“Por isso,
tenham sal em si mesmos — isto é, fiquem em paz uns com os outros...
Jesus, O
Messias.
Depois de muitos meses sem
publicar nada aqui no blog da Comunidade Casa de Ensino – apesar de ter feito
algumas publicações pertinentes à espiritualidade, em meu blog pessoal –
retorno às atividades dos estudos do Livro de Marcos. Curiosamente pelo final
do capítulo nove. A última publicação – estudo – foi sobre “morrer e
nascer novamente”, tema exaustivamente tratado nos estudos pessoais, aos
domingos, quando ainda nos reuníamos, que se encontra no final do capítulo oito
do livro de Marcos. Mas, na sexta-feira, 6 de fevereiro, estudando para
retomar os estudos pessoais da Comunidade Beit-Alef, o texto que ora trago,
chamou-me a tenção.
“Yochanan
(João) lhe disse: ‘Rabbi, vimos um homem expulsando demônios em teu nome e,
pelo fato de ele não ser um de nós, dissemos-lhe que parasse’. Yeshua (Jesus),
porém, respondeu: ‘Não o impeçam, pois ninguém que realize um milagre em meu
nome pode falar mal de mim em seguida. Quem não é contrário a nós está em nosso
favor. Com efeito, quem lhes der até mesmo um copo de água para beber porque
vocês vêm em nome do Messias, com toda a certeza não perderá sua recompensa.
Seria
melhor, para quem armar uma cilada contra um destes pequeninos que confiam em
mim, ter uma pedra de moinho presa ao pescoço e se lançar no mar.
Se a mão
fizer você pecar, corte-a! É melhor ser mutilado, e alcançar a vida eterna, que
manter as duas mãos e ir para o Gei-Hinnom, para o fogo inextinguível! E se o
pé fizer você pecar, corte-o! É melhor ficar aleijado, mas alcançar a vida
eterna, que manter os dois pés e ser lançado no Gei-Hinnom! E se o olho fizer
você pecar, arranque-o! É melhor ter apenas um olho, e entrar no Reino de Deus,
que manter os dois olhos e ser lançado no Gei-Hinnom: onde o verme não morre, e
o fogo não é apagado.
Na verdade,
todos serão salgados com fogo. O sal é excelente, mas, se perder sua
característica, como poderá ser utilizado? Por isso, tenham sal em si mesmos —
isto é, fiquem em paz uns com os outros’”. Marcos 9:38 a 50 – Bíblia Judaica
Completa.
O texto inicia com a fala
sectária e bairrista – e por que não dizer xenófoba – de um dos alunos
de Jesus que afirma ter sido o líder de um buling espiritual, contra
alguém que não fazia parte do grupo de alunos – até certo ponto relapsos e
incrédulos –, mas que cria absolutamente nos ensinos de Jesus, e por causa
disso, expulsava os espíritos impuros das pessoas usando a autoridade do nome
de Jesus. Nesse ponto é clara a intenção do aluno João – que viria ser
conhecido como o apóstolo do amor – de reter consigo e com os seus chegados
o patrimônio Divino, das atividades do Reino de Deus. Crentes, religiosos secos
de Deus sempre fazem isso. NÃO PERMITEM QUE NINGUÉM, ALÉM DELES, PRATIQUE A
SALVAÇÃO – seja sendo salvo ou salvando de forma diferente da que eles
pregam.
A resposta de Jesus é clássica,
só faltou – se é que não houve – aquele jargãozinho básico: “seus
burros...”: “não impeçam ninguém de salvar em meu nome, porque quem
realiza milagres em meu nome, me conhece e não pode falar contra mim ao mesmo
tempo, entendam que, quem não age contrário ao Reino age em favor do Reino...
(interpretação livre do texto)”. Mas o ralho de Jesus no grupo de xenófobos
“celestes”, não ficou por ai, na mesma linha de livre interpretação, posso
entender que Jesus teria dito: “e digo mais, seus tolos: qualquer pessoa que
der, nem que seja um simples copo de água para esses que agem em meu nome,
também receberão sua recompensa...”
O contrário dessa atitude
misericordiosa de oferecer nem que seja um simples copo de água para quem bate
em nossa porta ou nos para na rua, ou silenciosamente vive o Reino de Deus, a
prática do bulling espiritual é severamente condenada pelo Messias: “...mas
para todos que gostam de criar regras mentirosas de religiosidade e crença
humana, para que esses ‘pequeninos’ cumpram, para somente depois fazerem parte
do Reino de Deus, seria melhor pularem na parte mais profunda do mar, tendo uma
pedra de moinho – daquelas bem grandes – amarrada ao pescoço.”.
Jesus defende todas as pessoas
que têm atitudes Divinas, sejam elas quais forem – de ofertar um copo de
água, até expulsar demônios. Quem impede o “fazer o bem”, será
punido severamente pelo Rei do Reino.
Essa mensagem bíblica me fez
lembra o dito de um artista de rua que disse: “... se precisamos pedir
autorização para fazer o bem, algo está muito errado...”.
