Continuando o estudo do livro de
Marcos, abordaremos nesse artigo, alguns assuntos aparentemente distintos entre
si, mas que na verdade fazem parte de um só contexto, as agruras promovidas
pela religião humana. Antes dos encontros relatados no texto que iremos
estudar, devemos lembrar que Jesus levou seus alunos para um passeio ao lado de
dentro de cada um. “Lá”, no lado de dentro, todos que fazemos essa
viajem, nos deparamos com nossas legiões, com nossos “demônios”, com
aquilo que nos assusta em nós mesmos. Depois de acalmarmos nossas inquietações,
depois de aquietados em nossas ansiedades, estados esses, alterados pelos
confrontos proporcionados por Jesus, somos “trazidos para fora”, para o “meio
da multidão”, agora conhecedores de que somos responsáveis por nós mesmos.
É nesse entendimento – não puramente literal – dos acontecimentos
relatados que observo a sabedoria e a divindade de Jesus.
Tudo começa com um pai dividido
entre o amor por sua filha e suas obrigações religiosas.
JAIR, UM PAI DIVIDIDO ENTRE
A VIDA E A MORTE,
ENTRE A FAMÍLIA E A RELIGIÃO.
“Jesus voltou de barco para a
outra margem do lago, e uma grande multidão se reuniu ao redor dele. Então
chegou ali um oficial da sinagoga, chamado Jair (Jairo), que se prostrou a seus
pés e lhe implorou desesperadamente: "Minha filhinha está quase morrendo!
Venha, por favor, e imponha as mãos sobre ela, para que fique boa e viva. Jesus
foi com ele e uma grande multidão o seguia e apertava.” Marcos 5:21 a 24.
Ao retornar para o “lado de fora”
de si, Jesus e seus alunos são abordados por um homem, um pai, que em desespero
implora a Jesus a cura salvadora de sua filha. Diz o texto que aquele pai
acredita que sua filha está à beira da morte, e que ele não pode fazer nada.
Sua competência de pai parece haver sido detida por algo mais forte. Seu amor
pela filha estava limitado pela ritualística religiosa, e isso é claramente
percebido em sua declaração, “... imponha as mãos sobre ela, para que fique
boa e viva.” A imposição de mãos é ato religioso, colocar as mãos sobre os
doentes possui vários significados e o maior de todos eles é o próprio ritual
de “imposição de mãos”. Nesse ritual de cura, quem impõe as mãos é uma
pessoa justa, não contaminada, limpa de tudo “aquilo” que contaminou e
adoeceu ao enfermo e/ou necessitado. Como se a cura fosse transferida por meio
das mãos: “o sadio que contamina o enfermo com sua saúde por meio de suas
mãos – santas”. Na verdade aquele pai aflito pediu duas coisas de Jesus: 1)
a cura; 2) a vida. O nome daquele oficial da sinagoga local é Ya’ir, do
hebraico, “aquele que Deus ilumina”. A raiz de seu nome se remete a Chavvah
– Eva – que significa “doador de vida”, “vivente”.
Há indícios que aquele pai, devoto
em sua religiosidade, vivia uma crise existencial. Seu nome dizia que ele era
alguém iluminado por Deus para trazer pessoas à vida por meio da cura. Talvez
ele fosse um oficiante que tratasse dos enfermos – dedução empírica, devido ao
significado de seu nome. Mas estranhamente aquele homem não conseguiu curar
a filha da enfermidade que a afligia. Mas qual o motivo dessa incapacidade?
Qual o motivo dessa impotência?
Jesus não comungava com as regras
humanas transformadas em Leis Divinas. Tudo que era acréscimo humano na Lei
Divina era repudiado pelo Messias. Isso fazia dele uma pessoa indesejada para a
maioria dos religiosos. Ele também ensinava as pessoas a pensar, Ele mostrava a
realidade para quem tinha coragem de ver. Sem manifestações políticas, ele
desestabilizava a política-religiosa de judeus e romanos. Sem desobedecer
nenhuma Lei Divina, Jesus inviabilizava a religiosidade contaminada pela
ganância. Essas questões, conhecidas por aquele oficial da sinagoga,
possivelmente o encorajaram a procurar Jesus e pedir-lhe que “transgredisse”
mais uma vez as leis religiosas – em favor da vida. Até aquele momento,
ninguém – nem Jesus – sabia qual era a enfermidade da menina, nem no
final do texto, quando Jesus a cura essa enfermidade é revelada. São os
acontecimentos no “meio do caminho”, que possivelmente revelam a “doença”
da filha de Ya’ir. Ao sair em companhia daquele pai, a multidão que tudo ouviu,
passou a segui-los.
