"Sempre fomos livres nas profundezas de nosso coração, totalmente livres, homens e mulheres.
Fomos escravos no mundo externo, mas homens e mulheres livres em nossa alma e espírito."
Maharal de Praga (1525-1609)

sexta-feira, 17 de março de 2017

EM QUEDA LIVRE, MAS DISTANTE DO “FUNDO DO POÇO”.

Ilustração: Latuff, mentenovacuo.blogspot.com

 Refletindo com mais clareza sobre a atual situação do Estado brasileiro, percebo que não estamos nem perto do “fundo do poço”; estamos sim em queda livre “para o inferno”, mas muito longe do “fundo do poço”. Honestamente, acho que nem chegamos ao “poço”, ao “inferno”, ao estado final dessa viagem desgraçada do sistema político civil.
(...)
LENDO a história BRASILEIRA sem nenhuma paixão partidário-religiosa, me pergunto se AS ATROCIDADES PRATICADAS PELO REGIME MILITAR – QUE ESTAVA EM GUERRA CONTRA A ANARQUIA GENERALIZADA – FORAM PIORES QUE AS COMETIDAS PELO REGIME CIVIL.
(...)
ACHO que os militares mataram menos que “as filas do SUS”; os militares agiram com menos crueldade que os governos civis, nesses poucos “anos de democracia”. PARE E PENSE nos TRILHÕES que foram roubados descaradamente de você, desde o governo Sarney – início dos anos 80, até o atual governo Temer, 2017 – curiosamente, ambos os personagens agremiados do mesmo partido político.
(...)

Não sei me junto aos que desejam a volta do regime militar, ou se me mudo do Brasil – igual a muitos. Não sei se me insurjo – feito andorinha solitária – contra essa ditatura branca que está institucionalizando o roubo e legalizando o assassinato de brasileiro, filhos da Pátria, ou se me junto aos que desejam uma guerra civil contra esses ladrões desgraçados e descarados.

terça-feira, 14 de março de 2017

ALUNOS: DESISTIR DE ALGUNS É PRECISO.

Imagem WEB

Vou tocar em um dos tabus da educação: desistir de alunos problema. Isso é um absurdo, eu diria a alguns anos. Antes de ser ordenado ao ministério pastoral, eu dizia a mesma coisa, “é um absurdo um pastor desistir de uma ovelha”. Depois, no pastorado aprendi algo que mudou minha relação com “minhas ovelhas”, e agora, como professor do Ensino Fundamental, com “meus alunos”. Eu aprendi a desistir.

Você pode estar sentindo raiva ou indignação por estar lendo essa minha afirmação. Uma amiga me disse: “...eu poderia ouvir isso de todos, menos de você...”. Mas é assim. Eu desisto das pessoas. Porém quero apresentar meus motivos para esse comportamento que é aparentemente desumano ou irresponsável, antiético, sei lá...

Desistir faz parte do caminho rumo ao objetivo, o problema é que muitas vezes não sabemos qual é o objetivo a ser conquistado; sequer sabemos onde queremos chegar; sequer sabemos o que queremos para nossos filhos, para nossos alunos, para nossas relações interpessoais. Spencer Johnson escreveu em seu livro “Quem Mexeu no meu Queijo”:

“A vida não é um corredor reto e tranquilo que nós percorremos livres e sem empecilhos, mas um labirinto de passagens, pelas quais nós devemos procurar nosso caminho, perdidos e confusos, de vez em quando presos em um beco sem saída.”
Spencer Johnson, Quem mexeu no meu queijo, p.9, Prefácio de A.J.Cronin

Às vezes me sinto assim, como se estivesse preso “em um beco sem saída”, não apenas como professor – tenho menos de dois anos de magistério – mas também como pastor, como pai, como marido, como pessoa que busca conquistar objetivos. Às vezes me irrito ao ouvir a mesma ladainha: “...calma, é assim mesmo!” ou “...ainda não viu nada!” e frases do gênero. Perdoem-me eu não vivo dessa forma, me acostumando aos problemas, levando-os na cacunda, tratando-os como bichinhos de estimação. Problemas para mim precisam ser eliminado e ponto.

Sei que estou vivendo as inquietações preliminares da carreira de professor; alguns alunos indisciplinados protegidos por um sistema burro que alimenta seus comportamentos delinquentes; outros alunos relapsos protegidos por pais mais relapsos ainda; outros ainda enfermos de alma, adoecidos pelo – já – constante consumo de álcool, drogas e “roque em rol”; como se não bastasse ter que me deparar com cada um desses comportamentos nocivos, ainda tenho de enfrenta-los todos de uma só vez em uma sala superlotada.

PROFESSORES NÃO SÃO BABÁS

Se você é um professor há de concordar comigo, nós realmente não somos babás de alunos, nem dos bons e nem dos maus. Somos professores, a maioria de nós prepara as aulas com espero, gastamos tempo corrigindo trabalhos, elaborando provas e corrigindo-as, esse é nosso ministério. Conheço professores que mantém um rígido controle do aproveitamento de seus alunos em planilhas, diários, anotações e outros expedientes. Mas por vezes, e não são poucas, nossos entusiasmo cai por terra diante do “muro intransponível” do mau comportamento de alguns alunos.

Sendo por natureza um profissional que trabalha focado em objetivos começo a me perguntar: VALE A PENA INSISTIR NESSES ALUNOS?! Hoje, minha resposta é NÃO!! Não vale a pena perder tempo com esses alunos.

E porque não vale a pena perder tempo?! PORQUE EU NÃO POSSO SALVAR TODO MUNDO!! Só são salvos aqueles que querem ser salvos. Nós professores, só salvaremos os alunos que desejarem ser salvos de seu estado de ignorância. Sei que essa discussão pode ganhar linhas mais graves e mergulhos mais profundos, passando por temas transversais e as vezes alheios à sala de aula; Ótimo!

Não podemos mais ficar reclamando no dia do planejamento, ou nos alarmar quando um aluno é preso traficando drogas – fora da escola; mas quem garante que ele já não traficava dentro da escola? Claro que traficava, claro que outros alunos eram e são seus “clientes”. Não quero mais me assustar quando souber de escolas assaltadas pelos próprios alunos, quando souber de escolas que sofreram com o vandalismo próprio dos sociopatas; não quero mais me entristecer com a maldade de determinados alunos que em momentos de sandice viram o prato de comida na mesa do refeitório como se fossem os donos do mundo. Quando eu era aluno, teria levado umas boas palmadas da supervisora e uma surra quando chegasse em casa.

Já disse em um texto que as escolas públicas estaduais e municipais estão desprovidas de profissionais e ferramentas adequadas para esse enfrentamento. E mesmo que tivéssemos, profissionais e ferramentas, ainda assim, seria preciso desistir de insistir com alguns alunos.

SÃO ELES QUEM DECIDEM

No tratamento de drogaditos a liberdade é fator primordial para a recuperação. Se o viciado não quiser deixar as drogas, não deixará; se decidir deixa-las, há um corpo de profissionais, ferramentas e ambientes apropriados para ajuda-lo, mas todo o trabalho é dele. Creio que com os alunos deve ser assim também. Nós somos os facilitadores do aprendizado, eles é que precisam fazer o esforço para aprender. Mas o que tem acontecido é que nós temos nos tornado “neurocirurgiões” do ensino, praticamente pedimos “pelo amor de Deus” que eles escutem o que temos à dizer em sala, temos que “implorar” para ficarem em silêncio enquanto fazemos a chamada; depois disso entramos em rota de colisão com eles quando começamos a explanar a matéria propriamente dita – ainda bem, que essa agonia não passa dos 45 minutos, em média.

