"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 24 de novembro de 2013

ESTOU CANSANDO DE VIVER



Essa afirmação pode, para você, parecer um tanto sensacionalista. Mas não é. Estou mesmo cansando de viver aqui nesse planeta. Às vezes até entendo as “maluquices” poéticas de Raul Seixas pedindo para o mundo parar que ele queria descer, perguntando se algum ET poderia leva-lo em um viajem para outro lugar. É por ai...

Pensei que esse meu desencanto com a existência fosse sequela da cirurgia; afinal extirpar parte de uma glândula que provê hormônios para o organismo não parece ser muito normal. Mas estou achando que não é isso. Estou cansando mesmo desse mundo cada vez mais vazio de sentido.

Parei de “entrar” no Facebook, por não ter mais paciência para ler, ver, ouvir, tanta babaquice, de tanta gente que por não ter nada pra falar e pra fazer fica postando “frases feitas”, sem efeito nenhum em suas vidas e nem na vida dos seres humanos de carne e osso; Tem sido difícil o exercício diário de logo cedo dar uma lida rápida nos “principais” veículos de informação do País – todos falam o mesmo “nada”, todos dizem a mesma “coisa nenhuma” – leu um, leu todos.

Hoje é dia de reunião aqui na Comunidade Messiânica Beit-Alef, na “Casa de Ensino”. Um grupo de pessoas – umas 15, no máximo – que se reúnem semanalmente aqui na garagem de minha casa, para estudarmos os ensinos de Jesus, mas nem isso tem me feito menos insatisfeito com a vida. Estou cansado (...).

Sou literalmente um viciado em aprender, não consigo ficar sem aprender algo novo, meu caráter questionador, inquiridor não me deixa parado um segundo; fico buscando uma nova pergunta para encontrar respostas para ela; o tempo todo é assim, desde a minha infância. Isso me fez autodidata, objeto de zombaria entre os parentes mais velhos e até os da minha idade. Hoje aos 51, continuo fazendo a mesma coisa, estudando para me tornar uma pessoa menos pior. Sei dos meus defeitos e aprendi a conviver com eles da melhor forma possível. Mas é difícil viver entre pessoas que nem sequer leem “bula de remédio”. E tudo isso, como diz a minha esposa, “é culpa dos governos que não ensinam ninguém a ler, somente juntar letrinhas...” (...), fiz até um programa de TV sobre esse assunto, com o primo e pedagogo Jean Jones.

As vezes acho que a vida é um carro.

Se for, hoje – nos dias atuais – tenho três opções: 1) deixar o “motor apagar” e parar essa geringonça; 2) acelerar o máximo que puder e capotar na primeira curva, ou “dar com a cara em um muro”; 3) seguir dirigindo mesmo que insatisfeito, mas apreciando a paisagem.

Acho que o menos danoso para meus familiares é a terceira opção.

Terminando, peço encarecidamente: Se você que leu este post desabafante, achar que o que eu preciso é “de Jesus na minha vida”, cuidado, diga isso olhando para o espelho, lendo em voz alta o texto abaixo.

“E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar. Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo é vaidade e aflição de espírito. Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular. Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim (...); e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.” Eclesiastes 1:13 a 18.


Bom 24 de novembro de 2013.

domingo, 3 de novembro de 2013

DEUS, NÓS, O MAL E O “DIABO”



Achei muito interessante a “polêmica” sobre o texto “girafa do capeta”. Alias, pra dizer a verdade, gostei bastante. Gostei pois não tinha nenhuma pretensão que ele suscitasse o que suscitou dentro de cada pessoa que leu o texto e se manifestou. Sei que muitos leram, mas não o acharam digno de comentário.

Na hora da comunhão em torno da mesa, lembrei alguns dos comentários que o post da “girafa” recebeu. A hora da comida tem se tornado um momento sagrado em nossa casa. Todos, chegamos a um só sentimento, que resolvi partilhar.

