Em 18 de agosto de 2014, postei
uma reflexão sobre o “tempo das coisas”, com base no texto de
Eclesiastes, atribuído ao rei Salomão. Ao reler, resolvi acrescentar o “outro
lado do tempo”. Afinal, toda moeda tem dois lados, todo caminho tem duas
direções (...). Aproveito o momento festivo – Natal, Ano Novo – que já
respiramos, quando as emoções tendem a se equilibrar e o “espírito festivo”,
nos faz refletir com mais facilidade, para tratar da importância do “tempo de cada
coisa” em nossa vida.
O texto de Salomão diz:
“Há tempo
para tudo, o momento certo para toda intenção debaixo do céu – Tempo de nascer
e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar, tempo de ferir e tempo
de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de
rir, tempo de prantear o luto e tempo de dançar, tempo de jogar pedras e tempo
de recolher pedras, tempo de abraçar e tempo de afastar, tempo de procurar e
tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de descartar, tempo de rasgar e
tempo de costurar, tempo de silenciar e tempo de falar, tempo de amar e tempo
de odiar, tempo de guerra e tempo de paz.” Eclesiastes 3:1 a 8.
Minhas reflexões:
“O tempo de nascer não pode
invadir o tempo de morrer, porque senão ficaremos velhos insuportáveis;” Mas
o tempo de morrer também não pode invadir o tempo de nascer, para não nos
tornarmos suicidas crônicos;
“O tempo de plantar não pode
ser mais que o tempo de arrancar, porque senão ficaremos sem alimento – ele se
estragará agarrado ao chão;” E o tempo de arrancar não pode ser maior que o
tempo de plantar, para não nos tornarmos destrutivos;
“O tempo de ferir não pode ser
maior que o tempo de curar, porque senão ficaremos insensíveis à dor – nossa e
dos outros;” E o tempo de curar não pode ser mais que o tempo de ferir,
para não nos sentirmos obesos da ilusão de tudo poder;
“O tempo de derrubar não pode
tolher o tempo de construir, para não ficarmos morando em ruínas o tempo todo;”
Mas o tempo de construir também não pode nunca ser mais importante que tempo de
desconstruir para que sempre possamos ver onde temos de melhorar, construindo
moradias melhores;
“O tempo de chorar nunca pode
ser maior que o tempo de rir, para não nos tornarmos melancólicos compulsivos –
viciados em tristeza;” Mas o tempo de rir precisa dar vez ao tempo de
chorar, para não nos tornarmos insensíveis, cínicos e desalmados;
“O tempo de prantear o luto,
jamais pode ser maior que o tempo de dançar, para não perdermos a alegria de
ver o sol nascer de novo nos dizendo: estás vivo. Dance!” Mas o tempo de
dançar não pode invadir o tempo de prantear o luto, a perda, para não nos
tornarmos inconvenientes e insensatos, brincantes estúpidos;
“O tempo de jogar pedras não
pode ser maior que o tempo de recolher pedras, para não nos tornarmos
hipócritas observando somente os erros alheios, esquecendo-nos dos nossos;”
E o tempo de recolher as pedras também não pode ser maior que o tempo de jogar
pedras, para não nos tornarmos conformistas, “cegos” aos “adultérios”;
“O tempo de abraçar precisa
respeitar o tempo de afastar – de abraçar, para que a vida se estabeleça livre
de qualquer laço, mesmo que seja um abraço;” O tempo de afastar de abraçar
não pode ser maior que o tempo de abraçar, para não ficarmos sem sentimento,
sem afeto, sem carinho, frios de alma;
“O tempo de procurar, acaba
quando o tempo de desistir diz: chega! Não há nada aqui.” Mas o tempo de
desistir não pode vencer o tempo de procurar, para não perdermos nossos sonhos;
“O tempo de guardar não pode
ser mais que o tempo de descartar, para que nossa vida não se encha de
lembranças dolorosas;” Porém, o tempo de descartar tem de estar equilibrado
com o tempo de guardar, sob a pena de nos tornarmos acumuladores compulsivos de
sentimentos e comportamentos nocivos;
“O tempo de rasgar a carne
para nascer de novo, precisa respeitar o tempo de costurar a carne ferida pelo
parto;” E o tempo para costurar a carne precisa ser respeitado, para que o
tempo de rasgar de novo seja vivido com a intensidade devida. Caso contrário,
morreremos sangrando;
“O tempo de silenciar é tão
importante quanto o tempo de falar. Sem esse equilíbrio nunca poderemos ouvir;”
E o tempo de falar tem de respeitar o tempo de silenciar para que a conversa se
transforme em diálogo e a comunicação se estabeleça em paz;
“O tempo de amar precisa ser
vivido mais intensamente que o tempo de odiar, para que quando o ódio chegar,
passe rápido, numa noite;” Mas o tempo de odiar precisa ser tão intenso
quanto o tempo de amar, para que possamos lapidar o desejo e a necessidade do
outro em nós, caso contrário, não teremos coragem de nos livrar do que nos
maltrata;
“O tempo de guerra precisa ser
vivido com coragem, para que o tempo de paz seja reverenciado.” O tempo de
paz não pode invadir o tempo de guerra. Sem guerra não haveria a necessidade da
paz. Um tempo precisa saber que existe em função do outro tempo;
***
Que possamos estabelecer o tempo certo para cada sentimento
em nós; para cada amor e cada desamor, para cada alegria e cada tristeza, para
cada perda e cada vitória (...). Que sejamos sábios em ser misericordiosos e
firmes conosco mesmos, antes de ser com os outros. Que possamos descobrir o
equilíbrio entre o tempo do “preto” e o tempo do “branco”: o tempo do “cinza”.
No Messias, o Senhor de todos os tempos, que sabe o tempo de
todas as coisas, e que nos abençoa com tudo ao seu tempo, no tempo certo.
Bom dia.
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