dificuldade se dá por razões singulares e não plurais, a dificuldade de com-vivência – vivência com o outro – só acontece quando os convivas ou conviventes não sabem quem são e tentam a todo custo fazer com que os outros sejam o que “ele é”, ou tenta-se “ser” o que os outros “são”. Essa é a enfermidade que dificulta e às vezes até impede as relações afetivas.

A grande maioria de nós não sabe quem é. E não sabe por que ninguém nunca nos ensinou sobre nós mesmos. Aprendemos sobre tudo e sobre todos, mas não aprendemos sobre nós mesmos. Infelizmente, muitas vezes o que “sabemos” sobre nós, vem dos conceitos estranhos a nós. Muitas vezes crescemos “sabendo” que somos preguiçosos, burros, descomprometidos, endiabrados, levianos, filhos da &$#@, sacanas, esculhambados, e por ai vai. Crescemos “sabendo” que somos tudo o que não presta. Mas quando isso não ocorre (e é muito raro), aprendemos que “somos” pessoas de difícil relacionamento, e como é isso que sabemos sobre nós, fazemos questão de mostrar a todos que somos assim, um ser difícil de relacionar-se com outras pessoas. Alegamos isso mostrando nossas mazelas, nossas manias, nossas besteiras existenciais, como se fossem nossos bibelôs de estimação, nossas medalhas, nossos troféus. “Sou uma pessoa difícil de se relacionar”, bradamos com orgulho.

Na verdade fazemos isso porque não sabemos quem realmente somos, achamos que sabemos, e isso faz com que nós nos esforcemos para estragar nossas relações, porque aprendemos que não prestamos, que não podemos viver em comunidade porque somos pessoas difíceis. Quanta tolice.

Só pode haver relacionamento entre pessoas se “elas forem elas”. Só pode haver convivência se cada um for cada um. Quando “eu sou eu” e “você é você” – ou vice versa – é que as relações afetivas se efetivam. Não podemos estabelecer um relacionamento com ninguém quando não sabemos quem somos. A prova de fogo – a purificação – de quem realmente somos se estabelece quando podemos deixar as pessoas serem quem elas realmente são. Quando “eu sou eu”, não tenho nenhum problema em deixar “você ser você”, seja você quem for. O problema está quando eu acho que sei “quem sou”, passo a impor esse “saber” aos outros, e nessa atitude se revela que “não sou” quem digo ou acho “que sou”, pois não aceito o outro como ele é.

Rabi Bonder mostra isso de forma clara no texto que reproduzo:

“Um dos pilares da ética e do Humanismo no Ocidente é a frase bíblica, ‘ama teu próximo como a ti mesmo’. Central para o monoteísmo ético-judaico e fundadora para o cristianismo, destacada por Jesus e por Rabi Akiva, e traduzida popularmente por Hillel como: ‘não faça aos outros o que não queres que façam a ti’. Essa frase é a origem do direito e das conquistas de cidadania que se consagraram no Ocidente. Há um aspecto dessa frase, entretanto, que me parece particularmente importante. Trata-se da possibilidade de se ler no hebraico original, em lugar de ‘próximo’ (lê-reecha), uma outra palavra de grafia idêntica e cujo significado é ‘ruim’ (lê-raecha). A leitura da frase seria então: ‘Ama o teu ruim como a ti mesmo.’ Aprender a amar o que há de ‘ruim’ em nós como parte de nós mesmos não é uma apologia à complacência, à resignação ou à imperfeição. É um ato de ‘endorcismo’, de integração, sem o qual não há tolerância. Perceber que a palavra ‘outro’ (próximo) tem a mesma raiz que a palavra ‘ruim’ é entender um pouco de nossa psique. O que é diferente é automaticamente visto como ‘ruim’. Verdadeiramente amar o ‘outro’ é tão difícil e violento como se propuséssemos amar o ‘ruim’ ou o imperfeito. O exorcismo, o ato de querer excluir e erradicar o ‘ruim’, significa verdadeiramente querer erradicar o ‘outro’. Como poderemos tolerar os outros e amá-los, se não toleramos em nós o que é ‘outro’, o que é fora de padrão e de expectativas? Não há identidade sem o outro, não há bom sem o ruim e não há bem sem o mal. Novamente retornamos ao mundo espiritual da ‘escuridão’, mundo de tensão e paradoxos. Qualquer tentativa que vise extirpar o ‘outro-ruim’ corre o risco de inventar um ‘bom’ monstruoso que seja desagradável, horrendo e destrutivo. Isso porque amar é o sentimento capaz de apreciar o diferente. Só poderemos integrar nosso ‘ruim’ a nós, se pudermos processá-lo pelo sentimento de amor. Ser ‘bom’, só é possível para quem realiza o trabalho espiritual de absorver seu Satan, seu próprio ruim, ou seu próprio outro. E ser bom nunca é para o outro, mas para si, e para todos. Essa é a condição única para que a bondade não seja instrumento de dominação. Conta-se uma parábola na qual um cantor, o melhor do reino, foi trazido para cantar e entreter o rei. Ao final, perguntaram ao rei se havia gostado e este disse que não, logo explicando: ‘Não gostei porque ele estava cantando para mim. Tivesse ele cantado para Deus, teria servido também para mim.’ A bondade não pode ser para o outro, deve ser para tudo e todos e aí serve também para o outro. A verdadeira inteligência espiritual teme as artimanhas da bondade com o mesmo terror e preocupação com os quais a ignorância espiritual teme o mal. Exorcizar nossa ‘bondade’ é parte do processo de dar espaço para a integração de nosso ‘ruim’.” Rabi Nilton Bonder, Senso de Bondade – Caminho à tolerância; Fronteiras da Inteligência.

