"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

sábado, 1 de abril de 2017

TEMPO SAGRADO E TEMPO PROFANO

Imagem Ilustrativa - WEB

 Estranhamente, determinamos o andamento da vida pela definição gramatical de tempo: passado, presente e futuro; tentamos a todo custo fazer valer essa configuração de tempo em nosso dia-a-dia: passado, presente e futuro. Mas penso que essa amarração gramatical não é a melhor definição para o caminhar da vida dentro da existência; creio que existam somente “dois tempos”, o Tempo Sagrado e o Tempo Profano, e é sobre eles que pretendo tratar neste texto.

O estudo das religiões diz que o tempo sagrado é aquele em que ocorrem datas e festejos religiosos. Só que não! Tempo Sagrado é o tempo que segue em frente, que se move, que anda, que não espera por ninguém, que não para por nada, que avança sempre adiante; esse é o Tempo Sagrado. Quando vivemos esse Tempo, Sagrados somos com ele. Por consequência óbvia, o Tempo Profano é o tempo que para, que estanca, que estagna, que empaca, que finca raízes, que se amarra, que nunca segue em frente, que nunca muda por nada nem pra nada; quem está nesse Tempo, Profano é com ele.

As definições de Sagrado e de Profano, são em minha opinião muito simples: SAGRADO é tudo aquilo que é intocável, inviolável e imensamente respeitável; PROFANO é o contrário disso.

Em primeira impressão, poderíamos entender que Tempo Sagrado seria exatamente o tempo que não pode ser mexido, não deve ser tocado, não pode ser violado com o “seguir em frente” e o Tempo Profano seria o bulível, o mexível, o tocável, o profanamente movível. Percepções erradas essas, tão erradas que têm provocado grande desconforto à existência das pessoas, imensa dor e profundo desgaste por tentarem “parar o tempo”; por não saberem – porque não lhes foi ensinada a verdade – sofrem por não conseguirem viver no verdadeiro Tempo Sagrado; teimam em parar aquilo que inexoravelmente segue em frente – sem dar ouvidos aos nossos rogos de “estabilidade”. O Tempo Sagrado é o tempo que prossegue.

Quero propor algumas questões: Como você vivido sua existência? Em qual dos Tempos você tem vivido? Desse desentendimento vem a dor de viver, o desconforto com os acontecimentos da vida, as angustias com o dia-a-dia, as frustrações pelos desejos não realizados, a vontade de morrer por não conseguir viver a vida desejada. Se você está passando por momentos assim, pode ser que seja devido ao mal-entendido quanto aos Tempos da Existência.

Os ensinamentos de Jesus, Messias, convergem para o exercício de viver dentro do Tempo Sagrado; vivermos a onda que nunca para, a onda do Tempo Sagrado que sempre segue em frente, perceba o que diz o Messias:

“O pão nosso de cada dia nos dá hoje e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal; (...). Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas. (Mateus 6:11 a 15)

Perceba que a primeira ORDEM de Jesus é DEIXEM O TEMPO SEGUIR EM FRENTE: PERDOEM!!! Perdoar é o principal exercício de soltar as amarras do Tempo, deixando-O ser o que ele realmente é: TEMPO SAGRADO; o Tempo que segue em frente, que permite o Novo Nascimento, que garante o fluxo livre da/para a vida, dentro da existência. PERDOAR A QUEM NOS TEM OFENDIDO É DEIXAR O TEMPO SEGUIR EM FRENTE, É TORNAR-SE SAGRADO COM ELE!

Quando não perdoamos, amarramos o tempo e o “culpado” a nós, carregamos nos ombros da vida, existência à fora, o peso de uma vida alheia à nossa; não deixamos que aquele a quem culpamos por algo – normalmente por nossas dores, infortúnios, decepções, insucessos – sigam suas vidas livres de nós. Quando não deixamos que as pessoas sigam suas vidas livre – de nós e em nós – cometemos o pecado de “parar” o tempo; cometemos o pecado hediondo de transformar o Tempo Sagrado em Tempo Profano.

O pior de tudo é que ao pararmos o Tempo, transformando o Sagrado em Profano, sofremos o pior de todos os sofrimentos: NÃO SOMOS PERDOADOS POR DEUS!!

