"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 12 de novembro de 2017

QUEM SOU, DE ONDE VIM E PARA ONDE VOU? EU DECIDO.

Imagem extraída da internet

“Se você não tem dúvidas é porque você está mal informado”

Millor Fernandes

A semana que passou foi muito tensa na escola onde sou gestor. Tensa e angustiante. A proximidade do final do ano letivo deixa a todos carregados de uma certa euforia, que, se não for controlada e por vezes contida gera nos estabelecimentos de ensino um estado de caos incontrolável. E essa semana que passou foi assim, caótica. Aconteceu de tudo, de furtos descarados, gravados pelo sistema de segurança das salas à brigas espetaculares na rua em frente da escola, passando por apreensão de armas brancas, bebida alcoólica em garrafas de água, alunos usando drogas, dentro e fora do estabelecimento de ensino (...) – mães desesperadas com a notícia. Uma semana hard como dizem meus filhos.

Na sexta-feira minha pressão arterial estava nas alturas e passei o dia com fortes dores de cabeça, porém, sem deixar minha responsabilidade de lado; estive em dois dos três turnos na escola tentando dar conta das minhas atribuições. De noite, a família, esposa e filhos, me proibiram de ir por verem que meu corpo necessitava de descanso e mais que isso, minha alma precisava repousar – pousar de novo. Pousar na serenidade, no equilíbrio e na tranquilidade, atributos totalmente necessários para vislumbrar o futuro por cima das tribulações da vida. Aceitei ao convite imposto pela família, por saber que a equipe do noturno podia dar conta sem a minha presença – além do que os alunos do EJA já são adultos em sua maioria e não causam problemas.

Durante todo o fim de semana, fiz questão de tentar desligar-me das questões que me envolvem como gestor de uma escola com mais de 900 alunos divididos em dois turnos – manhã e tarde – sem o apoio de vigias ou porteiros para conter o entra-e-sai das criança (...) – meu principal problema. Tentei desligar mas não consegui, não deixo de buscar soluções para meus problemas. No meio da noite de sábado, entre uma luta – do UFC – e outra, passei a vista em alguns vídeos do Mário Sérgio Cortella, Leandro Carnal, Rubem Alves, Ariano Suassuna e escolhi um deles para compartilhar com os grupos de educadores dos quais faço parte (...).

Hoje, 12 de novembro, dia em que se “comemora” o Dia do Gestor, acordei de madrugada decidido a encontrar solução para alguns dos problemas – mais graves – que se anunciam para o fim de ano, e quem é ou já foi gestor de escolas com alunos “barra pesada” sabe do que falo (...). “dei” uma geral nos vídeos que assisti, reli alguns trechos de livros que tratam do assunto da indisciplina de alunos e professores – porque não são apenas os alunos que não conseguem seguir ordens, há professores também – para ver se minha visão de escola e de educação estava errada. Não está. Minha turnê pelas postagens desses pensadores da sociedade só fortaleceu meu entendimento sobre minhas angustias, diante do estado de caos da sociedade e das possíveis soluções para essas angustias.

“Não tenho problemas em lidar com tolices de crianças tolas, mas tenho muita dificuldade em lidar com as tolices de adultos tolos.”

Alexandre Rocha

Como publicitário aprendi que o caos é o solo fértil da criatividade, pois somente os mentalmente saudáveis possuem capacidade para olhar o caos e ver nele um celeiro de possibilidades – Rollo May fala disso em seu livro “A Coragem de Criar”. Consigo ver as soluções brotando desse terreno caótico que é a convivência social nas escolas; essa é a questão principal: VIVER EM SOCIEDADE.

É isso, o que conclui o Artigo 205 da Constituição d República, TODO O TRABALHO DO ESTADO, DA FAMÍLIA E DA SOCIEDADE DESEMBOCA NA FORMAÇÃO DE SOCIETÁRIOS. Ou seja nosso trabalho como educadores é, sem nenhuma dúvida, a formação de sócios de uma sociedade em formação, porém, paradoxalmente, é nessa solução ou no entendimento dela, que está o problema.

Mario Sérgio Cortella diz que a maioria das crianças que estão em nossas escolas não sabem viver debaixo de ordens, são insubordinados – in-sub-ordenados – e nunca foram confrontados por regras determinadas pelo universo adulto, por isso as agressões e ofensa sofridas por professores – os adultos do sistema escolar. Concordo totalmente com o professor Cortella e engrosso esse caldo com as afirmações não menos realistas do professor Carnal que afirma com sabedoria que “CRIANÇAS MIMADAS TORNAM-SE ADULTOS IMBECIS”. Bingo!! Acho que essa é a equação, basta resolvê-la.

OS ALUNOS CRIANÇAS PRECISAM SABER QUE A ESCOLA É UM UNIVERSO ORDENADO POR ADULTOS MADUROS E QUE AO SEGUIREM AS REGRAS IMPOSTAS DENTRO DESSE UNIVERSO, SUA PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE QUE LHES PERTENCE SERÁ MENOS TRAUMÁTICA E POSSIVELMENTE MAIS PROMISSORA.

Mas aí, me deparo com outro problema, OS ADULTOS. Muitos professores batem boca com alunos, descendo do seu lugar de adultos para DISCUTIREM com a criança, no nível da criança. Deixam de ser adultos e viram crianças – ridícula atitude. Não sei se por estarmos não contaminados por essa sopa caótica que mistura identidades, gêneros, idades, responsabilidades, (...), achamos que aqueles alunos insubordinados são “pequenos adultos” – talvez por vê-los agindo e falando como se fossem, pensamos que sim e nos “trocamos” com eles.

“É necessário sair da ilha para ver a ilha.”

José Saramago

Então deixar o universo da educação é o que deve ser feito para ver como ele está? Não é sim.

Não, porque uma fez professor sempre professor; Sim, porque não é da educação que temos de nos afastar, mas sim dos questões que nos impedem de realiza-la. E um desses entraves é a própria ignorância dos agentes da educação, professores, gestores e demais agentes que participam do sistema e do processo educacional, culminando nos poderes executivos, cada um em sua esfera de atuação – no meu caso, o Governador e o Presidente da República.

Creio que a contaminação da educação pelos cargos eletivos – ministros da educação e/ou secretários quando ocupantes de cargos eletivos – nada têm a ver com a educação e ajudaram nesse desastre que é a educação brasileira, os apadrinhamentos, a “vista grossa” aos delitos administrativos, as “empurradas pra baixo dos tapetes” desses delitos, têm contribuído para um estado de desânimo e descrédito de professores – e gestores – no sistema (...).

...ai me vejo no começo do caminho – nem tudo depende de mim, professor.

Mas se eu focar no meu objetivo primaz, não fica tão difícil, pois independente do que for entre 900, pelo menos 90 – 10% - desses serão societários aptos a construir uma sociedade melhor para eu passar a minha velhice.
(...)
Finalizo tentando responder, por ora, as questões máximas da existência.
O que sou eu? SOU PROFESSOR.
De onde vim? VIM DE UMA SOCIEDADE FORMADA POR MEUS PROFESSORES.
Para onde vou? VOU PARA A SOCIEDADE QUE EU FORMAR.

Boa semana a todos.

Deus seja conosco.