Esse é um longo texto, mas creio que
vale a pena ler.
Tenho percebido que os grupos sociais
estão tremendamente possuídos. Possuídos por conceitos completamente torcidos,
desconformes, desagrupados, dissociados da realidade. A religiosidade adoeceu completamente,
perdeu seu mister inicial, transformou-se num ente-enfermo que
impregna as pessoas com sua enfermidade, tornando-as pessoas-enfermas –
entes semelhantes. Para a religião de hoje, aquilo que não é ela, é contra
ela; tudo que não pode ser entendido: é taxado de “demônio”; tudo que
não lhe pertence: pertence ao “inimigo”; tudo que não lhe serve: serve
ao “mau”. Todos possuídos por espíritos de ignorância e intolerância.
A religiosidade moderna – seja ela
qual filosofia professe, siga ou defenda – perdeu seu objetivo primaz,
distanciou-se de sua função primordial, misturou-se com as diversas práticas
pagãs e profanas por onde passou – e passa – se descaracterizando completamente.
Os títulos com os quais os líderes
religiosos se auto intitulam: pastores, bispos, sacerdotes, apóstolos, pais de
apóstolos, anjos, arcanjos, (...); são a prova desse descaminho que a
religiosidade hodierna – para não dizer ordinária – tomou. Sobrevivem da
pompa que seus títulos impõem aos seus súditos; perderam a simplicidade da
mensagem clara e simples da SALVAÇÃO. Nem percebem que estão se tornando o
contrário de Cristo1, estão fazendo verdadeira a profecia do
Apóstolo João: “... também agora muitos se têm feito anticristos, por onde
conhecemos que é já a última hora.” (I João 2:18); esses muitos, têm se
tornado os tais “anticristos”, porque estabelecem – a cada fim de
semana – um novo padrão de cristianismo, uma nova moda, um novo mover (...).
Perderam o rumo, totalmente.
Algumas pessoas que leram meu texto
anterior entenderam que eu desacredito ou menosprezo as entidades espirituais
malignas (...); Profundo engano dos que assim pensam. Depois de quase 40 anos
estudando esse tema específico da Espiritualidade, sei no que e em quem
acreditar, e melhor: no que e em quem desacreditar. Minha consciência fica
tranquila quando afirmo que “diabo” e “satã” não são
originariamente ENTES, mas adjetivos; tornam-se ENTES, quando alguém – seja um
ser terreno ou celeste – age conforme as funções pré-determinadas pelos
adjetivos. Vou explicar:
Em Marcos, capítulo oito, Pedro tentou
impedir que Jesus cumprisse a primeira profecia – morrer no madeiro; o
Messias, ao perceber a intenção de Pedro, repreendeu-o ferozmente, chamando-o
de Satã. Mas teria Pedro sido possuído por Satã? Sim. Mas não pelo ENTE, pois
não existe como tal, mas sim pelo significado do adjetivo. Satã significa: “aquele
que impede, que atrapalha (...)”. Jesus chamou Pedro de ATRAPALHADOR,
IMPEDIDOR, um Satã.
“E começou a ensinar-lhes que
importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos
anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas
que depois de três dias ressuscitaria. E dizia abertamente estas palavras. E
Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo. Mas ele, virando-se, e olhando
para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de
mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são
dos homens.” (Marcos 8:31 a 33)
Mas SATÃ não é um adjetivo nefasto,
malvado ou infernal. É um adjetivo simplesmente. No episódio em que Balaão
segue seu caminho para amaldiçoar ao povo de DEUS, é impedido por um Anjo do
Senhor. Esse anjo é tratado no texto original do TANACH como um SATÃ; aquele que
tentava impedir que Balaão chegasse ao seu destino maldito.
Dois exemplos clássicos do uso do
termo “satã” por dois entes; um ente humano, Pedro, um mau satã, o Anjo do
Senhor um bom Satã. Tá na Bíblia.
Por sua vez, diabo, significa: “aquele
que acusa; acusador, (...)”. Para entender o sentido de cada adjetivo
contido no Texto Bíblico, basta ler todo o contexto e aplicar a definição dos referidos
adjetivos àquelas situações.
Mas existem outros termos que tratam
de estados espirituais estranhos: “espíritos malignos” e “espíritos
impuros”. Para entender o que eles querem dizer na verdade e como são
aplicados no Texto Bíblico, precisamos, antes de tudo, saber o que significa o
termo “espírito”.
Do Hebraico: RUWACH2.
Tem diversos significados e cada um desses significados carrega uma função
específica. Entre tantas, RUWACH, é entendido como ato de: “pensar”
e/ou “preocupação”; também pode ser traduzido (entendido) em algumas
passagens como: “sede ou órgãos das faculdades mentais”. Ou seja: RUWACH
está ligado diretamente ao ato de pensar e sua consequente ação/atitude, sejam
de forma positiva ou de forma negativa.
Para terminar o artigo, vou repetir outro
artigo já publicado em abril de 2014:
“MÃE IMPURA, FILHA POSSESSA.
