"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 2 de março de 2014

UM POR TODOS. TODOS POR UM.



Continuando o estudo do evangelho de Marcos ...

“...Jesus passou a percorrer os povoados circunvizinhos, ensinando.
Chamando os Doze, começou a enviá-los de dois em dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros.  E lhes disse: ‘Não levem nada para a viagem, a não ser um bordão. Nada de pão, saco de viagem, dinheiro no cinto; calcem sandálias, mas não levem uma camisa extra. Sempre que entrarem em uma casa, fiquem ali até partir; e se as pessoas de algum lugar não os receberem e se recusarem a ouvir vocês, então, quando saírem de lá, sacudam a poeira dos pés, como advertência contra elas’.Eles saíram e pregaram ao povo que abandonassem o pecado e voltassem para Deus, expulsaram muitos demônios, ungiram diversos doentes com óleo e os curaram.” Marcos 6:6 a 13

Depois de ter se admirado com a falta de confiança de seus familiares, em si mesmos. Jesus passou a ensinar nas cidades próximas a Cafarnaum, onde morava. O texto é claro ao afirmar que ele “... passou a percorrer os povoados circunvizinhos, ensinando”. Não foi pregando, não foi expulsando demônios, nem fazendo milagres. Foi ensinando.

O ensino, por si só, tem muitos poderes. Quando iniciou seu ministério de Ensino, Jesus, ao ensinar a verdade que liberta, causou uma tempestade interna em um de seus ouvintes religiosos. O texto de Marcos 1, dos versos 21 ao 27, mostra que esse ouvinte religioso, possivelmente um escriba cheio de inveja e ciúmes, manifestou toda sua impureza espiritual. Leia o texto:
“Foram a Cafarnaum, no sábado – shabbat – , Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Todos ficaram maravilhados com seu modo de ensinar, porque não lhes instruía como os mestres da Torah, mas como quem possui autoridade própria.
"Na sinagoga deles, naquele momento, estava um homem com um espírito impuro, que gritou: ‘O que você quer de nós, Jesus de Natzeret? Você veio para nos destruir? Sei quem você é o Santo de Deus!’. Mas Jesus repreendeu ò espírito impuro: ‘Cale-se e saia dele!’. O espírito impuro sacudiu o homem violentamente e saiu dando um grito bem alto. Todas as pessoas ficaram tão admiradas que começaram a perguntar umas às outras: ‘O que é isto? Um novo ensino apoiado com autoridade! E dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!’.” Marcos 1:21 a 27
Mesmo que no texto de Marcos não hajam relatos escritos de curas e livramentos, isso está implícito, pelo simples fato de encontrarmos em passagens anteriores – no livro de Marcos – que o ensino tem o poder de curar e libertar uma pessoa. O finalzinho do verso 6, mostra para todos que leem com honestidade, que o ministério de Jesus era ENSINAR. E é exatamente para isso, que ele distribui seus alunos – discípulos – aos pares, “...dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros...”.

Etimologicamente falando, a palavra autoridade significa “fazer crescer, aumentar”, pois é originada no termo latino “AUCTUS”. No hebraico o termo é “shalit”, “aquele que domina”. Jesus enviou seus alunos para provarem suas próprias qualidades, para saber se dominavam o conhecimento ensinado por ele. Era esse conhecimento que lhes daria “shalitan”como está no texto hebraico – domínio sobre as situações.

Mas esse domínio, essa autoridade, esse poder de “controlar” as coisas, era proveniente de si mesmos, do conhecimento que possuíam sobre si mesmos. Parece que Jesus estava aplicando a máxima do auto conhecimento “... seu eu sou eu porque eu sou eu, então eu sou eu; e posso conversar com qualquer pessoa.” A autoridade que Jesus estava dando aos seus alunos não era externa, mas interna, o auto conhecimento, saber quem realmente eram. Com base no texto, creio que o Mestre também tenha dado uma “mãozinha” externa para que seus alunos pudessem iniciar sua caminhada, sozinhos.

A “vara”, ou “bordão” de que fala o texto, possui, dois significados, o primeiro deles é para quem carrega o “bordão” ou a “vara”; ela representa “estar esvaziado de si mesmo” – sem dinheiro, sem comida, sem roupa extra, nada além da “vara”. No texto hebraico a “vara” é “maqqel”, e tem sua raiz em “baqaq”, que é "ser esvaziado". Por sua vez para quem recebia os alunos de Jesus com suas varas – esvaziados de si mesmos – via em suas mãos um “shebet”, um “bordão” que significava “aquele que tem autoridade em si mesmo”.

Quem sabe quem é, não precisa pedir para entrar, é recebido; e se não for recebido, não tem problema, deve seguir seu caminho, assim como Jesus seguia o dele mesmo tendo sido menosprezado por sua família. Bater a poeira dos pés é seguir em frente, deixar para trás todos que não sabem quem são. Essa afirmação parece estranha ao ensino da salvação, mas não é. Jesus não pode salvar quem não o recebe de bom grado, quem não o alimenta, não o veste, não o visita enfermo, não o visita prisioneiro. Naquele episódio, Jesus ERA seus alunos. Receber os alunos de Jesus era receber o próprio Jesus.

Mas quem “carrega” a autoridade de Jesus, precisa “carregar” Jesus em si mesmo. Não pode haver outra coisa além do “bordão”, do apoio, da muleta que é a autoridade DE Jesus em nós.

Quando isso acontece, quando essa conversão ocorre, quando deixamos o que nos sustenta fora de nosso caminho, e seguimos apoiados no ensino de Jesus, Sua autoridade passa ser a nossa autoridade. A qualidade dele passa ser a nossa qualidade. Assim, podemos expulsar todo e qualquer pensamento, sentimento, comportamento impuro; de nós e dos outros. Os espíritos impuros que nos atormentam são expulsos com autoridade que vem da nulidade – mas não da anulação. A autoridade que temos – ou devemos ter – vem de ensinar quem somos na companhia do Salvador. Nossa autoridade vem da salvação diária, do conhecimento de nós mesmos, de sabermos que não somos nada além de nós. Nosso bordão é Jesus, nossa autoridade, nosso apoio.

Mas não adianta andar de cajado, de vara, de bordão se o coração está cheio de orgulho, prepotência, vaidade, doutrina, religião, (...). Não levar nada na viagem é ser nada, é confiar em Deus somente, é saber que Ele alimenta o passarinho da mesma forma que nos alimenta. Se agirmos confiando que DEUS é o SUPREMO SENHOR, nossas mãos irão curar, nossas palavras irão acalmar aos que nos ouvem. Nossa presença irá abençoar – trará Shalon – para quem nos receber, nos ouvir e nos alimentar.

***

Ser enviado por Jesus para ensinar a Verdade não é tarefa fácil. Deixar tudo, emprego, renda, benefícios, (...), e viver confiando na misericórdia, proveniente confiança dos que nos ouvem – e leem – que realmente somos enviados de Salvador, viver esperando dia-a-dia, que esses que nos ouvem, que nos veem de muleta, apoiados na autoridade que nos foi dada pelo Senhor, nos ajudem com comida, roupa, recursos – não é fácil. Eu sei que não é.

Não ser um vendedor do evangelho é para os fortes.
Quem tem ouvidos para ouvir e olhos para ler. Que o faça.


Deus lhe abençoe.

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