Hoje, 1º de janeiro, faz quatro anos que Mama
Ruth partiu. Acredito que só quem realmente vive a ausência de um ser tão
importante como o SER MÃE, pode saber do que falo, e quiçá, do que sinto. De
forma alguma gosto de viver na sofreguidão de uma saudade, mesmo que seja a
saudade de mamãe, mas é impossível, dela não lembrar com saudade e com um
profundo desejo de que estivesse por perto – em vida – para me ajudar a
entender algumas facetas da existência. Não sei se me engano – por vontade
própria ou por falta de observação apurada – mas muitos dos que conviveram
com mamãe, mesmo os parentes mais próximos, introgetaram certas características
de mamãe em seus modus vivendi. Porém minha percepção sobre aquela
grande mulher de pequena estatura, de gestos leves porém fortes e enérgicos, de
semblante angelical mas estupidamente vibrante, é outra. Nos últimos anos de
vida de mamãe passei percebê-la como um córrego de água, que contorna com muita
facilidade qualquer obstáculo, para chegar ao seu objetivo. Ela já não perdia
tempo com o que julgava ser “perda de tempo”. Certas coisas já não lhe
prendiam a atenção. Ela estava livre de tudo e de todos. Tão livre que partiu
na hora que não queria partir, mas na hora que o ETERNO nosso DEUS a chamou
(...) e ela foi. Foi mas deixou muitos ensinos.
Um dos mais interessantes se
resume na frase-título deste artigo. Quando alguns de nós chegávamos para pedir
conselhos, Mama Ruth nos dizia: “... não pergunte: por que?; pergunte:
para que?”. A sabedoria desse conselho da Dona Ruth, ficou – para
mim – no campo da admiração catatônica. Isso porque é difícil saber
perguntar “para que”. Mas acredito ter encontrado em uma
historieta de origem chinesa a explicação para essa máxima tão sábia que Mama
Ruth alardeava por onde quer que fosse, para quem quer que lhe perguntasse: “...
por que isso me acontece?”. Conta essa parábola que:
“Um homem possuía
um belo cavalo cobiçado pelo vilarejo onde morava. Ofereceram-lhe uma boa soma para
comprá-lo. Ele não aceitou. Passados alguns dias, o cavalo fugiu de seu cercado
e desapareceu. Os vizinhos comentaram com o homem: ‘Teria sido melhor
vendê-lo!’ O homem reagiu dizendo: ‘Pode ser que sim, pode ser que não.’
Certa
noite, o cavalo retornou e, como havia se tornado líder de uma manada selvagem,
com ele vieram também duas dezenas de outros cavalos. Os vizinhos comentaram:
‘Você fez bem em não vendê-lo!’ Ao que homem respondeu: ‘Pode ser que sim,
pode ser que não.’
Certo dia,
o filho deste homem foi montar o dito cavalo. Caiu, fraturou a bacia e ficou
por mais de seis meses em repouso absoluto. Os vizinhos comentaram: ‘Teria sido
melhor vender o cavalo!’ O homem retrucou: ‘Pode ser que sim, pode ser que
não!’
Nas semanas
seguintes ao acidente do filho, eclodiu uma guerra na região e todos os jovens
foram convocados com exceção do filho daquele homem, que estava se
restabelecendo de suas fraturas. Dessa guerra sangrenta, poucos retornaram com
vida e raros foram os que não tiveram alguma sequela física dos ferimentos. Os
vizinhos comentaram: ‘Você fez bem em não vender o cavalo!’ Ao que o homem
respondeu: ‘Pode ser que sim, pode ser que não!’”
O perguntar: “para que isso
me acontece?”, é dirigido não a DEUS, ou ao agente causador do
desconforto sofrido, mas a nós mesmos. “Para que?” possui a mesma
sabedoria do “pode ser que sim, pode ser que não” que a afirmação
do homem da parábola chinesa. Ter a coragem de perguntar “para que?”
nos coloca como agentes do acontecido, e não como meros espectadores sôfregos
(...). Perguntar “para que?” é saber que temos nossa parcela de
participação na tragédia que sofremos. Perguntar “para que?” é
saber que “toda moeda tem dois lados”, e se tem, uma hora entenderemos
os “por quês” dos acontecimentos que nos causam uma aparente desolação.
Pergunte-se. O que teria
acontecido com o filho do fazendeiro chinês, se ele tivesse vendido aquele
cavalo na primeira oportunidade que apareceu? Eliminando as tragédias, logo
diríamos que o rapaz não teria sofrido aquele acidente que o imobilizou por
meses, alojando-o sobre um leito, e com certeza com dores terríveis – para si e
para seus pais. Porém, foi exatamente aquela tragédia que evitou que aquele
rapaz fosse alistado para a guerra, onde muitos de seus amigos fatalmente
perderam a vida. Todo acontecimento em nossa vida precisa ser visto como: “pode
ser que sim, pode ser que não”.
Em seu livro “Fronteiras da
Inteligência” o rabino Nilton Bonder, comenta da parábola chinesa que:
“Tudo que
ele fez com o cavalo foi tomar a decisão de não vendê-lo. A ideia de que existe
uma decisão correta que vai, no final da história, mostrar-se a mais vantajosa
é parte da ilusão e do desejo de controle.” [1]
Quando assumimos com coragem a
pergunta “para que ‘isso’ me acontece?”, estamos na verdade
dizendo a nós mesmos: “por que essa tragédia não pode acontecer comigo?”;
“por que isso só pode acontecer com os outros?”; “o que me
faz tão especial para que eu mesmo não seja capaz de ter provocado esse
acontecimento para mim mesmo?”. Quando com honestidade, perguntamos “para
que?”, quando com sinceridade, dizemos “pode ser que sim, pode
ser que não”, diante dos acontecimentos naturais da existência, assumimos
que não somos o centro do universo, reconhecemos que fazemos parte de um
grande evento chamado vida.
O rabino Bonder finaliza:
“‘Por que
não?’ nos libera do destino traçado por acertos e erros do passado e abre a
possibilidade de ser o presente o determinador da experiência. ‘Por que não?’
não é a ausência de propósito, mas é o propósito espiritual – o propósito da
penumbra e não o da claridade. Sua vantagem está em nos liberar para lutar pelo
presente e pelo futuro, em vez de fazer com que nos percamos no imobilismo de ‘entender’
o passado.”
Acredito que era essa a lição que
Mama Ruth queria passar quando nos dizia:
“Não pergunte: por que?; pergunte: para que?”.
“Por que?”
“Para
que você entenda que a única pessoa responsável pelo que lhe acontece de bom ou
de ruim é você mesmo. Seja livre para aprender, meu irmão, seja livre...”
Pelo menos foi isso que – agora
– entendi.
Feliz ano de 2015.
No MESSIAS que nunca
pergunta o “por que?” de nenhum dos meus pecados – ELE os sabe;
mas simplesmente diz, todos os dias: “teus pecados estão perdoados...”.
Mas, “Para que” o
ETERNO nos permite cometer – muitas vezes os mesmos – pecados?
PARA QUE tenhamos a
certeza – muitas vezes dolorida – de que nada somos sem o SEU perdão.
LOUVADO SEJA ELE.
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