‘A seguir, Jesus saiu daquele
distrito e se dirigiu à circunvizinhança de Tzor (Tiro) e Tzidon (Sidon). Lá
ele encontrou uma casa para ficar e desejava permanecer no anonimato, mas isso
foi impossível. Aproximou-se dele uma mulher cuja filhinha tinha um espírito
impuro, e ela se prostrou a seus pés. A mulher era grega, siro-fenícia de
nascimento, e lhe implorou que expulsasse o demônio de sua filha. Jesus disse: ‘Em
primeiro lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças
e lançá-la aos cachorrinhos de estimação’. Ela respondeu: ‘Isso é verdade,
senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das
crianças’. Então Jesus lhe disse: ‘Por causa dessa resposta, você pode ir para
casa; o demônio já deixou sua filha’. Ela voltou para casa e encontrou a filha
deitada na cama, livre do demônio.’ Marcos 7:24 a 30
Depois de ter mostrado de forma
prática e insofismável aos alunos, aos religiosos e ao povo que o que nos torna
pessoas impuras é o que falamos, e que nossas palavras são nascidas envoltas
pelos sentimentos do coração, Jesus tentou descansar em lugar distante da
multidão. Porém, uma mulher que possivelmente o seguia e havia entendido o que
ele dissera sobre comida e palavras, disse-lhe em tom de questão, que
sua filha estava com um espírito impuro. Notem que o ensino de Jesus estava em
sentido contrário ao questionamento daquela mãe. Jesus afirmara que o que nos
torna impuros é o que falamos, mas também o que ouvimos.
Se ouvirmos palavras provenientes
de um coração impuro, podemos também nos tornar impuros, se essas palavras
forem se acomodando em nossas emoções – no coração. (...). Aquela mãe, que no
texto original em hebraico é identificada como uma mulher envergonhada pelo que
havia ouvido de Jesus apresentou ao mestre uma questão, que ela já havia
resolvido em seu coração. Sua filha estava impura, por qual motivo?
O texto de Marcos mostra uma
estranha identificação da mulher. Ela não tem nome, mas tem endereço, ela é
grega, porém siro-fenícia de nascimento. Ou seja, há importância nessa revelação
da identidade da mulher. E isso tem haver com a resposta aparentemente
estapafúrdia que Jesus deu a ela. Ele sabia com quem estava falando e ela sabia
o que ele estava dizendo. A conversa entre eles está em um nível fora do
alcance do simples leitor. Em sendo uma mulher de cultura grega, ela deveria
ser idólatra, deveria servir a algum deus; sendo siro-fenícia, pode ter sido
educada a cultuar deuses domésticos, entidades que são cultuadas em altares
dentro das casas ou em uma dependência dela.
Ao me deparar com essa
possibilidade pesquisei sobre o tema e encontrei um dado interessante. Havia na
cultura grega, uma deusa familiar, que era venerada com muita devoção por todos
os gregos prosélitos. Na mitologia grega, Héstia era essa deusa familiar que protegia
as famílias. Sua história mitológica é interessante. Ela era irmã de Zeus, que
a proibira de casar, mas permitiu que ela fosse adorada como deusa familiar,
uma espécie de deusa menor. Tal fato é interessante e pouco se encontra sobre
tal divindade nos dicionários de mitologia grega. O sincretismo
grego-siro-fenício, deu a essa deusa uma característica interessante. Seu culto
era realizado, oferecendo o melhor dos alimentos, principalmente leite, bolos e
biscoitos para ela, na figura de animais de estimação, principalmente
cachorrinhos.
Não é difícil imaginar que aquela
mulher, cheia de impureza, deve ter falado muitas coisas desagradáveis para a
filha, que por ser uma criança, deve ter crido nas besteiras faladas pela mãe e
se “transformado” em uma cachorrinha, comendo a comida dos cachorrinhos
de estimação, que era depositada religiosamente por ela. Isso não é difícil de
crer, tendo em vista os diversos casos – mostrados em documentários – de
crianças que viveram com animais, e debilitadas mentalmente acreditavam ser da
família desses animais. O caso mais famoso é de uma menina ucraniana que fora
criada pelos cachorros da família, pois seus pais a alimentavam junto com eles;
segundo o documentário, ela se “transformou” em um cachorro. Outro caso
famoso é o de um garoto africano criado com galinhas, na medida em que cresceu
acreditou que era uma galinha. Tudo por causa do espírito impuro que saiu da
boca dos pais.
Tudo indica que o caso daquela
mulher siro-fenícia, poderia ser um desses. Ela acreditara – por ser
idólatra – que sua filha estava com um demônio, ou um “espírito de
cachorro”. Isso não consta no texto, mas é identificado por Jesus logo de
primeira. A resposta do mestre mostra essa identificação: ‘Em primeiro
lugar, alimentam-se os filhos; não é certo tirar a comida das crianças e
lançá-la aos cachorrinhos de estimação’, disse ele. A mãe já sabia que era
dela, a culpa pelo estado “demoníaco” da filha. Quando Jesus identificou
a questão, ela imediatamente retomou o controle de sua vida, afirmando que a
deusa Héstia nãos seria mais importante que seus filhos: ‘Isso é verdade,
senhor; contudo, mesmo os cachorrinhos debaixo da mesa comem as sobras das
crianças’. Tudo resolvido. A mãe sabia que se ela tratasse os filhos como
filhos e os animais como animais tudo se reequilibraria.