No texto seguinte, Jesus lembra
que a propagação do Reino, a instalação dos Valores reais divinos é o caminho a
ser seguido por todos. Errar esse caminho é o pecado. E contra “esse” pecado,
Jesus alerta:
Se a mão
fizer você pecar, corte-a! É melhor ser mutilado, e alcançar a vida eterna, que
manter as duas mãos e ir para o Gei-Hinnom, para o fogo inextinguível! E se o
pé fizer você pecar, corte-o! É melhor ficar aleijado, mas alcançar a vida
eterna, que manter os dois pés e ser lançado no Gei-Hinnom! E se o olho fizer
você pecar, arranque-o! É melhor ter apenas um olho, e entrar no Reino de Deus,
que manter os dois olhos e ser lançado no Gei-Hinnom: onde o verme não morre, e
o fogo não é apagado.
Mas o texto acima, tem sofrido
uma interpretação errada durante séculos – eu acredito. Se não dissociarmos a
passagem das “mãos”, “pés” e “olhos” arrancados para não “pecarmos”, do texto
que mostra claramente o bulling xenófobo dos alunos de Jesus, e ainda
entendermos que o pecado é errar o caminho – que é a disseminação dos valores
Divinos – amar ao outro –, ele parecerá um apêndice. Mas não é, o texto de
Marcos 9:43 a 48, está intimamente ligado ao verso 38 do mesmo capítulo. Vou
mostrar como entendo o texto acima.
MÃO –
tem a ver com o trabalho, com as atividades, com a atitude de realizar. O que
Jesus parece dizer é que: SE NOSSAS ATIVIDADES, NOSSO TRABALHO, NOSSAS
CRENÇAS, NOSSAS PRÁTICAS RELIGIOSAS nos impedirem de agir na implantação do
Reino de Deus, ou nos fazerem impedir que o Reino seja implantado por outros
que não pertençam ao nosso grupo de crença; seria melhor “cortar a mão”, ou
seja, largar aquela crença ou religião, abandonar aquele hábito ou
comportamento, que ser lançado no “fogo eterno”.
PÉS –
Os pés nos levam para onde desejamos ir, sem pés fica complicado trabalhar com
“as mãos”. São nossos pés que fazem de nós o que somos. Existem diversas
referências na Bíblia sobre o “pé”, mas vou me deter em uma mais pertinente a
possível intenção de Jesus, nesse episódio. É em Isaías que entende estar a
mais forte de todas as simbologias para o “pé”: “Quão formosos são,
sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do
que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus
reina!” (Isaías 52:7). Tomando tal afirmação bíblica como base, posso
afirmar que – entre outras coisas – TODO O PÉ QUE NÃO CAMINHAR EM PAZ E PARA
A PAZ, DEVE SER CORTADO E LANÇADO para longe. O caminho da Paz é o caminho
do Reino de Deus, se não caminhamos nessa direção – PAZ – estamos “andando” em
pecado.
OLHO –
Novamente, a referência ao olho é a simbologia judaica. Em Mateus, encontramos
uma clara referência de Jesus ao “uso” do olho: “A candeia do corpo são os
olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu
corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes
serão tais trevas!” (Mateus 6:22 e 23). TER UM OLHO MAU É OLHAR
COM INVEJA, COM DESCONFIANÇA E PRINCIPALMENTE COM O “OLHAR” DE JULGAMENTO.
É contra esse “olho” que Jesus diz que devemos agir radicalmente, arrancando-o
de nós. Esse “mau olhar” é que nos faz caminhar – pecar – contra o Reino de
Deus e nos mostra o “inferno” que nos espera.
Mas o fogo não é o problema, o
próprio Jesus diz isso. Fogo purifica: “...todos serão salgados pelo
fogo...”. Purificar é “passar pelo fogo”. Qual “fogo”? O “fogo”
da tentação de usarmos regras e crendices humanas como forma de adesão ou
qualificação para “ser” filho de Deus; O “fogo” da tentação de
caminharmos em guerra contra tudo e contra todos, achando que somente nós temos
as respostas da vida e da existência. Muitos não sabem viver em paz e morrem em
guerra consigo, com os próximos e com Deus; O “fogo” da tentação de
olharmos os outros com a intenção de sempre julgá-los. Todos nós passamos por
esses “fogos”. Mas só seremos puros se PASSARMOS, ATRAVESSARMOS, por
eles. Ao final da caminhada, seremos “salgados” pelo fogo.
Termino esta reflexão com a frase
final de Jesus no texto de Marcos:
“O SAL É
EXCELENTE, MAS, SE PERDER SUA CARACTERÍSTICA, COMO PODERÁ SER UTILIZADO? POR
ISSO, TENHAM SAL EM SI MESMOS — ISTO É, FIQUEM EM PAZ UNS COM OS
OUTROS”.
Talvez falte um pouco de
profundidade nesse mergulho estudando o texto de Marcos, mas deixo a presente reflexão,
desejando a todos uma excelente semana.
“Procurando
guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.” (Efésios 4:3)
“E calçados os pés na preparação do evangelho da paz;” (Efésios
6:15)
“Segui a
paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor;” (Hebreus
12:14)
“Ora, o
fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.” (Tiago 3:18)
“Aparte-se
do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a.” (I Pedro 3:11)
No Messias, que tem Paz para quem
tem fome e sede dela.
Alexandre Rocha.