“Os p'rushim – fariseus – vieram e começaram a discutir com ele. Queriam que lhes desse um sinal do céu, por desejarem pô-lo à prova. Suspirando profundamente, Yeshua – Jesus – respondeu: ‘Por que esta geração deseja um sinal? Sim! Eu lhes digo, nenhum sinal lhe será dado!’. Logo após, ele os deixou, entrou novamente no barco e partiu para a outra margem do lago.” – Marcos 8:11 a 13.
No episódio imediatamente anterior, Jesus havia dividido
poucos pães com uma multidão de mais de quatro mil pessoas. Ao contrário da “outra
multiplicação de pães”, nessa, Ele havia provocado o milagre da divisão por
entender que não havia realmente comida. Maior sinal que esse? Não era preciso.
Mas a religião e os religiosos não catalogaram e
classificaram o que é e o que não é milagre. Para todos os meramente
religiosos, alimentar famintos, dividir o pão com quem tem fome não é milagre.
Nunca foi e nunca será. Para a religião o milagre seria se os próprios anjos de
Deus viessem com cestos de ouro ornados com pedras preciosas e entupidos de
maná celeste e servissem somente aos aptos para receber o milagre. Religioso
pede sinal porque não enxerga o milagre que está na sua cara, na sua frente,
diante de seus olhos. Mas ele, o religioso, não enxerga. Não enxerga porque não
vê. Tem o coração endurecido pelo cimento da religião, está empedernido,
petrificado.
A religião nos ensina que precisamos por o Eterno à prova, a
religião ensina que precisamos duvidar de tudo e de todos; a religião nos
ensina que as ações do Espírito Santo devem ser precedidas de algum “toque
especial”. Tudo mentira.
A religião provoca em seus seguidores o fanatismo. Rabi
Bonder diz que:
“O fanatismo e o consumismo são lados de uma
mesma moeda (...). A fonte do desejo de poder é o controle. Precisamos de
controle para deter a morte. Este é o sonho messiânico de tantas correntes que
expressam ignorância espiritual. A espera de que a realidade se resuma um dia
às certezas é o desejo mais cruel com que convivemos. (...) O fanatismo e o
consumo querem ‘colocar para dentro’ o que é externo, o primeiro pela certeza e
o segundo pela posse. (...) O fanatismo privilegia a resposta, até porque
se esqueceu da pergunta ou porque deliberadamente quer se ver livre da
pergunta. O fanatismo quer por outra via da certeza fazer o que a
ciência acalenta como agenda oculta: o controle.” 1
Foi
por isso que aqueles religiosos conhecidos por nós como Fariseus pediam um
sinal. Eles queriam controlar o milagre. Eles queriam controlar o “fazedor
de milagres”.
Nós também agimos assim quando nos prendemos na religião para
credenciar nossos milagres. Também queremos que nossas crenças nos conceitos
religiosos credenciem os milagres que buscamos receber. Nossa falta de visão
espiritual nos impede de enxergar o que está diante dos nossos olhos.
Quantas vezes uma enfermidade é o milagre? Quantas vezes a
dor é o milagre? Quantas vezes a ausência é o milagre? Quantas vezes a perda é
o milagre? Mas nosso olhar religioso não nos permite ver o MILAGRE quando ele
está diante de nós, queremos um sinal, uma mostra de que aquele milagre é
certamente um milagre.
Os sinais que se procuram não veem do Céu, nem de
Deus, eles são provenientes da intelectualidade, da reles intelectualidade – seja
ela em qualquer nível – humana. Queremos entender os mecanismos do milagre
e o sinal, é esse mecanismo, que transforma o Divino em humano, o Incontrolável
e controlado. O sinal que se procura pode estar na forma de um diploma, de
carteira, de um título, de poder, do dinheiro, dos elogios (...).
A NECESSIDADE DE UM SINAL É PRODUTO DA FALTA DE
CONFIANÇA EM DEUS. É PRODUTO DO TOTAL DESCONHECIMENTO DE QUEM É O
CRIADOR DE TUDO.
Termino este texto reproduzindo trechos do Rebe Bonder:
“Em vez de um processo de vida que oferte
gradativamente medos, desconfianças e confusões em altares, seus conceitos se
baseiam em banir, suprimir ou exorcizar. O extremo oposto da espiritualidade
não é o materialismo ou a ciência, mas o fanatismo. Como o Haf etz Chaim
afirmou: ‘Com fé, não há perguntas; sem fé não há respostas.’ Há um
paradoxo que, existindo sob tensão, é talvez o mais importante instrumento para
lermos a realidade. A perda dessa tensão, no entanto, produz as respostas sem
perguntas que a fé do fanático institui, ou as perguntas sem respostas que a
ausência de fé da ciência institui. As dúvidas aplicadas às dúvidas geram
verdades que são imprescindíveis às respostas, mas produzem também o efeito
maligno das certezas.
As certezas, ao contrário das verdades, são um
truque. E, como todo truque, não funciona na realidade, apenas aparenta
funcionar. Seu funcionamento é simples, como já identificamos. Absorvem-se as
respostas e descartam-se as perguntas, destruindo-se as evidências que poderiam
questionar essas respostas no futuro. (...).
A resposta sem sua pergunta é fechada e
intolerante; é a concretização de uma vontade.
A intolerância é a reação do amedrontado, do
desconfiado e do confuso, cuja função maior é ocultar perguntas e essências.
Certa vez, um homem procurou o Rabino de Kotzk e disse-lhe que estava com problemas:
‘As pessoas me chamam de fanático. Por que me atribuem essa enfermidade? Por que não me reconhecem como uma pessoa piedosa?’O rabino respondeu: ‘Um fanático converte questões essenciais em questões marginais e questões marginais em questões essenciais’. (...).” 2
A resposta de Jesus aos fanáticos que pedem um sinal para
poder acreditar na verdade foi, é e sempre será, simples direta e objetiva:
“nenhum sinal lhes será dado!”.
Pense nisso.
“O fanatismo consiste no ato de redobrar esforços por conta de se ter esquecido dos objetivos.” 3
_________
1. Fronteiras da Inteligência, Senso
de tolerância. pgs. 116 e 117.
2. Fronteiras da Inteligência, Senso de
tolerância. pgs. 117 e 118.
3. George Santayana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário