(REVISTAS) - MAIS
UM LISTÃO
12/03/2016
18:01:00 REVISTAS VEJA
Autor: ROBSON
BONIN
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Otávio Azevedo,
ex-presidente da Andrade Gutierrez, acusou Ricardo Berzoini,
ministro da coordenação política, de negociar propina em obras federais. E
disse que Edinho Silva, da Comunicação Social, pediu dinheiro
para a campanha de 2014 e foi informado sobre (...)
Das grandes empreiteiras
envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras, a Andrade Gutierrez foi a
primeira a decidir contar seus segredos.
Durante quase uma década, Otávio
Azevedo presidiu o que é hoje um vasto conglomerado, expandiu seus
negócios para a área de energia, saneamento, transportes e tecnologia, e passou
a atuar em quatro continentes — crescimento combinado com as boas relações que
sempre manteve com o poder, especialmente a partir de 2003, quando Lula
chegou ao governo.
Preso e acusado de pagar propina
a políticos envolvidos no escândalo do petrolão, Otávio Azevedo
assinou um acordo de delação premiada com a Justiça. Em troca da liberdade,
comprometeu-se a contar detalhes da relação simbiótica que, por mais de uma
década, transformou políticos em corruptos e empresários em corruptores. As
revelações do executivo fornecem evidências que não deixam dúvidas sobre a
natureza dos governos de Lula e Dilma Rousseff. Ambos tinham na
corrupção um pilar de sustentação.
Em sua confissão, Otávio
Azevedo contou que pagar propina por obras no governo petista era regra
em qualquer setor — e não uma anomalia apenas da Petrobras. Nos depoimentos
prestados pelo empreiteiro aos investigadores da Procuradoria-Geral da
República são descritas transações associadas ao nome de alguns dos políticos
mais influentes do país. Combinados a um calhamaço de demonstrativos bancários,
minutas de contratos e registros de reuniões secretas, os relatos produzem um
acervo sobre o grau de contaminação dos governos petistas. Estão envolvidos ministros,
ex-ministros, ex-governadores e parlamentares de múltiplos quilates.
Eles negociaram pagamentos
milionários de propina com a empreiteira e, com isso, vilipendiaram o mais
sagrado dos rituais em uma democracia: o processo eleitoral.
A lista de Otávio Azevedo
deixa em péssima luz tanto o ex-presidente Lula quanto a
presidente Dilma Rousseff. Todos os comprometidos nas maquinações
narradas pelo empreiteiro são figuras presentes na intimidade do ex e da atual
mandatária do Planalto.
No governo Lula,
segundo ele, cobrava-se propina de 1% a 5% das empreiteiras
interessadas em participar dos consórcios que executavam as obras do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC). O negociador do pacote de corrupção, de
acordo com o empreiteiro, era Ricardo Berzoini, atual ministro da
coordenação política.
O executivo contou que, certa
vez, a cúpula da Andrade Gutierrez foi procurada por Berzoini,
que se apresentou como representante do PT para resolver pendengas financeiras.
Em outras palavras, o petista era o encarregado de acertar o recebimento de "comissões"
por contratos no governo. O ministro, durante bom tempo, foi responsável pela
administração da "conta corrente" das obras de Angra 3
e da hidrelétrica de Belo Monte.
O setor elétrico,
como a Lava-Jato já descobriu, era um dos grandes vertedores de dinheiro
sujo para os cofres do PT. As empreiteiras eram achacadas em todas as
fases, e por personagens distintos. Berzoini cobrava depois de
assinados os contratos. Antes disso, ainda na fase de estudos, apareciam outros
figurões do partido para "ajudar" nas negociações.
Segundo o empreiteiro, Erenice
Guerra, ex-chefe da Casa Civil de Lula e braço-direito de Dilma, e Antonio
Palocci, ex-chefe da Casa Civil de Dilma e braço direito de Lula, auxiliavam
as empreiteiras na formação dos consórcios que mais tarde executariam
as obras. Cobravam 1% de propina pelo serviço. Só depois disso os
projetos destravavam, os preços ficavam dentro do que as empreiteiras queriam e
todos, exceto os contribuintes, saíam ganhando.
Em janeiro passado, VEJA
revelou que Otávio Azevedo havia sido alvo de uma abordagem nada
republicana durante a campanha presidencial de 2014. O executivo contou que foi
procurado pelo tesoureiro Edinho Silva, hoje ministro da Secretaria
de Comunicação Social da Presidência da República, e por Giles Azevedo,
ex-chefe de gabinete e atual assessor especial de Dilma. Os dois queriam
dinheiro, mais dinheiro, 100 milhões a mais do que a quantia que a empreiteira
havia combinado "doar" à campanha.
Da negociação, sabe-se agora,
surge uma evidência mais grave. Para explicar que não podia atender ao pedido, Azevedo
explicou que os "acertos" da Petrobras já haviam sido
repassados. O tesoureiro e o assessor disseram que isso era outra coisa. Ou
seja, Edinho e Giles, ao menos naquele instante,
foram informados sobre a existência de repasses oriundos do petrolão. Não se surpreenderam
ou não se interessaram.
Como a pressão continuou, a Andrade
"doou" mais 10 milhões à campanha petista. A
roubalheira não poupou as obras dos estádios para a Copa de 2014. Em sua lista,
Azevedo incluiu como beneficiários de propinas cinco
ex-governadores de estados que sediaram o Mundial. Todos embolsaram "comissões"
para favorecer a empreiteira na construção das arenas e na realização de outras
obras relacionadas à Copa.