Mas a menina pensava ser um
cachorro. Ela comia com eles e dormia com eles. O milagre da transformação da
cachorrinha em gente dependia de Jesus. Milagres só dependem dele.
Porém a transformação de animal
em filha já havia acontecido no coração daquela mãe. Filhos comem à mesa,
animais comem das sobras que os filhos eventualmente deixam cair. Isso ela
disse ao Senhor e ele apaixonou-se pela confiança da mulher: ‘Por causa
dessa resposta, você pode ir para casa; o demônio já deixou sua filha’. Não
havia o que duvidar, a confiança daquela mãe contagiara ao mestre Jesus, aquela
aluna havia aprendido tudo direitinho. Sem titubear ela voltou pra casa “...e
encontrou a filha deitada na cama, livre do demônio” cachorro. A prova
disso é que ela estava deitada na cama, feita gente e não entre os animais
feita bicho.
O que podemos aprender com essa
lição um tanto estranha? Creio que essas histórias nos alerta para a
importância que há naquilo que falamos para os nossos filhos. Muitos chamam
seus filhos de “tudo que não presta”, e quando eles se transformam no
que lhes foi profetizado, culpam o demônio pelo estado animal dos filhos. Porém
esquecem que eles mesmos fizeram dos filhos os “demônios” que são hoje.
Esses pais de espíritos impuros vomitam suas impurezas em forma de palavras
como se fossem alimento, aos filhos, que por não terem outra referência de vida
se transformam nos animais preditos por seus pais.
Pense nisso. Como você alimenta
as emoções dos seus, sejam eles quem forem.”
***
Tudo tem me feito perceber, que
estamos todos possuídos por nós mesmos; por nossas canalhices, por nossos
egoísmos, por nossos traumas, por nossas fantasias (...). O pior de tudo é que
enfiamos nossas doenças, nossos espíritos malignos dentro daqueles que estão
perto de nós.
Que o SENHOR de todos os ESPÍRITOS
tenha misericórdia de nós e nos cure dessa enfermidade mental.
AMeN3.
______________________________
1. Embora não aceite mais o termo,
uso-o para me fazer entender neste texto;
2.
Do dicionário STRONG, a mesma grafia hebraica, com suas duas diversas
pronuncias e significados:
רוח ravach.
1)
ser largo, ser espaçoso, respirar;
1a)
(Qal) respirar com facilidade, ser aliviado;
1b)
(Pual) espaçoso (particípio);
רוח revach.
1)
espaço;
1a)
espaço, intervalo;
1b)
folga, alívio;
רוח ruwach.
1)
(Hifil) cheirar, perfumar, sentir cheiro, aceitar;
1a)
referindo-se ao cavalo;
1b)
referindo-se ao prazer (metáfora);
רוח ruwach.
1)
vento, hálito, mente, espírito;
1a)
hálito;
1b)
vento;
1b1)
dos céus;
1b2)
pontos cardeais ("rosa-dos-ventos”), lado;
1b3)
fôlego de ar;
1b4)
ar, gás;
1b5)
vão, coisa vazia;
1c)
espírito (quando se respira rapidamente em estado de animação ou agitação);
1c1)
espírito, entusiasmo, vivacidade, vigor;
1c2)
coragem;
1c3)
temperamento, raiva;
1c4)
impaciência, paciência;
1c5)
espírito, disposição (como, por exemplo, de preocupação, amargura,
descontentamento);
1c6)
disposição (de vários tipos), impulso irresponsável ou incontrolável;
1c7)
espírito profético;
1d)
espírito (dos seres vivos, a respiração do ser humano e dos animais);
1d1)
como dom, preservado por Deus, espírito de Deus, que parte na morte, ser
desencarnado;
1e)
espírito (como sede da emoção);
1e1)
desejo
1e2)
pesar, preocupação;
1f)
espírito;
1f1)
como sede ou órgão dos atos mentais;
1f2)
raramente como sede da vontade;
1f3)
como sede especialmente do caráter moral;
1g)
Espírito de Deus, a terceira pessoa do Deus triúno, o Espírito Santo, igual e
có-eterno com o Pai e o Filho;
1g1)
que inspira o estado de profecia extático;
1g2)
que impele o profeta a instruir ou admoestar;
1g3)
que concede energia para a guerra e poder executivo e administrativo;
1g4)
que capacita os homens com vários dons;
1g5)
como energia vital;
1g6)
manifestado na glória da sua habitação;
1g7)
jamais referido como força despersonalizada;
רוח ruwach (aramaico).
1)
espírito, vento;
1a)
vento;
1b)
espírito;
1b1) de homem;
3. AMeN: Acróstico – Al Melech – Neman
(Deus Rei Fiel).
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