Diante dos dias tensos e
preocupantes vividos na semana que findou em 5 de outubro – dias graves, cheios
de surpresas desagradáveis e preocupantes – resolvi refletir sobre eles, sobre
os alunos que voluntária ou involuntariamente praticam delitos dentro dos
estabelecimentos escolares e claro, fora deles – alguns, infelizmente na inda
ou na volta da Escola; do compromisso e comportamento dos professores,
pedagogos e demais profissionais da educação.
A EDUCAÇÃO É DEVER DO ESTADO E
DA FAMÍLIA
É o que diz o artigo 205 do texto
Constitucional que trata de forma gestacional as diretrizes da educação
brasileira. Mas será que alguém honestamente já se perguntou o por qual motivo
existe essa eterna dívida do Estado e da Família para com a sociedade e que
sempre será paga com a “moeda” EDUCAÇÃO? Eu perguntei e achei a
minha resposta.
A impagável dívida do ESTADO,
como mantenedor e organizador da sociedade, e da FAMÍLIA, como mãe desse mesmo Ente
Social existe por que a SOCIEDADE nunca se forma completamente, sempre
há novos cidadãos chegando para compor essa teia de sócios. A questão é que
poucos entendem isso. Por parte do ESTADO, a maioria dos agentes
estatais preocupam-se com o lucro grande e fácil que é trabalhar para, com e nele.
Os Servidores Públicos, agentes
oficiais do Estado, responsáveis pela organização e manutenção do bom andamento
da “máquina estatal”, limitam-se ao “fazer e não fazer” ao “certo
e errado” dentro de seu horário de expediente; alguns espertinhos sabedores
do descompromisso dos colegas, aproveitam-se disso para “ditar regras e
normas” esdrúxulas, em sua maioria contraditórias aos Princípios Legais,
mas que tornam-se verdadeiras devido a ignorância praticada conscientemente
pelos servidores acomodados. Na outra ponta, estão os agentes públicos. A
classe POLÍTICA, que “olha de cima” a “imensa massa de iletrados”
e se aproveita do desinteresse da maioria dos servidores públicos, da falta de
conhecimento legal de muitos de nós, da exacerbação egótica de outros
tantos e da quase que total desistência dos integrantes da sociedade, para
fazer valer sua vontade, contra tudo e contra todos, na base do voto comprado
por suborno e de ameaças descabidas. Esse é o estado em que se encontra o
Estado Brasileiro. Cegos guiados por outros cegos.
Dessa forma, a dívida social que
esse Estado tem consigo mesmo e com quem outorgou a ele a autoridade e o poder,
nunca irá ser paga pois ESSE ESTADO NÃO SE ENTENDE CRIATURA DA SOCIEDADE
MUITO MENOS DEVEDOR DELA.
(...)
O outro devedor da Sociedade é
sua “mãe”, a FAMÍLIA. Essa mãe, geradora da sociedade é também
gerada por ela, a dinâmica do tempo determina isso, quem hoje é filho, amanhã
será pai e mãe, simples assim; e é nessa esteira temporal, dinâmica e irretrorcedível
que a “desgraça” acontece. Para que você entenda melhor:
No princípio
era a FAMÍLIA;
A FAMÍLIA
formou a SOCIEDADE;
A SOCIEDADE
criou o ESTADO;
O ESTADO não
cuida da SOCIEDADE;
A SOCIEDADE
não se importa com a FAMÍLIA;
A FAMÍLIA forma
outra SOCIEDADE, que cria outro ESTADO...
O Estado que foi criado pela
Sociedade para garantir e estabelecer direitos, deveres e qualidade de vida para
a Sociedade e para a Família geradora de ambos. DE FORMA SIMPLES: O OBJETIVO
FINAL DO ESTADO É GARANTIR A FORMAÇÃO CONSTANTE DE MELHORES FAMÍLIAS, POIS COM
FAMÍLIAS MELHORES TEREMOS UM ESTADO MELHOR. A FAMÍLIA É A MÃE DO ESTADO.
Mas entre esses dois “extremos”, existe a incubadora, o ambiente
perfeito para o desenvolvimento de um Estado pleno em direitos e deveres: A
SOCIEDADE.
Você entende agora, o motivo de
estarmos vivendo dias apocalípticos no Brasil, onde pessoas são sequestrados,
torturadas e esquartejados por simples maldade, onde pessoas resolvem atear
fogo em crianças e professores dentro de uma creche, por simples vingança, onde
pessoas compram armas somente para furar ou dar tiros em outras pessoas só pelo
prazer de dizer aos amigos “eu fiz”, “eu sou foda”, “(...)”?
Entende agora?
