... e Paulo continua dizendo o que não é amor e insinua o
que pode ser amor. Ele diz que o amor:
“Não se porta com indecência, não busca os seus interesses,
não se irrita, não suspeita mal;” I Coríntios 13:5 (texto extraído da versão
bíblica Almeida Corrigida e Fiel)
Novamente o apóstolo inicia afirmando que o amor “não é”.
Não é indecente, não é interesseiro, não é irritadiço e não “suspeita mal”; ou
seja, nos dias de hoje, com base nas afirmações do apóstolo, seria fácil dizer
que: “quem ama é leso.”.
Para podermos entender o que Paulo está dizendo, precisamos
conhecer um pouco, minimamente, dos significados dos termos usados.
O amor não é indecente. Decente é aquele que possui decoro,
que é honesto; por sua vez, aquele a quem faltam essas qualidades é indecoroso
– obsceno – desonesto. Me salta aos olhos o termo “honesto” e seu antônimo,
“desonesto”. O que seria a honestidade?
Honestidade pode ser manifesta por meio da satisfação com o
que fazemos. O Rabino de Lizensk dizia que: “Quando uma pessoa deixa de
ficar satisfeita com seu negócio ou com sua profissão, é certamente um sinal de
que não o está conduzindo honestamente.”. Essa definição de honestidade se
aplica em todas as outras áreas, principalmente nas relações afetivas. Amamos
quando estamos plenamente satisfeitos na e com a relação; satisfeitos com nosso
parceiro ou parceira; caso isso não esteja acontecendo e a relação persista,
estamos sendo desonestos, ou seja, indecentes.
Mas com quem estaríamos sendo indecentes – desonestos? Em
primeiro lugar conosco mesmo e depois com quem nos acompanha. Essa falta de
satisfação é o que Paulo chama de “amor” não decente.
Paulo continua sua definição de amor, dizendo que ele, o
amor, não é interesseiro – “não busca os seus interesses”. Essa segunda
“definição” está intimamente ligada à primeira; isso porque quando o amor é
honesto, ele também é desinteressado. Esse interesse próprio, tem a ver com a
auto satisfação, o “primeiro o meu, depois o teu”. Amor desinteressado abre mão
do parceiro ou parceira insatisfeito por saber que não vale a pena ser egoísta.
Quem ama, ama.
Esse “abrir mão”, não causa irritação, não frustra, não gera
impaciência. É estranha essa definição de amor do apóstolo; um negativo
positivo que define o maior sentimento do mundo.
Suspeitar, supor, pressentir, prever, desconfiar – mal, de
quem divide a vida conosco não é ato de amor. Mas ser leviano, imoral,
aproveitando-se da credulidade do ente que conosco divide a vida também não é
amor. Nessa guerra entre prever a traição e trair, aquietar parece ser a única
alternativa, já que o amor é um “leso”, dá a cara a tapas, anda a segunda
milha, entrega o que lhe resta...
É no discurso de Paulo aos romanos, que encontramos a
solução para essa guerra infindável entre traidores e traídos. Diz assim o
texto:
“Portanto, cada um de nós prestará contas de si mesmo a
Deus. Paremos, então, de julgar os outros! Em seu lugar, façam este julgamento:
não ponham uma pedra de tropeço, nem uma armadilha no caminho de seu irmão.”
Romanos 14:12 e 13.
Em outras palavras: “acredite” na lorota do ente que lhe
mente, deixe que ele se entenda com o ETERNO, Senhor de todos. Entregue a DEUS
esse ente que você acha que lhe trai, não carregue em si o que lhe mata, a dor,
o dissabor, a angústia, o ódio, a suspeita, a irritação, a desgraça, a
tragédia. Entregue a DEUS a possibilidade de lhe vingar, se esse for o caso.
Mas saiba de uma coisa, ELE só aceitará essa entrega para vingar-lhe, se ela
for feita em amor.
***
Existe uma historieta própria dos quarteis. “Um comandante
disse aos recrutas que iriam tirar serviço naquela noite: ‘Recrutas, aquele que
for pego dormindo em serviço será preso! Portanto, não parem, pois quem para,
encosta, quem encostar, senta, quem sentar, deita, quem deitar, dorme. Então,
não parem!’.”
Creio que a mesma máxima pode ser aplicada na afirmação de
Paulo sobre o amor. Acho que ficaria mais ou menos assim: NÃO JULGUE, PORQUE
QUEM JULGA, SUSPEITA MAL, QUEM SUSPEITA MAL, SE IRRITA, QUEM SE IRRITA, É
EGOÍSTA – SÓ BUSCA SEU PRÓPRIO INTERESSE, QUEM É EGOÍSTA, NÃO É HONESTO –
DESCENTE, QUEM É DESONESTO – SE PORTA COM INDECÊNCIA, NÃO AMA!
Acho que é assim. Simples, assim.
Em silêncio ...
Nele, que a ninguém julga e a todos ama.