HONESTAMENTE, não vejo o que
comemorar (...), somos o que não deveríamos ser, estamos como não deveríamos
estar: atrasados, vivendo no/do passado; buscando no que já está velho
inspiração para o novo. Não me refiro exclusivamente à política dos governantes
que administraram – e continuam a administrar – o Município; refiro-me
também, e principalmente, a como aceitamos ser governados, comandados e
legislados (...); estamos aceitando ser menores do que somos. Basta LER a
história de Itacoatiara.
Não sou itacoatiarense de
nascimento, sou mamauara, nasci e vivi parte de minha vida na cidade de Manaus,
lugar que amo; mas o SENHOR decidiu por mim e providenciou que eu viesse, a 10
anos passados, morar aqui na Velha Serpa. Vim e fiquei; não sei se sairei
daqui, tornei-me um itacoatiarense de coração, amo esse lugar, gosto de viver
aqui, quero contribuir com o que puder para tornar Itacoatiara um lugar melhor.
Quero propor a você,
itacoatiarense, que está lendo esse texto, uma reflexão.
Pense, por que a “alegria”
das comemorações de “Aniversário da Cidade” estão atreladas a presença
ou não dos mandatários que estão no poder? Por que nossas comemorações são
sempre ofensivas, contra “esse” ou “aquele” prefeito? Porque os demais
poderes – legislativo e judiciário – não se envolvem por conta própria
nos festejos promovidos pelo poder executivo? Porque temos que comemorar um
aniversário com a cidade carregada de dívidas, problemas estruturais, buracos e
desculpas – essas, responsabilizando sempre a gestão anterior pelo caos “deixado”?
O QUE HÁ PARA COMEMORARMOS ENTÃO?
Moro aqui desde dezembro de 2007,
vim para ficar perto de meus pais, vim de “malas e cuias”; foi aqui que
fui ordenado ao Ministério Pastoral – sou e sempre serei pastor, mesmo não
estando dirigindo nenhuma congregação –; fui editor do “Itacoatiara Em Tempo”,
suplemento do jornal Amazonas Em Tempo até que, por motivos meramente políticos
foi extinto; aqui em Itacoatiara, fui feito o primeiro Ouvidor Geral do
Município, proporcionando na medida das possibilidades do cargo o “ouvido”
para a população, e levando aos meus superiores suas reclamações, e quando
possível, atuando na conquista de algumas facilidades para ela, como por
exemplo a implantação da 1ª via da carteira de identidade, algo que até o ano
de 2010 não havia; aqui em Itacoatiara conquistei um “segundo” Ministério,
o de Professor, leciono Ensino Religioso na Escola Estadual Maria Ivone de
Araújo Leite; aqui vejo dois dos meus filhos crescerem seguros, mas
infelizmente sem nenhuma perspectiva profissional a curto prazo – igual a tantos
da geração deles. Com todas essas conquistas pessoais – e familiares – eu afirmo
que não há muito para comemorar nesses 10 anos de Itacoatiara.
Porque não? Porque temos um Polo
Moveleiro entregue ao descaso com moveleiros abandonados e desamparados pelo
Poder Público, por governantes que entram e saem sem realizar absolutamente
nada naquele lugar; temos, proporcionalmente, um dos maiores índices de
violência infantil em idade escolar do Estado e nenhum dos poderes têm se
debruçado sobre o tema, sem querer tirar aproveito dessa desgraça – da mesma
forma, com a gravidez infantil; temos um dos piores serviços de internet do
mundo e o poder público só reclama e justifica sua incapacidade
responsabilizando gestões anteriores; temos um alto índice de desemprego – mas a
incompetência culpa a “crise” (...), mas é a crise morar que afeta o
País e não a financeira; somos um Município que pratica a política do “pires
na mão” pois os gestores que entram e saem periodicamente só “realizam”
se tiverem ajuda financeira do Estado ou da União – aí eu pergunto: onde está a
de gestão de problemas? Não existe! Não existe porque não são gestores, são
políticos, não sabem dar soluções “criativas” para os problemas
imediatos e simples? Nossa via de acesso à Capital está toda comida pela erosão
e nós aceitamos isso sem nenhuma manifestação – sem falar das vias da própria
cidade – , o “asfalto” chega somente ao Município de Rio Preto da Eva, e
nunca passa de lá, nunca chega aqui, e “nós batendo em latas”, tentando
atrapalhar o trabalho dos governantes, só porque não foram eleitos por nós.
