Continuando o estudo do livro de
Marcos. No episódio relatado no texto em questão, encontramos Jesus sendo
confrontado com uma prática ritual religiosa, possivelmente, criada pelo clero
judaico. Tal prática, “o ritual de lavar as mãos”, ainda é praticado.
Mas o confronto não se deu por
esse motivo. As questões eram mais viscerais, eram profundas e intestinais. A
revolta daqueles líderes religiosos que se diziam detentores dos segredos da
sacralidade, exalava por seus poros. A superioridade intelectual de Jesus os
deixava irritados e como – aparentemente – não possuíam competência para
confrontá-lo nesse campo, a força era sua única “arma”. Diz o texto de Marcos,
no capítulo sete, dos versos um a vinte e três.
Os fariseus
– comentaristas – e alguns escribas – escritores – da Torah provenientes de Jerusalém
se reuniram com Jesus e viram que alguns de seus alunos – discípulos – comiam
tendo as mãos ritualmente impuras, isto é, sem realizar o ritual de lavagem das
mãos. (Porque os fariseus – comentaristas –, de fato, todos os habitantes de Judá
mantinham a tradição dos anciãos: não comer, a menos que tivessem realizado a
lavagem ritual das mãos. Também ao virem do mercado não comiam até terem lavado
as mãos à altura do pulso; e eles mantêm muitas outras tradições, como a
lavagem de copos, potes e recipientes de bronze.)
Os fariseus
– comentaristas – e escribas – escritores – da Torah lhe perguntaram:
“Por
que seus alunos – discípulos – não vivem de acordo com a tradição dos anciãos,
mas, em vez disso, comem com as mãos ritualmente impuras?”.
Jesus lhes
respondeu:
“Isaías
– yesha-yahu – [o anunciante da] salvação de Deus – estava certo ao profetizar
a respeito de vocês, hipócritas, como está escrito:”
'Estas
pessoas me honram com os lábios, mas o coração está muito longe de mim. Sua tentativa
de me adorar é inútil, porque ensinam regras inventadas por homens como se
fossem doutrinas’.
“Na verdade,
vocês se afastam do mandamento divino e se apegam à tradição humana”.
Jesus
continuou a dizer-lhes:
“Vocês,
se tornaram especialistas em fugir do mandamento de Deus, a fim de manterem
suas tradições! Moisés disse:”
‘Honre seu
pai e sua mãe' e,
'todo o
que amaldiçoar seu pai ou sua mãe deverá ser executado'.
Entretanto,
vocês dizem que se alguém disser ao pai ou à mãe:
‘Prometi
como korban (isto é, uma oferta para Deus) o que poderia ter usado para lhe
ajudar’,
essa pessoa
fica desobrigada de realizar qualquer coisa em prol do pai ou da mãe. Portanto,
mediante a tradição perpetuada por vocês, anula-se a Palavra de Deus! E vocês ainda
fazem outras coisas semelhantes.”
Então Jesus
chamou novamente as pessoas e lhes disse:
“Prestem
atenção, todos vocês, e entendam isto! Não existe nada no exterior de uma
pessoa que, entrando nela, a torna impura. Ao contrário, as coisas que procedem
da pessoa é que a tornam impura!”
Ao deixar
as pessoas e entrar na casa, os alunos – discípulos – lhe fizeram perguntas
acerca da parábola (mashal). Ele respondeu:
“Então
vocês também não entendem? Não percebem que nada que entra na pessoa pode
torná-la impura? Porque isso não atinge o coração, apenas o estômago, e de lá
vai para a latrina”.
(Dessa
forma, ele declarou todos os alimentos ritualmente puros.)
“O que sai da pessoa",
ele
continuou,
“é o
que a torna impura. Porque de dentro do coração da pessoa, procedem: maus
pensamentos, imoralidade sexual, roubo, assassinato, adultério, cobiça, rancor,
engano, indecência, inveja, calúnia, arrogância e insensatez. Todas essas
coisas perversas procedem de dentro da pessoa e a tornam impura.”