Égua, isso parece roteiro de filme de terror!

Mas não reclamo, acho excitante enfrentar o desafio de “abrir a porta” da mente dessas crianças – das interessadas, e semear novos conceitos, fomentar em seus sentimentos novos desafios, apresentar-lhes um novo horizonte. Minha questão é com aqueles que atrapalham todo o processo de aprendizado dos demais. Em uma turma de 48, oito estão “frutas podres”. Não estou sendo cruel ao afirmar que estão “frutas podres”, é como estão! Não estou dizendo que sejam uns “perdidos para sempre”, não! Mas no momento presente estão “podres”, são um empecilho para o aprendizado dos demais alunos, esses oito consomem nossas energias, mais que os demais 40 restantes. É duro dizer isso, mas é necessário. Sei que você que é professor concorda comigo.

Nós não temos como resolver esse problema, não há como mudarmos o comportamentos desses alunos, não existe nenhum mecanismo externo a eles que seja capaz de fazer com que mudem. Só eles mesmos podem mudar; só eles são capazes de se transformar. Mas, infelizmente a maioria não quer. Aí vem a pergunta que nunca cala: O QUE FAZER COM ELES?! Continuar insistindo, crendo no axioma “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”? Ou ser pragmático, desistir desses e investir tempo, esforço, intelecto e recursos naqueles que irão mudar o futuro?

Eu fico com a segunda opção. Eu desisto daqueles que não querem ser ajudados para focar meus esforços naqueles que querem escrever uma história diferente.

Conjecturo que você pode estar questionando minha qualidade enquanto pastor – e professor – ao ler essa afirmação. Sinto muito.

Para minhas turmas de 9º ano, tenho trabalhado a questão da temporalidade sagrada, de forma não convencional. O tradicional da temporalidade sagrada prende-se aos rituais festivos e religiosos, onde o tempo sagrado se estabelece pela obediência aos diversos calendários religiosos. Tenho ensinado aos alunos que o Tempo Sagrado é na verdade o tempo que se move, que evolui, que avança, que muda, que não para. Tenho provocado neles a mudança de paradigma, tenho estimulado o “nascer de novo”, quero que eles tenham coragem de tornarem-se sagrados acompanhando o tempo que é sagrado por continuar modificando-se. Sagrado é mudar-se, é evoluir-se, é modificar-se, é reinventar-se.

Evoco novamente Spencer Johnson e seus ratinhos:

“As velhas crenças não o levam ao novo queijo.”
Spencer Johnson, Quem mexeu no meu queijo, p.67

Então o que devemos fazer com aqueles alunos – a minoria dentro do todo – que não quer nada-com-nada? Qual deve ser nossa atitude para com esses alunos que nos têm esgotado as forças e por vezes nos desestimulados e, em casos mais graves nos transformados em profissionais ranzinzas, escuros, alheios as desgraças (...)? Tentando iluminar as mentes, chamo para o “baile”, Seth Godin e seu livro “O melhor do mundo”.

“É mais fácil ser medíocre do que enfrentar a realidade e desistir.
Desistir é difícil. Desistir exige que você reconheça que jamais será o número 1. Pelo menos não na sua área de atuação. Então é muito mais fácil continuar, não admitir suas limitações e aceitar a mediocridade.
Que desperdício.”
Seth Godin, O melhor do Mundo, pg.38

NÃO DESISTIR REVELA UM POSSÍVEL COMPLEXO DE MESSIAS

A psicóloga Raquel Baldo – CRP 79518/SP – define o complexo de messias da seguinte forma:

“...trata-se de um estado psicológico onde a pessoa acredita que é ou será uma figura de extrema importância para o meio que vive ou mesmo para o mundo. É também muito comum se nomearem salvadores, pois sentem que são indivíduos enviados ou escolhidos por uma força maior ou por Deus para uma ou mais missões para com o mundo. E pelo fato de que no geral suas missões carregam uma forte característica religiosa, é muito comum que estas pessoas encontrem conforto nas ideias, reforço nas atitudes e até apoio ou seguidores nos meios que vivem mais intensamente uma religião, seja ela qual for. Mas vale ressaltar logo de início que este complexo não está relacionado ou mesmo é causado pela religiosidade ou por uma religião.”

Resolvi reproduzir a definição de Raquel sobre essa síndrome, por entender que a maioria de nós, professores, sofre dela em relação aos alunos problema. Via de regra, não queremos desistir deles, mesmo adoecendo por causa deles, pois achamos que insistindo na tentativa de recupera-los estaremos agindo como salvadores de suas vidas – e também do nosso ofício; mas na verdade, esse comportamento “salvador” mostra o quanto a angustia de não conseguirmos dar “uma aula que preste” pela presença desses alunos em sala já nos afetou. Agimos como em um “cabo-de-guerra”, eles puxam para um lado e nós puxamos para o outro; eles gritam que desistiram de si mesmo e nós dizemos que não desistiremos deles. Que doidice.

Se você for um religiosos, imagino que possa estar passando por sua cabeça a parábola da “ovelha perdida”, contado por Jesus a um grupo de religiosos racistas e preconceituosos. O episódio está registrado no Evangelho de Lucas:

“E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E ele lhes propôs esta parábola, dizendo:
Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; e, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida.
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.”
Lucas 15:1ss

Se você não souber ler, vai achar – acredito que pensa assim – que Jesus disse para nunca desistirmos dos “desgarrados”, mas o Messias nunca disse isso. Ele revelou o comportamento preconceituoso e sectário dos religiosos, com uma fábula. Observe que Jesus identifica-os usando “que homem dentre vós”, ou seja, “qual de você”; e mais, o mestre faz uma provocação em seguida. Ele questiona a capacidade de arrependimento dos religiosos. Na fábula contada por Jesus, o “pastor”, só parte em busca da “ovelha desgarrada”, depois que as demais estavam em lugar seguro; porém esse relato é apenas uma fábula, a moral da historieta contada por Jesus é que os religiosos, que também estavam representados pela “ovelha perdida”, precisavam de arrependimento, caso não se arrependessem de seu comportamento sectário, comparavam-se às 99 ovelhas que não precisavam de arrependimento.

Mesmo entendendo que o possível argumento bíblico levantado por você para insistir na recuperação dos alunos problema mostra a manifestação do complexo de messias, resolvi usá-lo para demostrar o erro na interpretação do texto. Perceba que o fato principal da fábula está centrado do arrependimento do infrator. Aplicando à realidade apresentada, o possível arrependimento do aluno problema e seu retorno ao convívio construtivo da escola, será recebido com “alegria no céu” por todo o corpo docente da Escola.

Ainda no viés bíblico, devo mencionar que Jesus nunca insistiu em nenhum de seus seguidores. Lembremos de Judas que mesmo convivendo por três anos com o Mestre, era um “aluno problema”, tão problema que não aprendeu nenhuma aula. O resultado prático desse fato, todos já conhecem.

Outro fato interessante ocorreu anos antes, na cidade em que Jesus morava, Cafarnaum. Voltando para sua casa, sua cidade, sua família, poucas pessoas creram em seu ensino e menos ainda foram curadas de suas enfermidades (Marcos 6:4 a 6). No texto de Marcos, depois de ver a incredulidade das pessoas, Jesus não insistiu com elas, desistiu delas e seguiu para outra cidade. Devo lembrar, que algumas daquelas pessoas que foram “abandonadas” por Jesus, faziam parte de sua família.

