Hoje, a religiosidade ocidental
celebra a Páscoa, um evento de natureza oriental, do médio oriente. Entre os
Judeus, povo no qual a celebração tem origem, a páscoa celebra – não na mesma
data – a lembrança da saída do cativeiro egípcio, ocorrida a aproximadamente
3.500 anos (Êxodo 12). Mas a Páscoa que o mundo religioso ocidental celebra, “foi
instituída pela Igreja durante o Concílio de Niceia, em 325 d.C.. A
Igreja determinou que a primeira lua cheia após o equinócio de primavera seria
a data para iniciar-se a comemoração da Páscoa. O equinócio marca o início da
primavera no hemisfério norte.”. O evento, Concílio de Nicéia, foi
convocado e presidido pelo imperador romano Constantino, o fundador da religião
– religio-onis (a religião de todos) – conhecida hoje como o cristianismo.
Mas a verdadeira Páscoa, tem
origem muito antes de Constantino, muito antes, até do nascimento de Yeshua Ben
Yossef – Jesus filho de José, antes até do patriarca Abraão. A Páscoa, a
passagem de criatura para filho, a transformação de diferente a semelhante, a
evolução de animal em ser humano, tem sua origem na primeira palavra do Livro Sagrada,
o TaNaK, conhecido pelos cristãos como Antigo Testamento.
Sem entrar na discussão de
méritos teológicos desnecessários no momento, BERESHIT, que é a primeira
palavra da Bíblia pode ser classificada como um anagrama, uma palavra formada
pela transposição das letras de outras palavras, ou até mesmo um acróstico, que
é a formação de palavras feitas pelas primeiras letras de outras palavras.
Dissecando a palavra BERESHIT temos:
BE – COM
(preposições “em”, “por”, “com”, “para”);
ROSH –
CABEÇA, PRIMEIRO (aqui no sentido filosófico – Efésios 1:2 e 5:23);
IT – MADEIRO,
PREGO (contração derivada de Yáted – madeiro)
COM
[O] CABEÇA [NO] MADEIRO...
No meu entendimento, essa palavra
– erroneamente traduzida como “no princípio” – é a primeira profecia de salvação,
pois essa salvação só se efetivaria depois que o “primeiro”, o “cabeça”,
o “primogênito” da espécie humana superasse sua animalidade e se tornar
a semelhança do Criador, cumprindo o dito de Gênesis 1:26. Esse primeiro ser
humano perfeito – feito por completo – tornar-se-ia o salvador da humanidade, e
esse é o ponto, salvador da nossa humanidade.
Não acredito que Jesus tornou-se
o salvador da raça humana, mas sim da qualidade humana em nós, sem humanidade
somos piores que o pior dos animais selvagens, somos piores pois sabemos como
fazer o mal, maquinamos a maldade, criamos mecanismos e ferramentas que causam
dor e morte. Sem o exercício de nossa humanidade, sem a evolução de animais
racionais para humanos sábios de conduta reta – em retidão – estamos condenados
ao inferno animal em nós mesmos. Creio que em muitos casos já estamos vivendo
esse inferno, basta ler os noticiários do dia. Mortes cruéis, assassinos sem
sentimentos, crianças sem emoção, pais sem afeto por seus filhos, verdadeiros
animais bípedes sem humanidade.
É interessante saber que o plural
de humanidade é sociedade. Nenhuma espécie animal vivem em sociedade só os
seres humanos e o que nos classifica como seres humanos é o exercício de quatro
valores, que são apenas mencionados neste texto: Religiosidade; Cultura; Moral
e Ética, ou seja a qualidade individual dos que se professam seres humanos
(religiosidade), o respeito a tudo aquilo que se estabelece como sagrado para
outras pessoas (cultura), a capacidade individual e pessoal de decidir não
praticar o mal em qualquer de suas facetas (moral) e a competência afetiva de
fazer o bem aos outros seres do planeta (ética). Sem essas qualidades que eu
chamo de Pilares da Sociedade, não há humanidade, há a negação dela ou o
arremedo dela. Nega-se a humanidade quando negam-se seus valores, arremeda-se
quando selecionamos quais desses valores queremos praticar.
Desejo de coração que possamos
ser mais tolerantes com os errados e nada tolerantes com o erro. Desejo a todos
que busquem desesperadamente lapidar a humanidade existente dentro de si,
humanidade essa exemplificada nos atos de um Judeu que descobriu que para ser
humano precisava servir de luz e não de escuridão, precisava ser pão e não
pedra, precisava ser abraço e não afastamento, precisava ser cura e não doença.
Mas que também sabia quebrar a banca quando era preciso, sabia condenar ao
inferno aqueles que desejavam viver nele, um ser humano que sabia ser simples,
modesto, tranquilo, esperto como as pombas, mas astuto, malicioso, atento ao
mal, pronto a decidir, como as serpentes.
Que o Salvador da humanidade seja
o Salvador na nossa humanidade.
Desejo a todos uma Feliz Páscoa.
SHALON, BERESHIT.
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