"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

sábado, 11 de fevereiro de 2017

UM DELES É MEU ALUNO...



Ontem foi um daqueles dias nos quais me senti derrotado.
Ontem à tarde recebi a notícia que os marginais que depredaram e assaltaram a Escola Estadual Maria Ivone Leite, foram descobertos e capturados; para minha tristeza, três desses marginais são crianças, duas de 14 anos e uma de 12 anos. Mais triste fiquei quando me foi informado que um deles, de 14 anos, estudou na Escola ano passado e foi matriculado esse ano. Aparentemente, “um garoto gente boa”. Uma confusão de imagens e sentimentos me vieram a mente (...), foi ai que me senti um derrotado.

Hoje, me sinto derrotado por um sistema político corrupto e inoperante composto em sua maioria por pessoas despreparadas e desumanas que só pensam em se locupletar com o dinheiro fácil dos nossos impostos – o famoso e pouco entendido “dinheiro público”; um sistema que não funciona mais, e está desmoronando a cada dia exposto aos esguichos de um simples “lava jato”;

Me sinto derrotado pelo sistema social colapsado que precisa de “pulissa” para se manter controlado. Sem os “homens da lei” e suas ameaças a urbanidade desaparece completamente – vide as cidades do Espírito Santo. Praças de guerra, cenas de filmes apocalípticos (...);

Me sinto derrotado pelo sistema educacional despreparado, ignorante e idólatra – ADORA OS NÚMEROS ESTATISTÍCOS, EM SUA MAIORIA FABRICADOS –, um sistema que não possui uma rede de diagnóstico precoce de alunos com índole criminosa – teríamos mais controle com um diagnóstico psicossocial eficiente. Mas não há interesse político de contratar mais psicólogos e assistentes sociais competentes para atender uma demanda cada vez maior de crianças marginais e ou em processo de marginalização (será que sabem o que significa o termo “marginal”?); O sistema educacional brasileiro tem formado péssimos profissionais, muitos desses “professores” tão marginais quanto seus alunos – vide os muitos relatos sobre professores que estupram (mesmo que consensualmente) alunos: meninas e meninos; Nós, Professores, também precisariam passar por exames psicológicos semestrais – no mínimo – para que a integridade nossa, dos alunos e das instituições seja mantida a Escola se torne realmente um lugar de preparo para o futuro;
(...)
Me sinto derrotado pelos sistemas religiosos alienados e desumanizados por Mamon – o deus do dinheiro. É triste admitir isso pois além de professor também sou pastor, acredito na salvação da humanidade, creio no amor como remédio milagroso, vivo a esperança de poder curar milagrosamente a mim e aos meus com atitudes e gestos de amor; talvez esse fato esteja me causando maior dor pois não vejo por perto nenhuma congregação da Grande Igreja de Jesus fazer trabalhos de apoio às escolas no tocante aos “alunos problema”, estão encastelados em seus templos, protegidos do fedor das gentes, tranquilamente acomodados em seus lugares – cativos – refrescando-se na potente central de ar-condicionado, (...);

Me sinto derrotado pelo sistema familiar fracassado que ainda tenta, de forma agoniada, se impor como o único modelo correto: pai, mãe e filhos. Esse modelo não existe mais! Mais da metade dos alunos da rede pública são filhos só de mãe, não conhecem seu genitor, ou foram paridos e dados para a vó, ou para a tia, ou para outra pessoa que os cria e trata como “filhos”, e que nos momentos de raiva, lançam no rosto desse, seu abandono; outro fato que é jogado pra baixo do tapete social é a violência sexual que nossas crianças sofrem dentro e fora casa. São meninas e meninos violentados sexualmente por seus genitores e/ou parentes (...), NÃO HÁ COMO UMA CRIANÇA VIOLENTADA SEXUALMENTE APRENDER MATEMÁTICA, PORTUGUÊS, HISTÓRIA, GEOGRAFIA (...), SABENDO QUE EM CASA HÁ UM TARADO DE PAU DURO LHE ESPERANDO. Não é ofensivo o que escrevo, é a verdade. E NÃO HÁ QUEM PROTEJA ESSAS CRIANÇAS! O sistema familiar tradicional não existe mais e isso precisa ser entendido. Os sistemas sociais, religiosos, educacionais e governamentais precisam sentar, conversar e achar uma solução para tratar o assunto sem exacerbações de qualquer dos lados.

Me sinto derrotado por minhas limitações, que são muitas. Poderia me acalmar com a justificativa que no ano passado dei aula para quase 1.000 alunos por semana e não havia, humanamente falando, a menor possibilidade de eu diagnosticar alguma personalidade marginal em meus alunos, mesmo buscando atentamente e empregando todo o conhecimento que “ser pastor” e o “mundo espiritual” me proporcionam; poderia me acalmar com esse fato, mas não posso. Não faz parte da minha índole “me entregar de mão beijada” para as situações adversas da vida. Creio que 90% das crianças da Rede pública podem ser salvas com mais atenção, mais amor e acima de tudo uma política educacional eficiente. Mas há os 10% (ou mais) que nunca serão alcançados por esse amor, por essa atenção, por esse bem; são crianças totalmente destruídas pelo vício em drogas – pasmem, pelas influências marginais existentes dentro do ambiente onde moram (...) e nas redondezas. Essas, INFELIZMENTE, precisam ser descartadas para que eu possa dar atenção aos que se querem salvar. É duro, mas é verdade, não sofro da síndrome de messias. NÃO QUERO SALVAR A TODOS, QUERO SALVAR AQUELES QUE QUEREM SER SALVOS. E por mais que isso me corte a alma e me perturbe o espírito. É assim que é, simples assim.
(...)
Não pense você que sou um ser humano perfeito (feito por completo); não sou. Acho que estou muito distante da perfeição predita nos Livros Sagrados e em especial na BÍBLIA. Sou impaciente, as vezes intolerante, outras vezes até irascível (...); não me engano. Sei exatamente quem e como sou. Mas nessa caminhada de vida a Misericórdia do Deus Supremo tem feito seu trabalho e muitas “falhas de sistema”, em mim, têm sido resolvidas, algumas que ainda não foram parecem estar sob controle, outras nem tanto, mas a vida segue e eu sigo com ela buscando diariamente melhorar minha existência como ser humano e salvar aqueles que comigo caminham seu caminho.
(...)
Oro para que mais pessoas se desassosseguem, se incomodem, e juntos possamos criar uma solução para o problema da marginalidade infantil aqui em Itacoatiara. É possível, isso já acontece em muitos interiores do Brasil, onde os professores resolveram “sair da caixa” e mandaram os sistemas educacional, religioso e político pra “tonga da mironga do caburetê”, fizeram a mudança acontecer.
Não acreditas!? Use a internet para o bem, deixe de assistir as novelas emburrecentes da Globo e seus BBBs idiotizantes, vá procurar solução para esse problema ele também é seu – ou será.
(...)
Que o SENHOR de MISERICÓRDIA atue no coração das mães, pais e familiares verdadeira enlutados por terem seus filhinhos presos por já serem assaltantes, por verem seus queridos – espero que realmente sejam – estarem à margem da sociedade, sendo marginais.


DEUS SEJA COM TODOS NÓS!

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