Quem já esteve “no meio da
multidão”, sabe que todos são conduzidos pelo fluxo incontrolável dos que
fazem a turba. Naquele momento, não havia “cordão de isolamento”, os
alunos deveriam estar ao redor de Jesus e de Ya’ir, mas não representavam
obstáculo para que eles fossem comprimidos pela turba. Talvez a casa de Ya’ir
não fosse distante do local de onde ele abordara Jesus, mas chegar lá, com
aquela multidão ao redor com toda certeza não era uma tarefa fácil. Naquele
aperto geral, naquela situação de extrema proximidade, alguém “arrancou”
um milagre de Jesus.
CONFIAR NA VERDADE ESTANCA
OS SANGRAMENTOS
“Entre eles, estava uma mulher
padecendo de hemorragia havia doze anos. Ela sofrera muito sob o cuidado de
vários médicos. Gastou todas as economias, mas, em vez de melhorar, piorava. Ela
ouviu falar de Jesus. Então se aproximou por trás dele, no meio da multidão, e
tocou em seu manto, porque pensava: ‘Se eu tocar em seu manto, serei curada’. A
hemorragia cessou instantaneamente, e ela sentiu em seu corpo que havia sido
curada da doença. No mesmo instante, Jesus percebeu que havia saído poder dele
e, virando para a multidão, perguntou: ‘Quem tocou em minha roupa?’. Os alunos
(discípulos) responderam: ‘Você está vendo a multidão aglomerada à sua volta e
ainda pergunta: ‘Quem tocou em mim?’’. Mas Jesus continuou olhando para ver
quem fizera aquilo. A mulher, tremendo de medo, por saber o que lhe tinha
acontecido, aproximou-se, prostrou-se aos pés dele e lhe contou toda a verdade.
‘Filha’, ele lhe disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da
doença’.” Marcos 5:25 a 34.
No meio da multidão, Jesus parece
surtar com tanta gente ao redor e afirma que “alguém” o havia “tocado”.
O comportamento mais racional foi o dos alunos que diziam ser óbvio “alguém”
ter lhe tocado, haja vista estarem indo na mesma direção, apertando uns aos
outros, espremendo uns aos outros. Mas o Messias continua afirmando a
singularidade do toque. Não havia especialidade no tocar, mas sim na pessoa que
tocou. A singularidade estava no “tocante” e não no ato. Foi a intenção
que fez a singularidade.
No meio de tantas pessoas,
somente uma – e não era Ya’ir – possuía “algo” diferente em “alguém”
singular. Todos estavam acompanhando, todos estavam observando, todos estavam
admirando, mas somente uma pessoa buscava, queria, precisava. O texto informa
de forma clara qual quem era a pessoa o que lhe afligia. Era uma mulher que não
tem sua nacionalidade revelada e sua enfermidade era íntima. Um sangramento
causado por alguma perturbação genital. Ela até poderia sofrer de uma grave
doença venérea.
O texto original permite entender
que aquela mulher poderia não ser judia e se fosse, teria sido tratada por
médicos judeus que lhe enganaram. A razão para essa proposta está na questão de
como os judeus tratavam mulheres com sangramentos genitais. Na Torah, mais
especificamente no livro de Levíticos, encontramos no capítulo 15, dos versos
19 ao 33, as regras para tratar mulheres que sofriam de alguma enfermidade
genital, que produzisse corrimento, fosse ele mucoso ou sangramento
propriamente dito. Em minha opinião, o fato daquela mulher estar no meio da
multidão demonstra que ela não era judia. O fato de já ter passado na mão de
muitos médicos pode reforçar tal proposta. Mas a questão é que ela sofria – segundo
o texto – dessa enfermidade a 12 anos. O original em hebraico dá entender
que ela estaria pagando seu tratamento com o seu dízimo. Talvez os médicos que
a tratavam cobrassem o dízimo como forma de “expiação” por sua possível
culpa. Quem sabe eles achassem – ou soubessem – que sua enfermidade
fosse proveniente de alguma doença sexual e lhe obrigassem o ato religioso de
pagar com seu dízimo.