Esse “saber quem sou” é condição primordial para que possamos viver bem uns com os outros. Nos relacionamentos fraternos – familiares – as desavenças, as brigas, as intolerâncias se dão exatamente por essa razão: NINGUÉM SABE QUEM É. Quando sei “quem sou”, você pode ser “quem é” ou quem desejar ser, que eu não “me” modificarei por sua causa, seguirei pacificamente meu caminho, sem entrar em guerra com você.


Pense nisso quando enfrentar seus problemas de relacionamento. Seja você.

Alexandre Rocha,
Itacoatiara, 11 de fevereiro de 2014.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

AMIGOS EXCLUÍDOS DA IGREJA



Na reunião de domingo, dia 9 de fevereiro, fui notificado que duas pessoas que têm estudado a Bíblia, comigo, na “Casa de Ensino”, foram excluídas da congregação da qual faziam parte. Uma notícia triste, mas esperada. No momento em que fui informado, “não dei muita bola” porque estava envolvido com o que pretendia ensinar e aprender com o evangelho de Marcos. Agora, depois que “a ficha caiu”, não me sinto bem com o ocorrido. Não me sinto bem, por alguns motivos, um deles é que a congregação que expulsou, excluiu essas pessoas que estudam comigo, é uma congregação que pastoreei durante quase cinco anos. Passei o tempo todo falando de Graça, Misericórdia, Perdão (...), mas parece que não aprenderam nada. Que pena.

Segundo informações, as pessoas foram excluídas por não quererem ter compromisso com a congregação, não desejarem se envolver com os trabalhos congregacionais (...), e por que estavam fazendo estudos na Beit-Alef. “Estudar a Bíblia fora da igreja não é correto”, teria dito alguém por lá. (...). Santo Deus, quanta ignorância, quanta raiva, quanta blasfêmia.

Essa é a verdadeira face da maioria das congregações protestantes. Necessitam controlar as pessoas, mandar em suas vontades, mantê-las sob o julgo de uma lei humana, obtusa e demoníaca (...). Para não cometer pecado contra esses tais, fico por aqui. Saibam que estão nas minhas preces. Peço a Deus que tenha misericórdia de vocês. Deixo um trecho bíblico para sua reflexão.

“Não muitos de vocês deveriam se tornar mestres, meus irmãos, pelo fato de saberem que seremos julgados com maior severidade. Porque todos nós tropeçamos de muitas maneiras: se alguém não tropeça no que diz, é um homem maduro e capaz de tomar as rédeas de todo o seu corpo. Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o corpo todo do animal. Pensem também em um navio: embora seja tão grande e impelido por fortes ventos, o piloto o dirige na direção que quiser mediante um leme pequeno. Da mesma forma, a língua é uma pequena parte do corpo, mas se gloria de grandes coisas. Vejam que um fogo pequeno é capaz de queimar uma floresta. Sim, a língua é um fogo, um mundo de iniqüidade. Ela está alojada entre os membros do nosso corpo e o contamina por inteiro, incendiando todo o curso de nossa vida; seu fogo é alimentado pelo inferno. Os seres humanos dominaram e continuam domesticando todas as espécies de animais, aves, répteis e criaturas do mar; entretanto, ninguém consegue domar a língua — ela é incontrolável e maligna, cheia de veneno mortal. Com ela bendizemos ADONAI, o Pai, e com ela amaldiçoamos as pessoas, criadas à imagem de Deus. Da mesma boca, procedem bênção e maldição! Irmãos, não é correto que as coisas sejam dessa forma. De uma fonte não pode sair água doce e água amarga, pode? E a figueira pode produzir azeitonas, meus irmãos? Ou a videira, figos? Tampouco uma fonte de água salgada produzirá água doce. Quem entre vocês é sábio e tem entendimento? Que o demonstre mediante sua boa conduta, por ações praticadas com a humildade procedente da sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso nem ataquem a verdade com mentiras. Essa sabedoria não é do tipo que procede do alto; ao contrário, é terrena; não-espiritual, demoníaca. Porque onde existem inveja e ambição egoísta, há discórdia e toda espécie de práticas indecentes. Mas a sabedoria do alto é, antes de tudo, pura; depois, pacífica, dócil, racional, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. Os pacificadores que plantam a semente da paz juntarão uma colheita de justiça.”Tiago capítulo 3.