ESTAMOS VIVENDO ESSES DIAS
“APOCALÍPTICOS” POR QUE O FILHO ABANDONOU SUA MÃE E ESSA GEROU OUTROS FILHOS
PIORES QUE ELE, QUE TAMBÉM NÃO IRÁ CUIDAR DELA E ELA CONTINUARÁ GERANDO FILHOS
PIORES E PIORES E PIORES E PIORES. ENTENDEU AGORA!?
(...)
AO INVÉS DE SALA DO PÂNICO, BOTÃO
DE AUTODESTRUIÇÃO
Esse quadro dantesco que vejo ser
pintado com cores fortes e cruéis, de segunda a sexta, tem gerado em muitos Agentes
Oficiais do Estado um adoecimento de corpo, alma e espírito; observar essas
cores cruéis cobrirem, inibirem o surgimento de outras matizes é desesperador. Porém,
como um bom Caju* que sou, não gosto de “filme de terror”,
prefiro usar meus olhos para ver o bom e o bem que se esconde depois dos quadros
pintados pelos “Dantes” hodiernos. Nessa sopa caótica que se tornou o tecido família-sociedade-estado,
percebo uma solução natural para o arrefecimento desse caos, e, se de forma
consciente for feito um trabalho de replanejamento, esse estado será quase que
instinto de nosso quotidiano – daqui uns 40 anos, se iniciarmos agora.
Explico:
Dentro da SOCIEDADE existe
um lugar onde FAMÍLIA e ESTADO se encontram para “planejar o
futuro de ambos”, esse lugar é a ESCOLA. É nesse ambiente social que
a família deposita suas esperanças – mesmo que de forma instintiva – em um
futuro melhor. Esse “futuro” tem nome, é Estado. E deveria ser nesse
lugar ESCOLA, que o Estado teria de investir tudo que pode – é até o que
não pode – para se tornar um ente melhor. O ESTADO DEVERIA TER NA ESCOLA O
LUGAR IDEAL PARA SE RECICLAR E SE TORNAR MELHOR A CADA GERAÇÃO; DEVERIA USAR A
O AMBIENTE ESCOLAR PARA GARANTIR A REALIZAÇÃO DO SONHO DE SUA MÃE FAMÍLIA, SER
O FUTURO MELHOR PRA ELA.
Mas “há uma pedra no meio do
caminho”: os profissionais da educação. Esses profissionais, como já disse
antes, estão adoecidos, enfermos no corpo, na alma, e no espírito. São frutos
do descaso do Estado e do desespero desintegrante da família que cobra
resultados financeiros pelo trabalho executado. Muitos já entram na profissão
completamente mercantilizados, só trabalham por dinheiro e não por ideais;
outros perderam seus sonhos no meio de caminho – por culpa da máquina e do
sistema estatal também adoecido – e apegaram-se ao “mais garantido”, o
salário no fim do mês. Para a muitos profissionais da educação, não importa
quantos alunos se tornarão profissionais bem sucedidos ou quantos se tornarão
criminosos, nosso salário estará, no fim do mês, todos os dias da nossa vida em
nossas contas. :/
(...)
Na minha forma de observar o tempo
futuro, vejo que é necessário resgatar alguns valores que foram banidos pela
ganância e pela ignorância de agentes políticos, que em suas decisões,
coerentes com a finalidade de seus mandatos – que é a perpetuação no poder às
custas da ignorância da sociedade – afastaram dela significados, entendimentos
e práticas auto renovadoras. Um deles tem a ver com o termo que QUALIFICAVA
o agente educativo: MAGISTÉRIO!
Quando eu era criança, quem
exercia o cargo de MAGISTÉRIO eram os professores, os sacerdotes
(de todos as vocações religiosas) e os juízes (em toda sua hierarquia).
Todos esses PROFESSAVAM, PROFETIZAVAM, PROFERRIAM aquilo que eram
socialmente. AO PROFESSOR era dada a responsabilidade de PROFESSAR sobre
seus alunos a certeza de que eles se tornariam a Nova Sociedade que formaria o Novo
Estado. Cada Professor, cada Sacerdote, cada Magistrado, carregava consigo
esse Ministério: o de FORMAR UM NOVO ESTADO, TODOS DIAS, EM SALA DE AULA,
NOS AJUNTAMENTOS RELIGIOSOS, NOS JUÍZOS PROFERIDOS. Essa era a função do MAGISTÉRIO.
Lembro de quando Mamãe Ruth Rocha
era professora da Escola Monteiro de Souza, na “subida do Educandos”, em Manaus
e depois em uma outra Escola (que não me lembro o nome) onde fui aluno e filho.
