... continuando o estudo do
trecho de marcos oito. Vamos ao texto.
“Jesus e os
alunos – discípulos – continuaram percorrendo as cidades de Cesareia de Filipe.
No caminho, ele perguntou a eles: ‘Quem as pessoas dizem que eu sou?’. ‘Alguns
dizem que você é João, o Imersor’, eles lhe disseram, ‘outros, que é Elias –
Eliyahu –, e há quem afirme: um dos profetas’. ‘E vocês’, ele perguntou, ‘quem
dizem que eu sou?’. Kefa respondeu: ‘Você é o Machiach – Messias’. Então Jesus
os advertiu de que não dissessem nada, a ninguém, a seu respeito. Ele começou a
lhes ensinar que o Filho do Homem deveria suportar muitos sofrimentos, ser
rejeitado pelos anciãos, principais Sacerdotes e mestres da Torah. Após
isso, seria morto, mas, depois de três dias, ressuscitaria. Ele lhes falou
claramente sobre o assunto. Pedro o levou para o lado e começou a
repreendê-lo. Entretanto, Jesus se virou e, olhando para os alunos – discípulos
– repreendeu Pedro: ‘Afaste-se de mim, Satan! Seu raciocínio procede de uma
perspectiva humana, e não do ponto de vista de Deus!’.”.
Marcos 8:27
a 33
Após tipificar o “ser” Filho
de Deus como um “filho da humanidade”, um ser sofredor, rejeitado pelo que
é, pelo que pensa, pelo que vive, pelo que sente. Essa rejeição vem dos
sacerdotes, dos donos da religião, daqueles que se entendem representantes de
Deus na terra. Depois disso tudo, depois de lhes fazer entender que ele, Jesus,
se tornaria o primogênito do Pai, aquele que primeiro nasceria por meio desse
ritual mortal, ele lhes afirmou que ressuscitar e viver para sempre é o prêmio para
todos aqueles que tiverem a coragem de aceitar o fato de ele ser o Filho de
Deus.
Mas há uma questão interessantemente
subliminar aqui: para ressuscitarmos, temos de morrer primeiro. É nesse ponto
que entendo algumas variantes do ensino de Jesus para os dias de hoje.
Naquele tempo, naquele dia, o
Mestre estava ensinando aos seus alunos que a morte é um ritual de passagem
necessário para a vida. Não há outra forma de vivermos uma nova vida sem que a
morte realize isto. Para nascer o feto tem de morrer de sua vida de feto para
se tornar um “recém nascido”; para se tornar uma mulher a menina tem de
morrer por meio do sangramento menstrual; para se tornar um homem o menino tem
de abandonar a casa paterna e ser “dono” de sua própria casa. Para viver
um grande amor o casal tem de deixar morrer o que lhes impede de realizar o
sonho. Não há vida sem que primeiro haja a morte. Essa é a mística que une
família e tragédia em um só ato.
Viver para sempre é o que nos
espera como seres humanos, a morte é um rito de passagem para essa eternidade. Mas
ninguém quer morrer para viver pra sempre, todos queremos eternizar o que é
finito, findável, terminável, inconstante (...). Todos, queremos eternizar o
que não pode ser eternizado. Só há eternidade por meio da não eternidade; só há
infinidade por meio da finitude. É dessa afinidade entre morte e
vida que nascem os filhos de Deus, aqueles que viverão para sempre.
Estar vivo não é viver. Estar vivo
é não morrer. Pode-se estar vivo sem se estar vivendo, pode-se apenas estar “empurrando
a vida com a barriga”, pode-se estar acomodado a um estado de tragédia onde
viver é um sonho distante. Enfrentar a tragédia é romper a morte, morrendo para
poder viver a vida.
Por outro lado, viver não tem
muito haver com estar vivo. Alguém que está morrendo pode viver a vida mais
intensamente que alguém que está vivo, mas não aproveita da vida. Só vive quem
tem a coragem de enfrentar a morte daquilo que impede que a vida aconteça, seja
uma mudança de lugar, uma mudança de companhia, uma mudança de emprego, uma
mudança de atitude, (...). Na maioria das vezes as mudanças tem representado a
morte para a maioria de nós. “Mudar é preciso, mas não é fácil” e não
estou dizendo o contrário.
Posso entender que quando Jesus
disse que para que ele viesse a ser quem era, teria de morrer
primeiro e ressuscitar depois, entendo que ele estava falando, não somente do
fato real de sua morte e ressurreição, como ocorreu, mas também de um ritual de
passagem para nossa vida. Quando enfrentamos o que nos mata, morrendo pelo que
acreditamos, nosso estado de morte é passageiro, no discurso de Jesus, três dias.
Mas em nossa vida, nem todo estado de morte dura apenas três dias, uns podem
durar 30 anos ou mais. Porém o importante é que ao enfrentarmos a morte,
morrendo, nossa ressurreição é fato. Não há como ressuscitarmos se não
enfrentarmos a morte. Não há nova vida sem a morte da velha vida.
Muitas vezes estamos mortos
vivendo de lembranças. As lembranças embalam o lúdico, o imaginário, mas são
como droga que anestesia da certeza de que precisamos matá-las, deixando-as
para podermos realizar a vida. Viver não é fácil e não estou dizendo que é, mas
viver a vida é divertido, uma experiência única e eterna. Sofremos por querer
eternizar o que não pode ser eternizado. As situações passageiras da vida não
podem ser eternizadas, as relações não podem ser eternizadas e Salomão em sua
sabedoria nos diz isso no seu lamento eclesiástico:
“Tudo tem o
seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há
tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que
se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de
edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de
dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar,
e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de
guardar, e tempo de lançar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de
estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de
guerra, e tempo de paz.” Eclesiastes 3:1 a 8.
Somente a vida é eterna, mas ela
só acontece por meio da morte. Essa me parece ser a mística da vida que vem da
morte. Ainda incompreensível para mim, ainda assustadora, mas completamente aceitável.
Essa passou a ser a ordem de Jesus para todos que querem segui-lo: “...pega
tua cruz e me segue”, ou em tradução livre: “... pega o que te mata e me
segue”.
Todos, queremos viver para
sempre, mas nenhum de nós aceita morrer primeiro para que isso ocorra. Viver para
sempre é fato inquestionável. Fomos gerados pelo ETERNO e por isso a eternidade
nos pertence, resta saber que tipo de vida eterna queremos ter.
Pense nisso, reflita sobre isso,
se deixe morrer e viva a vida.
Deus lhe abençoe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário