"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 16 de novembro de 2014

O MAIOR DE TODOS OS PECADOS

Mesmo empreendendo tremendo esforço para livrar-me da religião e seus efeitos nocivos, ainda estou contaminado (...). Como esponja que ficou imersa em vinagre durante tempos, sair do vinagre não significa estar descontaminado; creio ser necessário um tempo maior dentro de uma fonte de água corrente para que a descontaminação ocorra (...). Espero estar limpo desse vinagre religioso até o dia da minha morte.

Décadas atrás ministrei um estudo intitulado “Um fenômeno chamado pecado” (...); ele me deu o “tom teológico” das minhas crenças. (...) Tenho sido incomodado pelo mesmo tema: “pecado”. Por diversas questões, tentar entender-me diante de tal fenômeno se tornou mais que importante, porém não tanto ao ponto de desenvolver uma neurose – acho que passei do ponto da loucura. Pelo menos espero.

Essa turbulência íntima quanto ao tema; buscar saber onde termina o passado, onde está o momento presente e ainda tentar estabelecer um “lugar” para o futuro, me fez relembrar a elucidativa explicação sobre o oitavo mandamento – “Não roubarás” – feita pelo Rabino Nilton Bonder. Diz ele:

“Permitirás voto ao passado e não veto. Não podemos roubar do passado pois já tem posse irrevogável. Não podemos roubar do futuro pois não possui nada. O único alvo de roubo é o presente. Tanto a autoridade do passado como as demandas do futuro têm direito a voto. Dar-lhes o poder de veto, no entanto, é roubar do presente o que lhe é mais fundamental – ser o determinante do caminho. A legitimidade maior da Halachá – da interpretação da lei – provém do critério de se é ou não produto do presente.” (Nilton Bonder; Bernardo Sorj – Judaísmo para o Século XXI, pg.:111)

Reestudando a questão a fim de me entender como ser humano, um homo sapiens, como define Augusto Cury, passei a reler e rever o que o “vinagre” em mim impregnado diz (...); mas também o que dizem seres humanos descontaminados da religiosidade (...). Claro que JESUS é o maior expoente, a clara-evidência de que há total possibilidade de se viver uma vida contida em DEUS, mas “descontida” da religião. Porém para minha tristeza, não encontrei – pelo menos até agora – nenhum ente envolvido pela religião, sóbrio e lúcido o bastante para mostrar-me como, e o que seria o maior de todos os pecados (...). JESUS então é o caminho.

(...)

Depois de ler meus últimos textos, você pode ter sido levado a questionar minhas convicções espirituais, minhas crenças, minha confiança em DEUS, o ministério que me foi confiado (...). Se você é uma pessoa envolvida comigo de alguma forma, também pode estar sendo – ou ter sido – levada a agir da mesma forma. Para seu conforto, saiba que eu também me questionei. Fazendo isso cometi contra mim mesmo o maior de todos os pecados, julguei-me menor e maior do que realmente sou, coloquei sobre mim o julgo de ser mais pecador e menos digno (...), cometi o maior de todos os pecados. Isso me fez refletir sobre o dito de JESUS, escrito no início do capítulo sete do evangelho de Mateus: “Não julgueis para que não sejais julgados...”.

O maior de todos os pecados do mundo é o julgamento. É tão nocivo quanto é furtivo. Nocivo porque determina vereditos sobre a vida das pessoas que nos cercam, nos isentando delas, nos diferenciando delas, nos afastando delas. Quando julgamos alguém – e não temos capacidade para isso – julgamos a pessoa e não seus atos. Não ponderamos nada sobre os motivos que levaram aquela pessoa – alvo do nosso julgamento – cometer o que cometeu. Simplesmente julgamos. Abrimos nossa boca e falamos o que não pensamos; é, falamos sem pensar, falamos porque somos desprovidos de temor a DEUS e por consequência, desprovidos de SABEDORIA – já que temer a DEUS é o princípio dela, como diz Salomão em Provérbios. Quando agimos assim nos aprisionamos no emaranhado das nossas palavras, nos efeitos danosos que essas palavras sem senso produzem nos outros e em nós. Uma verdadeira areia movediça.

Não sei se pior ou no mesmo estado assombroso, está o autojulgamento. Na maioria das vezes julgamos os outros como nos julgamos, olhamos para nós pelas frestas das paredes que levantamos e nos vemos piores ou melhores do que realmente somos; algumas vezes criamos um sistema de juízo de valor contra nós; agimos sem a menor misericórdia contra nós mesmos a ponto de perdermos totalmente o senso de justiça. Outras vezes nos inocentamos sem nenhum pudor, comportamento tão sem senso quanto à prática da autopunição. Temos perdido o poder de observação. Esse poder de observar atos e não pessoas; de punir pessoas e não entender atitudes desajustadas; de agir como juízes do futuro e não como simples observadores, nos têm transformado em seres sem sentimento. Isso mesmo, estamos perdendo o sentimento.

Perto de sua morte, os alunos de Jesus lhe perguntaram como seriam as coisas no “fim do mundo”, quais seriam os “sinais”, para que eles pudessem identificar aquele momento. Jesus disse que a falta de amor seria a tônica do momento. Mas como podemos identificar a “ausência de amor” se não sabemos entender ou praticar a “presença do amor”?

O maior de todos os mandamentos é um “iô-iô”; vai e volta. No caminho de ida: amar a Deus, amar ao outro, amar a si mesmo. No caminho de volta: amar a si, amar ao outro, amar a Deus. Entre DEUS e nós, existe “o outro”, “o próximo”. Tanto na ida quanto na volta existe alguém no meio do caminho – e não é uma pedra, é uma pessoa igualzinha a nós. Para amarmos a DEUS temos que invariavelmente amar a nós mesmos, e esse amor a nós mesmos tem de necessariamente ser refletido pelo sentimento igual ao outro, ao próximo. Porém a referência para esse “auto-amor” é o amor pelo outro. Não é perder a identidade ou abrir mão de tudo por causa do outro, mas é saber que o outro tem os mesmos sentimentos que temos, e que em “determinados” momentos precisamos vivenciar o mesmo sentimento se estivéssemos no lugar dele. Creio que se exercitássemos isso, se praticássemos isso, seriamos menos juízes e mais réus.

O maior de todos os pecados é julgar os outros e a nós mesmo sem sequer pensar um tiquinho. Quando emitimos um juízo de valor contra alguém, fazemos isso por nos julgar melhores que aquele a quem julgamos. Quando falamos contra alguém, nos julgamos “mais” em algum aspecto. Cometemos dois grandes pecados: contra nós, por nos julgar melhores e contra os outros por lhes julgar menores que nós.

Estou meditando e refletindo – mergulhando – há alguns meses no capítulo sete de Mateus, no capítulo oito de João e no capítulo 3 de Gênesis. Meus conceitos sobre o tema têm sido destruídos dentro da PALAVRA. Não sei como vou “boiar” desse novo mergulho; mas não serei mais o mesmo.

Convido você a ler os mesmos textos sem os óculos da religião íntima e pré-concebida para ver o que encontra de diferente do que já sabe até agora.


Graça do ETERNO sobre você.