"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

domingo, 7 de junho de 2015

POSSUÍDOS POR SI MESMOS



Esse é um longo texto, mas creio que vale a pena ler.

Tenho percebido que os grupos sociais estão tremendamente possuídos. Possuídos por conceitos completamente torcidos, desconformes, desagrupados, dissociados da realidade. A religiosidade adoeceu completamente, perdeu seu mister inicial, transformou-se num ente-enfermo que impregna as pessoas com sua enfermidade, tornando-as pessoas-enfermas – entes semelhantes. Para a religião de hoje, aquilo que não é ela, é contra ela; tudo que não pode ser entendido: é taxado de “demônio”; tudo que não lhe pertence: pertence ao “inimigo”; tudo que não lhe serve: serve ao “mau”. Todos possuídos por espíritos de ignorância e intolerância.

A religiosidade moderna – seja ela qual filosofia professe, siga ou defenda – perdeu seu objetivo primaz, distanciou-se de sua função primordial, misturou-se com as diversas práticas pagãs e profanas por onde passou – e passa – se descaracterizando completamente.

Os títulos com os quais os líderes religiosos se auto intitulam: pastores, bispos, sacerdotes, apóstolos, pais de apóstolos, anjos, arcanjos, (...); são a prova desse descaminho que a religiosidade hodierna – para não dizer ordinária – tomou. Sobrevivem da pompa que seus títulos impõem aos seus súditos; perderam a simplicidade da mensagem clara e simples da SALVAÇÃO. Nem percebem que estão se tornando o contrário de Cristo1, estão fazendo verdadeira a profecia do Apóstolo João: “... também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora.” (I João 2:18); esses muitos, têm se tornado os tais “anticristos”, porque estabelecem – a cada fim de semana – um novo padrão de cristianismo, uma nova moda, um novo mover (...). Perderam o rumo, totalmente.

Algumas pessoas que leram meu texto anterior entenderam que eu desacredito ou menosprezo as entidades espirituais malignas (...); Profundo engano dos que assim pensam. Depois de quase 40 anos estudando esse tema específico da Espiritualidade, sei no que e em quem acreditar, e melhor: no que e em quem desacreditar. Minha consciência fica tranquila quando afirmo que “diabo” e “satã” não são originariamente ENTES, mas adjetivos; tornam-se ENTES, quando alguém – seja um ser terreno ou celeste – age conforme as funções pré-determinadas pelos adjetivos. Vou explicar:

Em Marcos, capítulo oito, Pedro tentou impedir que Jesus cumprisse a primeira profecia – morrer no madeiro; o Messias, ao perceber a intenção de Pedro, repreendeu-o ferozmente, chamando-o de Satã. Mas teria Pedro sido possuído por Satã? Sim. Mas não pelo ENTE, pois não existe como tal, mas sim pelo significado do adjetivo. Satã significa: “aquele que impede, que atrapalha (...)”. Jesus chamou Pedro de ATRAPALHADOR, IMPEDIDOR, um Satã.

“E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria. E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo. Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens.” (Marcos 8:31 a 33)

Mas SATÃ não é um adjetivo nefasto, malvado ou infernal. É um adjetivo simplesmente. No episódio em que Balaão segue seu caminho para amaldiçoar ao povo de DEUS, é impedido por um Anjo do Senhor. Esse anjo é tratado no texto original do TANACH como um SATÃ; aquele que tentava impedir que Balaão chegasse ao seu destino maldito.

Dois exemplos clássicos do uso do termo “satã” por dois entes; um ente humano, Pedro, um mau satã, o Anjo do Senhor um bom Satã. Tá na Bíblia.

Por sua vez, diabo, significa: “aquele que acusa; acusador, (...)”. Para entender o sentido de cada adjetivo contido no Texto Bíblico, basta ler todo o contexto e aplicar a definição dos referidos adjetivos àquelas situações.

Mas existem outros termos que tratam de estados espirituais estranhos: “espíritos malignos” e “espíritos impuros”. Para entender o que eles querem dizer na verdade e como são aplicados no Texto Bíblico, precisamos, antes de tudo, saber o que significa o termo “espírito”.

Do Hebraico: RUWACH2. Tem diversos significados e cada um desses significados carrega uma função específica. Entre tantas, RUWACH, é entendido como ato de: “pensar” e/ou “preocupação”; também pode ser traduzido (entendido) em algumas passagens como: “sede ou órgãos das faculdades mentais”. Ou seja: RUWACH está ligado diretamente ao ato de pensar e sua consequente ação/atitude, sejam de forma positiva ou de forma negativa.

Para terminar o artigo, vou repetir outro artigo já publicado em abril de 2014:

“MÃE IMPURA, FILHA POSSESSA.