Mas naquele momento, nada
importou. Se judia ou não, se descumpridora de suas obrigações morais ou não,
se enganada por algum médico judeu ou não, aquela mulher enfrentou seu
isolamento, seus tormentos, seus demônios e “saiu pra fora” encontrar
com seu salvador. Ela acreditava que impor suas mãos seria o bastante para ser
curada. Ao contrário do religioso Ya’ir que pediu ao santo Jesus impusesse as
mãos em sua filha, aquela mulher pecadora queria impor suas mãos naquele homem
diferente. A desigualdade entre os dois comportamentos é grave e brutal. O
religioso queria que Jesus “descontaminasse” sua filha, a mulher queria “ser
contaminada” com a santidade. Duas pessoas, dois comportamentos diferentes diante
da vida. Pessoas diferentes, necessidades iguais, um só Salvador.
Enfrentando seus medos, a mulher
contou tudo ao Mestre. Nada mais importava, sua vida se esvaia, se liquefazia há
12 anos. Diante do “ginecologista Divino”, não havia mais porque manter
a “vergonha escondida”. Aquele momento, era “tudo”, pois o “nada”
já a possuía fazia tempo, sua vergonha sangrante afastara todos de si,
ninguém a acompanhava; não se encontram no texto nenhum parente, nenhum amigo,
ninguém está com ela. Somente ela e seu Jesus no meio de uma tempestade de
gente. Aquela mulher estava com seu “barco” no meio da tempestade, havia
chegado ao outro lado e estava de frente com seus demônios. Sua “legião”
era personificada pelos diversos médicos a quem ela se entregara para ficar
curada. Igual ao geraseno que não podia ser contido, ela não podia ser curada.
Estava pobre, perdera tudo, todas as economias pagando pela cura. Porém, o “demônio”
que estava diante dela era na verdade seu salvador, por isso o medo.
Depois de se derramar diante de
Jesus e confessar sua atrevida imposição de mãos – “...se apenas tocar em
suas vestes, serei curada...” – colheu os “frutos” dessa ousadia.
Seu sangramento parou instantaneamente. Sem dízimos, sem ofertas, sem
sacrifícios, sem processas, sem nada de externo; somente uma motivação interna,
corajosa e verdadeira de enfrentar com dignidade seu medo de “tocar” em
Jesus. Foi essa intimidade que Jesus sentiu ao ser “tocado” por aquela
mulher. Foi essa “cura roubada” que o fez aquietar a tempestade de gente
que o cercava.
Mas o mais importante naquele
diálogo entre médico e paciente foi o que Jesus disse. ‘Filha’, ele lhe
disse, ‘sua confiança a curou! Vá em paz e seja curada da doença’. Chamar
aquela mulher de “filha” tinha haver com a filha de Ya’ir, que segundo
meu entendimento, estava passando por seu primeiro sangramento. Chamar a mulher
sangrante de “filha”, carrega o cuidado paterno de quem se
preocupa com sua família e não com sua religião. O texto sagrado da Torah diz
que qualquer pessoa que fosse tocada ou tocasse em uma mulher acometida de
sangramento – ou fluxo de muco genital – se tornaria impura igual a ela. Essa “filha”
de Deus por meio da cura que veio do Filho, havia sido curada por sua confiança,
por confiar em seus objetivos. Ela não possuía dúvidas religiosas, ela não
possuía dúvidas teológicas, ela não possuía dúvidas doutrinárias. Ela só
possuía em si a verdade absoluta de que Jesus era capaz de curá-la, mesmo se
não soubesse de sua enfermidade. Para aquela mulher, Jesus não precisava saber
quem ela era, nem qual a sua enfermidade. Ele só precisava estar ao alcance de
sua mão.
Nos dias de hoje, o que nos
impede de “tocar em Jesus” de forma confiante, são os complexos
doutrinários, os mitos religiosos, e as infindáveis questões teológicas.
