"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

BENDITO SEJA ELE

Ter o ETERNO, como Senhor da existência pode até parecer fácil, e até o é. Mas para que esse comportamento se torne fácil, como deve ser, se faz necessário uma certeza absoluta, e essa sim, só é fácil para quem sabe de onde vem o socorro, para quem realmente sabe que ELE existe e é recompensador de quem tem medo d’Ele.

Não tenho muito a falar hoje, quero apenas repartir com você um dos Salmos da leitura diária, o de número 146. Ao ler esse Salmo, minha alma se encheu do silencioso som que somente a verdade pode produzir dentro de quem a busca e a encontra. Um barulho ensurdecedor, tão grande que fica difícil desdobra-lo em palavras. Mas é um barulho silente, íntimo, absurdamente quieto.

Deixo o Salmo para sua meditação.
Com as Bênçãos do ETERNO.

“Halleluyah! (Bendito sela ELE!)

Louve a ADONAI, minha alma!
Louvarei ADONAI enquanto eu viver.
Cantarei louvores a meu Deus toda a minha vida.

Não ponha sua confiança em príncipes ou em mortais, que não podem socorrer.
Quando dão seu último suspiro, voltam ao pó, e naquele mesmo momento todos os seus planos se vão.

Feliz aquele cujo socorro é o Deus de Ya’akov, cuja esperança está em ADONAI, seu Deus.
Ele fez o céu e a terra, o mar e todas as coisas nele, e mantém Sua fidelidade para sempre.

Assegura a justiça para o oprimido e dá alimento ao faminto.
ADONAI liberta os prisioneiros.
ADONAI abre os olhos dos cegos.
ADONAI levanta os que estão desfalecidos.
ADONAI ama o justo.
ADONAI protege os estrangeiros e sustenta o órfão e a viúva, mas o caminho do ímpio, ele transtorna.

ADONAI reinará para sempre; seu Deus, Tziyon, por todas as gerações.

Halleluyah! (Bendito sela ELE!)”


domingo, 18 de maio de 2014

CEGO, É QUEM NÃO QUER ENXERGAR.



“Eles chegaram a Beit-Tzaidah. Algumas pessoas lhe trouxeram um cego e imploraram que Yeshua tocasse nele. 23 Tomando o cego pela mão, ele o levou para fora da cidade. Cuspiu em seus olhos, pôs as mãos sobre o homem e lhe perguntou: ‘Você vê algo?’. O homem olhou para cima e disse: ‘Vejo pessoas, mas elas se parecem com árvores em movimento’. 25 Então Jesus colocou as mãos sobre os olhos do homem outra vez. Ele fixou os olhos, e sua visão foi restaurada, podendo enxergar tudo com nitidez. Jesus o mandou para casa com as seguintes palavras: ‘Não vá à cidade’. Marcos 8:22 a 26

Depois do episódio do “fermento”, todos chegaram à “Casa da Provisão” – Beit-Tzaidah – e logo que Jesus desembarcou, as pessoas lhe apresentaram um cego. Queriam que Jesus lhe tocasse para que ficasse curado. Mas ao contrário do desejo popular, Ele arrasta o cego pela mão, o leva para fora da cidade e cospe-lhe na cara. Ou como preferem alguns, nos olhos.

O relato é no mínimo interessante, pois o diálogo é singular e no mínimo estranho. Depois de cuspir na cara de um cego, aparentemente desconhecido, Jesus parece limpar a saliva com a mão e perguntar se ele, o cego, estava vendo algo. Para a surpresa de quem lê o texto, o enfermo visual “enxerga pouco”, “... homens parecendo árvores andando ...”. É estranho perceber que aquele cego sabia o que era uma árvore e o que era uma pessoa andando. Entendo que tudo indica, que ele, o cego, era um pilantra. Sua cegueira era moral, não física.

O termo hebraico usado para o momento que Jesus o “leva” para fora da cidade é “ferir”. Parece que ele foi arrastado com força por Jesus para fora do convívio das pessoas.

Depois de curar o “cego”, Jesus o manda pra casa, e diz para que ele não voltasse para a cidade. Esse fato reforça a ideia de que ele não era realmente cego, e que estava usando a credulidade e a misericórdia das pessoas que por ali passavam, para “ganhar dinheiro ilicitamente”, se fazendo de cego.

Cuspir na cara de alguém, em qualquer tempo, é ato de ofensa, e de desprezo pelo ato cometido pela pessoa que recebeu a cusparada. Acredito que distante de ser um ritual de cura, Jesus estava repreendendo o mentiroso que se fazia de cego. Porém, cheio de Graça e de Sabedoria, o Mestre Supremo, o Conselheiro Maravilhoso não expôs o enganador. Ele o curou de sua enfermidade moral, de sua cegueira moral, ele o fez ver a verdade. “Volte para sua casa, para sua família” disse Jesus.

Quantas vezes estamos diante da verdade, diante do que nos livra do mal, diante da bondade a ser feita, diante do respeito a ser exercido, diante do livramento a ser assumido, mas não enxergamos? Quantas vezes estamos cegos para a verdade, nos escondendo atrás de nossos desejos, de nossas manias, de nossos vícios, de nossas religiosidades, de nós mesmos. Quantas vezes estamos cegos para os caminhos alternativos que se apresentam diante dos nossos olhos, mas não conseguimos enxerga-los porque estamos com o olhar fixo em um determinado ponto, a ponto de nos cegarmos para tudo mais, que está ao nosso redor.

Não voltar para a “cidade”, é não voltar a praticar o que praticávamos antes de olhar e ver a verdade. Pessoas não são árvores, são pessoas. Árvores são árvores e pessoas são pessoas. Não tente enganar ninguém, dizendo pra si mesmo, ou pra seu Salvador que está vendo pessoas como se fossem árvores andando. Não seja tolo. Enxergue a verdade e volte para sua família.

Não pense que sou perfeito, que não tenho cometido pecados, que não tenho me cegado para as verdades bíblicas. Tenho feito isso, mas me sinto incomodado, me perturba a falta de dor que certos comportamentos me proporcionam. Peço todos os dias, muitas vezes em lágrimas, que o Eterno, o Deus de toda a terra, não me cegue, não me torne surdo, não me endureça o coração. Isso seria o meu fim, a maior de todas as tragédias familiares que eu poderia promover.

Nós, cegos morais, emocionais, e intelectuais, precisamos receber todos os dias, cusparadas em nossa cara, para sabermos que Jesus é o salvador, que Ele é quem nos garante uma vida eterna com o Pai Eterno.


Pense nisso. Enxergue. Volte pra casa, não para a cidade.

VEJAM, ESCUTEM E COMPREENDAM: LEVEM SEMPRE O MILAGRE NA VIAGEM.



“Os alunos – discípulos – esqueceram de trazer pães consigo, e no barco havia apenas um pão. Então Jesus lhes disse: ‘Cuidado! Evitem o hametz dos p'rushim – fariseus – e o hametz de Herodes’. Eles pensaram que Jesus lhes dissera isso por não terem pães. Sabendo, porém, o que pensavam, disse-Ihes: ‘Por que vocês estão falando entre si que não têm pães? Ainda não percebem nem compreendem? O coração de vocês está empedernido? Têm olhos, mas não vêem? Têm ouvidos, mas não ouvem? Vocês não se lembram? Quando reparti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de sobras vocês recolheram?’. ‘Doze’, eles responderam. ‘E quando reparti os sete pães para os quatro mil, vocês recolheram quantos cestos cheios de sobras?’. ‘Sete’, responderam. Jesus lhes disse: ‘E vocês ainda não compreendem?’. Marcos 8:14 a 21

“Hametz” não é fermento, é massa já fermentada, matéria já contaminada. É contra isso que Jesus fala com severidade aos seus alunos, novamente em um barco, viajando para o outro lado da existência. Aqueles homens estavam preocupados com o que iriam comer, já que, por desatenção, haviam esquecido os pães do milagre. Com sete cestos cheios de pães e peixes milagrosamente divididos, eles não levaram consigo “umzinho” sequer. Deixaram todo o milagre pra trás. No barco da vida, eles estavam conjecturando entre si, o que comeriam na “viagem”.

