"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

RELIGIÃO: DESAFETO, HEMORRAGIA E MORTE.



Continuando o estudo do livro de Marcos, abordaremos nesse artigo, alguns assuntos aparentemente distintos entre si, mas que na verdade fazem parte de um só contexto, as agruras promovidas pela religião humana. Antes dos encontros relatados no texto que iremos estudar, devemos lembrar que Jesus levou seus alunos para um passeio ao lado de dentro de cada um. “Lá”, no lado de dentro, todos que fazemos essa viajem, nos deparamos com nossas legiões, com nossos “demônios”, com aquilo que nos assusta em nós mesmos. Depois de acalmarmos nossas inquietações, depois de aquietados em nossas ansiedades, estados esses, alterados pelos confrontos proporcionados por Jesus, somos “trazidos para fora”, para o “meio da multidão”, agora conhecedores de que somos responsáveis por nós mesmos. É nesse entendimento – não puramente literal – dos acontecimentos relatados que observo a sabedoria e a divindade de Jesus.

Tudo começa com um pai dividido entre o amor por sua filha e suas obrigações religiosas.

JAIR, UM PAI DIVIDIDO ENTRE A VIDA E A MORTE,
ENTRE A FAMÍLIA E A RELIGIÃO.

“Jesus voltou de barco para a outra margem do lago, e uma grande multidão se reuniu ao redor dele. Então chegou ali um oficial da sinagoga, chamado Jair (Jairo), que se prostrou a seus pés e lhe implorou desesperadamente: "Minha filhinha está quase morrendo! Venha, por favor, e imponha as mãos sobre ela, para que fique boa e viva. Jesus foi com ele e uma grande multidão o seguia e apertava.” Marcos 5:21 a 24.

Ao retornar para o “lado de fora” de si, Jesus e seus alunos são abordados por um homem, um pai, que em desespero implora a Jesus a cura salvadora de sua filha. Diz o texto que aquele pai acredita que sua filha está à beira da morte, e que ele não pode fazer nada. Sua competência de pai parece haver sido detida por algo mais forte. Seu amor pela filha estava limitado pela ritualística religiosa, e isso é claramente percebido em sua declaração, “... imponha as mãos sobre ela, para que fique boa e viva.” A imposição de mãos é ato religioso, colocar as mãos sobre os doentes possui vários significados e o maior de todos eles é o próprio ritual de “imposição de mãos”. Nesse ritual de cura, quem impõe as mãos é uma pessoa justa, não contaminada, limpa de tudo “aquilo” que contaminou e adoeceu ao enfermo e/ou necessitado. Como se a cura fosse transferida por meio das mãos: “o sadio que contamina o enfermo com sua saúde por meio de suas mãos – santas”. Na verdade aquele pai aflito pediu duas coisas de Jesus: 1) a cura; 2) a vida. O nome daquele oficial da sinagoga local é Ya’ir, do hebraico, “aquele que Deus ilumina”. A raiz de seu nome se remete a ChavvahEva – que significa “doador de vida”, “vivente”.

Há indícios que aquele pai, devoto em sua religiosidade, vivia uma crise existencial. Seu nome dizia que ele era alguém iluminado por Deus para trazer pessoas à vida por meio da cura. Talvez ele fosse um oficiante que tratasse dos enfermos – dedução empírica, devido ao significado de seu nome. Mas estranhamente aquele homem não conseguiu curar a filha da enfermidade que a afligia. Mas qual o motivo dessa incapacidade? Qual o motivo dessa impotência?

Jesus não comungava com as regras humanas transformadas em Leis Divinas. Tudo que era acréscimo humano na Lei Divina era repudiado pelo Messias. Isso fazia dele uma pessoa indesejada para a maioria dos religiosos. Ele também ensinava as pessoas a pensar, Ele mostrava a realidade para quem tinha coragem de ver. Sem manifestações políticas, ele desestabilizava a política-religiosa de judeus e romanos. Sem desobedecer nenhuma Lei Divina, Jesus inviabilizava a religiosidade contaminada pela ganância. Essas questões, conhecidas por aquele oficial da sinagoga, possivelmente o encorajaram a procurar Jesus e pedir-lhe que “transgredisse” mais uma vez as leis religiosas – em favor da vida. Até aquele momento, ninguém – nem Jesus – sabia qual era a enfermidade da menina, nem no final do texto, quando Jesus a cura essa enfermidade é revelada. São os acontecimentos no “meio do caminho”, que possivelmente revelam a “doença” da filha de Ya’ir. Ao sair em companhia daquele pai, a multidão que tudo ouviu, passou a segui-los.