Verdadeiras legiões que nos impedem de receber, “mesmo que Jesus não saiba”
que existimos e qual nossa mazela que precisa ser curada. A parte mais fácil do
milagre é a nossa: TOCAR EM JESUS. A mais difícil é a dele, curar nosso
sangramento. Jesus continuou curando aquela filha. “Vá em paz”, ele
disse. Continue curada, não adoeça, não se torne religiosa. Continue filha de
Deus.
Muitas vezes a cura de Jesus em
nossa vida, não nos livra de uma enfermidade, ou livra um amigo ou parente
nosso de sua enfermidade. Por vezes a cura é a capacidade de convivermos com
essa enfermidade. Somos curados da enfermidade de querer viver para sempre, sem
doenças, sem mazelas, com dinheiro no bolso. Mas esse estado de tranquilidade,
invariavelmente nos afasta dos caminhos do Pai, nos põe no meio da multidão que
só “segue” Jesus por onde ele vai, esbarrando no Mestre sem serem
curados por esse contato com o Divino. Mesmo que seja só assim, uma cura
íntima, ainda é uma cura divina e precisamos viver em paz com ela e continuar
curados. Aceitar que “Deus sempre sabe o que faz” é importante para
todos que desejam ser filhos de Deus.
MESMO QUE O CORAÇÃO DIGA
SIM, A RELIGIÃO DIZ NÃO.
“Enquanto ele ainda estava
falando, chegaram algumas pessoas da casa do dirigente da sinagoga, dizendo:
‘Sua filha morreu. Não incomode mais o rabi.’ Ignorando o que eles disseram,
Jesus falou ao dirigente da sinagoga: ‘Não tenha medo; apenas mantenha a
confiança’”. Marcos 5:35 e 36.
No exato momento em que esse
milagre aconteceu, e o coração de Ya’ir, o pai religioso, se acendeu com a
certeza de que Jesus seria capaz de curar sua filhinha, chegou a notícia mortal
de que sua querida menina estava morta. Estava morta porque o Messias não
estava mais puro, não era mais santo, não poderia mais fazer o milagre predito
na religião. Uma mulher impura o havia tocado. Possivelmente no coração daquele
pai angustiado a confiança se dissipava pelo vento tempestuoso da lei
religiosa. Não havia mais porque incomodar o rabi, a menina havia morrido por
causa da religião. O afeto paterno, o amor fraterno não eram suficientemente
fortes para vencer o dogma doutrinário que impunha o afastamento, o isolamento
entre a “mulher que sangrava” e seus familiares.
Mas o milagre não havia sido
completo, Jesus precisava curar aquele homem. Ao dizer-lhe para não ter medo, o
Messias informava ao pai aflito que não era o externo que contaminava, e que o
fato de ele, Jesus ter sido tocado por uma “mulher impura” não o tornara
impuro. Ao pedir que Ya’ir mantivesse a confiança em si mesmo, no que seu nome
significava, na força do amor que cura todas as enfermidade e vence todas as
batalhas, Jesus o estava convidando para o lado de dentro de si, para
atravessar a tempestade íntima provocada pelos ventos fortes das religiões que
levantavam ondas bravias de doutrinas humanas.
A CURA DAS RELAÇÕES
FAMILIARES
ADOECIDAS PELA RELIGIÃO. O “SIM” DE JESUS VALE MAIS.
“Com exceção de Pedro, Jacó e João,
irmão de Jacó, não deixou ninguém segui-lo. Quando chegaram à casa do dirigente
da sinagoga, Jesus encontrou uma grande comoção, gente chorando e gritando bem
alto. Ao entrar, disse-lhes: ‘Por que todo este desespero e choro? A criança
não morreu, está apenas dormindo’. E as pessoas começaram a rir dele. Jesus,
entretanto, colocou todos para fora, levou consigo o pai e a mãe da menina e os
alunos (discípulos) que estavam com ele, e entrou no lugar onde estava a
menina. Pegou-a pela mão e lhe disse: ‘Talita, kumi’ (que significa: ‘Menina,
levante-se!’). Imediatamente a menina se levantou e começou a andar: ela
contava doze anos de idade. Todos ficaram profundamente admirados. Ele ordenou
expressamente que não contassem nada sobre isso a ninguém e disse que dessem a
ela alguma coisa para comer.” Marcos 5:37 a 42.