Se você parar para pensar no que esta sendo relatado no texto de Marcos, verá que é um contrassenso, comum a todos que põem em primeiro lugar as dificuldades e os desejos, esquecendo dos milagres. Fazer a viagem da vida sem tem na mente os milagres que nos levaram até o ponto em que estamos é perder – ou não ter – a confiança no Deus Eterno e em sua Providência Divina. Ficar preocupado com o que “comer” e o que “vestir” é perder de vista que valemos mais que passarinhos e flores. Manter viva a lembrança dos milagres, na mente e no coração, é tarefa diária.

Quando Jesus repreende seus alunos para não “comerem” do “pão contaminado”, pela massa já fermentada, pelos fariseus, ele estava dizendo que não devemos cair na tentação de “pedir um sinal” para sabermos que somos mais importantes que passarinhos e flores. Ele estava dizendo que não podemos lançar mão da religiosidade insana, não aceitando o estado em que estamos, nem propagarmos em “microfones”, que “não aceitamos esse estado, ó senhor....”. Isso é uma grande tolice e mostra o quanto não conhecemos a Verdade Celestial. Não comer “pão contaminado” pela religião – fariseus – é dizer a todos que o pão que nos alimenta é fruto de milagre.

Quanto ao “pão contaminado” pelo “fermento de Herodes”, tem haver com a segurança que o prazer físico nos proporciona. Se lembrarmos do episódio, em que Herodes é mencionado, no livro de Marcos, veremos que ele, usou do seu poder para presentear a filha de sua amante com a vida de um profeta. Ele, Herodes, desejou possuir sexualmente a jovem Herodias, sua sobrinha, e todo desejo sexual não satisfeito, cega e mata. Foi o que aconteceu. Herodes, contaminado por um desejo sexual incontrolável, e cheio de poder, mandou matar para satisfazer tais desejos.

Jesus alerta a todos que querem lhe seguir que devemos carregar o que nos mata, seja religião, sexo ou poder. Naquele momento o Mestre disse que seus discípulos não poderiam, de maneira nenhuma, “comer” do “pão contaminado” com o poder e com o sexo descontrolado. Simples assim.

Nenhum Filho de Deus pode ser controlado pelo sentimento de poder, nem pelo desejo sexual desenfreado, muito menos por uma religiosidade sem a Verdade. Na caminhada da existência temos de carregar, principalmente os milagres eu nos alimentam. Os problemas, já estão conosco.

Termino esse artigo com um texto do rabino Bonder:

‘Certa vez um homem procurou o Rabino Itschak laakov de Lublin, o vidente de Lublin, suplicando que o ajudasse a se ver livre de pensamentos estranhos que, como intrusos, atrapalhavam sua meditação e oração. Não importa o quanto tentasse ter apenas pensamentos puros e sagrados, era invadido por pensamentos de inveja, ganância, fome e sexo que o distraíam.

‘Sábio, de onde esses pensamentos surgem? Quem os está colocando em minha mente? Que força perversa está tentando atrapalhar minhas orações e enganar meu coração?’

O sábio tomou o homem pelos ombros e ordenou que se tranquilizasse.

‘Não acredito que estes sejam ‘pensamentos estranhos’. Talvez existam algumas poucas almas sagradas para quem pensamentos como os seus sejam estranhos. Mas seus pensamentos nada mais são do que seus pensamentos; nada diferente dos meus e em nada especiais. A quem você deseja atribuir esses pensamentos?’

O Rabino Rami Shapiro faz uma magistral interpretação dessa história:

Imaginamos que exista algo sagrado que seja diferente das coisas ordinárias, mundanas. Fantasiamos que exista uma outra maneira de pensar diferente da que praticamos a todo o momento e que nos eleva para além de nossa vida ordinária. Mas isso não existe; apenas pensamentos mundanos que vão e vêm, surgem e desaparecem a cada momento.

O sagrado não tem a ver com a eliminação de pensamentos e, sim, com a clarificação de visões. Certamente, não tem a ver com a busca de um culpado externo que possamos acusar por nossos pensamentos. Infelizmente, muitas formas religiosas em nosso tempo buscam ‘demônios’ e forças externas para culpá-los por nossos ‘pensamentos estranhos’. Isso não é ir ao encontro do sagrado, muito pelo contrário, é seu oposto. A busca do sagrado se encontra em assumirmos a responsabilidade por quem somos, por nossos atos e nossos pensamentos.