ELES SÃO OS DONOS DO TERRITÓRIO

Uma das situações que percebo no trato com esses alunos problema, é que eles nos chamam para o “território” deles. Nele, eles são os reis, o centro das atenções, tudo gira em torno deles; seu poder sobre o sistema escolar é tanto, que tudo para por causa deles, todos olham para suas loucuras, alguns até admiram suas bravatas. Nós, assistimos tudo amarrados e amordaçados por uma legislação que protege delinquentes. Desistir desses sociopatas infantis é necessário. Mas como?

Não sei. Mas é necessário.

Quando confrontamos um aluno problema, ele não nos segue, nós o seguimos; ele não vai até nosso “território”, nós é que vamos ao “território” dele e lá, ele é quem manda. Onde é esse “território”? Em sua mente, em seu universo, em seus argumentos. Eles nunca aceitam nossos argumentos, nunca entram em nosso universo, nunca entendem o que falamos. Fazem pouco de nós e das nossas tentativas em recupera-los.

Precisamos limpar as escolas dessas pessoas nocivas ao convívio sócio educativo, precisamos ter a coragem de desistir; mesmo que criemos um lugar para sejam tratados de forma diferenciada – porque são diferentes –, por pessoas preparadas. Desistimos deles no convívio geral e insistimos de outra forma (...), será que daria certo? Não sei.

Temos que ter a coragem de desistir e mais ainda, deixar isso claro a eles, sem agredi-los com palavras; eles precisam saber que desistimos.

Termino esta reflexão com uma frase do mestre Saramago:

“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”
José Saramago


Então, que sigam seu caminho, que eu sigo o meu. Não tentarei convencê-los de nada, não tentarei coloniza-los de nada. Acho que será assim.

domingo, 12 de março de 2017

MULHERES: SERES HUMANOS, FEITAS DE OSSO.

Foto: Anatolia Vertadella, mulher italiana de 101 anos, deu á luz um bebe. "Estou muito grata com toda a equipa de médicos que decidiram continuar com a operação”, ela admitiu em lágrimas. “Estou muito grata por ter dado à luz o meu 17ªfilho. Esta é uma verdadeira bênção e um testamento ao poder do criador".

Para a mulher se tornar igual ao homem ela tem antes que se tornar inferior.


No texto bíblico do Gênesis, há o relato que cita a criação da humanidade promovida pelo Ser Divino, com base em Si mesmo (Gênesis 1:26 e 27), em minha opinião, um dos textos mais reveladores sobre a natureza dos seres humanos. Outros textos não menos reveladores chamam a atenção do leitor atento quanto ao tema; o primeiro revela que a matéria prima usada para a formação da humanidade foi o humo e não a areia ou terra como se entende. O “pó da terra” referido no texto sagrado é o humo – uma argila gosmenta e orgânica, a matéria morta mas que torna a viver na existência de outros seres vivos, espécies da flora e da fauna. A forma mais primitiva da vida eterna;

“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Gênesis 2:7

Outro texto que revela a competência do Ente Criador mostra Sua percepção do estado de solidão intrínseco da humanidade. A espécie humana quando ensimesmada torna-se brutalmente egoísta, autossuficiente e mortalmente solitária. Para resolver esse grave problema, o Supremo Criador separou o ser humano de si mesmo, arrancou-o dele mesmo, tirou-o de si mesmo. Diz o texto:

“E disse o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” Gênesis 2:18

O que antes fora feito “homem e mulher”, passaria a ser apenas “homem” e apenas “mulher”.

A odisseia Divina continua com a narrativa dessa cirurgia “psico-físico-afetiva”; até aquele momento o texto sugeria que a mulher e o homem estavam juntos em um só ser (1:27), mas profundamente solitários em si mesmos; juntos no mesmo corpo sem pertencerem um ao outro, juntos no mesmo corpo, sem tocarem um no outro, juntos no mesmo corpo, precisando um do outro mas sem se possuírem. Mas a Sabedoria Celeste em um ato Divinamente cirúrgico tirou “do homem “a “sua mulher”; deixou-a fora dele para que nos momentos de solidão “psico-físico-afetiva” eles se reencontrassem e se entranhassem novamente (...).

“Então o SENHOR Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Gênesis 2:21 a 24”

Me fascina a riqueza do texto bíblico no relato da “formação” da Mulher. Ambos, Ela e o Homem vieram da mesma matéria prima, o humos, mas só ela foi formada com a rigidez viva do osso. Há no texto sagrado, algumas revelações no tocante ao elemento escolhido pelo Criador para dar forma externa à outra metade do homem, sua costela.

Numa tosca abordagem anatomicamente, o ser humano possui 12 pares de costelas assim classificadas: sete pares de costelas verdadeiras, que se articulam diretamente com o esterno – ligam a coluna vertebral ao esterno; três pares de costelas falsas, por se articularem com o esterno por meio de cartilagens – da mesma forma que as verdadeiras, mas com auxilio de cartilagens; e dois pares de costelas flutuantes, que são costelas livres, não conectadas ao esterno, somente presas à coluna vertebral. As costelas também são os únicos ossos no corpo humano que são naturalmente curvos, eles fazem um arco quase que completo para proteger o coração e os pulmões, nenhum outro osso do corpo, possui tais características. As costelas são flexíveis e rígidas ao mesmo tempo, elas se “contraem” e se “expandem” para garantir o mecanismo da respiração; qualidades que devem-se ao seu formato de arco. Apenas o conjunto de ossos do ouvido se assemelham com as costelas – e por um motivo extraordinário.

Conhecer um pouquinho da anatomia dessa parte do corpo tão especial me deixa em certo ponto, extasiado, com a simbologia bíblica quanto ao relato da “formação” da Mulher. Quero listar sem hierarquizar – para não anarquizar (risos) – o que percebo no relato bíblico.

1) A Mulher foi CRIADA JUNTO com o Homem e não depois dele, como entendem alguns (Gêneses 1:27);

2) A Mulher foi retirada do Homem para que ele necessitasse preencher o vazio de si mesmo, causado pela ausência da mulher dentro de si (Gênesis 2:18);

3) A Mulher foi feita com a parte mais rígida e ao mesmo tempo flexível do corpo humano – a costela (Gênesis 2:21) – seria a “cartilagem” dos cinco pares de “costelas falsas” a “carne” que o Criador enxertou no “esqueleto” humano?

4) A Mulher foi criada da parte óssea que liga a coluna vertebral, centro nervoso do corpo, ao esterno, o osso que protege diretamente o coração – como se numa menção de que a proteção do ser amado originário passa obrigatoriamente pelo sistema nervoso, ação, emoção e razão, tudo em “um só osso”;

5) A retirada da Mulher de dentro do Homem, o deixou “livre de si” e “livre para si” – afirmação que entendo plausível pela existência de um par de “costelas flutuantes”, que aparentemente não possuem objetivo anatômico ou biológico, mas sim, uma grande simbologia espiritual – somos seres incompletos, só nos completamos quando nos entranhamos novamente, homens e mulheres formando o “corpo” perfeito.
(...)
Não há como negar a superioridade feminina. as Mulheres são mais fortes emocionalmente que os Homens – suportam melhor o sofrimento; as Mulheres são mais capazes que os Homens – conseguem realizar várias tarefas ao mesmo tempo; As mulheres suportam mais a dor que os Homens – nós machões não teríamos capacidade de suportar bacia dilatando centímetro a centímetro, ou ter seu abdome aberto para a retirada do rebento tão esperado, e em ambos os casos, chorar de alegria ao amamentar pela primeira vez. Somos uns fracotes; As Fêmeas são os únicos seres no mundo capazes de geram em si mesmas uma outra vida – capacidade que não foi dada aos Homens, nós só “plantamos as sementes” e acreditamos que somos “os caras”, porém, machões, acreditem AS MULHERES NÃO PRECISAM DE NÓS NEM PARA GERAR FILHOS!! (Não cabe falar do assunto agora, mas se estiveres interessado pesquisa.)