Ao contrário do que a mídia
religiosa faz, os milagres de Jesus não tinha o objetivo espetacular, eles eram
íntimos, contidos, no íntimo de cada um, no “secreto” de cada ser. E foi
assim que aconteceu mais uma vez. A primeira coisa que Ele faz ao chegar à casa
de Ya’ir é anunciar a verdade: “... ‘a menina não está morta’ para mim”,
em outras palavras Jesus estava dizendo que mesmo que a religião determinasse a
morte daquela pré-adolescente, pela impossibilidade de que alguém “puro”
pudesse curá-la, Jesus estava afirmando ser falsa tal premissa. O que contamina
e adoece o ser humano não é o que está fora, mas sim o que está dentro de cada
um. As Leis Levíticas de pureza, que estavam sendo observadas de forma literal
por aquele oficial da sinagoga, precisavam ser interpretadas de outra forma.
Afastar, banir, privar do aconchego os familiares enfermos e sangrantes
não era sinal de estar puro, pelo contrário mostrava a real impureza do ser, a
impureza emocional, contaminada pela ferrugem sanguinolenta da observância
religiosa.
Os meramente religiosos, que
andam “grudados” em Jesus, mas essa aproximação não lhes cura os cantos
de unha inflamados, gargalham diante daquilo que não enxergam. A reação mais
comum para um ignorante é rir diante do milagre, a única reação que um
incrédulo religioso pode ter diante da novidade que muda o entendimento é
gargalhar, zombar, fazer pouco, escarnecer. É assim que os unicamente
religiosos fazem.
Alheio às gargalhadas dos impuros
de alma, Jesus manda a todos embora. Ninguém, além dos pais da menina – além
dele e alguns alunos – ficam na casa. Essa atitude de afastar aos que não
faziam parte da família era necessária para que a harmonia familiar voltasse,
afastar os intrusos foi necessário para que Ya’ir, assumisse o comando de sua
família novamente, mandar os religiosos incrédulos embora foi preciso para que
aquele homem voltasse a acreditar no seu ministério de oficiante. Ya’ir
precisava voltar a cuidar das pessoas, precisava voltar a acreditar na
iluminação que Deus proporciona aos que lhe procuram com honestidade.
O texto diz que a idade daquela
criança era 12 anos. É nessa idade, que normalmente as meninas têm sua primeira
menstruação. E possivelmente essa era a “enfermidade” dela. O fluxo
sanguíneo natural da menarca, somado ao desconforto socio-religioso de ter sua
filinha “impura” dentro de sua casa e ter de afasta-la da companhia e do
cuidado familiar, além as possíveis dores causadas pela cólica menstrual, pode
ter destruído aquele pai amoroso por dentro. A luta entre o amor pela filha – ele
se refere a ela como “minha filhinha” – e as obrigações religiosas que
diziam que ele deveria afastar-se dela (Levítico 15:19ss.), era o que precisava
ser curado naquele episódio. Ao levar pai e mãe para dentro do “quarto
impuro” onde estava uma “menina impura”, Jesus apresentou a Ya’ir
seus demônios.
Sem nenhum ritual de cura, sem
nenhuma mandinga religiosa, sem palavras “estranhas”, sem expulsar
espíritos, Jesus “contaminou-se” tomando aquela filha pela mão e a fez
ficar em pé. “Levante-se”, disse o Messias. Ela obedeceu, acordando de
seu sono mortal, levantando-se de seu estado desprezível. Seu desejo de morrer
por estar sendo abandonada por seus pais, devido ao sangramento natural, pode
tê-la impedido de se alimentar devidamente. Essa presunção pode ser calçada no
fato de Jesus ter mandado os pais alimentarem a filha sangrante.
Quase que invariavelmente, as
práticas religiosas têm afastado os familiares e destruído famílias inteiras.
Os credos religiosos, via-de-regra, só se preocupam com o “espiritual”
das pessoas. Dizem cuidar daquilo que não vêm, mas desprezam aquilo que vêm. Um
dos alunos que estava dentro daquele quarto, escreveu anos depois sobre isso.
“Se alguém afirmar: ‘Eu amo a
Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem
vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” I João 4:20.
Pense nisso.
Deus lhe abençoe.
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