Mesmo empreendendo tremendo
esforço para livrar-me da religião e seus efeitos nocivos, ainda estou
contaminado (...). Como esponja que ficou imersa em vinagre durante tempos,
sair do vinagre não significa estar descontaminado; creio ser necessário
um tempo maior dentro de uma fonte de água corrente para que a descontaminação
ocorra (...). Espero estar limpo desse vinagre religioso até o dia da minha
morte.
Décadas atrás ministrei um estudo
intitulado “Um fenômeno chamado pecado” (...); ele me deu o “tom
teológico” das minhas crenças. (...) Tenho sido incomodado pelo mesmo tema:
“pecado”. Por diversas questões, tentar entender-me diante de tal
fenômeno se tornou mais que importante, porém não tanto ao ponto de desenvolver
uma neurose – acho que passei do ponto da loucura. Pelo menos espero.
Essa turbulência íntima quanto ao
tema; buscar saber onde termina o passado, onde está o momento presente e ainda
tentar estabelecer um “lugar” para o futuro, me fez relembrar a
elucidativa explicação sobre o oitavo mandamento – “Não roubarás” –
feita pelo Rabino Nilton Bonder. Diz ele:
“Permitirás
voto ao passado e não veto. Não podemos roubar do passado pois já tem posse
irrevogável. Não podemos roubar do futuro pois não possui nada. O único alvo de
roubo é o presente. Tanto a autoridade do passado como as demandas do futuro
têm direito a voto. Dar-lhes o poder de veto, no entanto, é roubar do presente
o que lhe é mais fundamental – ser o determinante do caminho. A legitimidade
maior da Halachá – da interpretação da lei – provém do critério de se é ou não
produto do presente.” (Nilton Bonder; Bernardo Sorj – Judaísmo para o Século
XXI, pg.:111)
Reestudando a questão a fim de me
entender como ser humano, um homo sapiens, como define Augusto Cury,
passei a reler e rever o que o “vinagre” em mim impregnado diz (...);
mas também o que dizem seres humanos descontaminados da religiosidade
(...). Claro que JESUS é o maior expoente, a clara-evidência de que há total
possibilidade de se viver uma vida contida em DEUS, mas “descontida” da
religião. Porém para minha tristeza, não encontrei – pelo menos até agora
– nenhum ente envolvido pela religião, sóbrio e lúcido o bastante para
mostrar-me como, e o que seria o maior de todos os pecados (...). JESUS então é
o caminho.
(...)
Depois de ler meus últimos
textos, você pode ter sido levado a questionar minhas convicções espirituais,
minhas crenças, minha confiança em DEUS, o ministério que me foi confiado (...).
Se você é uma pessoa envolvida comigo de alguma forma, também pode estar sendo
– ou ter sido – levada a agir da mesma forma. Para seu conforto, saiba que eu
também me questionei. Fazendo isso cometi contra mim mesmo o maior de todos os
pecados, julguei-me menor e maior do que realmente sou, coloquei sobre mim o
julgo de ser mais pecador e menos digno (...), cometi o maior de todos os
pecados. Isso me fez refletir sobre o dito de JESUS, escrito no início do capítulo
sete do evangelho de Mateus: “Não julgueis para que não sejais julgados...”.
O maior de todos os pecados do
mundo é o julgamento. É tão nocivo quanto é furtivo. Nocivo porque
determina vereditos sobre a vida das pessoas que nos cercam, nos isentando
delas, nos diferenciando delas, nos afastando delas. Quando julgamos alguém – e
não temos capacidade para isso – julgamos a pessoa e não seus atos. Não
ponderamos nada sobre os motivos que levaram aquela pessoa – alvo do nosso
julgamento – cometer o que cometeu. Simplesmente julgamos. Abrimos nossa
boca e falamos o que não pensamos; é, falamos sem pensar, falamos porque somos
desprovidos de temor a DEUS e por consequência, desprovidos de SABEDORIA – já
que temer a DEUS é o princípio dela, como diz Salomão em Provérbios. Quando
agimos assim nos aprisionamos no emaranhado das nossas palavras, nos efeitos
danosos que essas palavras sem senso produzem nos outros e em nós. Uma
verdadeira areia movediça.
Não sei se pior ou no mesmo
estado assombroso, está o autojulgamento. Na maioria das vezes julgamos
os outros como nos julgamos, olhamos para nós pelas frestas das paredes que
levantamos e nos vemos piores ou melhores do que realmente somos; algumas vezes
criamos um sistema de juízo de valor contra nós; agimos sem a menor misericórdia
contra nós mesmos a ponto de perdermos totalmente o senso de justiça. Outras vezes
nos inocentamos sem nenhum pudor, comportamento tão sem senso quanto à prática
da autopunição. Temos perdido o poder de observação. Esse poder de observar
atos e não pessoas; de punir pessoas e não entender atitudes desajustadas; de agir
como juízes do futuro e não como simples observadores, nos têm transformado em
seres sem sentimento. Isso mesmo, estamos perdendo o sentimento.
Perto de sua morte, os alunos de
Jesus lhe perguntaram como seriam as coisas no “fim do mundo”, quais
seriam os “sinais”, para que eles pudessem identificar aquele momento.
Jesus disse que a falta de amor seria a tônica do momento. Mas como podemos
identificar a “ausência de amor” se não sabemos entender ou praticar a “presença
do amor”?
O maior de todos os mandamentos é
um “iô-iô”; vai e volta. No caminho de ida: amar a Deus, amar ao outro,
amar a si mesmo. No caminho de volta: amar a si, amar ao outro, amar a Deus. Entre
DEUS e nós, existe “o outro”, “o próximo”. Tanto na ida quanto na
volta existe alguém no meio do caminho – e não é uma pedra, é uma pessoa
igualzinha a nós. Para amarmos a DEUS temos que invariavelmente amar a nós
mesmos, e esse amor a nós mesmos tem de necessariamente ser refletido pelo sentimento
igual ao outro, ao próximo. Porém a referência para esse “auto-amor”
é o amor pelo outro. Não é perder a identidade ou abrir mão de tudo por causa
do outro, mas é saber que o outro tem os mesmos sentimentos que temos, e que em
“determinados” momentos precisamos vivenciar o mesmo sentimento se
estivéssemos no lugar dele. Creio que se exercitássemos isso, se praticássemos
isso, seriamos menos juízes e mais réus.
O maior de todos os pecados é
julgar os outros e a nós mesmo sem sequer pensar um tiquinho. Quando emitimos
um juízo de valor contra alguém, fazemos isso por nos julgar melhores que
aquele a quem julgamos. Quando falamos contra alguém, nos julgamos “mais”
em algum aspecto. Cometemos dois grandes pecados: contra nós, por nos julgar
melhores e contra os outros por lhes julgar menores que nós.
Estou meditando e refletindo – mergulhando
– há alguns meses no capítulo sete de Mateus, no capítulo oito de João e no capítulo
3 de Gênesis. Meus conceitos sobre o tema têm sido destruídos dentro da
PALAVRA. Não sei como vou “boiar” desse novo mergulho; mas não serei
mais o mesmo.
Convido você a ler os mesmos
textos sem os óculos da religião íntima e pré-concebida para ver o que encontra
de diferente do que já sabe até agora.
Graça do ETERNO sobre você.