QUANDO ME PROPUS ESCREVER sobre o dízimo, estava cheio de certezas. Umas embasadas nos conceitos
da religiosidade ocidental, outras nas minhas próprias certezas existenciais.
Para tentar comprovar todas elas, busquei apoio em livros doutrinários e
teológicos que discutem o tema quase que a exaustão e em livros não
doutrinários, que mostram o dízimo como simples prática religiosa. Encontrei
também, textos afirmando que o dízimo não deveria mais existir, pois a prática
estaria ligada aos serviços no grande Templo em Jerusalém, e como ele já não
existe mais, a prática de dar o dízimo teria sido demolida. Porém, nessa
exaustiva tentação de solidificar minhas certezas, me atrevi a mergulhar nos
conceitos judaicos sobre o dízimo, pois julguei ter neles uma fonte menos
contaminada. Durante esse mergulho, minhas certezas foram progressivamente
destruídas. Quando voltei para “tomar ar”, percebi que não existiam mais
certezas em mim, principalmente quanto ao dízimo. Senti ter encontrado um baú
de verdades. Verdades não sobre questões externas ou religiosas, mas sobre meu self;
verdades sobre mim mesmo. Nas profundezas do meu ser, novos mergulhos estão
sendo realizados em todo momento, para continuar encontrando os tesouros da
verdade que liberta. Agora entendo a prática de retribuir o dízimo de forma
diferente, é um comportamento carregado de reverência e não de obrigações
religiosas ou doutrinárias. Não existe mais um lugar definido pela lei
religiosa, para eu retribuir o meu dízimo, existe somente, quando, e a quem
entregar meu dízimo.
Foi no processo de convalescença de um episódio cirúrgico, que iniciei a
leitura de um dos livros do Rabino Nilton Bonder 1. Sem pretensões
de encontrar nele respostas para minhas questões quanto ao dízimo, li sem
perceber que o mergulho aos mares profundos do Judaísmo, contava com a
orientação de um dos melhores mestres, um dos grandes pensadores do momento
presente. Possuo um grande respeito pela literatura teológica ocidental, mas
foi a literatura judaica que me proporcionou o mergulho profundo ao mar de
conhecimentos e informações completantes 2 e verdadeiras; uma
fonte pouco contaminada, quase pura, que é doce e ao mesmo tempo amarga. Doce,
porque vem de encontro aos meus valores mais íntimos; amarga, pois mesmo
acalentando tais valores, me mostra o quanto eles estão distantes de seu
verdadeiro lugar. Ao final de uma exaustiva maratona de ler e ouvir, precisei
organizar no íntimo, de maneira bem espiritual, tudo que consegui apreender
3.
Nas águas desse novo útero, me percebo em processo de gestação; o parto
se dará quando o Eterno – Bendito seja Ele –, me chamar por meio da morte.
Partirei quando for hora de nascer como um novo ser, totalmente liberto dos
conceitos e limitações terrenas que me aprisionam. Nesta parte do caminho, não
possuo mais certezas, somente verdades sobre mim mesmo, no tocante a
retribuição a Deus por suas misericórdias. Isto pra mim é dízimo.
Espero contribuir com alguns espíritos humanos corajosos e inquietos, que
iguais a mim, rejeitam as águas salobras oferecidas por religiões, líderes
religiosos, doutrinas e doutrinadores, que se postulam donos das certezas
espirituais.
Que a leitura deste texto seja tão agradável para você, como foi para
mim, escrevê-lo.
Com a devida reverência,
Alexandre Rocha.
Itacoatiara-AM,
dezembro de 2013/abril de 2014.
***
Notas – Prefácio do autor.
1. Fronteiras da inteligência - a sabedoria da espiritualidade. Nilton Bonder,
Rio de Janeiro: Rocco, 2011.
2. Neologismo do autor, usando o verbo “completar” e o sufixo “ante/ente/inte”, para exprimir a ideia de “ação de completar” e o estado de “permanecer completo”.
3. Os termos apreender e apreendido são usados neste trabalho com o significado: comportamento posto em prática por se ter compreendido e/ou assimilado alguma informação, ideia ou pensamento;
2. Neologismo do autor, usando o verbo “completar” e o sufixo “ante/ente/inte”, para exprimir a ideia de “ação de completar” e o estado de “permanecer completo”.
3. Os termos apreender e apreendido são usados neste trabalho com o significado: comportamento posto em prática por se ter compreendido e/ou assimilado alguma informação, ideia ou pensamento;
Apreender: Verbo transitivo direto: 1. Apropriar-se judicialmente
de.; 2. Segurar, agarrar; 3. Assimilar mentalmente. (Mini Aurélio
Eletrônico versão 5.12, 7ª. edição, revista e atualizada.)
Abreviações
BACF - Bíblia Almeida Corrigida e Fiel; BJC
- Bíblia Judaica Completa; BH - Bíblia Hebraica; BNVI - Bíblia
Nova Versão Internacional; ES - Escrituras Sagradas; BEP - Bíblia
Edição Pastoral.
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