Ela dizia com sua voz doce e firme: “Você são o futuro! Nunca esqueçam
disso! Que tipo de pessoas você querem ser amanhã, em que tipo de sociedade
querem viver?” Repito isso hoje aos meus alunos...
A pessoa que ocupava o cargo
magistral de Professor era a autoridade maior na sociedade para a
doutrinação moral e intelectual dos sócios em formação, na sala de aula e fora
dela. Fazendo uma referência à química, O BOM PROFESSOR ERA UM SER DOTADO DE
“COMPOSIÇÃO QUÍMICA” DIFERENCIADA E ERA ATRIBUÍDA A ELE A PROPRIEDADE
MARAVILHOSA DE TRANSFORMAR PEDRA EM OURO, CASCALHO EM DIAMANTE.
Hoje, nos dias atuais, dias dos
séculos 20/21, Há professores sem Magistério e sem Ministério. Muitas veze me
pego agindo de forma bruta e agressiva com alguns alunos que insistem em
caminhar para o “cesto de frutas podres”, me pego irritado com a
letargia imbecilizada dessas crianças/alunos que preferem o modismos dos
cabelos artesanalmente cortados, dos brincos de argola, dos gingados
malandrinos e ganguistas, das afrontas graves às regras escolares quando levam
catuaba, maconha, cocaína, oxi, (...), facas e revolveres para dentro do
ambiente escolar; a irritação se potencializa quando esse comportamento
letárgico e descomprometido vem daqueles que deveriam atuar para mudar a
história: os próprios professores. Quando isso acontece – e tem acontecido com
muita frequência na Escola onde sou gestor – me pego deixando o Magistério e me
tornado um professor regrado e regrante.
Não culpo aos colegas Professores
pelo cansaço, pelo descaso, pelo afastamento, pelo adoecimento. Todos estamos
sofrendo no meio dessa “guerra” entre filho-e-mãe / estado-e-família,
sem que tenhamos ajuda; o que não posso aceitar é a letargia de esperar que “alguém”
venha dar a solução para os nossos problemas, quando nós temos a solução para
os problemas da sociedade, do Estado e da Família; temos apenas de nos vestir
de coragem e compromisso para mudar a história. Nós temos de sair das “salas
do pânico” e nos tornar o botão de autodestruição desse caos
social que se instala cada vez mais rápido dentro das escolas. Temos de deixar
o medo do sistema estatal e detona-lo com uma revolução educacional coerente,
politicamente embasada porém, não partidarizada, não religiogizada.
Temos de nos autodestruir enquanto professores e nos reconstruir MAGISTRADOS,
senhores do Magistérios.
Antes de finalizar esse texto –
que está maior do que eu desejava quando comecei a escrevê-lo – preciso evocar
minhas raízes Espirituais. Eu creio na Bíblia e isso é uma questão de foro
íntimo, eu creio Nela mas não imponho essa crença à ninguém. Em sendo assim,
preciso lançar mão de seus ensinos para justificar minha afirmação de que os Professores
que se sentem imbuídos de Magistério, também reconhecem seu Ministério
transformador de mundos.
ENTIDADES SOBRENATURAIS
Independente de minha crença
religiosa, penso que Ensinar é algo que beira o sobrenatural. “Entrar” na
cabeça de alguém, penetrar no universo de uma criança/aluno, entender a alma de
um adolescente não é tarefa para fracos. Nem todos possuem essa aptidão, que
eu, em minha religiosidade, chamo de Dom – presente – Divino. Existem na Bíblia
vários textos que mostram isso, também há referências similares em outros
Livros Sagrados, das diversas religiões espalhadas pelo mundo, um deles é o
Livro de Enoque, livro apócrifo, outro o Chilam Balam de Chumaiel, livro
sagrado Maia, onde em ambos, os “anjos caídos” – em Enoque – e as “serpentes
emplumadas” – no Chilam Balam, presenteiam os seres humanos com
conhecimentos habilidades “extras”, para a finalidade de transformarem
seus próprios mundos.
Mas irei me deter no texto
sagrado da Bíblia. Em um escrito atribuído ao Apóstolo Paulo, encontramos um
relato nessa vertente:
“Porque a
um, pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo
Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a confiança; e
a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de
maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os
espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das
línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo
particularmente a cada um como quer.” I Coríntios 12:8 a 11 – Grifo meu.
A profecia é o ato
natural do PROFETA.