‘A seguir, Jesus saiu daquele distrito e se dirigiu à circunvizinhança de Tzor (Tiro) e Tzidon (Sidon). Lá ele encontrou uma casa para ficar e desejava permanecer no anonimato, mas isso foi impossível. Aproximou-se dele uma mulher cuja filhinha tinha um espírito impuro, e ela se prostrou a seus pés. A mulher era grega, siro-fenícia de nascimento, e lhe implorou que expulsasse o demônio de sua filha. Jesus disse: ‘Em primeiro lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças e lançá-la aos cachorrinhos de estimação’. Ela respondeu: ‘Isso é verdade, senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das crianças’. Então Jesus lhe disse: ‘Por causa dessa resposta, você pode ir para casa; o demônio já deixou sua filha’. Ela voltou para casa e encontrou a filha deitada na cama, livre do demônio.’ Marcos 7:24 a 30

Depois de ter mostrado de forma prática e insofismável aos alunos, aos religiosos e ao povo que o que nos torna pessoas impuras é o que falamos, e que nossas palavras são nascidas envoltas pelos sentimentos do coração, Jesus tentou descansar em lugar distante da multidão. Porém, uma mulher que possivelmente o seguia e havia entendido o que ele dissera sobre comida e palavras, disse-lhe em tom de questão, que sua filha estava com um espírito impuro. Notem que o ensino de Jesus estava em sentido contrário ao questionamento daquela mãe. Jesus afirmara que o que nos torna impuros é o que falamos, mas também o que ouvimos.

Se ouvirmos palavras provenientes de um coração impuro, podemos também nos tornar impuros, se essas palavras forem se acomodando em nossas emoções – no coração. (...). Aquela mãe, que no texto original em hebraico é identificada como uma mulher envergonhada pelo que havia ouvido de Jesus apresentou ao mestre uma questão, que ela já havia resolvido em seu coração. Sua filha estava impura, por qual motivo?
O texto de Marcos mostra uma estranha identificação da mulher. Ela não tem nome, mas tem endereço, ela é grega, porém siro-fenícia de nascimento. Ou seja, há importância nessa revelação da identidade da mulher. E isso tem haver com a resposta aparentemente estapafúrdia que Jesus deu a ela. Ele sabia com quem estava falando e ela sabia o que ele estava dizendo. A conversa entre eles está em um nível fora do alcance do simples leitor. Em sendo uma mulher de cultura grega, ela deveria ser idólatra, deveria servir a algum deus; sendo siro-fenícia, pode ter sido educada a cultuar deuses domésticos, entidades que são cultuadas em altares dentro das casas ou em uma dependência dela.

Ao me deparar com essa possibilidade pesquisei sobre o tema e encontrei um dado interessante. Havia na cultura grega, uma deusa familiar, que era venerada com muita devoção por todos os gregos prosélitos. Na mitologia grega, Héstia era essa deusa familiar que protegia as famílias. Sua história mitológica é interessante. Ela era irmã de Zeus, que a proibira de casar, mas permitiu que ela fosse adorada como deusa familiar, uma espécie de deusa menor. Tal fato é interessante e pouco se encontra sobre tal divindade nos dicionários de mitologia grega. O sincretismo grego-siro-fenício, deu a essa deusa uma característica interessante. Seu culto era realizado, oferecendo o melhor dos alimentos, principalmente leite, bolos e biscoitos para ela, na figura de animais de estimação, principalmente cachorrinhos.

Não é difícil imaginar que aquela mulher, cheia de impureza, deve ter falado muitas coisas desagradáveis para a filha, que por ser uma criança, deve ter crido nas besteiras faladas pela mãe e se “transformado” em uma cachorrinha, comendo a comida dos cachorrinhos de estimação, que era depositada religiosamente por ela. Isso não é difícil de crer, tendo em vista os diversos casos – mostrados em documentários – de crianças que viveram com animais, e debilitadas mentalmente acreditavam ser da família desses animais. O caso mais famoso é de uma menina ucraniana que fora criada pelos cachorros da família, pois seus pais a alimentavam junto com eles; segundo o documentário, ela se “transformou” em um cachorro. Outro caso famoso é o de um garoto africano criado com galinhas, na medida em que cresceu acreditou que era uma galinha. Tudo por causa do espírito impuro que saiu da boca dos pais.

Tudo indica que o caso daquela mulher siro-fenícia, poderia ser um desses. Ela acreditara – por ser idólatra – que sua filha estava com um demônio, ou um “espírito de cachorro”. Isso não consta no texto, mas é identificado por Jesus logo de primeira. A resposta do mestre mostra essa identificação: ‘Em primeiro lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças e lançá-la aos cachorrinhos de estimação’, disse ele. A mãe já sabia que era dela, a culpa pelo estado “demoníaco” da filha. Quando Jesus identificou a questão, ela imediatamente retomou o controle de sua vida, afirmando que a deusa Héstia nãos seria mais importante que seus filhos: ‘Isso é verdade, senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das crianças’. Tudo resolvido. A mãe sabia que se ela tratasse os filhos como filhos e os animais como animais tudo se reequilibraria.

