Ontem foi um daqueles dias nos
quais me senti derrotado.
Ontem à tarde recebi a notícia que
os marginais que depredaram e assaltaram a Escola Estadual Maria Ivone Leite,
foram descobertos e capturados; para minha tristeza, três desses marginais são
crianças, duas de 14 anos e uma de 12 anos. Mais triste fiquei quando me foi
informado que um deles, de 14 anos, estudou na Escola ano passado e foi
matriculado esse ano. Aparentemente, “um garoto gente boa”. Uma confusão
de imagens e sentimentos me vieram a mente (...), foi ai que me senti um
derrotado.
Hoje, me sinto derrotado por um
sistema político corrupto e inoperante composto em sua maioria por pessoas
despreparadas e desumanas que só pensam em se locupletar com o dinheiro fácil
dos nossos impostos – o famoso e pouco entendido “dinheiro público”; um
sistema que não funciona mais, e está desmoronando a cada dia exposto aos
esguichos de um simples “lava jato”;
Me sinto derrotado pelo sistema social
colapsado que precisa de “pulissa” para se manter controlado. Sem os “homens
da lei” e suas ameaças a urbanidade desaparece completamente – vide as
cidades do Espírito Santo. Praças de guerra, cenas de filmes apocalípticos
(...);
Me sinto derrotado pelo sistema
educacional despreparado, ignorante e idólatra – ADORA OS NÚMEROS ESTATISTÍCOS,
EM SUA MAIORIA FABRICADOS –, um sistema que não possui uma rede de diagnóstico
precoce de alunos com índole criminosa – teríamos mais controle com um
diagnóstico psicossocial eficiente. Mas não há interesse político de contratar
mais psicólogos e assistentes sociais competentes para atender uma demanda cada
vez maior de crianças marginais e ou em processo de marginalização (será que sabem
o que significa o termo “marginal”?); O sistema educacional brasileiro tem
formado péssimos profissionais, muitos desses “professores” tão marginais
quanto seus alunos – vide os muitos relatos sobre professores que estupram
(mesmo que consensualmente) alunos: meninas e meninos; Nós, Professores, também
precisariam passar por exames psicológicos semestrais – no mínimo – para que a
integridade nossa, dos alunos e das instituições seja mantida a Escola se torne
realmente um lugar de preparo para o futuro;
(...)
Me sinto derrotado pelos sistemas
religiosos alienados e desumanizados por Mamon – o deus do dinheiro. É triste admitir
isso pois além de professor também sou pastor, acredito na salvação da
humanidade, creio no amor como remédio milagroso, vivo a esperança de poder
curar milagrosamente a mim e aos meus com atitudes e gestos de amor; talvez esse
fato esteja me causando maior dor pois não vejo por perto nenhuma congregação
da Grande Igreja de Jesus fazer trabalhos de apoio às escolas no tocante aos “alunos
problema”, estão encastelados em seus templos, protegidos do fedor das
gentes, tranquilamente acomodados em seus lugares – cativos – refrescando-se na
potente central de ar-condicionado, (...);
Me sinto derrotado pelo sistema
familiar fracassado que ainda tenta, de forma agoniada, se impor como o único
modelo correto: pai, mãe e filhos. Esse modelo não existe mais! Mais da metade
dos alunos da rede pública são filhos só de mãe, não conhecem seu genitor, ou
foram paridos e dados para a vó, ou para a tia, ou para outra pessoa que os
cria e trata como “filhos”, e que nos momentos de raiva, lançam no rosto
desse, seu abandono; outro fato que é jogado pra baixo do tapete social é a
violência sexual que nossas crianças sofrem dentro e fora casa. São meninas e
meninos violentados sexualmente por seus genitores e/ou parentes (...), NÃO HÁ
COMO UMA CRIANÇA VIOLENTADA SEXUALMENTE APRENDER MATEMÁTICA, PORTUGUÊS,
HISTÓRIA, GEOGRAFIA (...), SABENDO QUE EM CASA HÁ UM TARADO DE PAU DURO LHE
ESPERANDO. Não é ofensivo o que escrevo, é a verdade. E NÃO HÁ QUEM PROTEJA
ESSAS CRIANÇAS! O sistema familiar tradicional não existe mais e isso precisa
ser entendido. Os sistemas sociais, religiosos, educacionais e governamentais
precisam sentar, conversar e achar uma solução para tratar o assunto sem exacerbações
de qualquer dos lados.
Me sinto derrotado por minhas
limitações, que são muitas. Poderia me acalmar com a justificativa que no ano
passado dei aula para quase 1.000 alunos por semana e não havia, humanamente
falando, a menor possibilidade de eu diagnosticar alguma personalidade marginal
em meus alunos, mesmo buscando atentamente e empregando todo o conhecimento que
“ser pastor” e o “mundo espiritual” me proporcionam; poderia me
acalmar com esse fato, mas não posso. Não faz parte da minha índole “me
entregar de mão beijada” para as situações adversas da vida. Creio que 90%
das crianças da Rede pública podem ser salvas com mais atenção, mais amor e
acima de tudo uma política educacional eficiente. Mas há os 10% (ou mais) que
nunca serão alcançados por esse amor, por essa atenção, por esse bem; são
crianças totalmente destruídas pelo vício em drogas – pasmem, pelas influências
marginais existentes dentro do ambiente onde moram (...) e nas redondezas.
Essas, INFELIZMENTE, precisam ser descartadas para que eu possa dar atenção aos
que se querem salvar. É duro, mas é verdade, não sofro da síndrome de messias. NÃO
QUERO SALVAR A TODOS, QUERO SALVAR AQUELES QUE QUEREM SER SALVOS. E por mais
que isso me corte a alma e me perturbe o espírito. É assim que é, simples assim.
(...)
Não pense você que sou um ser
humano perfeito (feito por completo); não sou. Acho que estou muito distante da
perfeição predita nos Livros Sagrados e em especial na BÍBLIA. Sou impaciente,
as vezes intolerante, outras vezes até irascível (...); não me engano. Sei exatamente
quem e como sou. Mas nessa caminhada de vida a Misericórdia do Deus Supremo tem
feito seu trabalho e muitas “falhas de sistema”, em mim, têm sido
resolvidas, algumas que ainda não foram parecem estar sob controle, outras nem
tanto, mas a vida segue e eu sigo com ela buscando diariamente melhorar minha
existência como ser humano e salvar aqueles que comigo caminham seu caminho.
(...)
Oro para que mais pessoas se
desassosseguem, se incomodem, e juntos possamos criar uma solução para o
problema da marginalidade infantil aqui em Itacoatiara. É possível, isso já acontece
em muitos interiores do Brasil, onde os professores resolveram “sair da caixa”
e mandaram os sistemas educacional, religioso e político pra “tonga da
mironga do caburetê”, fizeram a mudança acontecer.
Não acreditas!? Use a internet
para o bem, deixe de assistir as novelas emburrecentes da Globo e seus BBBs idiotizantes,
vá procurar solução para esse problema ele também é seu – ou será.
(...)
Que o SENHOR de MISERICÓRDIA atue
no coração das mães, pais e familiares verdadeira enlutados por terem seus filhinhos
presos por já serem assaltantes, por verem seus queridos – espero que realmente
sejam – estarem à margem da sociedade, sendo marginais.
DEUS SEJA COM TODOS NÓS!
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