Deus lhes ilumine o entendimento.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O OUTRO LADO, O LADO DE DENTRO É ONDE ESTÃO NOSSOS DEMÔNIOS



“Jesus e os alunos [discípulos] chegaram à outra margem do lago e foram ao território dos gerasenos. Assim que desembarcou, um homem com um espírito impuro saiu das grutas que serviam como sepulcros [e foi] ao seu encontro. Esse homem vivia naquele lugar, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes lhe haviam sido acorrentados pés e mãos, mas ele rompia as correntes e quebrava os ferros dos pés, e não havia ninguém suficientemente forte para controlá-lo. Noite e dia andava entre os sepulcros e nas colinas berrando e se ferindo com pedras.

Ao ver Jesus de longe, correu, prostrou-se diante dele e gritou o mais alto que pôde: ‘Que quer de mim, Jesus, Filho do Deus Superior? Imploro em nome de Deus! Não me torture!’. Porque Jesus lhe dissera: ‘Espírito impuro, saia deste homem!’. Então Jesus lhe perguntou: ‘Como você se chama?’. ‘Meu nome é Legião’, respondeu ele, ‘porque há muitos de nós’. E continuou implorando a Jesus que não lhes mandasse sair daquela região.

Uma grande quantidade de porcos estava se alimentando em uma colina próxima, e os espíritos impuros imploraram a Jesus: ‘Mande-nos para os porcos, a fim de podermos entrar neles’. Jesus lhes deu permissão. Eles saíram do homem e entraram nos porcos; cerca de dois mil porcos se atiraram colina abaixo, em direção ao lago, e nele se afogaram. Os que cuidavam dos porcos fugiram e contaram o fato na cidade e nos campos, e o povo foi ver o que havia acontecido. Eles se aproximaram de Jesus e viram ali o homem habitado por uma legião de demônios, assentado, vestido e em perfeito juízo; e ficaram atemorizados. As pessoas que viram o fato contaram o que acontecera ao homem controlado por demônios e aos porcos; as pessoas começaram a suplicar a Jesus que saísse de lá.

Quando Jesus estava entrando no barco, o homem que estivera endemoninhado implorou que o deixasse ir também. Mas Jesus não permitiu. Em vez disso, disse: ‘Vá até sua família e lhes diga quanto ADONAI, em sua misericórdia, fez por você’. Ele foi embora e começou a proclamar nas Dez Cidades o que Jesus tinha feito por ele. Todos ficaram admirados.” Marcos 5:1 a 18.

Continuando nosso estudo...

Jesus convidou aos alunos para “irem para o outro lado”. Esse “outro lado” é o lado de dentro de cada um. No meio dessa viagem, na travessia pelo mar de aprendizado que nos faz mudar os costumes, as perspectivas, os paradigmas, a mente se abala e a tempestade nos atinge fazendo com que pensemos em naufragar. Mas nossa inquietude é repreendida pela serenidade de Jesus que nos aquieta e acalma nos deixando tranquilos em relação a essa viagem ao centro de nós mesmos. Essa viagem ao íntimo de nós mesmos, não é uma constante experiência de calmaria e quietude. Ela irá nos revelar, nos fará ver quem somos realmente.

Como disse antes, não estou pondo em dúvida o que é relatado no evangelho, pretendo lançar “outra luz” sobre a leitura, uma luz menos assertiva, menos literal, menos religiosa, mas profundamente espiritual. Não quero nesse texto, tratar das questões históricas – farei isso em outra oportunidade –, quero me prender aos símbolos, aos signos que esse episódio carrega.