Quando disse que o “diabo” era produto da mente humana – foi o que gerou algum desconforto entre os que curtiram e/ou comentaram, e os que não curtiram e/ou não comentaram – disse com base em profunda e honesta experiência de tanto anos estudando o tema – como já disse – e realizando ou participando de momentos, que a igreja evangélica chama de “libertação espiritual” e a igreja católica chama de “exorcismo”. Então como pode ser isso? Digo que o “diabo” é criação humana, mas participo de exorcismos?

Minha tranquilidade em expor essa aparente contradição, está no conceito percebido de mal como um “ente”, um indivíduo, um ser; e mal como comportamento, atitude, modus vivendi. O mal como ente, não pode existir a luz da própria Supremacia Divina. Porém o mal como comportamento, como atitude está diariamente entre nós, sendo protagonizado por seres de carne e osso. A questão é que o mal que produzimos aos outros por diversos motivos, é tão terrível que precisa de um “padrinho”. Um ente que “nos inspire” realizar tamanha maldade, e seja – posteriormente – responsabilizado por ela. Mas até esse ente que nos inspira ao mal, é nosso aliado, pois ele carrega nossas culpas, tipo um “bode expiatório”. Percebendo de forma lúcida, esse “padrinho” malvado toma o lugar do vicário sacrifício de Jesus como expiador de nossos erros. Nesse comportamento esquivo, lançamos sobre o “diabo”, o ente malévolo que nos inspira ao mal, a culpa dos nossos atos malvados.

A explanação acima bastaria, se o fato de criarmos o mal como ente, não fosse mais danoso ao sagrado em nossas vidas. O desconforto de ouvirmos ou lermos, que o “diabo” como ente é uma criação humana é tanto, que nem sequer paramos para tentar identificar a razão desse desconforto. Passamos de imediato ao embate filosófico teológico, para provarmos a todo custo que esse “ente mal” existe, e - como escreveu Hall Lyndsei – “está vivo e ativo no planeta terra”. A questão é séria e merece atenção.

A “agonia” diante da negação da existência do “ente mal” é porque a crença em Deus não é verdadeira.

Não é verdadeira porque esse deus precisa de um diabo para ser deus; Não é verdadeira porque é preciso o ente “diabo” para perder uma guerra diária onde “nós” somos o objeto da disputa; Não é verdadeira porque se o diabo deixar de existir, esse deus também não existe. Chocado? Desculpe, mas creio que é assim.

***

Como então explicar a existência do “mal” que permeia nosso mundo, que faz com que um garoto que estava indo jogar bola, e segurando a mão da avó, morresse no meio de um tiroteio que aconteceu no meio da rua? Como explicar a maldade de fazer tamanho horror em decapitar um semelhante, e deixar a cabeça na porta da família do decapitado? Ou de onde vem a brutalidade fria de torturar um suspeito até a morte e depois ‘sumir’ com o corpo? Simples. Esse mal somos nós. Não precisamos de “diabo” para fazermos isso.

Distantes da fonte de vida, nos tornamos fonte de morte; Dissociados da vida, viramos morte; separados da moral, somos imorais e amorais, mortais; discordantes da paz fazemos acordos com a guerra. Somos por natureza malvados, apesar de sermos essencialmente bondosos.

Essa contradição é nosso ponto de equilíbrio: nos conhecermos maus no comportamento, mas nos entendendo bons na essência. É aqui que nosso SAGRADO se estabelece; é aqui nesse lugar do “stress existencial”, onde o “nosso bom” convive com o “nosso mal”, que a paz INTERIOR se estabelece, e o SER HUMANO NASCE. Passar a autoria do nosso “ser mal” para “um outro” ente mal, é cuidar do que está fora ao invés de cuidar do que está dentro. É cuidar do cisco que está no olho do outro ao invés de tratar da própria cegueira.

É por isso que digo que o “diabo” como ente não existe. Essa é minha verdade.

Termino com uma parábola.

“Um cavalo que se sabe cavalo não é um cavalo.
Um macaco que se sabe macaco, macaco ele não é.
Uma cobra que se sabe cobra não é uma cobra.
Um ser humano que se sabe um ser humano
é um ser humano.
Um ser humano que não se sabe um ser humano
aí é um cavalo, um macaco, uma cobra.”

Nilton Bonder, do livro “A Alma Imoral”.


Beijo grande.