“...Jesus passou a percorrer os povoados circunvizinhos, ensinando.
Chamando os Doze, começou a enviá-los de dois em dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. E lhes disse: ‘Não levem nada para a viagem, a não ser um bordão. Nada de pão, saco de viagem, dinheiro no cinto; calcem sandálias, mas não levem uma camisa extra. Sempre que entrarem em uma casa, fiquem ali até partir; e se as pessoas de algum lugar não os receberem e se recusarem a ouvir vocês, então, quando saírem de lá, sacudam a poeira dos pés, como advertência contra elas’.Eles saíram e pregaram ao povo que abandonassem o pecado e voltassem para Deus, expulsaram muitos demônios, ungiram diversos doentes com óleo e os curaram.” Marcos 6:6 a 13
Depois de ter se admirado com a
falta de confiança de seus familiares, em si mesmos. Jesus passou a ensinar nas
cidades próximas a Cafarnaum, onde morava. O texto é claro ao afirmar que ele “...
passou a percorrer os povoados circunvizinhos, ensinando”. Não foi
pregando, não foi expulsando demônios, nem fazendo milagres. Foi ensinando.
O ensino, por si só, tem muitos
poderes. Quando iniciou seu ministério de Ensino, Jesus, ao ensinar a verdade
que liberta, causou uma tempestade interna em um de seus ouvintes religiosos. O
texto de Marcos 1, dos versos 21 ao 27, mostra que esse ouvinte religioso, possivelmente
um escriba cheio de inveja e ciúmes, manifestou toda sua impureza espiritual. Leia
o texto:
“Foram a Cafarnaum, no sábado – shabbat – , Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos ficaram maravilhados com seu modo de ensinar, porque não lhes instruía como os mestres da Torah, mas como quem possui autoridade própria.
"Na sinagoga deles, naquele momento, estava um homem com um espírito impuro, que gritou: ‘O que você quer de nós, Jesus de Natzeret? Você veio para nos destruir? Sei quem você é o Santo de Deus!’. Mas Jesus repreendeu ò espírito impuro: ‘Cale-se e saia dele!’. O espírito impuro sacudiu o homem violentamente e saiu dando um grito bem alto. Todas as pessoas ficaram tão admiradas que começaram a perguntar umas às outras: ‘O que é isto? Um novo ensino apoiado com autoridade! E dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!’.” Marcos 1:21 a 27
Mesmo que no texto de Marcos não hajam
relatos escritos de curas e livramentos, isso está implícito, pelo simples fato
de encontrarmos em passagens anteriores – no livro de Marcos – que o ensino tem
o poder de curar e libertar uma pessoa. O finalzinho do verso 6, mostra para
todos que leem com honestidade, que o ministério de Jesus era ENSINAR. E é
exatamente para isso, que ele distribui seus alunos – discípulos – aos pares, “...dando-lhes
autoridade sobre os espíritos impuros...”.
Etimologicamente falando, a palavra
autoridade significa “fazer crescer, aumentar”, pois é
originada no termo latino “AUCTUS”. No hebraico o termo é “shalit”, “aquele
que domina”. Jesus enviou seus alunos para provarem suas próprias
qualidades, para saber se dominavam o conhecimento ensinado por ele. Era esse
conhecimento que lhes daria “shalitan” – como está no texto hebraico
– domínio sobre as situações.
Mas esse domínio, essa
autoridade, esse poder de “controlar” as coisas, era proveniente de si mesmos,
do conhecimento que possuíam sobre si mesmos. Parece que Jesus estava aplicando
a máxima do auto conhecimento “... seu eu sou eu porque eu sou eu, então
eu sou eu; e posso conversar com qualquer pessoa.” A autoridade que
Jesus estava dando aos seus alunos não era externa, mas interna, o auto
conhecimento, saber quem realmente eram. Com base no texto, creio que o Mestre
também tenha dado uma “mãozinha” externa para que seus alunos pudessem
iniciar sua caminhada, sozinhos.
A “vara”, ou “bordão” de que fala
o texto, possui, dois significados, o primeiro deles é para quem carrega o “bordão”
ou a “vara”; ela representa “estar esvaziado de si mesmo” – sem dinheiro, sem
comida, sem roupa extra, nada além da “vara”. No texto hebraico a “vara” é “maqqel”,
e tem sua raiz em “baqaq”, que é "ser esvaziado". Por sua vez
para quem recebia os alunos de Jesus com suas varas – esvaziados de si mesmos –
via em suas mãos um “shebet”, um “bordão” que significava “aquele que
tem autoridade em si mesmo”.
Quem sabe quem é, não precisa
pedir para entrar, é recebido; e se não for recebido, não tem problema, deve
seguir seu caminho, assim como Jesus seguia o dele mesmo tendo sido
menosprezado por sua família. Bater a poeira dos pés é seguir em frente, deixar
para trás todos que não sabem quem são. Essa afirmação parece estranha ao
ensino da salvação, mas não é. Jesus não pode salvar quem não o recebe de bom
grado, quem não o alimenta, não o veste, não o visita enfermo, não o visita
prisioneiro. Naquele episódio, Jesus ERA seus alunos. Receber os alunos de
Jesus era receber o próprio Jesus.
Mas quem “carrega” a
autoridade de Jesus, precisa “carregar” Jesus em si mesmo. Não pode
haver outra coisa além do “bordão”, do apoio, da muleta que é a
autoridade DE Jesus em nós.
Quando isso acontece, quando essa
conversão ocorre, quando deixamos o que nos sustenta fora de nosso caminho, e seguimos
apoiados no ensino de Jesus, Sua autoridade passa ser a nossa autoridade. A qualidade
dele passa ser a nossa qualidade. Assim, podemos expulsar todo e qualquer
pensamento, sentimento, comportamento impuro; de nós e dos outros. Os espíritos
impuros que nos atormentam são expulsos com autoridade que vem da nulidade – mas
não da anulação. A autoridade que temos – ou devemos ter – vem de
ensinar quem somos na companhia do Salvador. Nossa autoridade vem da salvação
diária, do conhecimento de nós mesmos, de sabermos que não somos nada além de
nós. Nosso bordão é Jesus, nossa autoridade, nosso apoio.
Mas não adianta andar de cajado,
de vara, de bordão se o coração está cheio de orgulho, prepotência, vaidade,
doutrina, religião, (...). Não levar nada na viagem é ser nada, é confiar em
Deus somente, é saber que Ele alimenta o passarinho da mesma forma que nos
alimenta. Se agirmos confiando que DEUS é o SUPREMO SENHOR, nossas mãos irão
curar, nossas palavras irão acalmar aos que nos ouvem. Nossa presença irá
abençoar – trará Shalon – para quem nos receber, nos ouvir e nos
alimentar.
***
Ser enviado por Jesus para
ensinar a Verdade não é tarefa fácil. Deixar tudo, emprego, renda, benefícios,
(...), e viver confiando na misericórdia, proveniente confiança dos que nos
ouvem – e leem – que realmente somos enviados de Salvador, viver
esperando dia-a-dia, que esses que nos ouvem, que nos veem de muleta, apoiados
na autoridade que nos foi dada pelo Senhor, nos ajudem com comida, roupa,
recursos – não é fácil. Eu sei que não é.
Não ser um vendedor do evangelho
é para os fortes.
Quem tem ouvidos para ouvir e
olhos para ler. Que o faça.
Deus lhe abençoe.
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