Escravo das próprias fantasias

O texto de Marcos descreve que tão logo o grupo de Jesus chegou ao outro lado do lago, um homem possuído por espírito impuro, que vivia em cavernas que serviam de sepulturas, saiu ao encontro dele gritando feito um desesperado. O texto ainda revela alguns fatos interessantes, que nos fazem pensar de forma um tanto diferente sobre o episódio narrado. Descreve o texto, que “ninguém podia prendê-lo”. O termo é “poder” e não “conseguir”. Isso é revelador, mostra o impedimento social e cultural, revela que aquele homem poderia ser uma espécie de “atração turística” do lugar, por isso não poderia ficar preso.

Outro ponto, mesmo quando o “prendiam” com correntes, ele as quebrava porque não havia ninguém suficientemente forte para controlá-lo. Situação que mostra a interação comunitária em manter o mito do superpoder daquele pobre coitado. Esse trabalho escravo de atração turística, não o deixava descansar. Possuído por seu papel sócio cultural, aquele homem nunca “descansava”, “dia e noite ele andava berrando e se ferindo com pedras”. Essa afirmação – demônio atração turística – ganha força no fim do texto, quando os habitantes do lugar solicitam que Jesus vá embora de lá.

Outro fato inusitado, que está presente no texto, mas que em se tratando de “domínio espiritual”, parece ser impossível de acontecer, é o pedido que o “possesso” faz a Jesus quando o vê. Ele implora em ...em nome de Deus!.

Que tipo de entidade maligna, invocaria misericórdia em nome do Deus Supremo – Há-Elyon? Honestamente não conheço nenhuma. Todas as entidades malignas são reprendidas em Nome de Deus, ou pelo Nome d’Ele. Vejo no relato do texto de Marcos, que aquele homem poderia ser um escravo de suas fantasias, e que o povo daquele lugar alimentava essas fantasias, e ganhava notoriedade com isso. Seu temor talvez se desse por ele saber que sofreria castigos – psíquicos, emocionais e até físicos – se Jesus acabasse com aquela farsa. Aquele ser – fosse ele humano ou “meio-humano” – conhecia a Jesus, porque “a fama” de Jesus se espalhara por todo canto. Pedir para que Jesus não o torturasse, revela a possibilidade de castigo, sofrida por aquele pobre coitado.

Mesmo não aprofundando nos fatos históricos, é preciso explicar. Aquela região – Gerasa – era uma região devastada pelas sucessivas guerras. Primeiro os Persas, depois os Gregos, depois os Romanos. Aquele homem cresceu vendo as legiões gregas e romanas passarem por cima de tudo que encontravam pelo caminho, para se estabelecerem como possuidoras do lugar. Na mente adoecida daquele homem, o único nome que ele poderia ter era “legião”, pois era a única forma de poder que ele conhecia desde sua infância. É assim que ele se chama, é assim que ele se identifica: Legião. Mas Jesus havia tratado – e dado ordens para que saísse dele – aquele estado de “espírito impuro”. Essa designação está mais para uma mente enferma e totalmente impura pelo que acredita ser, e fala que é aquilo que acredita, que propriamente uma identificação de “malignidade espiritual”. Espíritos impuros, são pensamentos impuros, sentimentos impuros, comportamentos impuros. Impureza é a falta de pureza, que por sua vez tem haver com o ser queimado, passado pelo fogo. O ser puro é aquele que passa pela fornalha da vida e sai do outro lado purificado. Esse fogo que purifica, queima o que é para ser queimado – madeira, palha e feno – mas não queima não quem realmente somos. (I Coríntios 3:11 a 14). Mas quem não entra na fornalha da vida e encara suas chamas que purificam, se torna impuro, não queimado, não santificado, um esquizofrênico. Passa a viver de suas fantasias, de seus ídolos, de seus falsos deuses, de suas manias construídas de madeira, feno e palha.

Aquele homem não havia passado pelo fogo que purifica. Parece não haver crescido, parece não haver entendido que “a guerra acabara”, ele ainda estava na infância ou na adolescência, vivendo uma fantasia “legionária”, uma fantasia espiritual fantástica. Estava fragmentado, destruído, esquizofrênico – e esquizofrenizado pelos familiares – servindo de atração turística. “...somos muitos” diz ele a Jesus. Somos muitos, a cidade toda, todo o povoado, toda a região – de Decápolis –, somos muitos. Uma verdadeira legião de gente adoecida.