Marcos: 7:1 a 23
Depois, de ter feito tudo que fez,
Jesus agora era confrontado por um grupo de estudiosos das leis religiosas;
talvez, equivalentes aos teólogos e doutores em teologia dos nossos dias. Com
eles, estavam seus amanuenses, os escritores dos textos sagrados. Essas duas
classes de líderes religiosos dominavam os dias de Jesus. Suas interpretações
dos textos bíblicos e seus comentários sobre os mesmos, em alguns casos,
perduram até hoje. Mas, o fato de serem intérpretes, comentaristas e escritores
da lei religiosa não os fazia melhores que Jesus. Pelo contrário, a
inteligência de Jesus era superior à deles e isso os deixava desconcertados e
enraivecidos.
Nesse confronto com o mestre,
eles o questionaram sobre o ritual de lavagem cerimonial das mãos. A questão
levantada pelos religiosos não se focava na não observância dele, por parte dos
discípulos, seu foco era a resposta. Como aquele mestre libertário iria
responder aos questionamentos teológicos daqueles doutores da lei religiosa?
Ao lermos o texto com atenção, perceberemos que a pergunta não se dirigia ao
que Jesus fazia, mas sim ao que “alguns dos seus alunos” faziam. Não
eram todos, eram “alguns”. Esses – alguns – não haviam lavado
suas mãos ritualisticamente, por isso seu mestre estava sendo questionado. Mas
o texto não diz que Jesus havia realizado o ritual de lavagem das mãos. Parece que
a intenção dos religiosos era desqualificar o ensino de Jesus por causa do
comportamento impróprio, de alguns de seus alunos. É sempre assim que a
religião faz, tenta nos desqualificar por nossas atitudes, ou pela atitude de alguém
que está conosco.
Imagino que muitas vezes o
ministério de meus pais foi questionado, foi posto em dúvida, devido ao
comportamento dos filhos. Acredito que nossos pais sofreram muitos ataques por
causa das nossas escolhas. Todos nós, filhos de Geraldo e Ruth Rocha,
continuamos sendo quem somos – ou quem pensamos ser. Quando saio
acompanhando papai Geraldo em suas compras, ele do seu jeitinho tradicional,
com seu bigodão branco, e eu, um tanto extravagante com minha barba grisalha e
cabelos grandes e desalinhados, não nos constrangemos pelo que somos. Nem ele,
nem eu. E ele é assim com todos os outros filhos. Hoje me vejo em situação
igual à de meu velho e amado pai, meus filhos, têm seus caminhos, fazem suas
escolhas e nem por isso o que ensino aos meus alunos – que não são meus
filhos – é menos verdade ou menos importante, do que eu ensino e ensinarei
aos meus filhos – enquanto viver e for necessário ensiná-los. Não importa como
nos vestimos, nem o que fazemos, somos todos filhos de Geraldo e Ruth Rocha,
assim como meus filhos são meus filhos e filhos de suas mães. Temos orgulho de
ser filhos de quem somos e ser pais de quem somos.
Como um pai zeloso, Jesus partiu
em defesa de seus alunos, contra a falta de respeito dos religiosos. A pouca
inteligência da religião constrói casas sobre a areia, perto da água, no meio
do caminho da chuva. O dito dos religiosos os destruiu. Aquela cultura era a
prática dos anciãos, dos velhos, dos pais. Ao usarem essa justificativa para
dar força ao argumento de que os alunos de Jesus estavam desrespeitando a memória
dos pais, Jesus contra-atacou usando a mesma figura de linguagem. O ensino dos
pais era cuidar da família, mas aqueles religiosos estavam ensinando que DAR
DINHEIRO PARA A RELIGIÃO era mais importante que cuidar da família. A palavra
de Deus, proveniente da boca dos pais da nação judaica, estava sendo torcida
pelos líderes religiosos que entendiam-se detentores das verdades divinas. Mas a
verdade era outra. Jesus os confronta consigo mesmos. Ele os divide em duas
partes, e as põe uma contra a outra.
A questão proposta foi:
Se fazer – cuidar
da família – o que a lei dos pais dizia era o correto, porque eles faziam o
contrário – não cuidavam dos pais – dizendo ser o correto?