A Mulher é perfeita em si mesma, e isso pode ser facilmente identificado quando lemos as definições e explicações do que são o ossos:

“O osso é um tecido vivo, complexo e dinâmico. Uma forma sólida de tecido conjuntivo, altamente especializado que forma a maior parte do esqueleto e é o principal tecido de apoio do corpo. O tecido ósseo participa de um contínuo processo de remodelamento dinâmico, produzindo osso novo e degradando osso velho. O osso é formado por vários tecidos diferentes: tecido ósseo, cartilaginoso, conjuntivo denso, epitelial, adiposo, nervoso e vários tecidos formadores de sangue.”

Um ser completo em si, perfeito em si, mas profundamente dependente de si, de sua outra metade – os homens.

O Homem foi criado de humos, uma matéria morta que tornou-se viva pelas mãos do Criador, basicamente apenas “um monte de terra” mole, que sem o sustento dos ossos fica totalmente disforme. A Mulher, por sua vez é o “osso” que sustenta e dá forma a essa “terra mole e disforme”; as alusões são muitas ao “mole e disforme”.

Sem as Mulheres não somos homens sexuais, nos tornamos homossexuais; sem as Mulheres não possuímos virilidade, temos ereções; sem as Mulheres não desejamos, temos tesão; sem as Mulheres não somos maridos, nos tornamos machos; sem as Mulheres não somos pais, nos tornamos fazedores de filhos; sem as Mulheres não há prazer, só orgasmo; sem as Mulheres não há vida, só a ausência dela.

O mundo precisa da feminilidade da Mulher, precisa da sua leveza, necessita da sua brandura; nossa existência depende da flexibilidade da “costela de Adão”, senão, ficaremos “sem ar”. Precisamos de mulheres de verdade e não de arremedos.

Penso que a maior armadilha à superioridade da Mulher é o infame “conceito de igualdade”. Isso nunca acontecerá! Nunca a mulher será igual ao homem, nunca! Essa política da igualdade quer na verdade REDUZIR O VALOR DA MULHER, quer torna-la medíocre, menor, inferior, pequena, limitada, musculosa, masculina (...). QUANDO UMA MULHER ACEITA SER IGUAL AO HOMEM ELA ESTA ACEITANDO DESCER DA SUA ALTURA, PARA SE IGUALAR AO SER MACHO, INFERIOR A ELA.

Não sei se consegui escrever tudo do respeito que tenho hoje pelas Mulheres, mas tentei dizer o quanto Elas são fundamentais na formação da humanidade. Um mundo menos feminino, se torna mais efeminado e um mundo mais efeminado, se torna mais masculino. Um mundo mais masculino é um inferno!

Mulheres, perdoem-me o atraso na mensagem em homenagem ao “seu dia”. Mas, que seja. FELIZ DIAS DA MULHER.

DEUS SEJA COM TODOS.

COM AS MULHERES, AS MÃES DA VIDA E COM OS HOMENS, OS FILHOS “DA MÃE”.

terça-feira, 7 de março de 2017

UNIFORME É LEGAL, NECESSÁRIO E ELIMINA O OLHAR DA DESIGUALDADE SOCIAL.

Imagem da WEB

 A celeuma criada devido a obrigatoriedade do uso do uniforme escolar por todos os alunos das escolas públicas aqui em Itacoatiara, sejam eles hipossuficientes ou autossuficientes, tem seguido até agora e me parece ganhado vulto. Acho isso bom, pois mostra que não há unanimidade quanto ao entendimento do tema. Acho ótimo, pois para mim a unanimidade não é muito inteligente, nem visionária; é cega e burra.

Ontem postei um longo texto expondo minha opinião sobre o caso específico das reclamações quanto a obrigatoriedade do uniforme escolar para a assistência às aulas; para alguns leitores foi explicativo, para outros nem tanto (...). Durante todo o dia de ontem, 5 de março, pesquisei sobre o tema, baixei e li algumas monografias, artigos e algumas leis que tratam do assunto, todo esse esforço com o objetivo de alcançar o conhecimento necessário para discutir – caso ainda seja preciso – e defender minha opinião favorável à obrigatoriedade do uso do uniforme, com quem for necessário, claro, dentro da civilidade, cordialidade e respeito.

Nesta nova postagem ainda sobre a questão da obrigatoriedade do uso do uniforme escolar, quero abordar algumas questões que entendo, serem de suma importância para a formação de um entendimento menos politiqueiro e mais sensato, coerente. Vou discorre um pouquinho sobre a história do uniforme escolar no Brasil e a questão dos hipossuficientes, um estado social que aparentemente só cresce.

BREVE HISTÓRIA DO UNIFORME ESCOLAR

Diz-se de forma leviana, penso eu, que o uniforme escolar tem a ver com o regime militar; numa tentativa torpe de desmerecer a vestimenta, ligando-a às forças armadas do País. Essa vinculação descabida, deve-se à mágoa originada da lembrança do momento vivido durante a ditadura militar que em muito foi opressor das liberdades; mas, não é possível negar que deixou dividendos positivos para o Brasil, perdoem-me os discordantes. Porém, a instituição do uso do uniforme nas escolas vem de muito antes desse fatídico e marcante fato da história brasileira.

Segundo Kerin Costa, em monografia quando da defesa para a obtenção do título de Especialista em Educação, “... em se referindo ao âmbito do cenário brasileiro, podemos nos valer de alguns aspectos históricos dos uniformes no século XX, principalmente levando em consideração o posicionamento de Schemes e Thön (2010, p. 05), que apresentam detalhes específicos e descrevem que o uniforme foi instituído pela primeira vez na capital do Império, no Colégio Pedro II, em 1850, uniforme este que mais parecia um fardamento militar. A partir de então, algumas escolas começaram a fazer uso de uniformes, visando alcançar uma forma de padronizar a roupa dos alunos, identificando-os com as instituições de ensino, as quais estavam vinculadas, procurando garantir a segurança e a disciplina, além de possibilitar tratamento igual para todos.
Já, em conformidade com o posicionamento de Marcon (2010, p.17), no Brasil, os uniformes escolares passaram a ser utilizados entre 1800 e 1900, com o advento da Escola Normal, em Niterói – RJ.
Por volta de 1920, ocorreu no Brasil o movimento da Escola Nova, o qual apoiava a universalização da escola pública, laica e gratuita. Foi uma época em que grupos menos privilegiados passaram a freqüentar as escolas. Com isto a uniformização destes novos alunos passou a ser de muita relevância. O movimento da Escola Nova teve grande importância na história da pedagogia e, segundo Aranha (2006, p. 4), evidenciou a conscientização da diferença entre a educação e as exigências do desenvolvimento. Fortalecendo a necessidade do uso do uniforme com a finalidade de tornar todos os estudantes semelhantes, pelo menos na aparência, evitando a diferenciação perante o grupo e a sociedade.”