É comum acreditarmos que, se pudermos ‘exorcizar’ certos pensamentos, seremos imediatamente preenchidos pelo sagrado e pela graça divina. Muitas vezes nos comportamos como esse homem da história, que culpa os nossos desejos pelos nossos sofrimentos e fracassos. Mas isso não é real. O desejo é apenas um sentimento como outros que acreditamos ‘puros’, como o amor e a compaixão. O desejo é um sentimento e, como tal, não pode ser controlado. Os sentimentos não podem ser eliminados e muito menos percebidos como ‘estranhos’. É claro que não precisamos fazer dos sentimentos os únicos determinantes de nosso comportamento. Devemos buscar fazer de nossos “valores” os determinantes de nosso comportamento.

O que vemos na história é que o sábio alerta para o fato de que não são os sentimentos que controlamos, mas nossa conduta. Não existe nenhuma forma de pensamento que seja ‘estranha’. Se ele foi pensado, ele é seu. Algo promoveu este pensamento e assumi-lo é sinal de maturidade. Ele revela algo, mas não necessariamente dita o que devemos fazer. Entre o pensamento e a ação, há a decisão, o livre-arbítrio.”

Fronteiras da Inteligência,
Senso de autovalor - Somos melhores e piores do que nos imaginamos.

Pense, medite. Veja, ouça e compreenda. Leve sempre na viagem da existência, os milagres.


Deus abençoe.

domingo, 4 de maio de 2014

NEM SINAL.

“Os p'rushim – fariseus – vieram e começaram a discutir com ele. Queriam que lhes desse um sinal do céu, por desejarem pô-lo à prova. Suspirando profundamente, Yeshua – Jesus – respondeu: ‘Por que esta geração deseja um sinal? Sim! Eu lhes digo, nenhum sinal lhe será dado!’. Logo após, ele os deixou, entrou novamente no barco e partiu para a outra margem do lago.” – Marcos 8:11 a 13.

No episódio imediatamente anterior, Jesus havia dividido poucos pães com uma multidão de mais de quatro mil pessoas. Ao contrário da “outra multiplicação de pães”, nessa, Ele havia provocado o milagre da divisão por entender que não havia realmente comida. Maior sinal que esse? Não era preciso.

Mas a religião e os religiosos não catalogaram e classificaram o que é e o que não é milagre. Para todos os meramente religiosos, alimentar famintos, dividir o pão com quem tem fome não é milagre. Nunca foi e nunca será. Para a religião o milagre seria se os próprios anjos de Deus viessem com cestos de ouro ornados com pedras preciosas e entupidos de maná celeste e servissem somente aos aptos para receber o milagre. Religioso pede sinal porque não enxerga o milagre que está na sua cara, na sua frente, diante de seus olhos. Mas ele, o religioso, não enxerga. Não enxerga porque não vê. Tem o coração endurecido pelo cimento da religião, está empedernido, petrificado.

A religião nos ensina que precisamos por o Eterno à prova, a religião ensina que precisamos duvidar de tudo e de todos; a religião nos ensina que as ações do Espírito Santo devem ser precedidas de algum “toque especial”. Tudo mentira.

A religião provoca em seus seguidores o fanatismo. Rabi Bonder diz que:

O fanatismo e o consumismo são lados de uma mesma moeda (...). A fonte do desejo de poder é o controle. Precisamos de controle para deter a morte. Este é o sonho messiânico de tantas correntes que expressam ignorância espiritual. A espera de que a realidade se resuma um dia às certezas é o desejo mais cruel com que convivemos. (...) O fanatismo e o consumo querem ‘colocar para dentro’ o que é externo, o primeiro pela certeza e o segundo pela posse. (...) O fanatismo privilegia a resposta, até porque se esqueceu da pergunta ou porque deliberadamente quer se ver livre da pergunta. O fanatismo quer por outra via da certeza fazer o que a ciência acalenta como agenda oculta: o controle.” 1

Foi por isso que aqueles religiosos conhecidos por nós como Fariseus pediam um sinal. Eles queriam controlar o milagre. Eles queriam controlar o “fazedor de milagres”.