Mas a menina pensava ser um cachorro. Ela comia com eles e dormia com eles. O milagre da transformação da cachorrinha em gente dependia de Jesus. Milagres só dependem dele.

Porém a transformação de animal em filha já havia acontecido no coração daquela mãe. Filhos comem à mesa, animais comem das sobras que os filhos eventualmente deixam cair. Isso ela disse ao Senhor e ele apaixonou-se pela confiança da mulher: ‘Por causa dessa resposta, você pode ir para casa; o demônio já deixou sua filha’. Não havia o que duvidar, a confiança daquela mãe contagiara ao mestre Jesus, aquela aluna havia aprendido tudo direitinho. Sem titubear ela voltou pra casa “...e encontrou a filha deitada na cama, livre do demônio” cachorro. A prova disso é que ela estava deitada na cama, feita gente e não entre os animais feita bicho.
O que podemos aprender com essa lição um tanto estranha? Creio que essas histórias nos alerta para a importância que há naquilo que falamos para os nossos filhos. Muitos chamam seus filhos de “tudo que não presta”, e quando eles se transformam no que lhes foi profetizado, culpam o demônio pelo estado animal dos filhos. Porém esquecem que eles mesmos fizeram dos filhos os “demônios” que são hoje. Esses pais de espíritos impuros vomitam suas impurezas em forma de palavras como se fossem alimento, aos filhos, que por não terem outra referência de vida se transformam nos animais preditos por seus pais.

Pense nisso. Como você alimenta as emoções dos seus, sejam eles quem forem.”

***

Tudo tem me feito perceber, que estamos todos possuídos por nós mesmos; por nossas canalhices, por nossos egoísmos, por nossos traumas, por nossas fantasias (...). O pior de tudo é que enfiamos nossas doenças, nossos espíritos malignos dentro daqueles que estão perto de nós.

Que o SENHOR de todos os ESPÍRITOS tenha misericórdia de nós e nos cure dessa enfermidade mental.

AMeN3.

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1. Embora não aceite mais o termo, uso-o para me fazer entender neste texto;

2. Do dicionário STRONG, a mesma grafia hebraica, com suas duas diversas pronuncias e significados:

רוח ravach.
1) ser largo, ser espaçoso, respirar;
1a) (Qal) respirar com facilidade, ser aliviado;
1b) (Pual) espaçoso (particípio);

רוח revach.
1) espaço;
1a) espaço, intervalo;
1b) folga, alívio;

רוח ruwach.
1) (Hifil) cheirar, perfumar, sentir cheiro, aceitar;
1a) referindo-se ao cavalo;
1b) referindo-se ao prazer (metáfora);

רוח ruwach.
1) vento, hálito, mente, espírito;
1a) hálito;
1b) vento;
1b1) dos céus;
1b2) pontos cardeais ("rosa-dos-ventos”), lado;
1b3) fôlego de ar;
1b4) ar, gás;
1b5) vão, coisa vazia;
1c) espírito (quando se respira rapidamente em estado de animação ou agitação);
1c1) espírito, entusiasmo, vivacidade, vigor;
1c2) coragem;
1c3) temperamento, raiva;
1c4) impaciência, paciência;
1c5) espírito, disposição (como, por exemplo, de preocupação, amargura, descontentamento);
1c6) disposição (de vários tipos), impulso irresponsável ou incontrolável;
1c7) espírito profético;
1d) espírito (dos seres vivos, a respiração do ser humano e dos animais);
1d1) como dom, preservado por Deus, espírito de Deus, que parte na morte, ser desencarnado;
1e) espírito (como sede da emoção);
1e1) desejo
1e2) pesar, preocupação;
1f) espírito;
1f1) como sede ou órgão dos atos mentais;
1f2) raramente como sede da vontade;
1f3) como sede especialmente do caráter moral;
1g) Espírito de Deus, a terceira pessoa do Deus triúno, o Espírito Santo, igual e có-eterno com o Pai e o Filho;
1g1) que inspira o estado de profecia extático;
1g2) que impele o profeta a instruir ou admoestar;
1g3) que concede energia para a guerra e poder executivo e administrativo;
1g4) que capacita os homens com vários dons;
1g5) como energia vital;
1g6) manifestado na glória da sua habitação;
1g7) jamais referido como força despersonalizada;

רוח ruwach (aramaico).
1) espírito, vento;
1a) vento;
1b) espírito;
1b1) de homem;


3. AMeN: Acróstico – Al Melech – Neman (Deus Rei Fiel).

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