Como se pode observar, a implementação do uniforme escolar, teve por objetivo proteger os hipossuficientes que estavam naquele momento, ganhando a possibilidade de estudar ao lado dos autossuficientes. Mais adiante, Costa informa que:

“A crise econômica de 1929 e, paralelamente, o fim de uma época liberal, impulsionou o governo a publicar a brochura denominada “Uniformes Escolares – Districto Federal”, o qual tinha como principal preocupação descrever como deveriam ser os uniformes das escolas públicas, apesar de que ainda não os tornava obrigatórios, porém foi o que aconteceu na década seguinte (LONZA, 2005, p. 19).
Conforme afirma Piletti (1997, p. 40), o Brasil teve um considerável avanço na área educacional na chamada “era Vargas” (1930-1945), período em que o novo governo priorizou a educação como instrumento de reconstrução nacional, procurando democratiza cada vez mais o ensino.
Foi isso que aconteceu; o governo Vargas trouxe a democratização do ensino e tornou obrigatório o uso de uniformes escolares no Brasil. Isto fez com que todos (meninos, meninas, ricos, pobres) passassem a fazer parte de uma coletividade, apesar das divergências entre um indivíduo e outro. A democratização levou os estudantes à homogeneização, ou seja, não era mais possível distinguir se cada jovem ou criança pertencia a um determinado grupo social, segundo Silva (2006, p. 16).
Há de se levar em conta o posicionamento de Lonza (2005, p. 04-05), o qual reforça o entendimento de que o uniforme realça uma nova noção de igualdade e identidade, fazendo com que os adultos e educadores percebessem os alunos de uma forma diferente, não ligada à hierarquia sócio-cultural e obrigando-os a ver os indivíduos numa coletividade.”

Faz-se clara, então, que a verdadeira intenção para uso do uniforme nas escolas pública do País não é – e nunca foi – “militarizar” a escola ou tornar os alunos “uni-formes”, dar-lhes uma única forma, como querem alguns, mas, tornar equânime a relação social. Quando um aluno está devidamente uniformizado, ele está protegido, do olhar desigual de qualquer pessoa na sociedade; quando uniformizado, esse aluno não é nem autossuficiente, nem hipossuficiente, ele é ALUNO. E isso basta.

O monógrafo finda assim sua obra:

“O uniforme escolar tem um significado de identificador de grupos e símbolo e das escolas. Algumas vezes podem mostrar o “poder” da escola junto à sociedade, nelas os alunos tem melhor condição financeira e vestem um fardamento mais caro, mais belo, como um troféu.
A utilização do uniforme no Brasil iniciou com o objetivo de identificar alunos de acordo com as suas instituições escolares, garantindo segurança e disciplina, além de contribuir para que todos fossem tratados como membros de uma só instituição.
A relação existente entre uniformes escolares, suas descrições e análises remetem os uniformes como elemento identificador de uma categoria social. O uso deste sempre se deu não exclusivamente para a identificação do aluno, mas também para a sua segurança, seu conforto físico e moral, levando-o para um ar de igualdade para com os educadores, os colegas e à sociedade.
Tanto a moda, como a economia, a política e a educação influenciaram (e influenciam) as transformações destas vestimentas escolares, o que se comprova, principalmente, em períodos de guerras e ditadura no país.
Dessa maneira não há a possibilidade de dúvidas, pois este enfoque pressupõe a existência de múltiplas possibilidades de identificações e, portanto, diferentes construções de identidade, pois os grupos são formados a partir de pontos comuns e distintos ao mesmo tempo.”
KERIN COSTA. QUANDO O UNIFORME ESCOLAR NÃO É O LIMITE. POSSIBILIDADES DE PERTENCIMENTO E DE TRANSFORMAÇÕES, MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO - MEDIANEIRA - 2014

SÃO OU NÃO, HIPOSSUFICIENTES?

Talvez você tenha estranhado o fato de estar usando o termo “hipossuficiente” evitando assim usar o termo “pobre” para me referir às pessoas que alegam não poder adquirir as peças do uniforme escolar. Prefiro o primeiro termo por entender que há uma confusão de conceitos no tocante aos significados dados às pessoas com nenhum ou com pouco poder aquisitivo. Para seguir com este texto, apresento adiante, alguns significados que julgo importantes, extraída do site: significados.com.br.

Vulnerável – algo ou alguém que está suscetível a ser ferido, ofendido ou tocado. Vulnerável significa uma pessoa frágil e incapaz de algum ato. O termo é geralmente atribuído a mulheres, crianças e idosos, que possuem maior fragilidade perante outros grupos da sociedade.
Na sociedade, um indivíduo vulnerável é aquele que possui condições sociais, culturais, políticas, étnicas, econômicas, educacionais e de saúde diferente de outras pessoas, o que resulta em uma situação desigual.”

Pobre – desprovido ou mal provido do necessário; estéril, que produz pouco; desgraçado, que inspira piedade; pessoa que vive em estado de necessidade.”

Miserável – aquele que carece de recursos, que vive em extrema pobreza; que é digno de piedade, lastimável, miserando; ínfimo, demasiadamente baixo: salário miserável; malvado, perverso; pessoa infeliz, desgraçada; indigente; pessoa infame; pessoa avarenta, sovina, somítica.”

Hipossuficiente – diz-se de pessoa que é economicamente muito humilde; que não é autossuficiente.”

(...)
O Brasil, possui pouco mais de 20 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. Segundo definição do Wikipedia, “Linha de pobreza é o termo utilizado para descrever o nível de renda anual com o qual uma pessoa ou uma família não possui condições de obter todos os recursos necessários para viver. A linha de pobreza é, geralmente, medida em termos per capita (expressão latina que significa "por cabeça") e diversos órgãos, sejam eles nacionais ou internacionais, estabelecem índices de linha de pobreza.”

Em 2003, o Governo Federal criou um programa de socorro imediato às pessoas e famílias que viviam abaixo da linha de pobreza ou em pobreza extrema. Em sitio na internet, pertencente ao Governo Federal encontra-se a seguinte explicação para o PBF:

“O Programa Bolsa Família também é um programa criado pelo Governo Federal destinado exclusivamente para famílias em estado de pobreza ou extrema pobreza. Como o objetivo principal do Bolsa Família é melhorar as condições de vida e suprir as necessidades básicas das famílias brasileiras em estados de pobreza ou extrema pobreza, o programa oferece a essas famílias acesso a serviços sociais básicos e além disso, tem um vínculo com outros programas sociais do Governo Federal para melhor atender a essas famílias. O Bolsa Escola, atualmente, é um desses programas sociais vinculados ao Bolsa Família.


Esclarece ainda mais site:

“Para conseguir acesso ao Bolsa Família 2017 é necessário que a família comprove situação de extrema pobreza. Famílias em que a média de renda entre todos os membros da família não ultrapasse os R$170,00 mensais tem direito. Caso a renda mensal da família ainda seja inferior a R$ 85,00 por pessoa, a família poderá receber um auxílio extra, para ajudar a superar a pobreza.

Além disso, é necessário comprovar que as crianças estão estudando, no período apropriado e se estão com a carteira de vacinação em dia. Esses dois critérios são mandatários para que o benefício continue sendo pago, caso uma família não cumpra alguma dessas obrigações, o benefício é cortado até que a situação seja regularizada.
(...)
Um primeiro valor pago é o rendimento de R$ 85,00 para famílias que tenha renda mensal inferior a R$ 85,00 por pessoa. Esse benefício serve para ajudar aquelas famílias que se encontram em situação de pobreza extrema.

Outra variável no valor do benefício é o número de filhos de 0 a 15 matriculados na escola – a cada filho cadastrado, a família recebe um auxílio de R$ 39,00, sendo possível cadastrar no programa até 5 filhos ou dependentes.

Além disso, as famílias recebem mais R$ 46,00 por cada adolescente entre 16 e 17 que esteja em dia com os estudos. Nesse caso, é permitido cadastrar até 2 jovens no programa para receber o auxílio.”

É notório o fato, que em todas as pesquisas feitas as regiões Norte e Nordeste são as que mais possuem pessoas em estado de hipossuficiência, ou seja nessas Regiões do País se encontra o maior número de brasileiros sem condições de autossuficiência; nessas Regiões, os recursos financeiros provenientes do Programa Bolsa Família são uma fonte de renda quase que única.

