Insisto em fazer algumas
afirmações graves, mesmo que essas sejam contra mim ou contra o meio em que
estou. Uma dessas afirmações, particularmente, incomoda, pois deixa claro o
quanto os credos religiosos e/ou doutrinários são/estão completamente obsoletos
e inoperantes diante do caos social e político no qual vivemos no Município/Estado/País/Mundo.
Incomoda pois sou pastor.
Enquanto estive dirigindo
congregações religiosas me deparei com a existência de problemas e mazelas
comportamentais – morais e éticas –, que no meu entender não deveriam mais
fazer parte do modus vivendi de algumas das pessoas que lá estavam;
quando argumentava esse fato com líderes mais experientes, recebia deles sempre
a mesma contra argumentação, “...aqui (no sistema igreja) todos
continuam sendo seres humanos; erros acontecem; aqui ninguém é santo, estamos
em processo de santificação; ainda não somos perfeitos; ...”, além de
outras respostas prontas. Depois que deixei o convívio dos ajuntamentos
religiosos e – mais uma vez – passei a vê-los de longe, percebi o quanto a
diferença entre “os da religião” e “os do mundo” é inexistente;
na comparação final dos comportamentos em nada se diferem.
Em 2016 passei a trabalhar
diretamente com o ensino e em sala de aula e notei que minha percepção sobre a inexistente
diferença entre o “mundo religioso” e o “mundo profano” era real, pois os
filhos de pais ligados aos credos protestantes em nada se diferenciavam aos
filhos de pais sem nenhum credo religioso (extrema minoria) e filhos de pais
ligados aos credos não protestantes. Mas foi somente depois de minha assunção a
gestor que percebi a gravidade da questão, EXISTIA SIM UMA DIFERENÇA COMPORTAMENTAL
ENTRE ESSAS CRIANÇAS: OS ALUNOS MAIS “PROBLEMÁTICOS” ESTAVAM LIGADOS AOS CREDOS
PROTESTANTES. Todos? Não, mas 80% sim.
Essa questão não está
simplesmente ligada ao “credo protestante”, está ligada ao que se entende por “ser
filho de DEUS”. A defesa dos pais é sempre: “filho de crente não é crentinho...”.
Concordo! Mas deveria ter um comportamento diferenciado na escola e em sala de
aula. Esses “filhos de crentes” deveriam ser exemplo mas não são e a razão é
bem fácil de se saber.
Para que você entenda, vou fazer
outra abordagem.
Hoje não tenho nenhuma dúvida de que
a EDUCAÇÃO É A FORMADORA DE NOVOS CIDADÃOS E NOVAS SOCIEDADES, porém o
mais assustador é que A FALTA DA EDUCAÇÃO NÃO IMPEDE A FORMAÇÃO DE NOVOS CIDADÃOS
E NOVAS SOCIEDADES.
Essa questão pode ser melhor
entendida sob o conhecimento de uma regra básica do desenvolvimento de
softwares (programas para computadores), que é o PRINCÍPIO DA INVERSÃO DE
DEPENDÊNCIAS. Segundo Ramon Silva, arquiteto e desenvolvedor de softwares,
o Princípio da Inversão de Dependências é o reconhecimento de que COMPONENTES
DE NÍVEIS MAIS ALTOS NÃO DEPENDEM DE COMPONENTES DE NÍVEIS MAIS BAIXOS, mas,
ambos, devem depender de abstrações.
EXPLICANDO:
O CIDADÃO E A SOCIEDADE SÃO O
NÍVEL MAIS ALTO DA CIVILIZAÇÃO, porque não dependem do nível mais baixo
para se formar. Já, A EDUCAÇÃO É O NÍVEL MAIS BAIXO DA CIVILIZAÇÃO. Ela
não é, necessariamente, a formadora do nível mais alto da civilização, mas é
necessariamente a qualificadora desse nível. Mas ambos os níveis dependem
da ABSTRAÇÃO para existirem. Mas o que seria, fora da realidade da
compilação dos programas de computador, a ABSTRAÇÃO?
Tendo como base os esclarecimento
do desenvolvedor Ramos Silva, ABSTRAÇÃO é uma CLASSE ELEMENTOS
CONSTANTES, PORÉM MALEÁVEIS, FLEXÍVEIS E MUTÁVEIS RESPONSÁVEIS PELA EXISTÊNCIA
DOS NÍVEIS CIVILIZATÓRIOS, seja o nível mais baixo – a educação, seja o
nível mais alto – cidadãos e sociedade. SEM ABSTRAÇÃO NENHUMA DAS CAMADAS –
NÍVEIS – DA CIVILIZAÇÃO EXISTEM.