O episódio dos porcos, tem um forte componente da literatura grega – mais que no restante do texto – , a tragédia. Algo de trágico deveria acontecer, aquela “legião” não poderia ser vencida tão facilmente, aqueles “demônios” não poderiam sair sem causar uma desgraça, “eles” não poderiam ser expulsos sem guerra, sem morte, sem desgraça, sem tragédia. Os únicos seres disponíveis para o sacrifício eram os porcos. Não duvido que aquele homem – apesar de não relatado no texto – tenha corrido berrando na direção das dezenas de porqueiros e de seus mais de dois mil porcos, fazendo com que eles entrassem na encenação empurrando seus animais para a água. No presente relato, existe um “Q” de xenofobia. O animal, o porco, representava tudo que era impuro, tudo que era desprezível para o judeu. A região de Gerasa – Guer-Nazareth – era composta possivelmente de prosélitos, de gentios que teriam se convertido ao judaísmo. Mas não estavam totalmente convertidos, pois ainda cuidavam de porcos. Judeus não são porqueiros, são pastores de ovelhas, mas aqueles gerasenos eram porqueiros prósperos. O componente épico e trágico se completa com na simbologia dos porcos – os não judeus – são lançados no mar como se fossem demônios em fuga. Esse episódio também mostra que aquele judeu prosélito, estava possuído por legiões de costumes e conceitos não judaicos. A “guerra” precisava acontecer, mesmo que fosse contra a personificação de quem a originou: os porcos.

Aterrorizados e não agradecidos, os habitantes daquele lugar pedem para que Jesus e seus alunos saíssem, se afastassem, os deixassem em paz. Quem em sã consciência, depois de receber uma libertação desse tamanho, não agradeceria ao libertador? A legião continuava ali, mas estava fora do homem. Ela continuava nos habitantes de Gerasa, nas famílias, nos amigos, nos vizinhos, na cultura daquele lugar. O legionário está livre, desalistado, da legião. Não faz mais parte dela e nem ela faz parte dele. Em sua tentativa de se afastar de quem o atormentara durante décadas, ele pede ao Senhor para fugir. Pedido negado.

Jesus nega o pedido do legionário, porque ainda lhe falta enfrentar as chamas que purificam. Jesus disse ao legionário: “‘Vá até sua família e lhes diga quanto ADONAI, em sua misericórdia, fez por você’. Ele foi embora e começou a proclamar nas Dez Cidades o que Jesus tinha feito por ele. Todos ficaram admirados.”. Enfrentar quem lhe havia feito um “endemoninhado” era a prova de fogo. Voltar para a família que havia lhe transformado em louco, lhe havia abandonado nas catacumbas, lhe havia acorrentado, lhe havia feito uma atração demoníaca era enfrentar as chamas que purificam. Mas ele fez isso, afinal de contas, ele era um soldado, um legionário, um guerreiro, um santo, um liberto. Ele havia atravessado seu mar turbulento com ondas gigantes e ventos uivantes, havia enfrentado seus demônios, os havia vencido e jogado seus corpos-porcos no mar.

... e nós?

A explicação – não ortodoxa – acima, pode até ser aceita por você, mas de nada se aproveitará se não for entendida e seus conceitos postos em prática.

Quando Jesus nos convida para irmos para o “outro lado”, o lado de dentro de nós, vamos invariavelmente passar por problemas sérios e graves. Ventos poderosos e ondas amedrontadoras são os guardiões do nosso self adoecido. Nosso ser endemoninhado está possuído por legiões de conceitos, manias, taras, fobias, religiões, políticas, moralidade exacerbada e adoecida, justicismo apocalíptico, revolta contra tudo e contra todos – até contra nós mesmos. Um quadro dantesco. Um quadro típico de uma possessão demoníaca digna de Hollywood. Uma tragédia, um desastre. Nossa vida, nossa fama. Nesse universo esquizofrenizado e esquizofrenizante, somos os “todos poderosos”, somos os possuidores do poder que esse estado adoecido nos proporciona. Por isso ventos tão fortes e ondas tão grandes. Quanto “mais demônios” mais vento; quanto “mais demônios” mais ondas.

Dar de cara com a calmaria que Jesus traz é assustador. Em certos momentos pedimos que Ele “nos deixe em paz”, por estarmos acostumados ao caos “demoníaco” que nossa vida se tornou e não queremos mudar. Nessa vida possuída, ODIAR É MELHOR, NÃO PERDOAR É MELHOR, FABRICAR E MANTER INIMIZADES E INIMIGOS É MELHOR, DESCONFIAR DE TUDO E DE TODOS É MELHOR, PROPORCIONAR DESCONFIANÇA É MELHOR, VIVER EM CEMITÉRIOS EMOCIONAIS É MELHOR, FICAR ACORRENTADO AO PASSADO É MELHOR, VIVER EM GUERRA COM DEUS E COM O MUNDO É MELHOR. AFINAL SOMOS UMA LEGIÃO!