Quem já esteve “no meio da multidão”, sabe que todos são conduzidos pelo fluxo incontrolável dos que fazem a turba. Naquele momento, não havia “cordão de isolamento”, os alunos deveriam estar ao redor de Jesus e de Ya’ir, mas não representavam obstáculo para que eles fossem comprimidos pela turba. Talvez a casa de Ya’ir não fosse distante do local de onde ele abordara Jesus, mas chegar lá, com aquela multidão ao redor com toda certeza não era uma tarefa fácil. Naquele aperto geral, naquela situação de extrema proximidade, alguém “arrancou” um milagre de Jesus.


CONFIAR NA VERDADE ESTANCA OS SANGRAMENTOS

“Entre eles, estava uma mulher padecendo de hemorragia havia doze anos. Ela sofrera muito sob o cuidado de vários médicos. Gastou todas as economias, mas, em vez de melhorar, piorava. Ela ouviu falar de Jesus. Então se aproximou por trás dele, no meio da multidão, e tocou em seu manto, porque pensava: ‘Se eu tocar em seu manto, serei curada’. A hemorragia cessou instantaneamente, e ela sentiu em seu corpo que havia sido curada da doença. No mesmo instante, Jesus percebeu que havia saído poder dele e, virando para a multidão, perguntou: ‘Quem tocou em minha roupa?’. Os alunos (discípulos) responderam: ‘Você está vendo a multidão aglomerada à sua volta e ainda pergunta: ‘Quem tocou em mim?’’. Mas Jesus continuou olhando para ver quem fizera aquilo. A mulher, tremendo de medo, por saber o que lhe tinha acontecido, aproximou-se, prostrou-se aos pés dele e lhe contou toda a verdade. ‘Filha’, ele lhe disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da doença’.” Marcos 5:25 a 34.

No meio da multidão, Jesus parece surtar com tanta gente ao redor e afirma que “alguém” o havia “tocado”. O comportamento mais racional foi o dos alunos que diziam ser óbvio “alguém” ter lhe tocado, haja vista estarem indo na mesma direção, apertando uns aos outros, espremendo uns aos outros. Mas o Messias continua afirmando a singularidade do toque. Não havia especialidade no tocar, mas sim na pessoa que tocou. A singularidade estava no “tocante” e não no ato. Foi a intenção que fez a singularidade.

No meio de tantas pessoas, somente uma – e não era Ya’ir – possuía “algo” diferente em “alguém” singular. Todos estavam acompanhando, todos estavam observando, todos estavam admirando, mas somente uma pessoa buscava, queria, precisava. O texto informa de forma clara qual quem era a pessoa o que lhe afligia. Era uma mulher que não tem sua nacionalidade revelada e sua enfermidade era íntima. Um sangramento causado por alguma perturbação genital. Ela até poderia sofrer de uma grave doença venérea.

O texto original permite entender que aquela mulher poderia não ser judia e se fosse, teria sido tratada por médicos judeus que lhe enganaram. A razão para essa proposta está na questão de como os judeus tratavam mulheres com sangramentos genitais. Na Torah, mais especificamente no livro de Levíticos, encontramos no capítulo 15, dos versos 19 ao 33, as regras para tratar mulheres que sofriam de alguma enfermidade genital, que produzisse corrimento, fosse ele mucoso ou sangramento propriamente dito. Em minha opinião, o fato daquela mulher estar no meio da multidão demonstra que ela não era judia. O fato de já ter passado na mão de muitos médicos pode reforçar tal proposta. Mas a questão é que ela sofria – segundo o texto – dessa enfermidade a 12 anos. O original em hebraico dá entender que ela estaria pagando seu tratamento com o seu dízimo. Talvez os médicos que a tratavam cobrassem o dízimo como forma de “expiação” por sua possível culpa. Quem sabe eles achassem – ou soubessem – que sua enfermidade fosse proveniente de alguma doença sexual e lhe obrigassem o ato religioso de pagar com seu dízimo.

