"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

SEJA QUEM VOCÊ É, MAS SEJA DE VERDADE. SÓ ASSIM PODEMOS CONVERSAR.



Por mais íntimos que sejamos, casados, amantes, próximos, juntos, cúmplices, namorados, gêmeos, amigos, irmãos, pais, mães, filhos, filhas, companheiros, sócios, parceiros; por mais grudados um no outro que possamos ser, mesmo assim somos únicos. Nosso outro não é quem somos. Esse outro de nós pode até sentir o que sentimos a milhares de quilômetros; pode até ouvir o murmúrio de nossa alma, estando nós em outro lugar – não importa o fuso horário; pode até mesmo ver como estamos, com os olhos da intimidade. Mas ele não é quem somos. Se for há algo de errado.

A sabedoria judaica diz que: “Se você é você porque eu sou eu, e eu sou eu porque você é você; então nem você é você, e nem eu sou eu. Mas se você é você, porque você é você, e eu sou eu porque eu sou eu; então você é você e eu sou eu, e nós podemos conversar.”.

A conversa, ato de um falar e o outro invariavelmente ouvir; é condição vital para podermos viver. Sem conversar tendemos ao desequilíbrio, mental, emocional e até físico. Conversar não é somente falar; conversar é poder falar quem somos de verdade. Falamos quem somos e somos o que seremos.

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Os mentirosos não conversam, eles afirmam. A mentira é a afirmação pura e simples, é o veredito inquestionável, a certeza absoluta; isso é a mentira. Ao contrário da verdade que é completamente maleável, não invasiva, nem controladora, nem assertiva, a verdade permite a contradição – o dizer contrário a si. A verdade não tem medo do contraditório, porque ela é quem é, não precisa provar-se para ninguém. A mentira já não é assim.

A mentira aprisiona, amarra, impede o voo livre. A certeza prende a si os valores existenciais do outro. Mentira e certeza são a mesma coisa, são cárceres e carcereiros. Ambas são inquiridoras, questionadoras, controladoras, assassinas da liberdade.

A verdade é o contrário. A verdade liberta. Não pergunta, não questiona, não prende ninguém a si, não tenta significar nem valorar ninguém por si mesma. É por isso que Jesus diz que quem liberta é a verdade e não a certeza.

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Quando sabemos quem somos, podemos ouvir quem o outro é e falar quem somos, tendo a certeza que um “ser” não brigará com o outro “ser”. Serão dois seres conversando por saberem quem são.

É somente dessa forma que a vida pode seguir em paz. Estejamos nós juntos ou separados; mas sempre conversando, porque sabemos quem somos.


Bom dia, seja você quem for.

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