Quantas vezes preferimos viver num estado adoecido, demoníaco, a nos libertar das legiões que nos aprisionam com correntes. Viajar para o outro lado, para o lado de dentro de nós mesmos, é dar de cara com nossos demônios, com nossa legião de “bichos horrendos” que nos assombram a alma e nos impedem de ser quem realmente somos.

Depois de expulsarmos nossos demônios e nos voltarmos com gestos e palavras de amor, na direção de quem nos endemoninhou, é hora de “voltar para o lado de fora”, é hora de encararmos a multidão novamente. Desta vez livres desse nosso eu-diabo, desse eu-satã. No retorno ao “outro lado do lago”, não há tempestade. TUDO ESTÁ CALMO.

Deus lhe abençoe.

Alexandre Rocha,
Itacoatiara, 9 de fevereiro de 2014.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

SAINDO DO ARMÁRIO (...)

SAINDO DO ARMÁRIO (...)

Esse é um termo usado para designar quem deixa de ser “homem” ou “mulher” e passa a ser o que pensa que é. Estou usando esse termo de outra forma, estou tentando dizer que eu “saí do armário”. CALMA! EU SEI QUEM SOU.

O motivo desse post, é uma notícia compartilhada pelo admirado compositor Diego Venancio, que notifica, que a atriz global Cláudia Gimenes teria deixado de ser homossexual. Confesso que pra mim isso é só notícia e das menos importantes – honestamente falando. Mas não pude me furtar a escrever algumas linhas sobre o assunto, coisa que até o momento nunca havia feito, por razões bem particulares.

A questão homossexual é bastante delicada. Mal entendida, mal interpretada e mal resolvida. Na Bíblia encontramos Jesus dizendo que “à aquele que tem, lhe será dado. À aquele que não tem, até o ‘o que tem’ lhe será tirado.” (Marcos 4.25). Como seres humanos, finitos e pútridos, só “temos” a nós mesmos. Não podemos ter mais de nada a não ser o que somos. Não podemos ter bens para sempre, não podemos ter pessoas ao nosso lado pra sempre, só podemos ter para sempre, em todos os momentos, o que realmente somos. Rabi Bonder diz que “... quem tem muito de si, tem tudo.”. Essa é uma verdade da vida, da existência humana. Se não possuímos a nós mesmos, somos “possuídos” por seres estranhos a nós. Não estou falando de questões espirituais, nada disso. Esse “seres estranhos a nós”, são seres humanos, ligados a nós, muitas vezes íntimos de nós, que nos “possuem”, por perceberem que não somos quem somos, ou não sabemos quem somos.

No dito de Jesus, quem escolhe “ser algo”, diferente daquilo que realmente é, perde – deixa de ser – o que é originalmente. O apóstolo Paulo diz isso claramente logo no primeiro capítulo da carta aos Romanos: “... apesar de saberem quem Deus é, não o glorificaram como Deus, nem lhe agradeceram. Ao contrário, tornaram-se fúteis em seu pensamento; e seu coração obtuso anuviou-se. ‘Alegando ser sábios, tornaram-se tolos!’”. Esse “coração obtuso”, rude, sem fineza, por não saber que é coração, se “torna” pedra e fica “transformado” disparatado, sem rumo, sem alvo, sem objetivo. Mas a questão central é não se saber quem realmente se é. Quem tem de si, tem tudo, quem tem de si, mais de si lhe será dado. Essa afirmação é psicologicamente divina. Quando temos a nós mesmos e sabemos quem realmente somos – e quem não somos – mais sobre nós mesmos nos é revelado por Deus. Porém acreditar que Deus existe é um problema para quem não sabe quem é. Somos todos, criaturas de Deus, não importa se criados ou evoluídos, Deus é o início de tudo. Quando não sabemos quem somos, pensamos que podemos ser qualquer coisa. Homens pensam que são mulheres, mulheres pensam que são homens. Essa é a enfermidade: PENSAR QUE É, AQUILO QUE NÃO É!

Porém nesse terreno escorregadio e delicado, vejo outra “categoria” de sentimentos que mesmo na Bíblia, não foi encontrada pelos teólogos “machistas” e “feministas”. Além dos homossexuais, existem os homoafetivos. Esses, são os que nutrem sentimentos por seus congêneres, por seu semelhantes, por seus iguais. Saber-se homoafetivo não lhe impõe ser homossexual, praticar sexo com esse par igual. A relação sexual marca, estigmatiza e alguns casos até escraviza. Mas a questão é interna, íntima, pessoal, no âmago dos amantes, e isso eu não quero tratar, não tenho competência. Sou honesto.

