Perguntaram ao rabi Bunam:
“O que quer dizer com a expressão ‘sacrificar para ídolos’? É impensável que alguém realmente venha a fazer sacrifícios para algo que entenda como um ídolo!”
O rabino respondeu:
“Vou lhe dar um exemplo. Quando uma pessoa religiosa ou um justo se senta à mesa junto com outras pessoas e tem o desejo de comer um pouco mais, mas se restringe por conta do que os outros podem vir a pensar dele – isto é sacrificar para ídolos!”
(Buber, Late
Masters, p. 256)
O ENSINAMENTO COMEÇA COM O
questionamento da lógica da expressão “sacrificar
para ídolos”. Se percebemos que são ídolos, ou seja, vazios e ilusórios e
sem qualquer significado real, como é possível fazer “sacrifícios para ídolos”? A resposta do rabi Bunam é de que fazemos
isso com mais frequência do que imaginamos em situações em que acreditamos
existir qualquer virtude ou ganho possível por conta de condutas ou posturas
que representem sacrifícios ao nada. E quantos de
nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, “oferendas”
ao nada? Quem precisa de nossas restrições ou de nossas abstinências? Por acaso
D’us precisa de nossos atos “morais” que visam a ocultar nossa nudez?
Por acaso D’us não percebeu de imediato que Adão havia comido da árvore
justamente porque se vestiu e quis ocultar sua nudez? Ao vestir-se, fez
oferendas ao deus do nada ou ao deus de seu animal moral.
É importante perceber que o deus
do animal moral, do corpo, nem sempre é um deus com “minúscula”. Afinal é de D’us: “Frutificai
e multiplicai.” Mas toda atenção é pouca, porque muitas coisas são feitas ou
muitas deixam de ser feitas por sacrifícios ao
nada. Quantas pessoas poderíamos ter tirado “para dançar” na vida e não
o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada? Sacrifício ao
deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado e assim
por diante. Quantas vezes deveríamos ter dito não em vez de nos desgastarmos para
dissimular virtudes que são oferendas idólatras: oferendas ao deus expectativa,
ao deus cobrança, ao deus culpa e assim por diante.
Não podemos temer o que outros
irão dizer ou pensar. Não devemos temer nossa própria autoimagem, esta sim, um
altar de primeira grandeza aos sacrifícios
idólatras. Quantas oportunidades não deixamos de aproveitar, pois “não era
conveniente” fazer isto ou aquilo? Nossa autoimagem, tal como nossa moral,
é um instrumento do corpo que não aceita se ver em “outro” corpo.
O rabi Bunam alerta para o
cuidado que se deve ter com abstinências e privações, pois, muito mais que
demonstrar respeito à vida, elas cultuam deuses menores. O corpo é o
responsável por uma intrincada rede de negociações psíquicas para que possamos
nos preservar tal como somos. No entanto, fizeram
com que acreditássemos que ele nos tenta constantemente com seus desejos. É a
alma que fica inconformada com os sacrifícios vazios do corpo e é ela a
responsável pelos atrevimentos, ousadias, riscos e transgressões.
Texto extraído na íntegra do
livro “A Alma Imoral” do rabino Nilton Bonder.
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Creio ser propícia, neste fim de ano, a reflexão sobre
as verdades contidas no texto.
No Messias, que em sua Santa
Imoralidade, nunca nos privou do prazer que as AVENTURAS de andar por “outras
terras”, nos proporcionam.
Boa restante de semana.
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