Quando aprisionamos alguém dentro do Tempo Profano, nos trancamos dentro desse Tempo com esse alguém. Nosso tempo não segue, nossa vida não anda, ficamos, paramos, adoecemos; Quando prendemos alguém – por falta de perdão – dentro do nosso tempo, deixamos de conjugar o verbo Viver e iniciamos a terrível conjugação do verbo Morrer. Pior, é que essa conjugação fora de tempo, não irá produzir um novo nascimento – não haverá “nascer”, depois de “morrer”.

Leia com atenção a crônica dos Tempos Sagrados que Salomão revela:

“TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”

Tentem encontrar o “tempo de perdoar”. NÃO HÁ!! Não existe o tempo de perdoar porque PERDOAR É O PRÓPRIO TEMPO!!

Quando não perdoamos o Tempo não anda, o Tempo não Sagra-se. Esse, me parece ser o motivo da gravidade da afirmação Messiânica: “DEUS SÓ PERDOA QUANDO PERDOAMOS”. Perceba a seriedade dessa afirmação; perceba que nós, criaturas de vida finita, limitadas, conseguimos com o simples ato de NÃO PERDOAR deter o CRIADOR em sua eterna vocação de PERDOAR. Que poder é esse que pode parar o Todo Poderoso? Vejo como “uma formiga parando um elefante”; Um poder tão autodestrutivo capaz destruir em nós tudo que pode nos salvar.
(...)
PERDOAR é deixar livre, livra-se; PERDOAR é permitir um novo erro mas também um novo acerto; PERDOAR é torcer acreditando – sem ironias ou hipocrisias – na mudança de vida daquele a quem perdoamos; PERDOAR é admitir que não queremos ver aquele a quem não perdoamos mudar de vida, queremos que sempre seja alguém imperdoável; PEDOAR é deixar o Tempo seguir livre; PERDOAR é seguir com o Tempo em suas mudanças; PERDOAR É PERMITIR QUE O OUTRO MUDE DENTRO DE NÓS.

PERDOAR É TRANSFORMAR O TEMPO DE VIDA EM TEMPO SAGRADO DE EXISTIR.

Quando ficamos lembrando de pessoas, fatos ou até mesmo organizações, ou lugares, situações passadas e as projetamos em nosso hoje ou um pretenso amanhã, com dor ou com raiva, estamos parados no Tempo Profano. Sei que há pessoas que gostam desse sentimento de “poder odiar”, de poder deter o Divino em seu curso. Também sei que todas essas estão doentes; estão obesas de rancor, de raiva, de ódio, não perceberam que o cardápio mudou; não perceberam que o tempo do rancor passa, que o tempo da raiva, passa, que o tempo do ódio passa; essas pessoas não perceberam que vivem fora do Tempo Divino, estão adoecidas e adoecendo, se isolando, se entranhando na escuridão da vida só por se sentirem bem em ter raiva de alguém. Pararam no tempo, pararam no tempo.

Sua raiva se transforma e amargura, tornam-se pessoas amargas, polidas por fora mas grosseiras por dentro; situações e palavras inesperadas provocam nessas pessoas as mais brutais reações contra as pessoas próximas – incrível esse comportamento. Toda a polidez se desmancha diante do calor das provas da vida. Essas pessoas amargas, são assim por que não perdoam ninguém; nem a si mesmas e nem a Deus. Sempre reclamam; reclamam de tudo e de todos; toldam todos os ambientes por onde passam; escurecem todos os lugares por onde andam. Jesus fala desse estado:

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6:22 e 23)

Quando não tempos luz nos olhos, não vemos o Tempo Sagrado, não vemos o bom nas pessoas, não permitimos que mudem, preferimos exercer o poder mortal de não perdoar.

Meu desafio diário é viver o Tempo Sagrado; vivendo e deixando viver, perdoando sempre que possível, e quando não for possível, clamar desesperadamente por aquele que é ETERNAMENTE O TEMPO DO PERDÃO, para que me ajude a perdoar quem me tem ofendido.

Meu desfio diário é viver sempre o Tempo Sagrado da Vida que Segue.

Deus seja conosco.


Shalon!

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