Itacoatiara faz parte desse cenário de dependência financeira do Governo Federal. Em 2016, o PBF pagou para 12.196 (doze mil, cento e noventa e seis) famílias itacoatiarenses, um total de R$ 25.797.008,00 (vinte e cinco milhões, setecentos e noventa e sete mil e oito reais), em repasses feitos de janeiro a dezembro.

Já em 2017, o número de famílias itacoatiarenses que receberam o benefício do Governo Federal já é de 10.703 famílias, num total de R$ 2.253.172,00 (dois milhões, duzentos e cinquenta e três mim, cento e setenta e dois reais), valores referentes ao mês de janeiro; se os valores se repetirem até dezembro, Itacoatiara receberá mais de R$ 27 milhões.

O investimento feito pelo Governo Federal no município de Itacoatiara – como em todos os municípios do Brasil – por meio do PBF, tem o objetivo de minimizar as diferenças sociais, condicionando o pagamento do benefício, na obrigatoriedade das famílias manterem seus filhos – crianças e adolescentes – estudando.

Confesso que não possuo conhecimento suficiente para discorrer sobre os índices de pobreza do País, mesmo tendo obtido acesso às informações pertinentes. Porém, mesmo assim, quero deixar registrado minha percepção quanto ao que chamo de “política do pires na mão”.

O PBF veio, sem sombra de dúvidas, ajudar às famílias com renda igual ou inferior a R$ 85,00 (oitenta e cinco reais), garantindo-lhes um mínimo de segurança financeira. Mas essa ajuda não foi feita para ser duradoura, ela está condicionada e é finita. Pergunto: será que as duas mil famílias que não estão recebendo o benefício em Itacoatiara conseguiram sair do estado de pobreza em que se encontravam ou foram retiradas do programa por alguma irregularidade? Outro fato importante a ser observado é que todo valor recebido por essas famílias é investido no mercado local, na compra de mantimentos, vestimentas e outros; em sendo assim, no ano de 2016, houve um investimento superior aos 25 milhões de reais no comércio local.

Em uma visita não detalhada ao Portal da Transparência do Governo Federal, pude perceber que os valores pagos às famílias itacoatiarenses no ano de 2016 variam de R$ 78,00 reais até mais de R$ 5.000 reais. Claro que esses valores são cifras anuais, em cada mês as famílias receberam uma fração desse valor. Mas, nos casos daqueles que receberam mais de R$ 3.000 por ano, R$ 300,00 no mínimo foram garantidos para que a família fosse mantida minimamente.
(...)
A questão que não quer calar é: AS FAMÍLIAS QUE ALEGARAM NÃO POSSUIR CONDIÇÕES PARA ADQUIRIR O FARDAMENTO ESCOLAR RECEBEM OS BENEFÍCIOS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA?

Se a resposta for afirmativa, esses já podem ser declarados hipossuficientes, e o Estado teria a obrigação de providenciar gratuitamente o fardamento escolar, ou permitir que assistam às aulas sem o uniforme. Porém devo lembrar que, nesse caso, a ausência do uniforme exporia tais alunos ao constrangimento notório de sua hipossuficiência, o que é proibido por lei.

Se a resposta for negativa, se a família de tais alunos não estiver entre os beneficiados pelo PBF, presume-se que não estariam em estado de pobreza, podendo então adquirir as peças do uniforme escolar.

Garantir aos hipossuficientes garantias e regalias extras, direitos a mais e deveres de menos, alimenta, em meu entendimento, (...), providenciando um crescimento desordenado e avassalador, alimentando a ilusão de serem melhores cidadãos que todo os demais, apenas por serem pobres.

Dar aos hipossuficientes brasileiros as mesmas garantias de acesso que aos autossuficientes é atuar com equidade; mas dar-lhes mais garantias e menos obrigações, provoca rasgos irremendáveis no pano social. Infelizmente, é isso que parece estar ocorrendo no Brasil.

Finalizo.

Ontem, segunda-feira, na Escola Estadual Maria Ivone, tive nove tempos de aula, cinco pela manhã e quatro pela tarde, vi alguns alunos assistindo aula usando parte do uniforme – camisa da escola e calça jeans; todos calçados, sapatos com as mais diversas cores, algumas alunas usavam sapatilhas na cor preta (...); se não me falha a memória vi apenas duas crianças sem a camisa azul da escola, mas usavam a camisa branca da SEDUC. Ninguém voltou, segundo informações, os alunos que ainda não possuem o uniforme completo, foram a escola e conversaram com a direção e foram liberados à assistir as aulas.

domingo, 5 de março de 2017

Nascendo de novo. Maravilhoso exemplo.

Esse vídeo é minha reflexão de hoje. Me foi enviado pela mana querida Ana D'Araújo. Creio que é um bom exemplo do que é nascer de novo. Pode chorar, todos choram quando nascem. Deus seja conosco.


sábado, 4 de março de 2017

FALTA DE FARDAMENTO ESCOLAR IMPEDE O ALUNO DE ESTUDAR?


Imagem da WEB


Começo esta reflexão com uma máxima cunhada e adotada por mim, que tem norteado minha vida:

RESPONSABILIDADE SÓ CRESCE NOS CAMPOS DA LIBERDADE.

Não bastasse termos de lecionar diariamente para alunos, uns mal-educados, outros com graves desvios de conduta, todos amontoados em salas superlotadas, o que atrapalha sobremaneira o aproveitamento dos BONS ALUNOS, que são maioria, nós professores da rede pública temos de suportar a tosca fala de pessoas grosseiras, com o palavreado chulo, de parcos entendimento e de outros pávulos que maximizam pequenos problemas rotineiro das escolas, com o fim de usa-los como palanque político para expressarem suas fanfarronices e incompetência.

Criou-se nos últimos dias um espetáculo midiático, aqui, nas terras da Pedra Pintada, com o fato de alguns gestores competentes e obedientes às regras da CREI/SEDUC, terem impedido que certos alunos entrassem nas escolas para assistirem as aulas, por não estarem devidamente fardados. Segundo me consta, essa é a simples questão.

Tal assunto é deveras delicado e mal entendido e precisa urgentemente de uma LEGISLAÇÃO ESTADUAL/MUNICIPAL. Em minha opinião de pai de alunos e professor da rede pública de ensino, OS GESTORES ESTÃO CERTOS! E justifico:

Há no Brasil, salvo engano, uma Lei Federal, datada de julho de 1994, assinada pelo Presidente Itamar Franco, que fala sobre o fardamento escolar. Segue o texto legal:

“LEI Nº 8.907, DE 6 DE JULHO DE 1994.

Determina que o modelo de fardamento escolar adotado nas escolas públicas e privadas não possa ser alterado antes de transcorrido cinco anos.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º As escolas públicas e privadas, da rede de ensino do País, que obrigam o uso de uniformes aos seus alunos, não podem alterar o modelo de fardamento antes de transcorridos cinco anos de sua adoção.
Art. 2º Os critérios para a escolha do uniforme escolar levarão em conta as condições econômicas do estudante e de sua família, bem como as condições de clima da localidade em que a escola funciona.
1º O uniforme a que se refere o caput só poderá conter, como inscrição gravada no tecido, o nome do estabelecimento.
2º O programa de fardamento escolar limita-se a alunos de turnos letivos diurnos.
Art. 3º O descumprimento ao preceituado no art. 1º desta lei será punido com multas em valor correspondente a no mínimo trezentas Unidades Fiscais de Referência (Ufir) ou índice equivalente que venha a substituí-la.
Parágrafo único. O procedimento administrativo da cobrança de multas observará o disposto no art. 57, e parágrafo, da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 6 de julho de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

ITAMAR FRANCO”

Notem que no artigo 1º, há um texto que é revelador: “...que obrigam o uso de uniformes aos seus alunos...”; ou seja O USO DO UNIFORME É OBRIGADO DEPENDENDO DA ESCOLA, então, entendo que torna-se facultativo à escola o uso do uniforme. A lei porém, não deixa clara que a obrigação é impeditiva, ou seja a falta de uniforme impediria a assistência às aulas.