Nós também agimos assim quando nos prendemos na religião para credenciar nossos milagres. Também queremos que nossas crenças nos conceitos religiosos credenciem os milagres que buscamos receber. Nossa falta de visão espiritual nos impede de enxergar o que está diante dos nossos olhos.

Quantas vezes uma enfermidade é o milagre? Quantas vezes a dor é o milagre? Quantas vezes a ausência é o milagre? Quantas vezes a perda é o milagre? Mas nosso olhar religioso não nos permite ver o MILAGRE quando ele está diante de nós, queremos um sinal, uma mostra de que aquele milagre é certamente um milagre.

Os sinais que se procuram não veem do Céu, nem de Deus, eles são provenientes da intelectualidade, da reles intelectualidade – seja ela em qualquer nível – humana. Queremos entender os mecanismos do milagre e o sinal, é esse mecanismo, que transforma o Divino em humano, o Incontrolável e controlado. O sinal que se procura pode estar na forma de um diploma, de carteira, de um título, de poder, do dinheiro, dos elogios (...).

A NECESSIDADE DE UM SINAL É PRODUTO DA FALTA DE CONFIANÇA EM DEUS. É PRODUTO DO TOTAL DESCONHECIMENTO DE QUEM É O CRIADOR DE TUDO.

Termino este texto reproduzindo trechos do Rebe Bonder:

“Em vez de um processo de vida que oferte gradativamente medos, desconfianças e confusões em altares, seus conceitos se baseiam em banir, suprimir ou exorcizar. O extremo oposto da espiritualidade não é o materialismo ou a ciência, mas o fanatismo. Como o Haf etz Chaim afirmou: ‘Com fé, não há perguntas; sem fé não há respostas.’ Há um paradoxo que, existindo sob tensão, é talvez o mais importante instrumento para lermos a realidade. A perda dessa tensão, no entanto, produz as respostas sem perguntas que a fé do fanático institui, ou as perguntas sem respostas que a ausência de fé da ciência institui. As dúvidas aplicadas às dúvidas geram verdades que são imprescindíveis às respostas, mas produzem também o efeito maligno das certezas.

As certezas, ao contrário das verdades, são um truque. E, como todo truque, não funciona na realidade, apenas aparenta funcionar. Seu funcionamento é simples, como já identificamos. Absorvem-se as respostas e descartam-se as perguntas, destruindo-se as evidências que poderiam questionar essas respostas no futuro. (...).

A resposta sem sua pergunta é fechada e intolerante; é a concretização de uma vontade.

A intolerância é a reação do amedrontado, do desconfiado e do confuso, cuja função maior é ocultar perguntas e essências.

Certa vez, um homem procurou o Rabino de Kotzk e disse-lhe que estava com problemas:
‘As pessoas me chamam de fanático. Por que me atribuem essa enfermidade? Por que não me reconhecem como uma pessoa piedosa?’O rabino respondeu: ‘Um fanático converte questões essenciais em questões marginais e questões marginais em questões essenciais’. (...).” 2

A resposta de Jesus aos fanáticos que pedem um sinal para poder acreditar na verdade foi, é e sempre será, simples direta e objetiva:

“nenhum sinal lhes será dado!”.

Pense nisso.

“O fanatismo consiste no ato de redobrar esforços por conta de se ter esquecido dos objetivos.” 3

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1. Fronteiras da Inteligência, Senso de tolerância. pgs. 116 e 117.
2. Fronteiras da Inteligência, Senso de tolerância. pgs. 117 e 118.

3. George Santayana.

DIVIDINDO O MILAGRE

Terminada a primeira parte do processo de finalização do livro “Minha verdade sobre o dízimo”, estou retomando aos artigos dos estudos do livro de Marcos. Vamos ao texto.