Otávio Azevedo admite o
pagamento de propina aos ex-governadores do Distrito Federal José
Roberto Arruda (então no DEM) e Agnelo Queiroz (PT),
responsáveis pelas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha, um monumento ao
superfaturamento que custou quase 2 bilhões de reais. Ele também disse ter pago
propina a Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, a Eduardo
Braga (PMDB), ex-governador do Amazonas e atual ministro de Minas e
Energia, e a Ornar Aziz (PSD), hoje senador.
Otávio Azevedo foi
transferido para prisão domiciliar após entregar a lista de seus "clientes"
famosos. A empreiteira também aceitou pagar uma multa de 1 bilhão de reais.
Criticados no início da
Lava-Jato, os acordos de delação foram, sem dúvida, fundamentais para o sucesso
das investigações. Através deles, quebraram-se pactos de silêncio,
localizaram-se contas secretas no exterior, figurões e figurinhas foram parar
na cadeia. Em busca da liberdade ou da redução da pena, outros envolvidos
entraram na fila para contar o que sabem. Na semana passada, advogados da Odebrecht
e da OAS estiveram em Curitiba conversando com o Ministério
Público sobre a possibilidade de seus clientes serem admitidos no programa. Marcelo
Odebrecht está condenado a dezenove anos e quatro meses de prisão. Léo
Pinheiro, ex-presidente da OAS, a dezesseis anos e quatro meses. Além
deles, buscam o acordo o marqueteiro João Santana, que recebeu
dinheiro sujo como pagamento de serviços eleitorais a campanhas do PT, o pecuarista
José Carlos Bumlai, amigo de Lula e envolvido até o
pescoço no petrolão, e o senador petista Delcídio do Amaral.
Não será uma negociação fácil: o
esquema de corrupção na Petrobras está praticamente todo desvendado. Falta apenas
confirmar quem era o chefe, o mandante. Ou seja, os benefícios serão concedidos
a quem ajudar os procuradores a chegar lá.
Todos os investigados têm
informações que podem levar ao topo da cadeia de comando. A dúvida é saber quem
vai tomar a iniciativa de falar primeiro. O senador Delcídio está
na frente. Preso em novembro do ano passado por atrapalhar as investigações,
ele revelou que tanto Dilma quanto Lula sabiam e se
beneficiaram do petrolão. O petista narrou detalhes de negócios
fraudulentos realizados pelo PT na China e em Angola, também citando os
ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra.
Elencou, ainda, dezenas de políticos que receberam dinheiro de corrupção —
incluindo, de novo, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, e
os peemedebistas Romero Jucá, Jader Barbalho e Eunício
Oliveira — e até um representante da oposição, no caso, o senador
tucano Aécio Neves.
Por fim, acrescentou uma nova
história de extorsão ao currículo do ministro Edinho Silva. O
então tesoureiro de Dilma, de acordo com o senador petista, repetiu os
métodos denunciados pela Andrade para arrancar dinheiro do laboratório EMS na
campanha presidencial. Se tudo for verdade, faltará mesmo muito pouco
para ser contado.
A LISTA
Em sua delação premiada, o
ex-presidente da Andrade Gutierrez envolve ex-governadores, senadores,
ministros e ex-ministros dos governos Lula e Dilma
em esquemas de recebimento de propinas Ricardo Berzoini.
Durante o governo Lula,
o ministro reuniu-se com executivos da Andrade para exigir o pagamento de
propinas ao PT. Recebia pixulecos por contratos da
Petrobras e nas obras de Angra 3 e Belo Monte. O
porcentual girava entre 2% e 5%;
Edinho Silva – Tesoureiro
da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014, o ministro reuniu-se
com dois executivos da Andrade para cobrar doações durante as eleições. Tinha
conhecimento de que o dinheiro que financiou a campanha de Dilma era oriundo do
pagamento de propina do petrolão e de outras obras públicas;
Giles Azevedo – Assessor
especial da presidente Dilma, tinha conhecimento de que o dinheiro que
financiou a campanha de 2014 era proveniente do pagamento de propina do petrolão
e de outras obras públicas. Estava com Edinho Silva na conversa
em que executivos da Andrade trataram abertamente de propina repassada à
campanha petista;
Sérgio Cabral – O ex-governador
do Rio recebeu propina da Andrade Gutierrez por negócios
na Petrobras e por contratos das obras da Copa de 2014;
Eduardo Braga – O ministro
e ex-governador do Amazonas recebeu propina da Andrade Gutierrez
por contratos das obras da Copa de 2014 em Manaus;
Omar Aziz – Senador
e ex-governador do Amazonas, recebeu propina da Andrade Gutierrez
por contratos das obras da Copa de 2014 em Manaus;
Edison Lobão – Ex-ministro
de Minas e Energia e atual senador, recebeu propina em contratos do petrolão
e do setor elétrico;
Romero Jucá – O senador
recebeu propina em contratos do setor elétrico;
Edison Lobão Filho –
O ex-senador recebeu propina em contratos do setor elétrico;
Renan Calheiros – O
presidente do Congresso recebeu propina em contratos do setor
elétrico;
Agnelo Queiroz – O ex-governador
do Distrito Federal recebeu propina da Andrade por
contratos das obras da Copa de 2014 em Brasília;
José Roberto Arruda
– Também ex-governador do Distrito Federal, recebeu propina da Andrade
por contratos das obras da Copa de 2014 em Brasília;
Erenice Guerra – Ex-chefe
da Casa Civil do governo Lula, participou da operação que resultou no
pagamento de 1% de propina ao PT na obra de Belo Monte;
Antonio Palocci – Ex-ministro
e coordenador da campanha de Dilma, em reunião com executivos da Andrade
exigiu do consórcio de Belo Monte o pagamento de 1% do
valor da obra em propinas ao PT.
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