"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

SACRIFICAR PARA QUÊ?



Perguntaram ao rabi Bunam:
“O que quer dizer com a expressão ‘sacrificar para ídolos’? É impensável que alguém realmente venha a fazer sacrifícios para algo que entenda como um ídolo!”
O rabino respondeu:
“Vou lhe dar um exemplo. Quando uma pessoa religiosa ou um justo se senta à mesa junto com outras pessoas e tem o desejo de comer um pouco mais, mas se restringe por conta do que os outros podem vir a pensar dele – isto é sacrificar para ídolos!”
(Buber, Late Masters, p. 256)

O ENSINAMENTO COMEÇA COM O questionamento da lógica da expressão “sacrificar para ídolos”. Se percebemos que são ídolos, ou seja, vazios e ilusórios e sem qualquer significado real, como é possível fazer “sacrifícios para ídolos”? A resposta do rabi Bunam é de que fazemos isso com mais frequência do que imaginamos em situações em que acreditamos existir qualquer virtude ou ganho possível por conta de condutas ou posturas que representem sacrifícios ao nada. E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, “oferendas” ao nada? Quem precisa de nossas restrições ou de nossas abstinências? Por acaso D’us precisa de nossos atos “morais” que visam a ocultar nossa nudez? Por acaso D’us não percebeu de imediato que Adão havia comido da árvore justamente porque se vestiu e quis ocultar sua nudez? Ao vestir-se, fez oferendas ao deus do nada ou ao deus de seu animal moral.

É importante perceber que o deus do animal moral, do corpo, nem sempre é um deus com “minúscula”. Afinal é de D’us: “Frutificai e multiplicai.” Mas toda atenção é pouca, porque muitas coisas são feitas ou muitas deixam de ser feitas por sacrifícios ao nada. Quantas pessoas poderíamos ter tirado “para dançar” na vida e não o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada? Sacrifício ao deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado e assim por diante. Quantas vezes deveríamos ter dito não em vez de nos desgastarmos para dissimular virtudes que são oferendas idólatras: oferendas ao deus expectativa, ao deus cobrança, ao deus culpa e assim por diante.

Não podemos temer o que outros irão dizer ou pensar. Não devemos temer nossa própria autoimagem, esta sim, um altar de primeira grandeza aos sacrifícios idólatras. Quantas oportunidades não deixamos de aproveitar, pois “não era conveniente” fazer isto ou aquilo? Nossa autoimagem, tal como nossa moral, é um instrumento do corpo que não aceita se ver em “outro” corpo.

O rabi Bunam alerta para o cuidado que se deve ter com abstinências e privações, pois, muito mais que demonstrar respeito à vida, elas cultuam deuses menores. O corpo é o responsável por uma intrincada rede de negociações psíquicas para que possamos nos preservar tal como somos. No entanto, fizeram com que acreditássemos que ele nos tenta constantemente com seus desejos. É a alma que fica inconformada com os sacrifícios vazios do corpo e é ela a responsável pelos atrevimentos, ousadias, riscos e transgressões.

Texto extraído na íntegra do livro “A Alma Imoral” do rabino Nilton Bonder.
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Creio ser propícia, neste fim de ano, a reflexão sobre as verdades contidas no texto.


No Messias, que em sua Santa Imoralidade, nunca nos privou do prazer que as AVENTURAS de andar por “outras terras”, nos proporcionam.


Boa restante de semana.

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