“Durante aqueles dias, outra grande multidão se reuniu, e as pessoas não tinham nada para comer. Yeshua – Jesus – reuniu os alunos – discípulos – e lhes disse: ‘Sinto pena dessas pessoas porque elas têm estado comigo há três dias, e agora não possuem nada para comer. Se eu as mandar de volta para casa com fome, cairão durante o trajeto de volta; algumas delas percorreram uma longa distância’. Os alunos – discípulos – lhe disseram: ‘Como é possível encontrar pães suficientes para saciar a fome das pessoas em um lugar afastado como este?’. ‘Quantos pães vocês têm?’, ele perguntou. A resposta foi: ‘Sete’. Yeshua – Jesus –, então, disse à multidão que se assentasse, pegou os sete pães, disse uma b'rakhah a, partiu-os e os deu aos alunos – discípulos – para servir ao povo. Também possuíam alguns peixes; dizendo outra b'rakhah b por estes, também ordenou que fossem servidos. As pessoas comeram até ficar satisfeitas; os alunos – discípulos – recolheram as sobras — sete cestos cheios. Cerca de quatro mil pessoas estiveram ali. Depois de despedi-las, Yeshua – Jesus – entrou no barco com os alunos – discípulos – e partiu para o distrito de Dammesek – Damasco.” Marcos 8:1 a 10.

Ao contrário da primeira “multiplicação” de pães e peixes, onde Jesus estimulou a divisão dos alimentos, neste episódio, é o Mestre quem identifica que as pessoas “... não possuem nada para comer...”. Reconhecer a diferença entre os dois milagres pode trazer a todos que identificam essa diferença, um conhecimento melhor quanto ao que Jesus está ensinando.

Diferente, porém igual em sua essência, este segundo momento de divisão de alimentos, conta com um tempero especial. O MILAGRE DIVINO!

Esse tempero milagroso é a diferença entre “um” e “outro” milagre de divisão. No primeiro, o milagre foi humano; todos agiram em misericórdia com o outro e dividiram com todos o que tinham. No segundo, existe a ação direta do Santo em consubstanciar fome em comida.

Porém, a didática é a mesma: DIVIDIR COM O PRÓXIMO O QUE SE TEM.

Se temos comida proveniente dos nossos esforços, fruto do nosso trabalho, temos de dividir com quem não tem – ou não quer ter – condições de trabalhar para obter essa comida. Por sua vez, quem recebe de nós esse alimento humano, deve também repartir com outro, o que recebeu de nós. Mas se nosso alimento é proveniente do Santo que nos envia Seu maná, transformando nossa fome em alimento, enchendo miraculosamente nossa despensa com mantimento, também devemos dividir esse milagre com quem não acredita nele. O Milagre só se efetiva em nossa vida quando é dividido, compartilhado, repartido.

Não importa se o milagre é humano ou divino, ele só se materializa em nossa vida como fruto modificador que nos adoça a boca, quando é dividido com quem tem fome. Simples assim.

***
O termo hebraico b'rakhah, que tem sua raiz no termo berekh refere-se ao ato de abençoar com os joelhos, ou “de joelhos”. Mas distante de ser um ritual ridiculamente imaginado como pondo os alimentos debaixo dos joelhos ou na altura dos joelhos, a “benção de joelhos”, está na ORDEM DAS COISAS.

Quando oramos em qualquer posição que não a de “joelhos com o rosto em terra”, nosso intelecto está acima do coração. A leitura para o penitente é: “minha razão primeiro, meu sentimento depois”. Quando nos ajoelhamos, essa ordem se modifica e a leitura passa a ser: “meu coração primeiro, minha razão depois”. É nesta inversão de valores que está a origem do milagre. No texto encontramos “...Sinto pena dessas pessoas...”. Para abençoar precisamos equilibrar e igualar nossas três dimensões humanas, a intelectual, a emocional e a física.

Ao se emocionar com a situação dos famintos, Jesus colocou o coração na mesma altura da cabeça. Ao recitar a bênção sobre os alimentos, ele trouxe a cabeça para o nível do coração. Ao dividir o que possuía ele manifestou fisicamente o milagre.

Pense nisso.
Deus lhe abençoe.

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a, b. b'rakhah – Bênção. A palavra tem origem em berekh (joelho) e apresenta a ligação entre a adoração e o ato de ajoelhar-se. Dizer uma b'rakhah significa abençoar. (Glossário da Bíblia Judaica, editora Vida, 2009).