"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

PREFIRO SER GENTE

Por hábito, por paixão, por necessidade – ou por qualquer outro motivo que você encontre – eu gosto de escrever o que me vêm ao coração. Na maioria das vezes escrevo sem endereço certo. Escrevo para fazer pessoas refletirem, escrevo como forma de reflexão; escrevo. Pouquíssimas vezes meus textos têm endereço certo; normalmente quando isso ocorre eu nomino o endereçado – para que tudo fique claro.

Já tem uns dias que não escrevo. Isso se dá pelo momento que estou passando: mudanças graves, profundas, verdadeiras e definitivas em minha vida. É assim que sou (...), apesar de exteriormente estar muito parecido com meu pai, internamente sou também, minha mãe. Para ambos o “ficar só” é combustível (...), vivo isso desde que me conheço (...), preciso desses momentos de “ficar desacompanhado” – mas nunca sozinho, jamais ficarei sozinho de novo (...).

Hoje cedo, checando os meios de comunicações sociais, li um texto compartilhado pelo mano Beto Beline. Fiz um comentário que gerou em mim a vontade de escrever de novo. Por isso, essas linhas.

Prefiro ser gente.

Em um mundo que se completa a cada dia, de uma satânica impessoalidade, de uma diabólica despreocupação com o outro, de um completo descompromisso com o desenvolver independente do outro, estamos deixando de ser gente. Estamos deixando as preocupações, pois elas nos amargam a alma; estamos deixando de nos envolver com a dor alheia, pois elas nos doem mais – e já nos basta nossa dor (...), estamos vivendo de cabeça baixa, sem olhar ninguém nos olhos. Estranho isso.

Ter vivido no interior, me fez aprender a valorizar o “olho no olho”, o visitar dos amigos, o “jogar conversa fora...” aqui em Manaus, tenho poucos que compartilham isso (...). Mas essa impessoalidade é crônica, uma epidemia que se alastra de forma galopante, assustadoramente rápida. Essa doença está nos transformando em zumbis; estamos deixando de ser gente.

Estamos morrendo de medo do que pode nos acontecer, temos medo dos que chegam perto de nós, estamos apavorados com as fatalidades. Isso tudo – e mais algumas coisas – nos afastam dos contatos com as pessoas e acabamos nos isolando, nos tornando menos gente a cada dia.

Estar desacompanhado não é deixar de ter contato com pessoas. O convívio com as “gentes” deve nos alimentar, a inter-relação deve nos mover a construção de um mundo menos impessoal.

Nasci em um lar evangélico, me criei num ambiente evangélico, cresci e me desenvolvi nesse meio. Vem dele minhas mais profundas dores, mas também, é dele que vem meu mais profundo e sincero amor. Amor por pessoas, amor pela vida, amor por Deus, amor por tudo que me faz bem. Simples assim.
Mas deixei de ser evangélico, não por causa das dores que me causou, mas porque descobri que nenhuma religião me torna o que devo ser. Deixei a religião porque ela não me significa o ser gente. Deixei a religião por ver – diariamente – que ela é a promovedora das guerras, dos desamores, das diferenças, de tudo que nos afasta um do outro.

Deixei de ser religioso, para sempre. Prefiro ser gente, eternamente,
Mais uma vez: Simples assim.


Boa semana.

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