Quem não sabe quem é, quase que invariavelmente, perde sua identidade – porque não sabe que tem uma – sexual, genérica, intelectual, moral, (...), os que “se encontram”, os que sabem quem são – mesmo que sejam biologicamente homoafetivos (não homossexuais) – ganham mais de si, e se tornam quem realmente são. Isso é milagre. “Simples assim.”

Deixar de ser “homossexual”, para mim é deixar de transar com pessoas do mesmo sexo, só isso. Não vejo qual o problema nisso. Trocar de parceiros sexuais é fato e ato comum nos dias de hoje, então porque há tanto espanto em uma pessoa que se encontra com quem realmente é, deixar de ser quem pensava ser? “tendeu, tenteu, tenteu”???

Mas a questão está distante de ser resolvida, principalmente no e pelos meios religiosos. Existe muita intolerância, muito desamor, muito desconhecimento de quem se é. Para mim, o melhor lugar para os homossexuais, e homoafetivos é fora das igrejas e dentro de si mesmos.

Se há algum homoafetivo ou homossexual lendo esse artigo, saiba. Sou pastor e sei como a maioria dos evangélicos se comporta com pessoas “diferentes” deles. Eles são assim porque não sabem quem são. Ponto.

Minha “saída do armário”, foi para escrever esse texto, sobre um tema que tem haver comigo, com minha família. Eu sei que a maioria dos homoafetivos e homossexuais são gente boa, gente de família, gente de pudor, gente de respeito. Não aceito o rótulo dos exibicionistas, que para dizerem para todos “quem são”, precisam sair metendo a língua (...) na boca dos esposas e das maridas em “praça pública”. EU SEI QUEM SOU. Sou criatura de Deus, filho de Deus, pai de família, esposo, filho de meus pais, irmão de meus irmãos, amigo de meus amigos, intercedo (quando posso) por meus inimigos e adversários. Sou gente, igual a todo mundo.


Quanto a Cláudia e tantos outros, oro para que continuem sendo quem realmente são.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

REINO DE DEUS: CICLO VIRTUOSO DE VIDA





“Ele disse: ‘O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. Ele dorme durante a noite e fica acordado durante o dia; enquanto isso, a semente germina e cresce — embora ele não saiba como. Por si próprio, o solo produz o grão: primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga. Assim que o grão amadurece, o homem vem com a foice, porque é a estação da colheita’.

Jesus também disse: ‘Com que compararemos o Reino de Deus? Que ilustração usaremos para descrevê-lo? Ele é como o grão de mostarda, a menor semente do campo, mas depois de ter sido plantado, cresce, tornando-se a maior de todas as plantas, com galhos tão grandes que as aves do céu podem construir ninhos à sua sombra’.

Com muitas parábolas semelhantes, ele lhes anunciou a mensagem, na medida em que eram capazes de ouvi-la. Não lhes dizia nada sem usar parábolas; quando, porém, estava a sós com os alunos [discípulos], explicava-lhes tudo.” Marcos 4:26 a 34

Esse é o texto que estudaremos hoje na “Casa de Ensino”. Como algumas pessoas não podem vir aos estudos, por estarem morando em outras cidades, ou por não terem condição de se achegarem por algum motivo, senti no coração o desejo de expor o ensino de hoje nesse texto. Claro que os estudos anteriores do livro de Marcos não foram transformados em artigo, mas pretendo fazer isso, para que todos possam acompanhar o que tem sido ensinado – pelo menos em texto.

(...) retomando o ensino.

Jesus, no texto apresentado acima, propõe aos alunos usarem os sentidos que formam a espiritualidade, ou seja a o entendimento diferenciado do senso comum, a separação do hodierno, a ação de andar na contramão do fluxo de uma vida politicamente correta. Mas o que é isso que falo, qual é essa proposta de Jesus aos seus alunos? Ele propõe que eles usem a imaginação, que saiam deixem uma realidade adoecida, seja pelo stress do dia-a-dia, seja pela influencia de uma religiosidade também enferma ou o que for que traga enfermidade ao fluxo da vida.

Em primeiro lugar ele afirma que o Reino de Deus é semelhante – análogo, similar, parecido – com “um homem que lança a semente sobre a terra”. Esse “homem” não é macho, nem fêmea, é um ser humano, é um adão, a humanidade, o ser existente. Essa comparação do ser humano com o Reino de Deus, mostra a importância do ser humano no equilíbrio e na sustentação da espiritualidade humana.

