No texto anterior tratei da fisicalidade que não é
propriamente expressão do amor. Mas em momento algum falei – ou escrevi – que o
exercício da fisicalidade é danoso, ou nefasto, ou pecado. NÃO FALEI ISSO! O
corpo é movido pelo balanço prazeroso do dar e receber e não há nada de errado
nisso. A religião dogmatizou o encontro físico, jogando culpa sobre os amantes.
Ter companhia é algo imprescindível para muitos de nós e não há nada de errado
nisso. A questão é poder viver tranquilamente com esse fato. Ter companhia não
é necessariamente ter o amor de sua vida lhe acompanhando. Mas não há problema
em viver acompanhado de um grande prazer na palma da mão (...). Somos mais
religiosos que gostaríamos de ser (...).
O segundo verso do capítulo 13 da carta que Paulo escreveu
aos coríntios diz:
“E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.” I Coríntios 13:2 (texto extraído da versão bíblica Almeida Corrigida e Fiel).
Profecia é ato de crença, não é ato de amor. Conhecer
mistérios é ato da religiosidade, ação da misticalidade religiosa, não é ato de
amor. Ter conhecimento científico é ato frio da intelectualidade, não é amor. A
fé é a maior expressão da devoção religiosa, mas, ainda assim não é amor; mesmo
quando é capaz de transportar montes de qualquer lugar, para qualquer lugar,
mesmo assim não é amor. Amor não precisa de profecia, nem de conhecimento, nem
de ciência, nem de fé, nem de milagres. Todo o conhecimento teológico, todas as
práticas religiosas, todos os eventos sócio-espirituais, sem amor são
absolutamente nada. Amor só precisa de si mesmo; só precisa de um coração
ignorante a tudo que lhe cerca; AMOR NÃO QUER SABER DE NADA, AMOR SÓ QUER SER
AMOR.
Nós pastores, líderes religiosos muito pecamos por achar que
conhecemos o amor e às vezes julgamos nossos amigos, nossos alunos, nossos
admiradores, nossas ovelhas com nossa arrogância. Nós que nos achamos
detentores de um saberzinho qualquer, muitas vezes determinamos o que é o amor.
Outrossim o sistema social enfermo pelo materialismo, nos leva ao lugar comum
do desamor ou do amor pronto, dos sentimentos pré-definidos e dos sofrimentos
pré-determinados. O sistema social que nos ensinou o que é o amor, também não é
verdadeiro. Então o que fazer? Se os sacerdotes não sabem explicar o que é o
amor – e invariavelmente caem no lugar comum: “Deus é amor” (...) –, e o
sistema social também define o amor como o sentimento que sempre está dentro de
uma zona de sofrimento desgraçadamente desconfortante, o que fazer?
Sou igual a você que está lendo este artigo; tenho minhas
dores, minhas dúvidas, minhas paixões, meus dissabores, minhas questões não
resolvidas. Sou tão frágil e por vezes inseguro, igual a qualquer pessoa que
não carrega o título de pastor. Como já disse antes deixei a religiosidade de
lado e tento não mais me abraçar com ela. Precisei mergulhar nas minhas dúvidas
quanto ao amor para descobrir que não sei o que é amor.
Hoje não entendo o amor como um ato sofrido que me leva às
lágrimas todas as vezes que lembro do ente amado; não entendo o amor como
aquela saudade lancinante que corta a alma, feito lâmina afiada; não entendo
mais o amor como o lamento questionante pela impossibilidade temporal ou
duradoura de se estar com o ser amante. Não acho que o amor é isso, ou a união
disso tudo.
Mas também não acho que o amor é ato inconsequente,
abandonativo, desprovido de qualquer senso de responsabilidade em busca do ser
amado; amor para mim não é pular do pináculo do templo só porque acredito haver
uma profecia que diz que anjos me segurariam na queda. E se não segurarem? Se a
profecia não existir? Eu me esborracharia no chão.
Amor não é essa vida de felicidade extrema nem de sofrimento
extenuante. Amor, amar, para mim é o caminho do meio, o caminho de ouro como
diz Maimonides. O caminho do meio é o caminho que leva ao equilíbrio, que
carrega consigo um pouco de tudo que pode ornamentar esse fabuloso sentimento,
que mais se parece com um ente espiritual que um sentimento humano.
Amor, quando adornado pela profecia que diz: “ame sem medo,
porque amar faz bem...”, carrega em si a vida sem angústia, sem as correntes
morais de uma religiosidade enferma;
Amor, quando vem carregado de mistérios não conhecidos, é
embelezado pela surpresa que só conhece quem se entrega ao maior de todos os
sentimentos e ama; quem se deixa surpreender pelo desconhecido de amar é mais
feliz... muito mais feliz; uma felicidade tão incompreensível que as vezes é
inaceitável;
Amor, quando se queda à ciência de que nada sabe, e por isso
é incapaz de controlar as consequências desse sentimento arrebatador, ergue-se
como que das cinzas, olhando a vida sempre com bons olhos, tendo sempre dentro
do peito um bom coração bom;
Amor, quando envolto na confiança – fé – de que nada
acontece sem a autorização do ETERNO DEUS, somente assim é capaz de transportar
montanhas de ressentimentos, monturos de mágoas, aterros de rancor, de dentro de
si e do ente que ama, para o mar do esquecimento;
Quando amar se torna prática de vida, ele deixa de doer,
deixa de ser angustia e passa a ser refrigério, deixa de ser nada e passa a ser
tudo.
Não se deixe levar pelo incômodo que esses artigos sobre o
amor podem gerar em você, espere até o fim do texto de Paulo. Iremos aprender
muito, eu e você sobre o que é o amor.
Que a Paz que vem do filho amado, o Messias Jesus, seja o
juiz dos nossos corações.
Nele, que nos ama incondicionalmente.
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