"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

MAIS DE MEIO SÉCULO. COMEÇANDO A TERMINAR A VIAGEM.



Hoje, completo 52 anos de vida. Uma Graça incomensurável do ETERNO. Só eu sei as esquinas que passei até chegar aqui. Não foram poucas (...).

Foram muitas dores, muitos sustos, muitas bênçãos (...), muita coisa mesmo. Nesse caminho, que entra na linha descendente, porém não menos viva, não menos criativa, não menos nova, não menos surpreendente, fui presenteado com quatro lindos filhos. Eles são a minha eternidade, eles carregam em si aquilo que sou. Não são iguais a mim, são melhores. Eles me melhoraram, foram gestados em úteros de duas mulheres que me lapidaram dentro de si, para gerarem os seres melhores que nós – elas e eu – que são nossos filhos.

Nesse voo, que agora aponta para baixo, porém não raso, nem acidental, construí amizades. Umas verdadeiras, outras nem tanto; mas não me arrependo de nenhuma. Todas me fizeram crescer, aprender e entender um pouquinho mais sobre mim mesmo. Nesse planar nas asas da existência, não gasto mais meu tempo brigando por times, por política, por políticos, por doutrinas, por religiões, por certezas (...); tento olhar tudo de cima observando como a vida é cíclica. O que hoje é, amanhã não é mais (...). As lutas pelas vitrines foram deixadas para traz na mesma proporção que eu me escondi em mim. Só não dá para mudar quem sou; sou assim espalhafatoso desde criança... já dizia minha saudosa e querida mama Ruth.

Nesse mergulho que faço sozinho, não por falta de companhia, mas porque só caibo eu no cockpit, tenho aprendido “apreciar a viagem”. Envelhecer sempre foi uma realidade distante, quando eu tinha 18 anos, hoje é um sonho presente. Olho para o espelho e vejo como é bonito ficar velho. Como para mim é gracioso perceber cada ruga nova, ver quantos pelos se fizeram brancos em minha barba, nos últimos meses; e quantos deles se escondem nos desgrenhar dos cabelos. Observar o corpo modificar é em certos momentos hilário, perceber que me sumiram “partes” do corpo; descobrir outras saliências antes escondidas pelas curvas da juventude chega a ser engraçado. A poesia “Sapato Velho”, de Mú Carvalho, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós é verdade para mim. Não sei quantos que depois dos 50 se admitem “sapatos velhos”, porém ainda úteis para “esquentar pés frios”. Me olho, me vejo assim (...).

Nessa caminhada que já passa de meio século, dividindo bênçãos, dores, paixões, rancores, perdão, suspiros, prazeres, desenganos, desapontamentos, certezas, verdades, mentiras, ilusões, fartura, penúria, escassez, bonança, vitórias, derrotas, ajuntamentos, afastamentos, proximidades, separações, perdas e ganhos (...), amei uma vez e nunca mais desamei (...).

Ano passado, 17 de julho de 2013, eu e a esposa Lena, recebemos de presente do amigo Raimundo Barreto, alta do hospital São Lucas junto com um recipiente que continha um dos lados da minha tireoide com um tumor de quase seis centímetros (...). A “festa” de aniversário foi aqui no lar dos primos queridos, Osamir e Helen, onde convalesci (...). Hoje, um ano depois, estou novamente neste lar (...), minhas esquinas não terminaram (...). Sinto falta de muitas pessoas importantes que se foram da minha vida, a maior falta é de mama Ruth, de abençoada memória, que já está com o ETERNO.

Nesses anos, a vida não se tornou mais fácil, mas sim, menos difícil. “Mais fácil” não é o mesmo que “menos difícil”. A primeira refere-se ao relaxamento das tensões existenciais, a segunda diz respeito à capacidade de lidar com essas tensões. Experiência. Paulo o apóstolo dizia que as tensões, as angústias, produziam nele um estado de quase prazer, porque ele sabia que cada nova tensão o faria mais paciente, mais experiente, mais esperançoso; mais confiante na soberania DIVINA. Não sei se tenho tal capacidade, mas tenho tentado enfrentar as esquinas da minha vida com o mínimo de sabedoria.

Hoje meus rompantes são em menor quantidade, mas não menos intensos; meus atrevimentos comedidos, mas não menos ferinos. Me olho e me vejo um barquinho no meio da correnteza, atravessando de “ladinho” para não afundar (...); tenho de deixar os que navegam em mim, na outra margem, em lugar seguro e depois seguir minha viagem.

Hoje completo 52 anos. Tenho quatro filhos e escrevi um livro. Só me falta fincar as raízes de uma árvore na terra e vê-la crescer.

Obrigado a todos que participam dessa caminhada, ontem e hoje. Me perdoem o texto meio “cara amarrada”. Mas não é todo dia que se vive pouco mais de meio século, não tendo e tendo de ter pra dar. “Sabe lá...”.


DERRAME O ETERNO, BENÇÃOS SOBRE TODOS NÓS.

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