"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 23 de março de 2014

A CASA DA PROVISÃO FICA NO LADO DE CIMA, ONDE O VENTO É CONTRÁRIO.



Continuando o estudo do livro de Marcos...

“Jesus fez os alunos – discípulos – entrarem imediatamente no barco e irem adiante dele para a outra margem do lago, em direção a Beit-Tzaidah, enquanto ele despedia as multidões. Depois disso, ele subiu às montanhas para orar. Quando caiu a noite, o barco estava bem distante, e ele estava sozinho na margem. Viu que estavam com dificuldade para remar, porque o vento era contrário. Então, por volta das quatro horas da manhã, Jesus foi na direção deles andando sobre o lago. Queria chegar até eles; mas, quando o viram andando sobre o lago, pensaram tratar-se de um fantasma e começaram a gritar; pois todos eles o haviam visto e ficaram aterrorizados. Entretanto, ele lhes disse: ‘Coragem, sou eu. Parem de ter medo!’. Ele entrou no barco, e o vento cessou. Eles estavam completamente pasmos, porque não haviam entendido o que acontecera em relação aos pães; ao contrário, o coração deles foi endurecido.
Depois da travessia do lago, pararam em Ginosar – Genezaré – e ancoraram. Tão logo saíram do barco, as pessoas reconheceram Jesus e começaram a percorrer toda a região levando pessoas doentes em macas a qualquer lugar onde dissessem que ele estava. Aonde quer que ele fosse, em aldeias, cidades ou no campo, levavam os doentes ao mercado. Imploravam-lhe que deixassem-nos tocar mesmo que na sua roupa, e todos os que tocavam nelas eram curados.” Marcos 6:45 a 56.

Depois de terem aprendido da maneira mais desconcertante, que o verdadeiro milagre não está em consubstanciar nada em pão e nada em peixe, mas sim dividir seus “pães” e seus “peixes” com quem nada tem, os alunos de Jesus, foram por ele, despedidos, mandados embora. O texto mostra a pressa do mestre em se ver livre dos alunos – ainda – famintos da confiança que vem do alto; são quase que empurrados para dentro de um barco. Enquanto eles partiam talvez sem entender nada, Jesus ficava para “despedir as multidões...”.

A direção que Jesus deu aos alunos, foi a cidade de Beit-Tzaidah (Betsaida), do outro lado do lago. Mais uma vez a figura do “outro lado”, se mostra no ensino do Filho de Deus. Betsaida, é a junção das palavras Beitcasa e Tzaidahprovisão, alimento. Jesus mandara seus alunos para a “Casa da Provisão”; agora não para o “lado de dentro”, mas para o “lado de cima”. Enquanto eles navegavam para esse “lado de cima”, Jesus caminhava para o “seu lado de cima”. O lugar “de cima” para onde Jesus foi, é uma montanha.

A figura da montanha, tem no imaginário religioso, lugar especial e místico. A montanha representa nesse imaginário o lugar onde “Deus está”. Mas Jesus não compartilha da mística religiosa, para ele a montanha é lugar para ser transposto, escalado, conquistado, vencido. E é nessa perspectiva que ele escala e vence a montanha. Depois de vencer, ele vai orar. Mas a oração não é para os vencedores, é para os lutadores, para os que estão subindo suas montanhas particulares. A montanha que Jesus subiu para orar, era somente um estágio da verdadeira “montanha” que ele estava para subir. O madeiro.

Enquanto Jesus falava com seu Deus, no seu “lado de cima”, os alunos remavam contra o vento. Sem saber que haviam chegado no “lado de cima” para o qual Jesus os mandara, não perceberam que a “casa da provisão” lhes aprovisionaria de fôlego, de ar, de entusiasmo, de vivacidade, de vigor, de coragem, de paciência, de disposição, de espírito profético, de desejo pelo sagrado, de caráter moral, de capacidade. Bastava orar. O “vento contrário”, era o contrário a tudo que o Espírito – vento – aprovisiona aos consolados por Ele. Aqueles alunos estavam remando contra o vento, não se deixando levar pelo Espírito que os queria possuir e ensinar.

O texto diz que “ao ver” que seus alunos remavam contra a “maré de vida” que os queria possuir, resolver ajudar-lhes. Todo socorro acontece quando a pessoa que é socorrida não conseguiria pelas próprias forças “se salvar”, então a “salvação” precisa ser externa. E foi isso que Jesus fez, teve de salvar seus alunos, porque mais uma vez não haviam entendido a parábola da “casa da provisão” que o Mestre lhes estava ensinando. O socorro de Jesus chega com assombro e com medo. Jesus caminhava sobre as águas.

A salvação de Jesus sempre será “assombrante”, sempre será amedrontadora. Sempre será porque ele nunca deixa seu “lado de cima”, ele nunca larga as mãos de quem O carrega. Seu Pai, o Eterno. Naquele episódio, Jesus “saiu” do seu “lado de cima”, para o “lado de baixo” dos alunos. Ele “saiu” de sua “casa de provisão”, para a “casa da desprovisão” dos alunos. Em outro evangelho, Pedro pede para ir ao encontro de Jesus, ainda sobre as águas, mas sua falta de segurança no “lado de cima”, lhe deixou afundar.

Depois que o assombro e o vento passaram, Jesus e seus alunos chegam ao lugar geográfico, do outro lado do lago. O lugar é a cidade de Genezaré, no hebraico Ginesar ou Ginosar que significa “harpa”. As harpas são instrumentos musicais, e sempre que as ouço ou lembro delas, me vem a mente o Salmo 150. Penso que naquele momento, o “lugar das harpas”, o “lugar do louvor” é o lugar óbvio para quem está subindo seus montes, enfrentando seus medos, mas sempre seguro no “lado de cima”, o lugar da salvação. Diz o texto que todos da “cidade das harpas” e das cidades vizinhas, em coro, foram até o salvador, levantaram de suas macas, deixaram seus comodismos, enfrentaram seus caminhos, suas estradas, seus temores, suas dores, para pelo menos, tocarem num pedacinho de roupa daquele que salva. E foram salvos. Eles, os salvos, seguraram com as duas mãos, no “lado de cima”, na “provisão” de vida que lhe foi ofertada por Deus.

É por isso que: A CASA DA PROVISÃO FICA NO LADO DE CIMA, ONDE O VENTO É CONTRÁRIO.


Deus lhe abençoe.
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