Entenderam?
O que Jesus perguntou foi o
seguinte: SE O “FAZER” COM BASE NO DITO DOS PAIS
ERA O CORRETO, PORQUE ENTÃO, ELES DIZIAM QUE ERA POSSIVEL FAZER
O CONTRÁRIO?
A resposta pode estar na forma
correta de entender o mandamento: “Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em
vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” Êxodo
20:7. Tomar o nome de Deus em vão, é transformar em Divino – Deus
–, tudo aquilo que é humano; e transformar em humano, tudo aquilo que é Divino –
Deus.
Aqueles religiosos estavam
cometendo antes de tudo, o pecado de tomar o nome de Deus em vão, transformando
as palavras deles em palavras e atos Divinos. Fica claro no texto, que a
palavra de Deus é CUIDAR DA FAMÍLIA e não dar dinheiro para deus.
Após esse desmascaramento da
religião humana, animal e diabólica, Jesus alertou aos seus alunos que “...
não existe nada no exterior de uma pessoa que, entrando nela, a torna impura. Ao
contrário, as coisas que procedem da pessoa é que a tornam impura!”. Jesus
afirmou categoricamente que tudo que nos serve de alimento é puro, pois passará
pelo fogo da digestão, pelo vale da decomposição para virar emoção,
inteligência e ação. Isso é espiritualidade.
Finda a discussão. Não havia competência
na religião para confrontar Jesus.
Dentro de casa, em particular, os
alunos perguntaram ao mestre a explicação da mashal. O termo foi
traduzido, pelos atuais religiosos, como se fosse “parábola”, mas
não é. Parábola, segundo James Strong é chuwd, propor um
enigma, ou chiydah, que é propriamente parábola ou enigma.
No texto de Marcos, o termo hebraico usado é mashal, que tem o
sentido de “sentença proferida por alguém de inteligência superior”. E foi
exatamente isso que aconteceu, a inteligência de Jesus era proporcional a sua
espiritualidade, da mesma forma que suas emoções também eram superiores, bem
como suas ações. A inteligência de Jesus vinha do alto, sua mente estava presa
no reino de Deus. Suas emoções plantadas na terra, no cuidado com a família,
com os necessitados. Suas ações eram intermediárias, mistas, confusas: terrenamente
divinas e divinamente terrenas. Esse é Jesus. O Filho de Deus. Bendito seja
o ETERNO, que nos mostrou seu imenso amor, em Jesus, o salvador.
A explicação que Jesus dá aos
alunos – a todos nós, seus alunos – chega até ser hilária, ou
tragicômica. Sua afirmação é simples e direta: TUDO QUE, NA PALAVRA DE DEUS,
NÃO É DIVINO, VIRA BOSTA. Ponto.
E é isso mesmo, tudo que pretende
nos alimentar e não o faz, sai em forma de fezes, vai para a latrina. Foi isso
que ele disse. Nada mais. O ensino religioso humano e bosta, para Jesus são a
mesma coisa.
Mas nem isso contamina. Nem esse
monte de fezes contamina, pois quem age nos filhos da salvação é o espírito
Santo que nos convence de tudo.
O que nos contamina é o que sai
da nossa boca. O que nos contamina é o que somos, e somos o que falamos não o
que fazemos. Somos o que falamos, porque a fala vem da mistura da emoção e da
inteligência. A fala é a ação dessa mistura intelecto-emocional. Diante do que
falamos – seja o que for e para quem for – nossas atitudes não falam nada,
nossa fala, diz tudo. SOMOS O QUE FALAMOS. “Porque de dentro do
coração da pessoa, procedem: maus pensamentos, imoralidade sexual, roubo,
assassinato, adultério, cobiça, rancor, engano, indecência, inveja, calúnia,
arrogância e insensatez. Todas essas coisas perversas procedem de dentro da
pessoa e a tornam impura.”
Termino esse texto sem amarrá-lo,
sem defini-lo, sem empregá-lo à vida. Deixo essa responsabilidade com você.
Saiba.
SOMOS O QUE FALAMOS, E NÃO O
QUE FAZEMOS.
Deus lhe abençoe.