Mas, cada escola possui um regimento interno, que é aprovado pela SEDUC-AM e posteriormente apresentado aos pais na hora da matrícula. Todos dizemos “SIM” às regras da escola e entre elas está o “uso obrigatório do uniforme”. Então, O UNIFORME DEVE SER USADO DE FORMA OBRIGATÓRIA PELOS ALUNOS.

Claro que também há uma lei, o conhecido “Estatuto da Criança e do Adolescentes” que protege, ou tem a intenção de normatizar uma rede de possível proteção aos menores, onde em seu texto diz:

“Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;”

Nesse momento, em que argumento em favor da OBRIGATORIEDADE DO USO DO UNIFORME NAS ESCOLAS PÚBLICAS, você poderia contra argumentar dizendo que “a escola, por ser pública, não poderia impedir os alunos não fardados de assistirem as aulas”. Ao que eu contra argumento.

É clara a determinação legal, que O LIVRE “IR”, “VIR” E “ESTAR” NOS LUGARES PÚBLICOS DEPENDE DE LEI, PORTANTO, SE HÁ UMA LEI QUE FOI ACEITA POR TODOS OS RESPONSÁVEIS NA HORA DE MATRICULAREM SEUS FILHOS EM UMA ESCOLA PÚBLICA, ELA TEM DE SER OBEDECIDA TAL LEI É O ESTATUTO DA ESCOLA. Neste primeiro ponto do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, resta claro, em meu entendimento, o apoio legal ao uso do uniforme escolar para assistir aula.

Em nossa Carta Magna, a Constituição da República, outro refúgio de muitos para nossa execração como defensores do fardamento escolar, encontramos:

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
(...)
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.”

Novamente, em minha opinião, o texto acima corrobora para a obrigatoriedade do uniforme escolar para a assistência às aulas. Vejamos:

O artigo 205 da CF diz que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Fica clara a intenção de educar:
1) o pleno desenvolvimento da pessoa;
2) preparar para exercer a cidadania;
3) qualificar para o mercado de trabalho;

Então, seguindo a diretriz máxima da Legislação Federal, as regras impostas nas escolas públicas também possuem subjetivamente as mesmas intenções; ou seja, não somente o ensino de matérias como por exemplo “língua portuguesa”, “matemática”, “ciências”, “física”, (...) carregam o objetivo de desenvolver, preparar para a cidadania e qualificar para o mercado de trabalho, como as diretrizes da escola atuam concomitantemente para que a escola alcance plenamente sua obrigação legal.

Pergunto aos revoltosos:
COMO UMA PESSOA PODE DESENVOLVER-SE SEM REGRAS?
COMO PODE EXERCER A CIDADANIA SEM ELAS?
COMO SE QUALIFICARIA PARA O CADA VEZ MAIS EXIGENTE MERCADO DE TRABALHO SEM SABER CUMPRIR ESSAS REGRAS?

Não pode! Nunca se desenvolverá, ficará sempre à margem de um sociedade cada vez mais competitiva. As regras são necessárias, fundamentalmente necessárias.

Seguindo minha reflexão sobre a CR, sito o inciso I do artigo 206:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Ressalto que equalizar as condições para o acesso e a permanência na escola, conforme se lê acima, não é somente promover um meio de acesso, mas também – e está no texto legal – condicionar esse acesso e essa permanência; tanto um quanto outro devem ser igualitários, ou seja: TODOS ESTARÃO, SERÃO, FICARÃO, ACESSARÃO O AMBIENTE ESCOLAR – LUGAR ONDE SERÁ MINISTRADO O ENSINO – IGUAIS. Me atrevo dizer que essa igualdade, transcende o trato interpessoal e alcança a uniformização, seja ela comportamental, seja ela vestimental.

Porém, como escrevi no início deste texto, o teme carece de uma urgente e responsável legislação. Apelo aos vereadores, competentes, que não se façam de rogados e promovam uma audiência pública para tratar do tema, e nos chamem para o debate.

Finalizando, afirmo categoricamente que nenhum “pai de baixa renda”, faz um barrado desses na mídia ou na escola, todos entendem a necessidade, os que não entendem possuem recursos – para além da crise – e compram bons celulares, boa roupa, (...), para os mesmos filhos que teimam em não usar a farda da escola.

Há também, reclamantes pávulos, um fato totalmente desconhecido por vocês: nenhum responsável, verdadeiramente responsável expõe seu filho ao constrangimento de não poder entrar na escola, esse responsável vai com seu filho até a escola e conversa com a direção da escola, expondo o problema e o resolve de forma tranquila, assinando um termo de responsabilidade pelo ocorrido. Já os irresponsáveis, mandam os filhos de qualquer jeito, sequer comparecem às reuniões de pais e mestres. Não há desculpa, nenhuma.

Peço ao professor Reinaldo Souza que não permita que as regras da obrigatoriedade do uso do fardamento seja violada, nós que lecionamos todos os dias, sabemos da importância dela na identificação de nossos alunos – dos filhos de você, reclamantes.

Minha preocupação com esse sensacionalismo que estão fazendo, é que a “força política” dos reclamantes irresponsáveis, provoque uma mal maior. O índice de criminalidade infantil em idade escolar é grande aqui em Itacoatiara, sem as mínimas regras, podemos nos tornar completamente reféns dessa criminalidade infantil – atestada por mim e por outros professores, em sala de aula – crescente. Se liberarmos agora, cedendo ao confronto midiático e sensacionalista, teremos que liberar o uso do cigarro, da bebida, das drogas, do sexo, (...), na escola para podermos “respeitar” o desejo dos alunos e de seus pais. Tolice.


Deixo aqui o meu total e irrestrito apoio aos gestores que usam de suas atribuições para proibir o desrespeito às lei que se inicia com o desrespeito ao estatuto da escola, onde diz que O UNIFORME É OBRIGATÓRIO PARA A ASSISTÊNCIA ÀS AULAS.

quarta-feira, 1 de março de 2017

É PRECISO NASCER DE NOVO!
(se não entendes o que é terreno, como entenderás o divino?)

Imagem da WEB

 
“Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (...) Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” Evangelho de João 3:3 e 12

A conversa do Messias com Nicodemos é completamente terrena. Trata de coisas da terra, da rotina das pessoas, das angustias diárias, dos desassossegos causados pela vontade de mudar. Nicodemos afirma que Jesus só fazia aqueles milagres porque DEUS estava com ele. A resposta de Jesus parece completamente sem nexo para olhos e ouvidos repletos de religião; e foi dessa forma repleta de religião que o velho Rabino a ouviu. Sua resposta irreflexiva mostra isso.

Nicodemos, igual a todos os demais religiosos de sua época, estava questionando o discurso de Jesus e seus atos milagrosos. Porém, diferente dos demais rabinos, ele foi encontrar-se com Jesus – mesmo que de forma secreta, escondido dos olhos do clero – para apresentar sua resposta às próprias questões. No texto Nicodemos não pergunta, ele responde a si mesmo na presença do Mestre. Na verdade é um pergunta disfarçada de resposta.