Esse homem Reino de Deus, sai para semear a semente. No texto anterior, na parábola do “semeador” (Marcos 4:2 a 20), Jesus compara a semente com a mensagem do Reino – as boas notícias do Reino. Mensagem é o conjunto das três dimensões existentes no ser humano. A mensagem é a ação (dimensão física), originada na emoção (dimensão afetiva), que por sua vez brotou o entendimento (dimensão intelectual) particular, pessoal, íntimo, de quem é Deus. Esse conhecimento, que é a síntese das dimensões afetivas e intelectuais, propõe um esforço para que a dimensão física venha a existir. Quando ela ganha vida, cria-se a ação. Essa ação é a mensagem que é plantada, é o que temos para oferecer, tanto físico, intelectual e emocionalmente. Essa é a semente que o semeador, o homem Reino de Deus planta por onde passa.

Mas também é interessante notar que esse homem Reino de Deus, não faz nada além de sua capacidade. Ele “...dorme durante a noite e fica acordado durante o dia...”. Isso implica dizer, que o ativismo religioso não acrescenta nada ao crescimento da “plantinha”, proveniente da semente lançada pelo semeador-homem Reino de Deus. Jesus diz que esse homem Reino de Deus, não sabe como a semente germina e cresce.

Nesse trecho do texto, fica clara a total ausência de controle do homem Reino de Deus sobre a semente. Isso mostra que nós, enquanto agentes – semelhantes – do Reino de Deus, não temos nenhum controle sobre nada que pertence ao DEUS do Reino. Nossa atividade é tão somente semear a mensagem do Reino. O Solo, diz Jesus, “... por si próprio” produz o grão. Isso implica saber que é Deus quem faz o milagre, é Ele quem capacita o solo a produzir o grão.

Para entendermos minimamente tal afirmação, temos de voltar mais uma vez à parábola do semeador. O solo, o chão, somos nós, é mistura de nossas dimensões emocional e intelectual. A mensagem que foi plantada em nós é processada nessas duas dimensões, se recebermos a mensagem do Reino de Deus com um bom coração o grãofruto – irá germinar e crescer naturalmente.

Na sequência do texto, Jesus explica que o processo de “nascimento” desse fruto-grão, se dá seguindo “... primeiro o talo, depois a espiga e, então, o grão cheio na espiga.”. Na mesma linha de raciocínio, talo é nossa capacidade física, que nos põe pra fora de nós mesmos e nos projeta na direção do sol. “Talo” é o físico que brota do intelecto-emocionalterra-solo. Depois desse talo, vem a espiga, que é a compleição intelectual, nossa capacidade de aglutinar conhecimento e emoções, transformando-as em ação. Essa “espiga” está repleta de grãos-frutos – , consequentes físicos naturais do esforço intelectual e emocional. A espiga-coração, está cheia de grãos-frutos, que saem pela boca do homem-Reino de Deus como alimento para quem o escuta. Nessa parábola contemporânea, lembrar o dito de Jesus de “... a boca fala do que está cheio o coração...” é necessário; saber que há um esforço necessário do intelecto e da emoção para gerarem o físico, também. O sentido da fala é ato físico, gerado pelo esforço conjunto do intelectual e da emoção.

Tão logo o grão-fruto-palavra esteja pronto, maduro, o semeador-homem-Reino, o colhe. A simbologia de colher é tomar para si, transforma-la em parte de si, em um “outro” de si mesmo. Nesse ponto Jesus afirma que a mensagem semeada, que germinou e deu fruto, se torna semeador.

Jesus também disse: ‘Com que compararemos o Reino de Deus? Que ilustração usaremos para descrevê-lo? Ele é como o grão de mostarda, a menor semente do campo, mas depois de ter sido plantado, cresce, tornando-se a maior de todas as plantas, com galhos tão grandes que as aves do céu podem construir ninhos à sua sombra’.

Tornar-se árvore que dá fruto para alimentar “aves do céu”, é o destino final de todo semeador-homem-Reino de Deus. Se não tivermos essa noção básica de destino, viver não é tarefa fácil. Sem esse senso de destino o ciclo da vida não se estabelece. Sem ele a vida não se segue como deveria, nem flui como poderia. Transformar-se de semeador em semente, de semente em solo, de solo em talo, de talo em espiga, de espiga em fruto, de fruto em árvore de galhos-braços abertos, dispostos para acolher e recolher a todos – aves do céu. É SER REINO DE DEUS.

Com muitas parábolas semelhantes, ele lhes anunciou a mensagem, na medida em que eram capazes de ouvi-la. Não lhes dizia nada sem usar parábolas; quando, porém, estava a sós com os alunos [discípulos], explicava-lhes tudo.”.

Se você puder vir para estudarmos juntos esse texto e tirarmos outros ensinamentos dele, venha.

Bom domingo.

Alexandre Rocha.