Ocidentalmente, “professor”
é um termo derivado do Latim, “PROFESSUS”, “aquele que
declara em público”, do verbo “PROFITARE”, “declarar
publicamente, afirmar perante todos”; Formado por “PRO-”,
“à frente”, mais “FATERI”, “reconhecer,
confessar”. Trata-se de uma pessoa que se declara apta a fazer
determinada coisa – no caso, ENSINAR. - origemdapalavra.com.br
Da mesma forma, “profecia”:
Do Grego “PROPHETIA”, “capacidade de interpretar o desejo
dos deuses”; de “PROPHETES”, de “PRO-”, “à
frente”, mais “PHANAI”, “falar”. – origemdapalavra.com.br
Os termos “Professor”
e “Profeta” são aparentemente diferente em seus significados ocidentais
mas, quase similares nos idiomas semíticos hebraico e aramaico. Há uma série de
termos interligados e dependentes de uma só raiz etimológica, reservei apenas
alguns deles para não ficar muito enfadonha a leitura.
Iniciando a busca de uma definição
mais antiga do termo PROFESSOR encontramos: YABIYN,
que quer dizer AQUELE A QUEM DEUS SERVE OU ENSINA, INSTRUI; outro
termo com a mesma raiz é MABOWN, significando AQUELE QUE
ENSINA, AQUELE QUE DÁ COMPREENSÃO, PROFESSOR; e mais, TABUWN,
TEBUWNAH ou TOWBUNAH que possuem vários
significados: COMPREENSÃO, INTELIGÊNCIA, O
ATO DO ENTENDIMENTO, HABILIDADE, A CAPACIDADE DO
ENTENDIMENTO, INTELIGÊNCIA, COMPREENSÃO, PERCEPÇÃO,
O OBJETO DO CONHECIMENTO E PROFESSOR EM SUA PERSONIFICAÇÃO. Todos
esses termos vêm de uma só raiz estrangeira ao hebraico que é o termo BIYN
que significa DISCERNIR, COMPREENDER, CONSIDERAR, SABER (COM A MENTE),
OBSERVAR, MARCAR, ATENTAR, DISTINGUIR, TER DISCERNIMENTO, PERCEPÇÃO,
COMPREENSÃO, SER INTELIGENTE, DISCRETO, COMPREENDER, FAZER COMPREENDER, DAR
COMPREENSÃO, ENSINAR, MOSTRAR-SE COM DISCERNIMENTO OU ATENTO, CONSIDERAR
DILIGENTEMENTE, INSTRUIR, [TER E AGIR COM] PRUDÊNCIA E CONSIDERAÇÃO.
Como se percebe, o espectro de
significados do termo PROFESSOR nos dialetos semitas hebraico e aramaico
é abrangente e por si só determinariam uma nova atitude da classe de
Professores. Mas há a necessidade do MAGISTÉRIO, a vocação MINISTERIAL
do professor precisa ser incorporada aos significados de nossa atividade para
nos distinguir diante dos demais agentes sociais. O que nos diferencia é o
termo PROFETA.
Nas línguas semitas, PROFETA
é NÊBOW, UMA DIVINDADE BABILÔNICA QUE PRESIDIA O SABER E A LITERATURA;
corresponde sincreticamente ao deus grego Hermes, deus latino Mercúrio, e ao
deus egípcio Tote. A identificação divina do PROFETA com o PROFESSOR
é assustadora e reveladora ao mesmo tempo.
(...)
É dentro desse contexto revelador
que se dá a transformação da sociedade. É no ambiente da escola, lugar comum
entre Família e Estado, que a esperança de dias melhores, de futuros menos
violentos, de sociedades mais justas, de Estados mais dignos se forma. É nesse
Limbo Divino, com leis próprias que os Magistrados Professores, semideuses do
ensino fazem a diferença – quando diferentes. Aqui começo a finalizar o texto.
Se somos semideuses do saber e a
Escola é um Lugar Sagrado da transformação, por qual motivo Estado e Família
estão se desfazendo? A resposta é assustadora e simples: PORQUE A SOCIEDADE
ESCOLAR TAMBÉM ESTÁ SE DESFAZENDO. Profanos e impuros entraram no Lugar Sagrado
e passaram a professar seus modus vivendi, passaram a cuidar somente de
temas estéreis ao dia-a-dia social; as disciplinas ensinadas em sala de aula,
distintas da educação social são estéril e sem função. Nós professores
precisamos trazer de volta, para dentro da sala de aula, o bom trato, o bem
fazer, o contato respeitoso, o ensino visionário. Temos ao nosso lado às lei
individuais, feitas por nós, para nossa própria realidade. A questão é o
descompromisso com o futuro de todos nós.
Pensemos nisso.
O futuro depende de nós,
Magistrados da educação, semideuses do saber.
*Caju – nome usado para
designar os filhos – descendentes – de Judeus que “tornaram-se” católicos.
www.significados.com.br
Dicionário Strong – Hebraico,
Aramaico, Grego, Português.
Bíblia Digital Almeida
Revisada e Atualizada
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