"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

Prefácio do Autor.

QUANDO ME PROPUS ESCREVER sobre o dízimo, estava cheio de certezas. Umas embasadas nos conceitos da religiosidade ocidental, outras nas minhas próprias certezas existenciais. Para tentar comprovar todas elas, busquei apoio em livros doutrinários e teológicos que discutem o tema quase que a exaustão e em livros não doutrinários, que mostram o dízimo como simples prática religiosa. Encontrei também, textos afirmando que o dízimo não deveria mais existir, pois a prática estaria ligada aos serviços no grande Templo em Jerusalém, e como ele já não existe mais, a prática de dar o dízimo teria sido demolida. Porém, nessa exaustiva tentação de solidificar minhas certezas, me atrevi a mergulhar nos conceitos judaicos sobre o dízimo, pois julguei ter neles uma fonte menos contaminada. Durante esse mergulho, minhas certezas foram progressivamente destruídas. Quando voltei para “tomar ar”, percebi que não existiam mais certezas em mim, principalmente quanto ao dízimo. Senti ter encontrado um baú de verdades. Verdades não sobre questões externas ou religiosas, mas sobre meu self; verdades sobre mim mesmo. Nas profundezas do meu ser, novos mergulhos estão sendo realizados em todo momento, para continuar encontrando os tesouros da verdade que liberta. Agora entendo a prática de retribuir o dízimo de forma diferente, é um comportamento carregado de reverência e não de obrigações religiosas ou doutrinárias. Não existe mais um lugar definido pela lei religiosa, para eu retribuir o meu dízimo, existe somente, quando, e a quem entregar meu dízimo.

Foi no processo de convalescença de um episódio cirúrgico, que iniciei a leitura de um dos livros do Rabino Nilton Bonder 1. Sem pretensões de encontrar nele respostas para minhas questões quanto ao dízimo, li sem perceber que o mergulho aos mares profundos do Judaísmo, contava com a orientação de um dos melhores mestres, um dos grandes pensadores do momento presente. Possuo um grande respeito pela literatura teológica ocidental, mas foi a literatura judaica que me proporcionou o mergulho profundo ao mar de conhecimentos e informações completantes 2 e verdadeiras; uma fonte pouco contaminada, quase pura, que é doce e ao mesmo tempo amarga. Doce, porque vem de encontro aos meus valores mais íntimos; amarga, pois mesmo acalentando tais valores, me mostra o quanto eles estão distantes de seu verdadeiro lugar. Ao final de uma exaustiva maratona de ler e ouvir, precisei organizar no íntimo, de maneira bem espiritual, tudo que consegui apreender 3.

Nas águas desse novo útero, me percebo em processo de gestação; o parto se dará quando o Eterno – Bendito seja Ele –, me chamar por meio da morte. Partirei quando for hora de nascer como um novo ser, totalmente liberto dos conceitos e limitações terrenas que me aprisionam. Nesta parte do caminho, não possuo mais certezas, somente verdades sobre mim mesmo, no tocante a retribuição a Deus por suas misericórdias. Isto pra mim é dízimo.

Espero contribuir com alguns espíritos humanos corajosos e inquietos, que iguais a mim, rejeitam as águas salobras oferecidas por religiões, líderes religiosos, doutrinas e doutrinadores, que se postulam donos das certezas espirituais.

Que a leitura deste texto seja tão agradável para você, como foi para mim, escrevê-lo.

Com a devida reverência,


Alexandre Rocha.
Itacoatiara-AM, dezembro de 2013/abril de 2014.




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Notas – Prefácio do autor.
1. Fronteiras da inteligência - a sabedoria da espiritualidade. Nilton Bonder, Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
2. Neologismo do autor, usando o verbo “completar” e o sufixo “ante/ente/inte”, para exprimir a ideia de “ação de completar” e o estado de “permanecer completo”.
3. Os termos apreender e apreendido são usados neste trabalho com o significado: comportamento posto em prática por se ter compreendido e/ou assimilado alguma informação, ideia ou pensamento;
Apreender: Verbo transitivo direto: 1. Apropriar-se judicialmente de.; 2. Segurar, agarrar; 3. Assimilar mentalmente. (Mini Aurélio Eletrônico versão 5.12, 7ª. edição, revista e atualizada.)

Abreviações
BACF - Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC - Bíblia Judaica Completa; BH - Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia Nova Versão Internacional; ES - Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia Edição Pastoral.

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