"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O “OUTRO LADO” DO TEMPO DAS COISAS.

Em 18 de agosto de 2014, postei uma reflexão sobre o “tempo das coisas”, com base no texto de Eclesiastes, atribuído ao rei Salomão. Ao reler, resolvi acrescentar o “outro lado do tempo”. Afinal, toda moeda tem dois lados, todo caminho tem duas direções (...). Aproveito o momento festivo – Natal, Ano Novo – que já respiramos, quando as emoções tendem a se equilibrar e o “espírito festivo”, nos faz refletir com mais facilidade, para tratar da importância do “tempo de cada coisa” em nossa vida.

O texto de Salomão diz:

“Há tempo para tudo, o momento certo para toda intenção debaixo do céu – Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar, tempo de ferir e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear o luto e tempo de dançar, tempo de jogar pedras e tempo de recolher pedras, tempo de abraçar e tempo de afastar, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de descartar, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de silenciar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de guerra e tempo de paz.” Eclesiastes 3:1 a 8.

Minhas reflexões:

“O tempo de nascer não pode invadir o tempo de morrer, porque senão ficaremos velhos insuportáveis;” Mas o tempo de morrer também não pode invadir o tempo de nascer, para não nos tornarmos suicidas crônicos;

“O tempo de plantar não pode ser mais que o tempo de arrancar, porque senão ficaremos sem alimento – ele se estragará agarrado ao chão;” E o tempo de arrancar não pode ser maior que o tempo de plantar, para não nos tornarmos destrutivos;

“O tempo de ferir não pode ser maior que o tempo de curar, porque senão ficaremos insensíveis à dor – nossa e dos outros;” E o tempo de curar não pode ser mais que o tempo de ferir, para não nos sentirmos obesos da ilusão de tudo poder;

“O tempo de derrubar não pode tolher o tempo de construir, para não ficarmos morando em ruínas o tempo todo;” Mas o tempo de construir também não pode nunca ser mais importante que tempo de desconstruir para que sempre possamos ver onde temos de melhorar, construindo moradias melhores;

“O tempo de chorar nunca pode ser maior que o tempo de rir, para não nos tornarmos melancólicos compulsivos – viciados em tristeza;” Mas o tempo de rir precisa dar vez ao tempo de chorar, para não nos tornarmos insensíveis, cínicos e desalmados;

“O tempo de prantear o luto, jamais pode ser maior que o tempo de dançar, para não perdermos a alegria de ver o sol nascer de novo nos dizendo: estás vivo. Dance!” Mas o tempo de dançar não pode invadir o tempo de prantear o luto, a perda, para não nos tornarmos inconvenientes e insensatos, brincantes estúpidos;

“O tempo de jogar pedras não pode ser maior que o tempo de recolher pedras, para não nos tornarmos hipócritas observando somente os erros alheios, esquecendo-nos dos nossos;” E o tempo de recolher as pedras também não pode ser maior que o tempo de jogar pedras, para não nos tornarmos conformistas, “cegos” aos “adultérios”;

“O tempo de abraçar precisa respeitar o tempo de afastar – de abraçar, para que a vida se estabeleça livre de qualquer laço, mesmo que seja um abraço;” O tempo de afastar de abraçar não pode ser maior que o tempo de abraçar, para não ficarmos sem sentimento, sem afeto, sem carinho, frios de alma;

“O tempo de procurar, acaba quando o tempo de desistir diz: chega! Não há nada aqui.” Mas o tempo de desistir não pode vencer o tempo de procurar, para não perdermos nossos sonhos;

“O tempo de guardar não pode ser mais que o tempo de descartar, para que nossa vida não se encha de lembranças dolorosas;” Porém, o tempo de descartar tem de estar equilibrado com o tempo de guardar, sob a pena de nos tornarmos acumuladores compulsivos de sentimentos e comportamentos nocivos;

“O tempo de rasgar a carne para nascer de novo, precisa respeitar o tempo de costurar a carne ferida pelo parto;” E o tempo para costurar a carne precisa ser respeitado, para que o tempo de rasgar de novo seja vivido com a intensidade devida. Caso contrário, morreremos sangrando;

“O tempo de silenciar é tão importante quanto o tempo de falar. Sem esse equilíbrio nunca poderemos ouvir;” E o tempo de falar tem de respeitar o tempo de silenciar para que a conversa se transforme em diálogo e a comunicação se estabeleça em paz;

“O tempo de amar precisa ser vivido mais intensamente que o tempo de odiar, para que quando o ódio chegar, passe rápido, numa noite;” Mas o tempo de odiar precisa ser tão intenso quanto o tempo de amar, para que possamos lapidar o desejo e a necessidade do outro em nós, caso contrário, não teremos coragem de nos livrar do que nos maltrata;

“O tempo de guerra precisa ser vivido com coragem, para que o tempo de paz seja reverenciado.” O tempo de paz não pode invadir o tempo de guerra. Sem guerra não haveria a necessidade da paz. Um tempo precisa saber que existe em função do outro tempo;

***
Que possamos estabelecer o tempo certo para cada sentimento em nós; para cada amor e cada desamor, para cada alegria e cada tristeza, para cada perda e cada vitória (...). Que sejamos sábios em ser misericordiosos e firmes conosco mesmos, antes de ser com os outros. Que possamos descobrir o equilíbrio entre o tempo do “preto” e o tempo do “branco”: o tempo do “cinza”.

No Messias, o Senhor de todos os tempos, que sabe o tempo de todas as coisas, e que nos abençoa com tudo ao seu tempo, no tempo certo.


Bom dia.

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