"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

REFLEXÕES SOBRE O AMOR – parte VI

As diversas traduções mudam totalmente o entendimento de alguns fatos e ditos bíblicos. Isso sempre complica a vida do lado de fora das páginas bíblicas, onde o “sol quente” da realidade esquenta cada dia mais a existência; isso porque muitos têm a necessidade de uma referência literal para “tocarem a vida”, e como as realidades entre os – muitas vezes – nublados acontecimentos bíblicos e os iluminados atos da vida diária não se podem comparar de forma alguma, tudo se complica. Devido a essas questões, vou tratar propositalmente o verso 6 da carta de Paulo aos coríntios tendo como base a versão da Bíblia Judaica Completa de David H. Stern, publicada pela Editora Vida em 2009.

“O amor não tripudia sobre os pecados das pessoas, mas se deleita na verdade;” I Coríntios 13:6 (texto extraído da versão “Bíblia Judaica Completa”)

Paulo faz uma afirmação bastante séria. “O amor não tripudia sobre os pecados” alheios. No texto passado, escrevi: “(...) entregue a DEUS esse ente que você acha que lhe trai, não carregue em si o que lhe mata, a dor, o dissabor, a angústia, o ódio, a suspeita, a irritação, a desgraça, a tragédia. Entregue a DEUS a possibilidade de lhe vingar, se esse for o caso. Mas saiba de uma coisa, ELE só aceitará essa entrega para vingar-lhe, se ela for feita em amor.”. Normalmente quando o ente que achamos que amamos, “apronta” conosco, queremos que Deus o castigue de qualquer forma; e muitas pessoas passam a viver na “janela” da existência olhando a “rua” para ver se esse que lhe causou tal dor, cai, tropeça, se arrebenta com a boca no chão. O prazer desses é dizer “peeeeegggaaa!!!”, ou então, “bem feito, achei foi pouco...”; e passam a tripudiar – humilhar e escarnecer, chegam quase a dançar de alegria pela “desgraça” alheia. Outros, diante dos fatos trágicos que ocorrem com o desafeto – antes ente amado – sentem-se vingados.

Mas nada disso tem a ver com amor, é só vingança, pura e simples vingança. Até porque, o amor não tripudia, não se alegra, não gosta de ver humilhado, não se satisfaz com a “queda” daquele que um dia lhe causou dor – até porque ama.

Um dos escritos de sabedoria dos judeus, “A Ética dos Pais”, alerta contra esse tipo de comportamento vingativo e tripudiante: “Shemuel HaCatan disse: Não te alegres quando teu inimigo cai, e em seu tropeço não permitas que teu coração se exalte, para que Deus não o veja e Se desagrade, e desvie Sua ira dele [contra ti].” A Ética dos Pais 4:19.

O amor “não” se alegra em vingar-se. Se isso acontecer, tenha certeza, você não ama.

Pare, e pense um pouco no que você sente, se seus sentimentos estiverem em desacordo com os ditos bíblicos, saiba, VOCÊ NÃO AMA. NUNCA AMOU. Pode ter outros sentimentos, como desejo, prazer, sentimento de culpa, desejo de posse, sentimento de propriedade (...), qualquer outro sentimento, mas nunca amor.

Finalizando, Paulo diz que o amor “se deleita na verdade”. Deleite é prazer íntimo, suave e pleno. Sentimento de completude diante de si mesmo, diante dos próprios sentimentos. Deleitar-se é estar tranquilo diante do espelho, em paz consigo mesmo.

Verdade, ao contrário do que a ordinariedade ocidental conceitua, nada tem a ver com o explicitar repetitivo e extenuante, com a necessidade de ser convencido daquilo que se nos apresenta. Verdade nada tem haver com o que nos falam ou com o que falamos, verdade tem a ver com nossa forma de ouvir. Verdade tem a ver com a liberdade de deixar o outro dizer aquilo que lhe seja verdade, sem que entremos em crise existencial por acreditarmos que “aquela verdade”, nada tem de verdade, mas sim, tem a ver com a “mentira” que achamos que é. Ou seja. Verdade é a liberdade que damos ao outro de ser quem ele é, de falar o que desejar sem a necessidade de provar nada para nós.

Verdade é a liberdade de se ser quem se é. Se o que somos não coaduna com o que temos, devemos agir com honestidade – como já conceituei – e libertar-nos da desconfiança (...).

O amor verdadeiro, tem sua felicidade tranquila e íntima por simplesmente saber que ama, não importando a quem ama. Como já disse, amor é via de mão única; quem ama, ama. Não precisa ser amado para amar. Estranho, mas verdadeiro – e por ser essa afirmação a minha verdade, você pode discordar dela.


Nele, que nos ama, sem nada pedir em troca.

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