"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

MÃE IMPURA, FILHA POSSESSA.

Oxana Malaya foi encontrada na Ucrânia em 1991.


Continuando o estudo no livro de Marcos ...

“A seguir, Jesus saiu daquele distrito e se dirigiu à circunvizinhança de Tzor (Tiro) e Tzidon (Sidon). Lá ele encontrou uma casa para ficar e desejava permanecer no anonimato, mas isso foi impossível. Aproximou-se dele uma mulher cuja filhinha tinha um espírito impuro, e ela se prostrou a seus pés. A mulher era grega, siro-fenícia de nascimento, e lhe implorou que expulsasse o demônio de sua filha. Jesus disse: ‘Em primeiro lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças e lançá-la aos cachorrinhos de estimação’. Ela respondeu: ‘Isso é verdade, senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das crianças’. Então Jesus lhe disse: ‘Por causa dessa resposta, você pode ir para casa; o demônio já deixou sua filha’. Ela voltou para casa e encontrou a filha deitada na cama, livre do demônio.” Marcos 7:24 a 30

Depois de ter mostrado de forma prática e insofismável aos alunos, aos religiosos e ao povo que o que nos torna pessoas impuras é o que falamos, e que nossas palavras são nascidas envoltas pelos sentimentos do coração, Jesus tentou descansar em lugar distante da multidão. Porém, uma mulher que possivelmente o seguia e havia entendido o que ele dissera sobre comida e palavras, disse-lhe em tom de questão, que sua filha estava com um espírito impuro. Notem que o ensino de Jesus estava em sentido contrário ao questionamento daquela mãe. Jesus afirmara que o que nos torna impuros é o que falamos, mas também o que ouvimos.

Se ouvirmos palavras provenientes de um coração impuro, podemos também nos tornar impuros, se essas palavras forem se acomodando em nossas emoções – no coração. Falar e ouvir estão intimamente ligados no ensino de Jesus. Aquela mãe, que no texto original em hebraico é identificada como uma mulher envergonhada pelo que havia ouvido de Jesus apresentou ao mestre uma questão, que ela já havia resolvido em seu coração. Sua filha estava impura, por qual motivo?

O texto de Marcos mostra uma estranha identificação da mulher. Ela não tem nome, mas tem endereço, ela é grega, porém siro-fenícia de nascimento. Ou seja, há importância nessa revelação da identidade da mulher. E isso tem haver com a resposta aparentemente estapafúrdia que Jesus deu a ela. Ele sabia com quem estava falando e ela sabia o que ele estava dizendo. A conversa entre eles está em um nível fora do alcance do simples leitor. Em sendo uma mulher de cultura grega, ela deveria ser idólatra, deveria servir a algum deus; sendo siro-fenícia pode ter sido educada a cultivar deuses domésticos, entidades que são cultuadas em altares dentro das casas ou em uma dependência dela.

Ao me deparar com essa possibilidade pesquisei sobre o tema e encontrei um dado interessante. Havia na cultura grega, uma deusa familiar, que era venerada com muita devoção por todos os gregos prosélitos. Na mitologia grega, Héstia era essa deusa familiar que protegia as famílias. Sua história mitológica é interessante. Ela era irmã de Zeus, que a proibira de casar, mas permitiu que ela fosse adorada como deusa familiar, uma espécie de deusa menor. Tal fato é interessante e pouco se encontra sobre tal divindade nos dicionários de mitologia grega. O sincretismo grego-siro-fenício, deu a essa deusa uma característica interessante. Seu culto era realizado, oferecendo o melhor dos alimentos, principalmente leite, bolos e biscoitos para ela, na figura de animais de estimação, principalmente cachorrinhos.

Não é difícil imaginar que aquela mulher, cheia de impureza, deve ter falado muitas coisas desagradáveis para a filha, que por ser uma criança, deve ter crido nas besteiras faladas pela mãe e se “transformado” em uma cachorrinha, comendo a comida dos cachorrinhos de estimação, que era depositada religiosamente por ela. Isso não é difícil de crer, tendo em vista os diversos casos – mostrados em documentários – de crianças que viveram com animais, e debilitadas mentalmente acreditavam ser da família desses animais. O caso mais famoso é de uma menina ucraniana que fora criada pelos cachorros da família, pois seus pais a alimentavam junto com eles; segundo o documentário, ela se “transformou” em um cachorro. Outro caso famoso é o de um garoto africano criado com galinhas, na medida em que cresceu acreditou que era uma galinha. Tudo por causa do espírito impuro que saiu da boca dos pais.

Tudo indica que o caso daquela mulher siro-fenícia, poderia ser um desses. Ela acreditara – por ser idólatra – que sua filha estava com um demônio, ou um “espírito de cachorro”. Isso não consta no texto, mas é identificado por Jesus logo de primeira. A resposta do mestre mostra essa identificação: ‘Em primeiro lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças e lançá-la aos cachorrinhos de estimação’, disse ele. A mãe já sabia que era dela, a culpa pelo estado “demoníaco” da filha. Quando Jesus identificou a questão, ela imediatamente retomou o controle de sua vida, afirmando que a deusa Héstia nãos seria mais importante que seus filhos: ‘Isso é verdade, senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das crianças’. Tudo resolvido. A mãe sabia que se ela tratasse os filhos como filhos e os animais como animais tudo se reequilibraria.

Mas a menina pensava ser um cachorro. Ela comia com eles e dormia com eles. O milagre da transformação da cachorrinha em gente dependia de Jesus. Milagres só dependem dele.

Porém a transformação de animal em filha já havia acontecido no coração daquela mãe. Filhos comem à mesa, animais comem das sobras que os filhos eventualmente deixam cair. Isso ela disse ao Senhor e ele apaixonou-se pela confiança da mulher: ‘Por causa dessa resposta, você pode ir para casa; o demônio já deixou sua filha’. Não havia o que duvidar, a confiança daquela mãe contagiara ao mestre Jesus, aquela aluna havia aprendido tudo direitinho. Sem titubear ela voltou pra casa “...e encontrou a filha deitada na cama, livre do demônio” cachorro. A prova disso é que ela estava deitada na cama, feita gente e não entre os animais feita bicho.

O que podemos aprender com essa lição um tanto estranha? Creio que essas histórias nos alerta para a importância que há naquilo que falamos para os nossos filhos. Muitos chamam seus filhos de “tudo que não presta”, e quando eles se transformam no que lhes foi profetizado, culpam o demônio pelo estado animal dos filhos. Porém esquecem que eles mesmos fizeram dos filhos os “demônios” que são hoje. Esses pais de espíritos impuros, vomitam sua impureza em forma de palavras como se fossem alimento, aos filhos, que por não terem outra referência de vida se transformam nos animais preditos por seus pais.


Pense nisso. Como você alimenta as emoções dos seus, sejam eles quem forem.

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