Hoje, completo 52 anos de vida.
Uma Graça incomensurável do ETERNO. Só eu sei as esquinas que passei até chegar
aqui. Não foram poucas (...).
Foram muitas dores, muitos
sustos, muitas bênçãos (...), muita coisa mesmo. Nesse caminho, que entra na
linha descendente, porém não menos viva, não menos criativa, não menos nova,
não menos surpreendente, fui presenteado com quatro lindos filhos. Eles são a
minha eternidade, eles carregam em si aquilo que sou. Não são iguais a mim, são
melhores. Eles me melhoraram, foram gestados em úteros de duas mulheres que me
lapidaram dentro de si, para gerarem os seres melhores que nós – elas e eu –
que são nossos filhos.
Nesse voo, que agora aponta para
baixo, porém não raso, nem acidental, construí amizades. Umas verdadeiras,
outras nem tanto; mas não me arrependo de nenhuma. Todas me fizeram crescer,
aprender e entender um pouquinho mais sobre mim mesmo. Nesse planar nas asas da
existência, não gasto mais meu tempo brigando por times, por política, por
políticos, por doutrinas, por religiões, por certezas (...); tento olhar tudo
de cima observando como a vida é cíclica. O que hoje é, amanhã não é mais
(...). As lutas pelas vitrines foram deixadas para traz na mesma proporção que
eu me escondi em mim. Só não dá para mudar quem sou; sou assim espalhafatoso
desde criança... já dizia minha saudosa e querida mama Ruth.
Nesse mergulho que faço sozinho,
não por falta de companhia, mas porque só caibo eu no cockpit, tenho
aprendido “apreciar a viagem”. Envelhecer sempre foi uma realidade distante,
quando eu tinha 18 anos, hoje é um sonho presente. Olho para o espelho e vejo
como é bonito ficar velho. Como para mim é gracioso perceber cada ruga nova,
ver quantos pelos se fizeram brancos em minha barba, nos últimos meses; e
quantos deles se escondem nos desgrenhar dos cabelos. Observar o corpo
modificar é em certos momentos hilário, perceber que me sumiram “partes”
do corpo; descobrir outras saliências antes escondidas pelas curvas da
juventude chega a ser engraçado. A poesia “Sapato Velho”, de Mú
Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós é verdade para mim. Não sei quantos
que depois dos 50 se admitem “sapatos velhos”, porém ainda úteis para “esquentar
pés frios”. Me olho, me vejo assim (...).
Nessa caminhada que já passa de
meio século, dividindo bênçãos, dores, paixões, rancores, perdão, suspiros,
prazeres, desenganos, desapontamentos, certezas, verdades, mentiras, ilusões,
fartura, penúria, escassez, bonança, vitórias, derrotas, ajuntamentos,
afastamentos, proximidades, separações, perdas e ganhos (...), amei uma vez e
nunca mais desamei (...).
Ano passado, 17 de julho de 2013,
eu e a esposa Lena, recebemos de presente do amigo Raimundo Barreto, alta do
hospital São Lucas junto com um recipiente que continha um dos lados da minha
tireoide com um tumor de quase seis centímetros (...). A “festa” de
aniversário foi aqui no lar dos primos queridos, Osamir e Helen, onde convalesci
(...). Hoje, um ano depois, estou novamente neste lar (...), minhas esquinas
não terminaram (...). Sinto falta de muitas pessoas importantes que se foram da
minha vida, a maior falta é de mama Ruth, de abençoada memória, que já está com
o ETERNO.
Nesses anos, a vida não se tornou
mais fácil, mas sim, menos difícil. “Mais fácil” não é o mesmo que “menos
difícil”. A primeira refere-se ao relaxamento das tensões existenciais, a
segunda diz respeito à capacidade de lidar com essas tensões. Experiência. Paulo
o apóstolo dizia que as tensões, as angústias, produziam nele um estado de quase
prazer, porque ele sabia que cada nova tensão o faria mais paciente, mais
experiente, mais esperançoso; mais confiante na soberania DIVINA. Não sei se
tenho tal capacidade, mas tenho tentado enfrentar as esquinas da minha vida com
o mínimo de sabedoria.
Hoje meus rompantes são em menor
quantidade, mas não menos intensos; meus atrevimentos comedidos, mas não menos
ferinos. Me olho e me vejo um barquinho no meio da correnteza, atravessando de “ladinho”
para não afundar (...); tenho de deixar os que navegam em mim, na outra margem,
em lugar seguro e depois seguir minha viagem.
Hoje completo 52 anos. Tenho quatro
filhos e escrevi um livro. Só me falta fincar as raízes de uma árvore na terra
e vê-la crescer.
Obrigado a todos que participam
dessa caminhada, ontem e hoje. Me perdoem o texto meio “cara amarrada”. Mas
não é todo dia que se vive pouco mais de meio século, não tendo e tendo de ter pra dar. “Sabe
lá...”.
DERRAME O ETERNO, BENÇÃOS SOBRE
TODOS NÓS.
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