Mas naquele momento, nada importou. Se judia ou não, se descumpridora de suas obrigações morais ou não, se enganada por algum médico judeu ou não, aquela mulher enfrentou seu isolamento, seus tormentos, seus demônios e “saiu pra fora” encontrar com seu salvador. Ela acreditava que impor suas mãos seria o bastante para ser curada. Ao contrário do religioso Ya’ir que pediu ao santo Jesus impusesse as mãos em sua filha, aquela mulher pecadora queria impor suas mãos naquele homem diferente. A desigualdade entre os dois comportamentos é grave e brutal. O religioso queria que Jesus “descontaminasse” sua filha, a mulher queria “ser contaminada” com a santidade. Duas pessoas, dois comportamentos diferentes diante da vida. Pessoas diferentes, necessidades iguais, um só Salvador.

Enfrentando seus medos, a mulher contou tudo ao Mestre. Nada mais importava, sua vida se esvaia, se liquefazia há 12 anos. Diante do “ginecologista Divino”, não havia mais porque manter a “vergonha escondida”. Aquele momento, era “tudo”, pois o “nada” já a possuía fazia tempo, sua vergonha sangrante afastara todos de si, ninguém a acompanhava; não se encontram no texto nenhum parente, nenhum amigo, ninguém está com ela. Somente ela e seu Jesus no meio de uma tempestade de gente. Aquela mulher estava com seu “barco” no meio da tempestade, havia chegado ao outro lado e estava de frente com seus demônios. Sua “legião” era personificada pelos diversos médicos a quem ela se entregara para ficar curada. Igual ao geraseno que não podia ser contido, ela não podia ser curada. Estava pobre, perdera tudo, todas as economias pagando pela cura. Porém, o “demônio” que estava diante dela era na verdade seu salvador, por isso o medo.

Depois de se derramar diante de Jesus e confessar sua atrevida imposição de mãos – “...se apenas tocar em suas vestes, serei curada...” – colheu os “frutos” dessa ousadia. Seu sangramento parou instantaneamente. Sem dízimos, sem ofertas, sem sacrifícios, sem processas, sem nada de externo; somente uma motivação interna, corajosa e verdadeira de enfrentar com dignidade seu medo de “tocar” em Jesus. Foi essa intimidade que Jesus sentiu ao ser “tocado” por aquela mulher. Foi essa “cura roubada” que o fez aquietar a tempestade de gente que o cercava.

Mas o mais importante naquele diálogo entre médico e paciente foi o que Jesus disse. ‘Filha’, ele lhe disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da doença’. Chamar aquela mulher de “filha” tinha haver com a filha de Ya’ir, que segundo meu entendimento, estava passando por seu primeiro sangramento. Chamar a mulher sangrante de “filha”, carrega o cuidado paterno de quem se preocupa com sua família e não com sua religião. O texto sagrado da Torah diz que qualquer pessoa que fosse tocada ou tocasse em uma mulher acometida de sangramento – ou fluxo de muco genital – se tornaria impura igual a ela. Essa “filha” de Deus por meio da cura que veio do Filho, havia sido curada por sua confiança, por confiar em seus objetivos. Ela não possuía dúvidas religiosas, ela não possuía dúvidas teológicas, ela não possuía dúvidas doutrinárias. Ela só possuía em si a verdade absoluta de que Jesus era capaz de curá-la, mesmo se não soubesse de sua enfermidade. Para aquela mulher, Jesus não precisava saber quem ela era, nem qual a sua enfermidade. Ele só precisava estar ao alcance de sua mão.

Nos dias de hoje, o que nos impede de “tocar em Jesus” de forma confiante, são os complexos doutrinários, os mitos religiosos, e as infindáveis questões teológicas. Verdadeiras legiões que nos impedem de receber, “mesmo que Jesus não saiba” que existimos e qual nossa mazela que precisa ser curada. A parte mais fácil do milagre é a nossa: TOCAR EM JESUS. A mais difícil é a dele, curar nosso sangramento. Jesus continuou curando aquela filha. “Vá em paz”, ele disse. Continue curada, não adoeça, não se torne religiosa. Continue filha de Deus.

Muitas vezes a cura de Jesus em nossa vida, não nos livra de uma enfermidade, ou livra um amigo ou parente nosso de sua enfermidade. Por vezes a cura é a capacidade de convivermos com essa enfermidade. Somos curados da enfermidade de querer viver para sempre, sem doenças, sem mazelas, com dinheiro no bolso. Mas esse estado de tranquilidade, invariavelmente nos afasta dos caminhos do Pai, nos põe no meio da multidão que só “segue” Jesus por onde ele vai, esbarrando no Mestre sem serem curados por esse contato com o Divino. Mesmo que seja só assim, uma cura íntima, ainda é uma cura divina e precisamos viver em paz com ela e continuar curados. Aceitar que “Deus sempre sabe o que faz” é importante para todos que desejam ser filhos de Deus.


MESMO QUE O CORAÇÃO DIGA SIM, A RELIGIÃO DIZ NÃO.

“Enquanto ele ainda estava falando, chegaram algumas pessoas da casa do dirigente da sinagoga, dizendo: ‘Sua filha morreu. Não incomode mais o rabi.’ Ignorando o que eles disseram, Jesus falou ao dirigente da sinagoga: ‘Não tenha medo; apenas mantenha a confiança’”. Marcos 5:35 e 36.

No exato momento em que esse milagre aconteceu, e o coração de Ya’ir, o pai religioso, se acendeu com a certeza de que Jesus seria capaz de curar sua filhinha, chegou a notícia mortal de que sua querida menina estava morta. Estava morta porque o Messias não estava mais puro, não era mais santo, não poderia mais fazer o milagre predito na religião. Uma mulher impura o havia tocado. Possivelmente no coração daquele pai angustiado a confiança se dissipava pelo vento tempestuoso da lei religiosa. Não havia mais porque incomodar o rabi, a menina havia morrido por causa da religião. O afeto paterno, o amor fraterno não eram suficientemente fortes para vencer o dogma doutrinário que impunha o afastamento, o isolamento entre a “mulher que sangrava” e seus familiares.

Mas o milagre não havia sido completo, Jesus precisava curar aquele homem. Ao dizer-lhe para não ter medo, o Messias informava ao pai aflito que não era o externo que contaminava, e que o fato de ele, Jesus ter sido tocado por uma “mulher impura” não o tornara impuro. Ao pedir que Ya’ir mantivesse a confiança em si mesmo, no que seu nome significava, na força do amor que cura todas as enfermidade e vence todas as batalhas, Jesus o estava convidando para o lado de dentro de si, para atravessar a tempestade íntima provocada pelos ventos fortes das religiões que levantavam ondas bravias de doutrinas humanas.


A CURA DAS RELAÇÕES FAMILIARES
ADOECIDAS PELA RELIGIÃO. O “SIM” DE JESUS VALE MAIS.

“Com exceção de Pedro, Jacó e João, irmão de Jacó, não deixou ninguém segui-lo. Quando chegaram à casa do dirigente da sinagoga, Jesus encontrou uma grande comoção, gente chorando e gritando bem alto. Ao entrar, disse-lhes: ‘Por que todo este desespero e choro? A criança não morreu, está apenas dormindo’. E as pessoas começaram a rir dele. Jesus, entretanto, colocou todos para fora, levou consigo o pai e a mãe da menina e os alunos (discípulos) que estavam com ele, e entrou no lugar onde estava a menina. Pegou-a pela mão e lhe disse: ‘Talita, kumi’ (que significa: ‘Menina, levante-se!’). Imediatamente a menina se levantou e começou a andar: ela contava doze anos de idade. Todos ficaram profundamente admirados. Ele ordenou expressamente que não contassem nada sobre isso a ninguém e disse que dessem a ela alguma coisa para comer.” Marcos 5:37 a 42.