Não temos o que comemorar porque
somos uma cidade sem bibliotecas, sem bancas de revista – graças a Deus as
Lojas Americanas estão com livros para a população, uma luz no fim desse túnel
de ignorância – sem jornais.
É atribuída a monteiro Lobato a
frase: “um País se faz com homens e livros.” E é verdade! Sem pessoas
comprometidas com a educação, com a leitura, teremos sempre uma sociedade feita
de analfabetos funcionais, que apenas decodificam os símbolos da escrita mas
não sabem ler de fato, não conseguem “interpretar a realidade”. Lembro que
certa vez, comentei isso com um prefeito e ele me retrucou de forma grosseira e
prepotente (...), aquela forma desrespeitosa com o Saber está atravessada até
hoje na “minha goela”. Mas ele foi honesto consigo mesmo pois é um
ignorante. Itacoatiara irá começar a mudar de fato, quando possuir uma
biblioteca pública onde a pessoas possam gastar seu tempo lendo livros – os mais
diversos livros, inclusive os digitais e pela web; Seremos uma cidade
centenariamente evoluída quando tivermos uma imprensa séria – jornais, rádios e
televisões – descontaminada das políticas-partidárias. LOUVO AS INICIATIVAS
ISOLADAS DOS ITACOATIARENSES QUE CRIARAM A ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS, na
tentativa de minimizar o estrago causado pela falta de leitura, PARABÉNS AMIGOS.
Mas ainda é pouco, muito pouco. Precisamos de uma Biblioteca Pública, cheia de
livros históricos, científicos, jurídicos, eletrônicos, virtuais, jornais, tudo
isso, de preferência em vários idiomas. Mas, isso só será possível quando
existirem governantes interessados em educar o povo.
Infelizmente AINDA não temos o
que comemorar. Perdoem-me a honestidade.
MAS HÁ O QUE PARABENIZAR. Parabenizo
aos ITACOARIARENSES que ainda SONHAM e TRABALHAM por um Município desenvolvido;
Parabenizo aos ITACOATIARENSES que levantam todos os dias para fazerem da nossa
linda cidade um lugar melhor; Parabenizo aos ITACOATIARENSES, que iguais a mim,
vieram de longe e aqui fincaram raízes, por amor; Parabenizo a todos os ITACOATIARENSES,
que não desistiram e nunca desistirão de transformar essa Cidade na MELHOR CANÇÃO
DO MUNDO.
Termino esse desabafo com a
poesia/hino da Cidade de Itacoatiara, que representa pra mim, a mais profunda,
verdadeira e honesta declaração de amor e confiança que dias – e pessoas –
melhores virão.
HINO DE ITACOATIARA
Letra e Música: Madre Rita de
Cássia – 1958
Arranjos originais: Maestro
Geraldo Dias da Rocha Júnior – 1997.
Vestida bem de verde como a
esperança,
Eu vivo, eu sonho, eu sou feliz.
Assim como um celeiro de bonança,
Eu sou querida filha do País.
Riquezas trago muitas em meu seio,
Confiante de meu porvir.
Eu sinto nas veias um devaneio,
De quem vive sempre a sorrir.
Filha de um grande Amazonas,
Menina Itacoatiara vive assim.
Com ares de prima-dona,
Que grande orgulho eu sinto em
mim.
Olhando o Rio revolto,
E a serpente raivosa a vibrar,
Eu tenho um presente venturoso.
Crescer, viver, reinar.
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