Sendo objetivo: A ABSTRAÇÃO É
A CLASSE DOS EDUCADORES!
Mesmo sem saber o Legislador
Constitucional, de forma empírica, reconheceu esse fato e determinou tal procedimento
em Lei:
“A EDUCAÇÃO,
direito de todos e dever do ESTADO E DA FAMÍLIA, será promovida e
incentivada com a colaboração da SOCIEDADE, VISANDO AO PLENO
DESENVOLVIMENTO DA PESSOA, SEU PREPARO PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E SUA
QUALIFICAÇÃO PARA O TRABALHO.” Artigo 205 da Constituição da República de
1988 com grifos meus.
Esquematizando o dito
Constitucional, posso chegar ao seguinte entendimento: a ABSTRAÇÃO,
professores e pais, AMBOS EDUCADORES, está permeando
os processos de criação da EDUCAÇÃO, nível mais baixo, da SOCIEDADE/CIDADÃOS,
nível mais alto e da CIVILIZAÇÃO, objetivo fim da ação educadora
dos educadores – pais-professores-pais-professores (...), que é a formação de cidadãos
e sociedades. Uma retroalimentação intermitente; não para nunca.
Desenhando para entender:
Como observado acima, é o elemento
abstrativo – pais-professores, o responsável pela construção dos processos
educativos, e das sociedades consequentes desse educar. Esse
movimento oroborista, que não tem começo nem fim, que segue o mesmo
caminho cíclico mas não se repete nunca, pois apesar de “estar sempre no mesmo
lugar”, também está em “posição” diferente – conforme se vê abaixo:
A ABSTRAÇÃO (professores e
pais/responsáveis) são fruto da EDUCAÇÃO (nível mais baixo) e SOCIEDADE (nível
mais alto), que ela mesma forma e é formada por eles. Abstração não forma
Abstração, ou seja Educadores não formam Educadores, porque entre eles não
existe o Princípio da Inversão de Dependência; Porém EXISTIRÁ A EDUCAÇÃO SEM
EDUCADORES da mesma forma existirá SOCIEDADE e CIVILIZAÇÃO, nesse segundo
aspecto, existe a Inversão de Dependência. É a participação da ABSTRAÇÃO
nesse processo espiralado de crescimento que QUALIFICA os outros componentes
do processo.
(...)
Voltando ao tema do texto.
As doutrinas e credos religiosos
têm pregado por séculos que seus seguidores são “cidadãos do céu” e não da
terra; dizem que a todos que não pertencem a esse mundo, e coisas do tipo. Aí
me bate uma preocupação desconcertante. Se o céu para onde eu vou for o mesmo
que esses todos vão, pode não ser um céu e sim um inferno. Estou fora, estou
fora mesmo!
Não sou melhor que nenhum ser
humano vivente, mas viver novamente e eternamente em um lugar junto com pessoas
que nesse plano existencial nada fizeram para melhorar a sociedade na qual
vivem só por estarem esperando um “lugar especial”, não quero mesmo. Não
quero mais passar tempo com pessoas que julgam e condenam os outros pela
aparência, pelo modo de falar, pelo poder aquisitivo, pelas práticas sexuais,
pelos estereótipos. Chega! Isso eu vivo aqui, não quero viver esse inferno
depois de morto.
Tenho certeza de minha salvação –
já escrevi um texto sobre isso – e sei que SALVAÇÃO é mais do que as igrejas e
religiões pregam – e não me cabe discuti-la com quem quer que seja, cada um
acredita nela como desejar. Mas a questão está para além do “acreditar na
salvação”, ela perpassa e ao mesmo tempo finca os pés no VIVER A SALVAÇÃO.
Tenho de salvar as pessoas de mim
mesmo, tenho de salvar as pessoas das minhas esquisitices e manias, precisam
ser salvas dos meus demônios, dos meus fantasmas, das minhas doidices. No mundo
tangível onde convivo com milhares de pessoas todos os dias, eu posso ser diabo
e meu universo é o inferno delas; mas também posso ser o salvador e meu mundo o
paraíso dessas pessoas já tão punidas por uma sociedade cada dia mais celestina
e menos celeste, mais azul da cor do céu e desumana que humanamente divina.
Realmente, não há como ser
cidadão do céu sem antes ser um cidadão da terra.
Termino o texto transcrevendo um
trecho do ensino do SALVADOR:
“Pai nosso
no céu!
Teu nome
seja mantido santo.
Venha teu
Reino;
Tua vontade
seja feita na terra como no céu.”
Mateus,
6:10 – Bíblia Judaica Completa, grifo meu.
Já está na hora de construirmos
novos cidadãos e novas sociedades.
Deus seja com todos.
Amen.