Ao contrário do que a mídia religiosa faz, os milagres de Jesus não tinha o objetivo espetacular, eles eram íntimos, contidos, no íntimo de cada um, no “secreto” de cada ser. E foi assim que aconteceu mais uma vez. A primeira coisa que Ele faz ao chegar à casa de Ya’ir é anunciar a verdade: “... ‘a menina não está morta’ para mim”, em outras palavras Jesus estava dizendo que mesmo que a religião determinasse a morte daquela pré-adolescente, pela impossibilidade de que alguém “puro” pudesse curá-la, Jesus estava afirmando ser falsa tal premissa. O que contamina e adoece o ser humano não é o que está fora, mas sim o que está dentro de cada um. As Leis Levíticas de pureza, que estavam sendo observadas de forma literal por aquele oficial da sinagoga, precisavam ser interpretadas de outra forma. Afastar, banir, privar do aconchego os familiares enfermos e sangrantes não era sinal de estar puro, pelo contrário mostrava a real impureza do ser, a impureza emocional, contaminada pela ferrugem sanguinolenta da observância religiosa.

Os meramente religiosos, que andam “grudados” em Jesus, mas essa aproximação não lhes cura os cantos de unha inflamados, gargalham diante daquilo que não enxergam. A reação mais comum para um ignorante é rir diante do milagre, a única reação que um incrédulo religioso pode ter diante da novidade que muda o entendimento é gargalhar, zombar, fazer pouco, escarnecer. É assim que os unicamente religiosos fazem.

Alheio às gargalhadas dos impuros de alma, Jesus manda a todos embora. Ninguém, além dos pais da menina – além dele e alguns alunos – ficam na casa. Essa atitude de afastar aos que não faziam parte da família era necessária para que a harmonia familiar voltasse, afastar os intrusos foi necessário para que Ya’ir, assumisse o comando de sua família novamente, mandar os religiosos incrédulos embora foi preciso para que aquele homem voltasse a acreditar no seu ministério de oficiante. Ya’ir precisava voltar a cuidar das pessoas, precisava voltar a acreditar na iluminação que Deus proporciona aos que lhe procuram com honestidade.

O texto diz que a idade daquela criança era 12 anos. É nessa idade, que normalmente as meninas têm sua primeira menstruação. E possivelmente essa era a “enfermidade” dela. O fluxo sanguíneo natural da menarca, somado ao desconforto socio-religioso de ter sua filinha “impura” dentro de sua casa e ter de afasta-la da companhia e do cuidado familiar, além as possíveis dores causadas pela cólica menstrual, pode ter destruído aquele pai amoroso por dentro. A luta entre o amor pela filha – ele se refere a ela como “minha filhinha” – e as obrigações religiosas que diziam que ele deveria afastar-se dela (Levítico 15:19ss.), era o que precisava ser curado naquele episódio. Ao levar pai e mãe para dentro do “quarto impuro” onde estava uma “menina impura”, Jesus apresentou a Ya’ir seus demônios.

Sem nenhum ritual de cura, sem nenhuma mandinga religiosa, sem palavras “estranhas”, sem expulsar espíritos, Jesus “contaminou-se” tomando aquela filha pela mão e a fez ficar em pé. “Levante-se”, disse o Messias. Ela obedeceu, acordando de seu sono mortal, levantando-se de seu estado desprezível. Seu desejo de morrer por estar sendo abandonada por seus pais, devido ao sangramento natural, pode tê-la impedido de se alimentar devidamente. Essa presunção pode ser calçada no fato de Jesus ter mandado os pais alimentarem a filha sangrante.

Quase que invariavelmente, as práticas religiosas têm afastado os familiares e destruído famílias inteiras. Os credos religiosos, via-de-regra, só se preocupam com o “espiritual” das pessoas. Dizem cuidar daquilo que não vêm, mas desprezam aquilo que vêm. Um dos alunos que estava dentro daquele quarto, escreveu anos depois sobre isso.

“Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” I João 4:20.

Pense nisso.

Deus lhe abençoe.

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