Jesus devolve o velho rabino à estaca zero quanto aos seus questionamentos ao responder sua resposta: “sim, mas para que ELE esteja, é necessário nascer de novo”. Acho que essa teria sido a forma respondida por Jesus.

Claro que para ensinar daquela forma, Jesus precisava da presença de DEUS; claro que para realizar os milagres que realizava, Jesus precisava da presença DIVINA. Mas para que essa PRESENÇA ocorresse foi necessário primeiro NASCER DE NOVO.

JESUS NASCEU DE NOVO!! ELE AFIRMA ISSO A NICODEMOS. ESTÁ ESCRITO!

Mas o que seria “esse” novo nascimento?

O tema tem sido debatido por diversos teólogos em todo o mundo, mas nenhuma definição tocou meu coração. Todas as definições e certezas apresentadas me parecem estranhas, divinas demais para serem alcançadas. O “novo nascimento” o qual Jesus se refere na conversa com o velho rabino é algo completamente terreno, físico, Inteligível, palpável. Então, o que seria esse “novo nascimento”?

Em uma pequena reflexão, nascemos quando estamos maduros; quando nos desconfortáveis dentro do ventre materno. Enquanto o útero não nos aperta, não nos incomoda, não temos motivos para nascer. Estamos em nossa zona de conforto. Mas quando dentro do ventre materno nossa respiração fica ofegante pelo pouco espaço; quando esse lugar de conforto se torna estreito, incômodo, nascemos. Nos acomodamos, nos retorcemos, nos esforçamos e nascemos. Há medo em nascer, não sabíamos o que havia fora da casa/útero, não fazíamos ideia que nossos pulmões iriam queimar com o ar tomando o lugar da “água”; Mas nascemos assim mesmo. Era necessário. Se não nascêssemos, morreríamos.

Nascer para não morrer.

Reproduzirei uma parte de um texto escrito pelo rabino Nilton Bonder, que deixa claro as etapas desse processo de novo nascimento.

“É fundamental mencionar que o Egito é, acima de tudo, um símbolo, por representar um lugar que ‘já foi bom’ e deixou de ser. As analogias se tornam mais interessantes ainda se reconhecermos que a etimologia hebraica da palavra Egito – mitsraim – quer dizer ‘lugar estreito’.

Todos nós deparamos com lugares que se tornam estreitos em determinado momento. Estes lugares, que outrora serviram para nosso desenvolvimento e crescimento, se tornam apenados e limitadores.

No processo de saída de um lugar estreito, temos uma descrição interessante dos fatos históricos ocorridos no relato bíblico. Segundo o mesmo, o processo de saída esbarra num limite tão real e profundo como o mar. Arrependido por ter permitido a saída dos hebreus após sofrer dez pragas diferentes, o faraó os encurrala junto ao mar. Entre o exército mais poderoso do mundo de então e o mar, os hebreus se voltam ao líder Moisés em desespero. O que fazer?

Quando resolvemos sair do lugar estreito, ocorre um processo semelhante com o corpo. O corpo não gosta de sair, de mudar. São a estreiteza e o desconforto que o convencem de que não existe outra saída. Mas para onde ir se o corpo não conhece nada diferente de si mesmo? A alma, imoral em sua proposta de desalojamento do corpo, impõe uma caminhada que para o corpo acaba por ser um enfrentamento com uma barreira aparentemente intransponível.

Como seguir rumo à ‘terra prometida’, ao futuro, se entre o presente e ela existe um fosso, um mar, absoluto. O corpo então questiona a sensatez da alma. Os portões do passado se fecham, os do futuro não estão abertos e o corpo experimenta a mais temida das sensações – o pânico de se extinguir.

Encurralados diante do mar, o povo, representativo do corpo, assume algumas posturas possíveis. De acordo com o ensinamento chassídico, existem quatro comportamentos clássicos mencionados como quatro acampamentos. Sem saber como proceder, o povo se divide em quatro acampamentos. O primeiro quer voltar, o segundo quer lutar, o terceiro quer jogar-se ao mar, o quarto se mobiliza em oração.

Como leituras da alma, essas quatro posturas representam resistências do corpo. A própria ideia de acampar é, em si, uma forma de “empacar”. Aquele que propõe o retorno reconhece o poder do lugar estreito. Esse lugar do hábito é tão poderoso que foi uma ilusão se deixar levar pelo sonho de sair. Tudo estava errado desde o início e a proposta de voltar pressupõe uma vida estreita e em conformidade com a realidade e as limitações que esta impõe.

Lutar, por sua vez, é a crença de que se poderá fazer do próprio lugar estreito um lugar mais amplo. Se o lugar estreito é poderoso para impor-se como realidade, o que resta é desafiá-lo, como se a estreiteza fosse externa e não um processo de relação entre o mundo externo e o interno. Jamais devemos esquecer que o lugar estreito um dia não o foi.

Jogar-se ao mar é a atitude do desespero. É a entrega do corpo na descoberta de que a alma propiciou um limbo insuportável em que não há mais o passado que o definia nem lhe é permitido um novo futuro que o redefina. Na busca de um novo ‘bom’, não se encontra um novo ‘correto’ e a única saída é pagar o preço de não se ter bancado o ‘correto’ do passado mesmo que o ‘bom’ fosse inadequado. Desse desespero surge a resignação de que, apesar de não se voltar ao lugar estreito, jamais se poderá atingir um novo lugar amplo.

Orar é um recurso de fazer da situação do ‘novo’ uma reprodução do lugar estreito. Numa aparente resolução das demandas da alma, o corpo exige que a realidade seja ‘compassiva’ com ele, permitindo que o novo lugar não exija dele uma nova definição de si. O novo lugar é o velho sem parecer-lhe estreito. Muitos de nossos sonhos do pós-vida se classificam nessa categoria.

A beleza da interpretação chassídica está na utilização do versículo (Ex. 14:13), que esboça a reação de Moisés, o líder e representante dos interesses da alma (o empreendedor da saída do lugar estreito): ‘E disse Moisés ao povo: (1) Não temais, ficai e vede a salvação do Eterno; (2) porque os egípcios que vedes hoje não volvereis a vê-los nunca mais; (3) o Eterno lutará por vós e (4) vós vos calareis.’

Segundo essa interpretação, temos aqui uma resposta aos quatro acampamentos. Aos que queriam se jogar no mar: ‘Não temais, ficai.’ Aos que desejavam voltar: ‘Não volvereis a vê-los nunca mais.’ Aos que se propunham a lutar: ‘O Eterno lutará por vós.’ E aos que oram: ‘Vós vos calareis.’ Nenhum dos acampamentos representa o futuro e a saída. Todos eles são variações sobre a hesitação e a vacilação. São, na realidade, a fronteira onde um corpo morre para renascer com uma mesma alma em outro corpo – do outro lado da margem.

Mas, se nenhuma dessas condutas é apropriada, qual é o caminho então? Não nos esqueçamos da realidade que interpõe um mar entre um corpo e outro. A resposta de D’us às vacilações do corpo, ou seja, resposta proveniente da fonte de toda alma e todo futuro, é igualmente decisiva e intrigante (Ex. 14:15): ‘Diga a Israel que marche.’”
Rabino Nilton Bonder - Processos de traição, A alma Imoral

É isso. “marche!”. Nasça de novo.

Para nascer de novo não precisamos voltar ao útero, e sim, deixar o lugar estreito onde estamos. Seja ele qual for.

Então, tenha coragem de deixar “seu” lugar estreito para NASCER DE NOVO, QUANTAS VEZES FOREM NECESSÁRIAS.

No próximo texto tratarei dos quatro comportamentos da vida no lugar estreito.


Deus seja conosco.