"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 18 de maio de 2014

VEJAM, ESCUTEM E COMPREENDAM: LEVEM SEMPRE O MILAGRE NA VIAGEM.



“Os alunos – discípulos – esqueceram de trazer pães consigo, e no barco havia apenas um pão. Então Jesus lhes disse: ‘Cuidado! Evitem o hametz dos p'rushim – fariseus – e o hametz de Herodes’. Eles pensaram que Jesus lhes dissera isso por não terem pães. Sabendo, porém, o que pensavam, disse-Ihes: ‘Por que vocês estão falando entre si que não têm pães? Ainda não percebem nem compreendem? O coração de vocês está empedernido? Têm olhos, mas não vêem? Têm ouvidos, mas não ouvem? Vocês não se lembram? Quando reparti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de sobras vocês recolheram?’. ‘Doze’, eles responderam. ‘E quando reparti os sete pães para os quatro mil, vocês recolheram quantos cestos cheios de sobras?’. ‘Sete’, responderam. Jesus lhes disse: ‘E vocês ainda não compreendem?’. Marcos 8:14 a 21

“Hametz” não é fermento, é massa já fermentada, matéria já contaminada. É contra isso que Jesus fala com severidade aos seus alunos, novamente em um barco, viajando para o outro lado da existência. Aqueles homens estavam preocupados com o que iriam comer, já que, por desatenção, haviam esquecido os pães do milagre. Com sete cestos cheios de pães e peixes milagrosamente divididos, eles não levaram consigo “umzinho” sequer. Deixaram todo o milagre pra trás. No barco da vida, eles estavam conjecturando entre si, o que comeriam na “viagem”.

Se você parar para pensar no que esta sendo relatado no texto de Marcos, verá que é um contrassenso, comum a todos que põem em primeiro lugar as dificuldades e os desejos, esquecendo dos milagres. Fazer a viagem da vida sem tem na mente os milagres que nos levaram até o ponto em que estamos é perder – ou não ter – a confiança no Deus Eterno e em sua Providência Divina. Ficar preocupado com o que “comer” e o que “vestir” é perder de vista que valemos mais que passarinhos e flores. Manter viva a lembrança dos milagres, na mente e no coração, é tarefa diária.

Quando Jesus repreende seus alunos para não “comerem” do “pão contaminado”, pela massa já fermentada, pelos fariseus, ele estava dizendo que não devemos cair na tentação de “pedir um sinal” para sabermos que somos mais importantes que passarinhos e flores. Ele estava dizendo que não podemos lançar mão da religiosidade insana, não aceitando o estado em que estamos, nem propagarmos em “microfones”, que “não aceitamos esse estado, ó senhor....”. Isso é uma grande tolice e mostra o quanto não conhecemos a Verdade Celestial. Não comer “pão contaminado” pela religião – fariseus – é dizer a todos que o pão que nos alimenta é fruto de milagre.

Quanto ao “pão contaminado” pelo “fermento de Herodes”, tem haver com a segurança que o prazer físico nos proporciona. Se lembrarmos do episódio, em que Herodes é mencionado, no livro de Marcos, veremos que ele, usou do seu poder para presentear a filha de sua amante com a vida de um profeta. Ele, Herodes, desejou possuir sexualmente a jovem Herodias, sua sobrinha, e todo desejo sexual não satisfeito, cega e mata. Foi o que aconteceu. Herodes, contaminado por um desejo sexual incontrolável, e cheio de poder, mandou matar para satisfazer tais desejos.

Jesus alerta a todos que querem lhe seguir que devemos carregar o que nos mata, seja religião, sexo ou poder. Naquele momento o Mestre disse que seus discípulos não poderiam, de maneira nenhuma, “comer” do “pão contaminado” com o poder e com o sexo descontrolado. Simples assim.

Nenhum Filho de Deus pode ser controlado pelo sentimento de poder, nem pelo desejo sexual desenfreado, muito menos por uma religiosidade sem a Verdade. Na caminhada da existência temos de carregar, principalmente os milagres eu nos alimentam. Os problemas, já estão conosco.

Termino esse artigo com um texto do rabino Bonder:

‘Certa vez um homem procurou o Rabino Itschak laakov de Lublin, o vidente de Lublin, suplicando que o ajudasse a se ver livre de pensamentos estranhos que, como intrusos, atrapalhavam sua meditação e oração. Não importa o quanto tentasse ter apenas pensamentos puros e sagrados, era invadido por pensamentos de inveja, ganância, fome e sexo que o distraíam.

‘Sábio, de onde esses pensamentos surgem? Quem os está colocando em minha mente? Que força perversa está tentando atrapalhar minhas orações e enganar meu coração?’

O sábio tomou o homem pelos ombros e ordenou que se tranquilizasse.

‘Não acredito que estes sejam ‘pensamentos estranhos’. Talvez existam algumas poucas almas sagradas para quem pensamentos como os seus sejam estranhos. Mas seus pensamentos nada mais são do que seus pensamentos; nada diferente dos meus e em nada especiais. A quem você deseja atribuir esses pensamentos?’

O Rabino Rami Shapiro faz uma magistral interpretação dessa história:

Imaginamos que exista algo sagrado que seja diferente das coisas ordinárias, mundanas. Fantasiamos que exista uma outra maneira de pensar diferente da que praticamos a todo o momento e que nos eleva para além de nossa vida ordinária. Mas isso não existe; apenas pensamentos mundanos que vão e vêm, surgem e desaparecem a cada momento.

O sagrado não tem a ver com a eliminação de pensamentos e, sim, com a clarificação de visões. Certamente, não tem a ver com a busca de um culpado externo que possamos acusar por nossos pensamentos. Infelizmente, muitas formas religiosas em nosso tempo buscam ‘demônios’ e forças externas para culpá-los por nossos ‘pensamentos estranhos’. Isso não é ir ao encontro do sagrado, muito pelo contrário, é seu oposto. A busca do sagrado se encontra em assumirmos a responsabilidade por quem somos, por nossos atos e nossos pensamentos.

É comum acreditarmos que, se pudermos ‘exorcizar’ certos pensamentos, seremos imediatamente preenchidos pelo sagrado e pela graça divina. Muitas vezes nos comportamos como esse homem da história, que culpa os nossos desejos pelos nossos sofrimentos e fracassos. Mas isso não é real. O desejo é apenas um sentimento como outros que acreditamos ‘puros’, como o amor e a compaixão. O desejo é um sentimento e, como tal, não pode ser controlado. Os sentimentos não podem ser eliminados e muito menos percebidos como ‘estranhos’. É claro que não precisamos fazer dos sentimentos os únicos determinantes de nosso comportamento. Devemos buscar fazer de nossos “valores” os determinantes de nosso comportamento.

O que vemos na história é que o sábio alerta para o fato de que não são os sentimentos que controlamos, mas nossa conduta. Não existe nenhuma forma de pensamento que seja ‘estranha’. Se ele foi pensado, ele é seu. Algo promoveu este pensamento e assumi-lo é sinal de maturidade. Ele revela algo, mas não necessariamente dita o que devemos fazer. Entre o pensamento e a ação, há a decisão, o livre-arbítrio.”

Fronteiras da Inteligência,
Senso de autovalor - Somos melhores e piores do que nos imaginamos.

Pense, medite. Veja, ouça e compreenda. Leve sempre na viagem da existência, os milagres.


Deus abençoe.

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